UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Peruanas - parte 1

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Peruanas - parte 1

E, de repente - não mais que de repente - Cusco. A cidade "umbigo do mundo" faz jus à sua vocação. De modo que seu ar de capital de império acabou sobrevivendo, ainda que aos trancos e barrancos, ao fim do domínio inca.

Cusco: Plaza de Armas


Em tempos de eleições presidenciais no Brasil e de debates acirrados sobre o papel da fé na política, visitar Cusco foi, no mínimo, intrigante. Só os mais simplórios ousam ignorar que a fé cristã violou as crenças ditas "pagãs" dos habitantes das Américas, principalmente os seus alicerces, o que fica evidente até do ponto de vista literal: os colonizadores espanhóis construíram suas edificações sobre construções incas, fazendo destas seu alicerce. Metaforicamente  falando, os alicerces também foram violados, visto que toda crença é um alicerce moral. Mas os incas também tinham lá suas veleidades: eles sequestravam os ídolos dos povos subordinados e os guardavam no Qorakancha, o templo do Deus Sol, para fins de chantagem teológica.

Qorakancha, o Templo do Deus Sol.

Igreja sobre construções incas

Os deuses dos povos dominados eram trazidos também para o Qorakancha

É por essas e por outras que nem mesmo a beleza da arquitetura incaica conseguiu me convencer a reivindicar o retorno do Estado teocrático. Por outro, essa mesma arquitetura me fez perceber a que ponto a expansão imperialista dos incas estava conectada com uma visão de mundo religiosa. A fé moveu mundos e fundos e interveio diretamente na arquitetura daquelas montanhas densamente povoadas, onde cidades e mais cidades foram habilmente esculpidas: estima-se que o império tenha reunido 11 milhões de súditos no seu apogeu. E a capital disso tudo, como já disse, era Cusco.

Mercado San Pedro, ao lado de igreja do mesmo nome.
 
Caminho para Saqsayhuamán, a cabeça da cidade-puma.
Para além de uma Cusco histórica, experimentei uma Cusco plena de paradoxos: comércio de luxo, população pobre, preços superfaturados, lucro terrivelmente mal distribuído. Mas nada, absolutamente nada me tirou a certeza de que este é, por assim dizer, um dos mais belos umbigos da mãe terra.

Em Cusco é assim: o que era uma simples obra de encanamento acaba virando um sítio arqueológico (Plaza de Armas).

O famoso show do Centro Qosqo de Arte Nativo

Moral da história (se é que há alguma): não há fé que justifique a impossibilidade de convivência entre o meu e o seu alicerce. Ou sobre alicerce algum, se eu entender que posso viver à deriva das crenças e alicerces.

O hipnotizando sítio arqueológico de Saqsayhuamán.

Lhamas cheias de si esnobam os turistas: bem feito para eles!

P.S. = Não, eu não me esqueci de Machu Picchu. Mas ela merece um capítulo à parte. Quem sabe amanhã?

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