UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Caridade dispensável

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Caridade dispensável

Acordou com vontade de fazer caridade?

Pois vá doar alguns reais para a campanha "#juiznãoédeus", que angaria fundos para pagar a multa recebida pela agente da Lei Seca, Luciana Silva Tamburini, por ter feito simplesmente aquilo que era do seu dever: parar um cidadão que dirigia uma land rover sem placa, sem documentos e sem carteira de habilitação (http://oglobo.globo.com/rio/internautas-arrecadam-mais-de-10-mil-para-ajudar-agente-da-lei-seca-pagar-multa-juiz-14470150).

Acontece que o transgressor era o juiz João Carlos de Souza Correa, que acabou lhe dando voz de prisão. Interpelada pelo magistrado, Tamburini teria dito a ele - não sem razão, diga-se de passagem - a frase que se tornou o mote da sua campanha de arrecadação: "juiz não é deus". Bem, não é mesmo, embora alguns se julguem como tal. Porém, como contrapartida para a sua lucidez, a agente acabou sendo levada à delegacia e, posteriormente, condenada a pagar a multa por "abuso de poder" no mais legítimo exercício das suas funções.

Bem, se você também acha que Deus é Deus, que juiz é juiz e que a agente da Lei Seca estava coberta de razão, então já pode ir abrindo a carteira e espantando o escorpião. Contudo, antes de doar qualquer centavo, é bom saber que Tamburini nem sequer precisa do seu dinheiro: é que ela já arrecadou mais do que o dobro do necessário para cobrir a multa e os honorários do advogado. Tudo graças à mobilização de internautas que se solidarizaram com a situação da agente.

Portanto, se for doar algum dinheiro, saiba que você ainda tem alguns poucos dias até o encerramento da campanha. E quando for fazê-lo, saiba que a doação será, antes de tudo, um prêmio de consolação para você mesmo, por saber que ainda existe gente assim no nundo. No final das contas, você terá contribuído com uma espécie de emulação para você mesmo seguir agindo com integridade e lucidez, mesmo diante do descalabro e da estupidez de terceiros.

No final das contas, é você quem sairá mais leve: com o bolso mais vazio, é certo, mas como coração pleno de satisfação por ter feito uma caridade totalmente desnecessária e, ainda assim, plena de sentido. Portanto, dê-se esse presente e reverencie a coragem alheia: você merece o exemplo.

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