UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: outubro 2014

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Bebida fênix

Comentário leve e frívolo, só para relaxar a musculatura contraída com durante as disputas eleitorais, ok?

É que há mais distinções entre gauleses e romanos do que julga a sua vã filosofia! Estes últimos não comiam nem javalis assados, nem carne de coelho, nem mesmo uma mísera galinha ao molho pardo. Pelo menos, é o que aponta estudo publicado na Revista PLoS One sobre o estilo de vida dos gladiadores romanos (http://oglobo.globo.com/sociedade/historia/gladiadores-romanos-tinham-dieta-vegetariana-bebiam-cinzas-como-suplemento-de-calcio-14304968).

Fabian Kanz, professor do Departamento de Medicina Legal da Universidade Médica de Viena e responsável pelo estudo que "mostrou que os antigos gladiadores romanos também tinham uma dieta principalmente vegetariana", bate firme nesta tecla. Valendo-se de "espectroscopia e análises de isótopos estáveis de colágeno ósseo e minerais ósseos como ferramentas para investigação", o estudo apurou que a dieta era vegetariana, seguida de uma beberagem à base de... cinzas!

"A quantidade de estrôncio medido em seus ossos sugere que uma bebida de cinzas citada na literatura antiga pode ter feito parte da dieta dos gladiadores", relata notícia publicada no jornal O Globo. Ao que parece, a bebida servia de suplemento: de acordo com Kanz, "as cinzas de plantas foram evidentemente consumidas para fortalecer o corpo após o esforço físico e promover uma melhor cicatrização óssea".
 
Enfim... cada Asterix com sua poção mágica!

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Por que gosto tanto de votar?

Com tanta vaia, frustração e surpresa nessas eleições de 2014, achei justo e oportuno registrar aqui porque gosto muito de votar.

Em primeiro lugar, porque nasci no meio da ditadura militar. Me lembro vagamente das propagandas eleitorais de TV em 1978 ou 1979, em plena vigência da Lei Falcão. Nesse tempo, a propaganda consistia basicamente em uma foto com narração em off.

Gosto de eleições porque vi acontecer aquelas para governador em 1982, em meio a muita papelada espalhada no chão. Os candidatos em Minas eram Eliseu Resende (PDS), Tancredo Neves (MDB) e Sandra Starling (PT). Eram as primeiras eleições diretas para governador após longo e tenebroso inverno.

Gosto de eleições porque eu estava sendo alfabetizada naquele ano de 1982. Fiz uma redação espontânea (na época, o termo usado era "composição"), em que começava todos os parágrafos com a mesma frase: "É tempo de eleições". Me lembro perfeitamente da primeira frase: "É tempo de eleições. Os candidatos estampam suas caras nos muros". Até hoje acho essa metáfora um tanto quanto rebuscada para quem tinha apenas sete anos e tinha começado o ano escrevendo sobre a cabritinha Lili. Minha professora ficou tão orgulhosa que arrancou o texto do meu caderno no intuito de enviá-lo ao finado Jornal de Casa. Se foi publicado, eu não sei. Só sei que tomei gosto pelas eleições.

O gosto foi tanto que nem as passeatas para tirar Fernando Collor de Melo da presidência do país não arrefeceram minha vontade de votar, pela primeira vez, naquele ano de 1992. Eu tinha dezessete anos e estava feliz da vida por gozar da prerrogativa de votar, voluntariamente, antes de completar 18 anos. Tampouco me arrependo de ter ido às ruas, mesmo sabendo que ele foi reeleito para senador este ano. O meu papel, pelo menos, eu cumpri. 

Mais tarde, gostei ainda mais de votar quando fui conviver com várias pessoas de várias outras nacionalidades que jamais tiveram a oportunidade de exercer o voto livre e secreto no seu país de origem. Isso me fez e ainda me faz lembrar que o voto aqui neste país foi um direito conquistado com luta e resistência. E se hoje completo 22 anos de comparecimento às urnas, é porque teve quem zelasse por isso há alguns anos atrás.

Em suma, foi por essas razões que hoje fui feliz e sorridente de Santa Efigênia até Santa Tereza para exercer meu direito em uma zona eleitoral cheia de velhinhos que, de bengala na mão, ainda fazem questão de votar. Fiquei me lembrando da minha avó paterna, que ia votar mesmo depois dos 80 anos de idade, toda alinhada, porque votar era (e ainda é) um grande acontecimento.

Portanto, o meu recado para essa garotada apática, que não viveu nesses tempos e que não liga a mínima para as urnas: saibam dar valor a esta conquista que é o voto livre e secreto. Pois se hoje cada um de vocês conta o seu voto para Deus e todo mundo, vocês o fazem de livre e espontânea vontade, e não com um fuzil na cabeça. E isto, meus caros, é a condição mínima para viver em uma democracia.

Recado dado, hora de dormir. Boa noite para quem fica.