UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: março 2011

quinta-feira, 31 de março de 2011

Homens de bom coração e mulheres com atitude!

A Dona Camila Rizzotti - aquela que se diz fiel leitora desse blog - deve ter saracoteado de alegria quando leu essa matéria. Aliás, a alegria deve ter sido tanta que ela nem pensou em outra pessoa para relatá-la no seu espaço bloguístico, senão ser esta que vos escreve. A matéria em questão apresentava o sugestivo título de: "Casamento de Fiona e Shrek desagrada bispo em Garibaldi" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/895857-casamento-de-fiona-e-shrek-desagrada-a-bispo-em-garibaldi-rs.shtml).

Para quem não está inteirado do assunto, fica aqui uma síntese: frade (cujo nome, aliás, não foi revelado na matéria) responsável pela celebração de um casamento temático inspirado no filme "Shrek", foi repreendido publicamente pelo bispo Dom Paulo Moretto, da cidade de Garibaldi (RS). A razão da reprimenda tem a ver diretamente com o caráter temático da cerimônia, que contou com aproximadamente 600 convivas - a maioria fantasiados - selando a união da cabelereira Denise Flores (Fiona), 30 anos, com o tapeceiro Marcelo Basso (Shrek), 39.

Tadinho do frade. Se o casamento tivesse sido inspirado nas bodas de enlace de Brad Pitt e Angelina Jolie - magros, brancos, ricos, famosos e sorridentes - a façanha certamente teria passado despercebida pelo bispo. Preocupado com a seriedade dos ritos católicos, o bispo (e quem quer que tenha rezado a mesma ladainha) esqueceu-se de se perguntar: quem é Shrek? Quem é Fiona?

A recém-casada, desapontada, já tinha a resposta na ponta de língua: "O Shrek, apesar de feio, tem coração. A Fiona, apesar de ser uma ogra, tem atitude". Fato inconteste, sr. Bispo, é que o mundo anda povoado de ogros e ogras que não se encaixam em nenhum padrão de beleza. Celebrar a diferença - e ver nela uma beleza singular - deveria ser motivo de louvor, não de represálias.

Mas homens feios de bom coração e mulheres ogras com atitude são muito contra-tendência para os cânones locais. Pobres noivos! Espero que superem a frustração que porventura tenha sido causada pelas críticas que pesaram sobre a cerimônia. E que a prole resultante dessa conjunção carnal, se acaso nascerem verdes, não tenham um batizado inspirado no filme "bebê de Rosemary".

quarta-feira, 30 de março de 2011

Coice de zebra, merenda escolar

Girau do Ponciano, Poço das Trincheiras, Estrela de Alagoas, Senador Rui Palmeira, Belo Monte, Limoeiro de Anadia, Lagoa da Canoa, Traipu e Craibas: foram esses os minicípios do Estado das Alagoas que receberam, no decorrer do dia de hoje, uma visitinha da Polícia Federal. Segundo matéria da Folha Online, foram expedidos 16 mandados de prisão temporária e 28 de apreensão e busca contra ex-prefeitos, suas exposas e parentes próximos, todos de alguma forma ligados à máquina administrativa dos municípios supracitados (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/895982-dinheiro-de-merenda-era-usado-para-pagar-racao-e-uisque-em-al.shtml).

O motivo? É que esses diletos cidadãos são acusados de embolsar o dinheiro da merenda escolar em benefício próprio. Como? Deixando as crianças em idade escolar desses mesmos municípios passarem os primeiros 15 dias com uma nutritiva dieta de biscoitos, de modo que elas pudessem dedicar o restante do mês à tão espiritualizada prática do jejum.

E o que faziam os sublimes gestores com o dinheiro desviado do seu justo fim? Quem responde é o Procurador da República em Arapiraca, o Sr. José Godoy: estes usavam "o dinheiro da merenda para fazer as compras diárias da casa e de artigos de luxo", dentre os quais figuram, de acordo com a matéria, uísque e ração para cachorro.

Enquanto isso, no parque nacional de Ngorongoro, na Tanzânia, um fotógrafo amador consegue flagrar uma zebra desvencilhando-se do principal predador das savanas - o leão - com um coice espetacular (http://www1.folha.uol.com.br/bbc/895805-fotografo-flagra-coice-de-zebra-durante-ataque-de-leao.shtml).

As imagens (realizadas por Thomas Whetten e disponíveis em: http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/2520-zebra-da-coice-e-escapa-de-ataque-de-leao) e a narrativa são comoventes: "A zebra pastava tranquilamente, alheia à presença do leão, quando o felino correu e saltou sobre ela. Os dois lutam, e o caçador chega a morder a presa. Após diversas tentativas de desvencilhar-se, o equino consegue enfim distância suficiente do seu predador para desferir-lhe o golpe. O leão vai ao chão. Derrotado, o rei da selva apenas observa o grupo de zebras que se afasta na savana africana".

Louca para prolongar o jejum do felino, a zebra nem quis saber: soltou o pé na cara do leão. Sim, mas para que isso fosse possível, a zebra não podia estar ela mesma de jejum.

O mesmo vale para a vida nossa de cada dia. Crianças sem merenda escolar viram presa fácil na boca de leões políticos. Diferentemente da época dos fariseus, que praticavam o jejum em domínio privado e, ainda assim, a razão de duas vezes por semana, nesse triângulo escuso - que favorece a coexistência de crianças magras com políticos ébrios e seus cães sadios - o jejum forçado acabou virando prática pública.

Bem, ao menos, fica aqui o consolo de que a história dessa vez pode ser outra: se a promotoria fizer seu trabalho, a PF garantir o dela e os magistrados não estragarem tudo, colocando todo mundo em liberdade, vai dar zebra lá no sertão alagoano. Com direito a coice do Ministério Público!

terça-feira, 29 de março de 2011

Banhos e blogs

Intrigante pesquisa da Yahoo em parceria com a Universidade de Cornell revela que metade de todos os tweets com URLs por lá publicados são gerados por um seleto grupo de 20.000 usuários, isto é, reles 1% do total de inscritos no Twitter (http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2011/03/29/pesquisa-revela-que-twitter-dominado-por-elite-que-produz-metade-de-todo-conteudo-compartilhado-924115386.asp).

Ao todo, foram analiasados 260 milhões de tweetes contendo algum link URL entre 28 de julho de 2009 e 08 de março de 2010. Os principais geradores de conteúdo são, de acordo com documento publicado na plataforma Yahoo Research e (em ordem decrescente): meios de comunicação, blogueiros, organizações formais e celebridades (http://research.yahoo.com/pub/3386). Que a maior parte dos conteúdos seja produzidas por organizações da mídia, isso em nada me surpreende. Mas que os blogueiros difundam mais que as organizações formais, aí, sim, tenho que dar meu braço a torcer: os dados me surpreenderam.

Concentrações na produção de conteúdos de um lado, concentrações do acesso aos recursos naturais de outro. Enquanto blogueiros se acabam de tanto twittar, matéria do Hoje em Dia escancara estimativa castastrófica publicada pelo Centro de Estudos The Nature Conservancy na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences: "Mais de 1 bilhão de pessoas, a maioria vivendo nas grandes cidades, ficarão sem água em 2050" (http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/noticias/brasil/mais-de-1-bilh-o-de-pessoas-devem-ficar-sem-agua-ate-2050-nas-metropoles-1.259151).

Se as projeções apontam para uma redução futura do consumo médio de água com o aumento da urbanização e as alterações climáticas, as desigualdades no consumo da água já podem, por outro lado, ser sentidas no presente: enquanto 150 milhões de pessoas no mundo sobrevivem com um consumo médio inferior a 100 litros de água por dia, um americano médio consome, diariamente, algo em torno de 376 litros. Ao que parece, os norte-americanos andam lavando a égua por lá...

Diante desse mundo de crescentes concentrações e distribuição desigual de riquezas e recursos, fiquei aqui pensando: quanto vale a cabeça de um blogueiro que chega, em dias quentes como o de hoje, a tomar dois banhos por dia? Melhor mesmo vai ser eu ficar longe do Twitter, sob pena de virar ameaça mundial.

segunda-feira, 28 de março de 2011

No túnel do tempo da publicidade 2

Revirando mais uma vez meu arquivo de imagens, acabei me deparando com três exemplos de publicidade que falam caro ao sentimento de "brasilidade" que vira e mexe dá as caras na publicidade.

A primeira publicidade é da US Top Jeans e foi veiculada em 1979 (Revista Veja, 11-04-1979: 93): ela fala de "brasilização" do jeans US Top, muito antes por sinal da discussão global x local (com o perdão do trocadilho) virar moda. Para quem não sabe, existe uma ampla literatura na sociologia brasileira exaltando a "nossa" ginga (coloco o pronome possessivo entre aspas porque tenho cá minhas dúvidas de que este seja um atributo tão amplamente compartilhado assim pelos nativos desse país) como uma herança da cultura afro-brasileira, literatura esta tão ampla que nem cabe aqui revisitá-la. Meu ponto é que os signos da "brasilidade" - no caso, a ginga - podem e irão variar conforme o produto anunciado e, principalmente, o público-alvo. Vejam bem, não é qualquer brasileiro que usa o jeans US Top, mas somente os mais “descolados”. E que cara e cor têm os mais descolados da foto? De qualquer forma, nessa cena precisa, homens e mulheres compartilham o mesmo status: todo eles eles seguem com ar despreocupado, gingando com jeans, camisas e calçados US Top.

Para quem ainda não entendeu aonde eu quero chegar - isto é, no viés de gênero quando o assunto é representar uma particularidade nacional ou regional - que tal outro exemplo de como o pertencimento nacional pode, de repente, ganhar "cores" locais (aqui, o trocadilho aqui foi totalmente proposital)? Por favor, olhem esse anúncio do Centro de Convenções da Bahia e me digam, com toda sinceridade, se isso não é um convite ao turismo sexual (Revista Veja, 07-03-1979: 35). O anúncio, aliás, tem sutilezas simbólicas inacreditáveis: enquanto o texto, um pouco mais sóbrio, nos convida ao desfrute de um sem-número de pequenos prazeres corriqueiros que só a Bahia pode oferecer - em ordem de prioridade, uma “mordida num autêntico acarajé”, “um passeio de escuna pela Baía de Todos os Santos”, “chupar um sorvete de cajá” – a imagem nos grita uma outra coisa. Ela nos sugere que também existe uma outra forma (perversa) de solidariedade racial na divisão de papéis entre quem desfruta e quem é desfrutado. Enquanto as mulheres pretas e pardas (no sentido estritamente demográfico) se divertem e divertem o turista branco no primeiro plano, os dois homens pretos (dá-lhe IBGE) que passam pelo local, bem ao fundo da cena, simplesmente... sorriem. A cena em questão não parece chocar, agredir ou constranger nenhum dos que estão nela presentes. Antes pelo contrário, o (sor)riso geral sugere descontração e a existência de um elo mudo de cumplicidade.

Bem menos complacente, no entanto, com o papel atribuído às mulheres pretas e pardas é este de página dupla anúncio assinado conjuntamente pela Organização Mundial do Trabalho, Instituto WCF Brasil, Save the Children (Suécia) e o Ministério do Turismo do Brasil (Revista Isto é, 29-12-2004: 17-18).

Nele, a exploração sexual infanto-juvenil tem cor e nome popular. Ao contrário da publicidade anterior, a sexualização das mulheres e meninas não-brancas é explicitamente condenada como “um crime e não tem graça nenhuma”. Nada de cumplicidade e descontração com a realidade descrita, portanto. Mas muito de solidariedade com a vítima preferida do turismo sexual.

Mudança de mentalidade? Avanço das questões sociais no Brasil? Bem, sem dúvida um viés mais crítico da nossa brasilidade. Vou terminando por aqui com uma breve alusão à canção "Exagerado", do Cazuza: mulheres “de cor” de deste país: difícil mesmo é lutar contra um destino que foi traçado na maternidade.

Exagerada, eu?!

sexta-feira, 25 de março de 2011

Fim de semana à espreita!

6a feira: fim de semana à espreita, que nem um coelhinho detrás da moita!

Depois de uma semana produtiva, cheia das mais gratas surpresas, desafios, tomadas de consciência, cá estou eu às voltas com um balanço daquilo que fui e do que sigo sendo. Um dia que começou repleto de coisas boas - aula de francês para uma amiga, natação, almoço, redação de artigo - merece terminar em grande estilo.

Para fechar o dia com chave de ouro, aqui vai uma daquelas bem antigas que dão uma mega-vontade de dançar (apesar da letra dizer justamente o contrário!). Aliás, se existe uma música que encarna bem a expressão "contradição performativa" é essa aqui: como pode alguém fazer uma letra em que diz que não quer mais dançar e, ao mesmo tempo, não gerar outro efeito na audiência senão a mais pura vontade de dançar? Sem dúvida, eis-nos aqui diante de um dos grandes mistérios do universo musical.

Com vocês, I Don't Wanna Dance, um hit do começo dos anos 1980 na voz de Eddy Grant:

quinta-feira, 24 de março de 2011

Enquanto isso, no laboratório tupiniquim...

Gente, pode parecer obsessão minha, mas as matérias de vulgarização científica continuam sendo as melhores de todas.

Olhem só essa notícia fesquinha que saiu hoje no O Globo Online. Revista Nature retrata experimento inédito de cientistas japoneses: a recriação de espermatozóides atificialmente em laborarório, utilizando para tanto células testiculares de ratos (http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2011/03/24/cientistas-japoneses-recriam-espermatozoide-de-ratos-em-laboratorio-924078002.asp). Ao que parece, nossos antípodas foram totalmente bem-sucedidos, já que os espermatozóides made in laboratório foram plenamente capazes de fecundar um óvulo e gerar prole saudável.

Mas, e o método?... Falta falar do método! É o cientista Takehiko Ogawa, médico da Universidade da Cidade de Yokohama, quem dá a dica: "Colhendo um fragmento de tecido dos testículos de ratos recém-nascidos e cultivando-os em gel de agarose por dois meses, conseguimos obter esperma, capaz de fecundar normalmente um óvulo".

Claro, o experimento foi realizado em ratos e ainda não pode ser reproduzido em humanos. Mas já posso antever alguns desastres na espécie humana, caso o experimento venha a ganhar caráter industrial nas imediações da Praça da Sé (SP), Praça da Estação (BH) ou Praça da República (RJ). Vejamos alguns deles:

1) A retirada da pele dos testículos do paciente pode ser feita sem anestesia ou fora das normas mínimas de higiene que garantam a necessária assepsia no retalho dos testículos da vítima, digo, paciente. Na falta de material cirúrgico, por exemplo, poderia ser usado gilete Prestobarba enferrujado;

2) Os inconvenientes anteriores podem gerar transtornos secundários nos pacientes, ocasionando inclusive uma elevada taxa de óbito naqueles pobres coitados menos resistente ao tétano e às hemorragias subcutâneas. Com isso, os filhos gerados pela inseminação do óvulo pelo espermatozóide de laboratório já naceriam órfãos, o que geraria, por sua vez, um alto índice de calote nos cientistas das praças supracitadas;

3) Se forem acertadas os diagnósticos que os vegetarianos fazem do abate do boi no tocante à qualidade da carne - isto é, que a carne extraída de bois mortos por métodos cruéis de abate possuíria um elevado teor de toxinas geradas pelo medo - então é bem provável que o fruto dessas inseminações venha a ter um medo deslavado de gilete Prestobarba, o que acabaria aumentando consideravelmente o volume de barbudos no planeta. Vale a pena?

4) Na falta do tal gel de agarose, cientistas afoitos pelo lucro fácil tentariam a substituição por um componente mais simples: gel de sacarose ou, nos dizeres populares, coca-cola exposta às intempéries do tempo. Isto geraria uma alta concertação de formigas no meio líquido, aumentando as chances de reprodução massiva (e indesejada) do esperma desse bicho. O restulado seriam filhos meio-homem e meio-formiga, com alta taxa de insidência de obsesos (se a coca-cola não for light) e de diabéticos (com ou sem coca-cola light).

Por essas e por outras, astutos leitores, é melhor esperar que os doutos homens de medicina decidam se seria ético transpor esses experimentos dos ratos para espécie humana. Aguardemos as cenas do próximo capítulo...

quarta-feira, 23 de março de 2011

"Wisdom" ou a sabedoria dos albatrozes

Albatrozes e cardiologistas unidos em prol do bem comum!

Matéria da Folha Online alardeia: uma albatroz sexagenária denominada Wisdom é vista cuidando de filhote após sobreviver a um tsunami no Havaí (http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/892868-albatroz-idosa-volta-para-cuidar-de-cria-apos-tsunami.shtml). Alguns fatos bizarros são trazidos à tona nesta matéria: além da própria sobrevivência a uma catástrofe natural da estirpe de um tsunami, a ave anciã ainda nos fez o favor de sobreviver ao cataclisma pouco mais de um mês após ter dado à luz um filhote em idade avançadíssima (ela, não o filhote).

Resguardos à parte, já é emocionante saber que as albatrozes idosas sobrevivem às ameaças da natureza. Mais muito mais emocionante ainda é constatar que as albatrozes idosas conseguem espaço na mídia de massa: a agência geológica americana US Geological Survey, responsável pela foto de Wisdom exibida hoje no Folha Online, mostra a celebridade em companhia do filho temporão.

A julgar pela matéria, o jornal estaria entoando uma ode à vitalidade sexual em detrimento da idade. Mas que nada! Só se for à vitalidade dos anciãos do mundo animal, porque entre humanos a coisa anda feia. E sedentários de plantão, muito cuidado: outra matéria do mesmo jornal revela que "sexo e exercício aumentam em três vezes o risco de infarto em pessoas que não têm costume de realizar qualquer uma dessas atividades" (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/892792-sexo-pode-desencadear-infarto-em-sedentarios.shtml).

Sem dúvida, o recente estudo sobre a prática de sexo e exercícios por sedentários, realizado pelo Centro Médico de Tufts, em Boston, dá margem a várias interpretações: a primeira delas é que se você anda aderindo ao celibato, o melhor é continuar assim mesmo, para não aumentar os riscos de enfarto. A segunda interpretação possível diz respeito à imensa vantagem competitiva dos albatrozes sobre nós. Se, como diz esta última matéria, "manter-se ativo é pré-condição para uma vida sexual longa e saudável", então a albatroz Wisdom andou batendo record de vitalidade para dar conta de fugir do último tsunami: não se surpreenda, portanto, se em breve ela aparecer com uma ninhada de 100 filhotinhos. Já às senhoras de idade avançada, mas ainda desejosas de gerar um pimpolho, meu aviso é outro: não tentem ficar em forma procurando novos amantes ou algum tsunami nos finais de semana. Palavra de albatroz! Palavra de cardiologista!

terça-feira, 22 de março de 2011

Love... is in the air!

Enquanto lia que a Presidente Dilma Roussef anunciou novos investimentos no programa espacial brasileiro (http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/892304-dilma-anuncia-investimentos-no-programa-espacial-brasileiro.shtml), fiquei me lembrando da boa da qual escapamos no ano 2000 virar uma Nova Guantanamera na América do Sul. É que, naquela época, ficamos a um fio de permitir que a Base de Alcântara (aquela mesma que mandou 21 cientistas brasileiros para o Além Vida) se tornasse uma base lançamento para a NASA, caso o acordo assinado com os EUA fosse ratificado pelo Congresso. Felizmente não foi.

Passada mais de uma década, os planos da Dilma para a base instalada no estado do Maranhão parecem ser outros: "Para Dilma, o programa espacial é estratégico para o país, pois o Brasil necessita de satélites para vigiar o território, auxiliar na previsão do tempo e prevenir os danos causados pelos desastres naturais."

Como a matéria não entrou nos detalhes sobre o que exatamente deve ser vigiado e que tipo de dano natural pode ser evitado, fiquei aqui pensando com meus botões o que poderia entrar no rol de prioridades: vigiar a família Sarney? Evitar a queda das cabelos, um desastre natural dos mais frequentes e com um imenso número de afetados? Não! Na minha opinião, o Programa Espacial Brasileiro precisa ganhar uma repaginada e ampliar suas ambições. Presidente Dilma Rousef, o povo brasileiro conclama: "Love is in the Air"! Ou, pelo menos, "should be in the air..."

Naves espaciais, satélites, asteróides artificiais, tudo isso deveria servir a um único e divino propósito: escrever no cosmos "love is in the air", que nem aqueles aviões da esquadrilha da fumaça. Tenho certeza de que os EUA aprovariam sem restrições!

segunda-feira, 21 de março de 2011

O blog da Dona Maria

Se tem uma coisa que me dá preguiça nessa vida é falso heroísmo. O blog orçado em R$ 1,35 milhão da Sra. Maria Bethânia, diva da MPB pela qual tenho (ou tinha até bem pouco tempo) o maior apreço, vem sendo um exemplo clássico disso (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/890568-projeto-aprovado-pelo-minc-preve-r-600-mil-so-para-bethania.shtml). No projeto original, a justificativa para existência do seu blog de poesia rezava que "em meio a tantos absurdos do mundo moderno, a tantos problemas que cercam a vida de todos, nos propomos a revolucionar a vida cotidiana de cada um".

Em meio a tantos absurdos do mundo moderno, eis aqui mais um: a Dona Maria (Bethânia) arroja-se o direito de reivindicar um cachê de R$ 600 mil pela direção artística do projeto (o que equivale a um salário de R$ 50 mil durante o período de um ano), atividade esta que inclui: "direção artística, pesquisa e seleção de textos e atuação em vídeos". O que significa que seu cachê seria superior aos 467 mil previstos na produção dos próprios vídeos.

Já a Sra. Ana de Hollanda, atual ministra da Cultura, acredita não existir nada de errado no direito de captar tais recursos via política de renúncia fiscal (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/891168-em-brasilia-ana-de-hollanda-minimiza-polemica-envolvendo-bethania.shtml). Nos dizeres da Ministra - que acha que "todos têm que tentar [aprovar seus projetos]. Se vão captar, é outra coisa" - o valor exorbitante de R$ 1,35 milhão não tem nada demais. Aliás, a defesa saiu pior do que qualquer soneto: ficou parecendo que as coisas foram resolvidas num café na cozinha dos Veloso com os de Hollanda, bem ao gosto das práticas de favorecimento da Casa Grande. Péssimo, péssimo, péssimo!

Mas convenhamos: é bem verdade que, conforme afirmou nossa ministra da Cultura, a aprovação para captação não signifca arrecadação efetiva. Eu mesma tenho uma amiga que comemorou com lágrimas nos olhos a aprovação de um projeto de R$ 250 mil para uma série de espetáculos de sua troupe de artistas. Mas meses depois ela não tinha conseguido captar nem dois pirulitos para a execução do seus espetáculos. É que os empresários andaram fechando as bolsas naquele custoso ano de PIB negativo que foi 2009.

Mas é aí que a aprovação de uma alta remuneração para uma artista de peso como a Dona Bethânia faz toda a diferença. Afinal, quem tem mais chances de captar recursos junto às grandes empresas: Dona Bethânia ou um simpático grupo de teatro de bonecos de BH? Advinhem!

A respeito do tal blog, tenho algumas pontuações a fazer: 1) adoraria ver a Dona Bethânia recitar na web; 2) acho que a poesia tem potencial revolucionário; 3) contudo, entretanto, porém... não com a grana retirada da renúncia fiscal. Isto é, não com aquela grana que poderia estar saindo das empresas devedoras de impostos e sendo potencialmente revertida em outra prioridades: inclusive em cultura, de forma mais honesta e mais democrática.

Cá pra nós: R$ 50 mil mensais para uma atividade que não é, nem será a única da artista em questão? Do meu bolso, não, criatura! Estamos falando de um país cujo salário mínimo é de R$ 545. E a dona Bethânia ainda manteve a discreta postura de não se pronunciar sobre o caso. Melhor mesmo. Aliás, nem sei! O que seria mais revolucionário: justificar publicamente uma descompostura dessas ou ficar quieta no seu canto? Se ela falasse, haveria mais sonetos mal-remendados, com certeza.

sexta-feira, 18 de março de 2011

O ônus da prova

Saiu na Folha Online hoje: justiça condena o Banco do Estado de Santa Catarina e a Empresa de Segurança Orcali em primeira instância por instar cliente de agência bancária a tirar suas roupas (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/890671-banco-e-condenado-por-pedir-a-cliente-para-tirar-roupa-em-sc.shtml). Segundo a matéria, depois da porta giratória ter travado diversas vezes (mesmo com a deposição de objetos metálicos na caixa coletora), a bolsa da cliente acabou sendo revistada por um policial militar que estava na agência. Mas nada foi encontrado.

Bem, se vocês acharam que o desconforto da cliente já tinha sido suficiente, esperem só para ler o prosseguimento do relato, que cita o texto da condenação: "Ainda assim, o funcionário disse que só autorizaria a entrada da cliente se ela tirasse a roupa, segundo o texto. A condenação diz que a 'situação virou um circo' e que várias pessoas na fila disseram 'tira, tira' ". É... Como diria minha finada avó: "eita nós!" Aviltante? Para a cliente em questão, tenho certeza que sim.

Mas existe um aspecto nas portas giratórias que a maior parte das pessoas desconhece. Estas são acionadas, no mais das vezes, de maneira totalmente arbitrária, com base em uma prática informal de perfilamento. Vejam bem: eu disse prática "arbitrária" e não "aleatória". O que isso quer dizer? É que a porta giratória nem sempre (aliás, creio eu que na maioria das vezes não) emperra por conta da presença de objetos metálicos: ela é muitas vezes acionada arbitrariamente por alguém que estipula se você é ou não suspeito. O modo de aferição? Um método cientficamente fundamentado chamado "espiadela".

E sabem como eu sei disso? Eu acabei fazendo a prova sem querer! Na condição de frequentadora mensal daquelas agências de recarga de cartões de ônibus, lá ia eu com mochila, laptop, celular, chaves nos bolsos. No início, nada acontecia. Depois de um tempo, começaram a me barrar sempre que eu estivesse de mochila (com ou sem laptop dentro). Depois de ter de abrir várias vezes a minha mochila e mostrar aquela divisória onde ficam os absorventes íntimos, comecei a achar menos graça na trava automática. Assim, por achar essa revista indelicada, passei a ir só de pochete, mas com celular e chaves devidamente inseridos lá dentro. Até aí, eu já tinha ficado mais diligente e começado a depositar o conteúdo suspeito na caixinha destinada a este fim. Até que um dia... eu esqueci de tirar a parafernália. E não fui barrada! Diante de tantos testes empíricos, ficou a amarga sensação de que a seleção deve ser mesmo arbitrária.

Quanto aos bancos e outras instituições afeitas à porta automática, bem... Sabemos que as vítimas preferidas costumam ter mais melanina no corpo. Querem uma prova? Um aposentado de 47 anos foi baleado após uma discussão com um vigia de banco (http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/corpo-de-aposentado-baleado-em-agencia-bancaria-de-sp-e-enterrado-20100514.html). Motivo no. 1: seu marca-passo havia acionado a porta giratória (argumento explicitamente defendido); motivo no. 2: ele por um acaso era negro (argumento implicitamente sabido, mas publicamente indefensável). Método de aferição? Perfilamento racial.

Quanto ao método científico da "espiadela", este já rodou mundo e virou matéria de formação de agentes de imigração nos EUA após atentado de 11 de setembro de 2001. Foda é que para condenar, uma boa espiadela basta. Agora, para se explicar... Guantânamo que o diga!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Nuvens radioativas, calamidades públicas

É estranho como, em tempos de calamidades públicas, esquecemos das calamidades privadas com uma facilidade impressionante! A falta de acesso aos livros ou a falta de hábitos de leitura, por exemplo, é uma dessas calamidades ordinárias que já não assusta quase ninguém. Agora, quando o quesito é "calamidade pública", a coisa muda rápido de figura. É que esse tipo de calamidade tem a propriedade de manter as pessoas num estado de patente sobrecarga emocional, superdimensionando os riscos enfrentados (ou simplesmente imaginados) e, consequentemente, os gestos para evitá-los.

Um efeito nefasto disso tudo é que fica ainda mais aguçada a capacidade das pessoas de anteciparem sofrimentos que, talvez, jamais venham a existir: li no site do Hoje em Dia, não sem alguma consternação, que o vazamento de radiação em Fukushima, no Japão, já havia começado a levar os franceses até as farmácias mais próximas. O objetivo é compor um aprivisionamento de pastilhas de iodo, "substância que impede que a radioatividade tenha efeitos sobre a tiroide (sic)"(http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/noticias/mundo/nuvem-radioativa-chegara-a-europa-semana-que-vem-1.253886). O prenúncio de uma nuvem radiotiva, liberada com explosão de reatores no Japão, e da consequente possibilidade de contaminação, acabou antecipando o seu próprio efeito: todos ficaram "contaminados" com a ideia de que a morte está próxima.

O problema é que, a rigor, a morte sempre esteve próxima! Afinal, como diz o ditado: "para morrer, basta estar vivo!". O que mudou, no entanto, foi a constatação da perenidade da vida, que, via de regra, só é feita na presença de eventos disruptivos e trágicos como as "calamidades públicas". É como se, sem elas, ninguém fosse morrer de jeito nenhum - o que é uma grande mentira.

Fato é que morremos sempre, um pouquinho a cada dia, quando vivemos pequenas calamidades privadas. A falta de leitura e de condições para gozar de suas benécias é uma dessas calamidades que atacam na surdina, matando as posibilidades de um futuro mais digno. Cito aqui a polêmica criada por escritores negros dos Estados Unidos em torno dos avanços dos livros eletrônicos. Esses autores temem, com muita propriedade, que a migração dos hábitos de leitura do livro impresso para o livro eletrônico acabe aumentando desigualdades estruturais de albetização entre brancos e negros (http://www1.folha.uol.com.br/tec/890052-mudancas-tecnologicas-podem-criar-desigualdade-na-leitura.shtml). É a escritora Marita Golden quem denuncia: "Caso a leitura venha a depender de tecnologia que precisa ser comprada, creio que a desigualdade na alfabetização persistirá e até mesmo crescerá". Aliás, o que vale para a realidade de lá, vale para a daqui também, só que num grau mais elevado: as taxas de analfabetismo dos negros no Brasil continuam sendo mais do que o dobro da dos brancos (http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,analfabetismo-entre-negros-e-mais-do-dobro-que-entre-brancos,611316,0.htm).

Claro, essa "pequena" calamidade privada costuma passar despercebida por muitos, principalmente por aqueles que acham que não sofrem diretamente com ela. O grande problema é que essa é uma calamidade privada com dividendos públicos indiscutíveis. Aqui, todos morrem, sem exceção.

quarta-feira, 16 de março de 2011

O dilema da tartaruga amputada

Tempos de grandes mudanças de eixo e de profundas transformações na percepção que temos do tempo! E eu aqui, me deparando com essa matéria intrigante: tartaruga que teve a pata esquerda dianteira amputada ganha rodinha no lugar da pata (http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2011/03/16/em-minas-gerais-tartaruga-tem-pata-amputada-ganha-rodinha-para-andar-924021553.asp).

A tartaruga macho (tartarugo?!) da raça Geochelone vai, no mínimo, viver uma crise de identidade sem precedentes. Uma parte dele vai se arrastar e a outra pedir balanceamento na oficina mecânica. 3/4 dele viajarão no ritmo lento dos trabalhos do Senado (http://www.jusbrasil.com.br/politica/6705025/novatos-no-senado-reclamam-do-ritmo-lento), enquanto 1/4 dele vai querer cantar rodinha nas curvas. Aliás, com qual dos membros a tartaruga macho vai ajudar a sua progenitora a atravessar a rua? Não vale resposta pornográfica.

Mas deu para perceber o descompasso? Descompasso dele para com ele mesmo. Ficou parecendo com certos seres humanos, cuja cirurgia plástica deu errado: queria ter uma pata nova, mas agora vai ter que se virar com a "rodinha".

É bem verdade também que a rodinha vai até ajudar a tartaruga macho a se locomover. Mas a que preço? Risco de esquizofrenia à vista, a tartaruga macho viverá em um eterno dilema: arrastar-se sobre três patas restantes ou trocar todas por pneus da Goodyear? E ainda terminam a matéria dizendo que o estado do bicho é bom.

terça-feira, 15 de março de 2011

Age of Aquarius

Fui pressionada por terceiros - leia-se Dona Jussara - a falar hoje sobre o tempo. O tema é batido, reconheço. Mas hoje também não tenho a menor pretensão de inovar, nem de entreter. Por isso mesmo, topei o deasafio.

Confesso que assim soube do último terremoto no Japão, fiquei logo imaginando em quantos centímetros o eixo da terra seria deslocado e o quão mais curtos ficariam nossos dias. Sim, meus caros, os dias estão ficando objetivamente mais curtos, não é balela. Na verdade, essa constatação veio à tona ainda nos últimos dias do ano de 2010, durante um papo com amigos no meu restaurante natureba preferido. Papo vai, papo vem, alguém comenta que o terremoto no Chile havia sido tão forte que ele deslocou em alguns centímetros o eixo da terra, alterando a inclinação da bolota e, consequentemente, a duração dos nossos dias.

Mas essa não foi a maior revelação daquele dia. Dona Diva, uma das pessoas com quem tive o prazer de me sentar à mesa, me relatou um fato interessante e que está diretamente relacionado à percepção do tempo: seu tio de 87 anos, que já não anda, nem enxerga, e que passa os dias inteiros na cama, havia confidenciado poucos dias antes a sua sobrinha que o ano de 2010 tinha voado, que os dias tinham passado muito rápido e que quando ele assustava, a semana já tinha acabado. Logo ele, cuja falta de mobilidade nos faria crer que o tempo seria uma das coisas mais arrastadas do mundo... E já não era. Fato consumado: os dias estão realmente passando mais rápido.

Mas voltemos ao eixo da terra. Ontem li que "o terremoto provavelmente mudou o equilíbrio do planeta, movendo a terra em relação a seu eixo em cerca de 16,5 cm. O tremor também aumentou a velocidade da rotação da Terra, diminuindo a duração dos dias em cerca de 1,8 milionésimos de segundo" (http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/noticias/terremoto-alterou-equilibrio-da-terra-e-dia-fica-menor-1.252531).

Ora, se o equilíbrio do planeta mudou, o que eu fiz para acompanhá-lo desde a 6a feira passada? Yoga, biodança, comida macrô? Sim, mas também deixei de escrever no blog ontem por falta de tempo... Ledo engano: adiar meus pequenos prazeres frugais - e escrever é um deles - não me fará uma pessoa mais equilibrada, nem mais concentrada, nem mais feliz. Por isso, com ou sem artigo concluído (já que essa foi a razão da minha abstinência literária), escreverei sobre o tempo. Assim, ao falar dele, quem sabe não consigo trazê-lo para para perto de mim e ficamos amigos até o final do dia?

P.S.= Ontem tive a felicidade de terminar meu dia cantando e dançando ao som dessa música do filme "Hair", uma bela homenagem ao meu signo e a minha era, a Era de Aquário! Acho que vou ali, colocar florzinhas no cabelo...

domingo, 13 de março de 2011

Revisitando um clássico...



A data limite para a entrega do artigo vai se aproximando e os convites à procrastinação se multiplicando...

Quoi qu'il en soit, eis aqui um raro exemplo de genialidade na senda dos covers: "Landmine has taken my sight/ Taken my speech/ Taken my hearing/ Taken my arms/ Taken my legs/ Taken my soul..."

sábado, 12 de março de 2011

Convite...

... para uma tarde contemplativa. Exaurida pelos devaneios com a Phyllomedusa, eu hoje preferi ficar com os olhos sossegados no horizonte.

Foto tirada na semana passada no Mirante do Rola-moça.

sexta-feira, 11 de março de 2011

O olhar da Phyllomedusa!

É verdade que venho demonstrando ultimamente uma certa predileção pelos artigos de vulgarização científica. A razão disso é bem simples: a despeito da pretensa seriedade e respeitabilidade científicas que eles ensejam, tais artigos costumam ser os mais engraçados de toda a miscelânia jornalística quotidiana. É como se, no transcurso do linguajar científico para a vulgata jornalística, eles tropeçassem no salto e perdessem toda aquela elegância que só a inacessibilidade aos mais comuns dos mortais sabia preservar.

Na minha modesta opinião, é justamente isso que os torna ainda mais atraentes: eles permitem aproximações e paralelos inusitados com outros eventos nem tão sérios ou nem tão respeitáveis. Vejamos esse exemplo: a Universidade de Newcastle, na Inglaterra, estuda a possibilidade de tratamento de fertilidade in vitro a partir do material genético de três pais biológicos diferentes (http://oglobo.globo.com/vivermelhor/mat/2011/03/11/tratamento-de-fertilidade-com-tres-pais-biologicos-esta-em-estudo-na-inglaterra-923992127.asp). Segundo a matéria veiculada no O Globo Online, tal técnica - que seria destinada ao controle de doenças hereditárias incuráveis - implicaria, em termos bem práticos, em um processo de fertilização "no qual o bebê seria concebido por três pais biológicos".

Fiquei pensando no quanto a Humanidade caminhou para descobrir que o sucesso em termos da fertilização é o método de reprodução da perereca Phyllomedusa. Aliás, se os geneticistas acham que estão inovando, lamento informar que essa simpática perereca chegou primeiro e que a ela cabem todos os royalties. Para quem não sabe, a Phyllomedusa - doravante denominada Filô para fins de simplificação ortográfica - é a grande mentora intelectual desse experimento, na qualidade de promotora do método "fertilização sorrateira". Generosa e antenada, a Filô é uma perereca que entende do real significado da divisão do trabalho: é que no seu método de fertilização, mais de um macho pode participar da fecundação de seus ovos.

Tudo se passa da seguinte forma: noite alta, dona Filô organiza uma festinha, à qual são convidados os machos da redondeza. Após um breve concurso para descobrir quem é o coaxador mais potente, o macho Pavarotti vencedor leva a Filô até um galhinho romântico, onde começa o processo de desova da fêmea e a consequente inseminação pelo macho. E é aí que entra em cena seu invencível método de "fertilização sorrateira", em que um segundo, um terceiro, um quarto e, quiças, um quinto pai biológico começam a entrar na dança.

A semelhança entre o método da Filô e o dos cientistas da Universidade Newcastle fica patente neste testemunho jornalístico emocionante: "Tivemos a oportunidade de observar um casal, já na metade da desova, atrair um outro macho, que, sorrateiramente, parecendo medir cada passo, aproximou-se e se posicionou entre o casal. O segundo macho também participou da desova, que vai gerar girinos de uma mesma mãe, mas de pais diferentes" (http://www.anda.jor.br/2009/09/01/especies-de-perereca-repetem-curiosos-rituais-de-acasalamento/).

Bem, todo mundo conhece ou já ouviu falar da Medusa - aquela figura mitológica feminina com cabelo de cobrinha - que, segundo consta nos autos, hipnotizava suas pobres vítimas, transformando-as em pedra. Diria que, nesse caso, os cientistas da Universidade de Newcastle parecem ter sido hipnotizados pelo olhar da Phyllomedusa. Claro, a graça disso tudo não reside no experimento em si, mas naquilo que seu relato jornalístico possibilita a uma imaginação ociosa como a minha. Tudo isso faz parte do próprio paradoxo da vulgarização científica: perde-se em complexidade, ganha-se em acessibilidade. E os trocadilhos vêm como bônus...

quinta-feira, 10 de março de 2011

Menu "detox"

Nesses dias de ressaca instituída por decreto federal, abundam nos jornais matérias como esta da Folha Online, que propõe "menus desintoxicantes" para restaurar o corpo dos excessos ocasionados pelas bebidas alcoólicas e pelas comidas gordurosas. Chás, sucos, saladas, wraps, smoothies... Só se esqueceram de receitar reza brava, porque de resto... (http://guia.folha.com.br/guloseimas/ult10080u886348.shtml).

Euzinha aqui, que ando revivendo e revirando emoções antigas - algumas melhores, outras piores - fiquei me perguntando que tipo de regime "detox" traria algum efeito para a alma. Não que eu ache que a dieta de alimentos não tenha efeitos sobre os ânimos, pelo contrário. Mas a alma pede cuidados especiais: alongamentos de coluna e da vontade, flexões de braço e de orgulho, alinhamento do pés na direção do destino, aquecimento do corpo e das ideias libertadoras. Mas o que poderia proporcionar tanta coisa boa junto?

Foi nesse intuito que escolhi um brevíssimo "menu detox" para a alma. Ele contém poucos preceitos simples para deixar sua alma mais limpa e mais leve:

1. Faça uma faxina nos seus contatos do msn; se a coisa vingar e o sentimento de alívio for muito grande, avance sem temor: corra para o Orkut e complete o trabalho de limpeza no Facebook. Depois acenda um incenso para arejar as ideias e atrair contatos mais profícuos...

2. Leia alguma coisa reconfortante, que te relembre prazeres frugais e descompromissados; vale Revistinha da Mônica e Superaventuras Marvel (para quem curtia, claro...).

3. Escute aquela velha canção que mexe com suas as entranhas; não necessariamente uma música que tenha marcado o seu passado (na verdade, é até melhor que não tenha), mas uma que te dê gosto de viver algo legal que você ainda não viveu. E reze para que esse futuro esteja bem próximo.

4. Medite sobre suas apreensões. Elas não estão aí apenas para encher linguiça ou para render alguns "posts" emotivos no seu blog. Elas dizem muito do que você viveu e, principalmente, da forma como você processou vários acontecimentos ao longo da vida. Medite para que suas apreensões não te imobilizem e nem te aprisionem. E seja feliz, mesmo estando triste.

Bom, para continuar no clima "detox", aqui vai uma música que ressurgiu do fundo do baú para revigorar meus ânimos e minha capacidade de sonhar com mais e mais ambição. Essa é da época do vinil: "Dig if you will the picture..."

quarta-feira, 9 de março de 2011

Otimismo à solta!

Não sei se eu corri do Carnaval, ou se o Carnaval correu de mim, mas o resultado disso tudo é que nós - eu e o Carnaval - mal nos encontramos este ano. No entanto, acordei com a nítida sensação de estar renascendo das cinzas, sensação esta que todo folião que se preze vive na malfadada 4a feira pós-carnavalesca.

Incrível! Alguma coisa dos carnavais passados desta vida ou de alguma outra anterior - quiças até alguma informação sigilosa inscrita no meu código genético carnavalesco - deve ter ficado para contar história e me influenciado a tal ponto que meu corpo tá achando que ele andou botando para quebrar nas quatro noites de folia. É como se, mesmo sem beber há mais de seis anos, eu acordasse com uma estranha sensação de ressaca! Caminhei pelas ruas até o banco, contas para pagar em riste, mas não vi durante o percurso nada que me distinguisse da cara de anteontem que carregavam os demais. Com a diferença de que eu não fui para o Rio, nem para Salvador, nem mesmo para Diamantina ou Ouro Preto. Deve ser mesmo contagiosa essa tal 4a feira de cinzas!...

Para servir de contraponto ao clima de topor reinante, eis aqui uma notícia capciosa: segundo cientistas da Universidade de Duke, da Carolina do Norte, a falta de sono tornaria as pessoas excessivamente otimistas, a ponto de assumir riscos que não assumiriam em outro contexto, digamos, mais "bem dormido" (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/886316-falta-de-sono-torna-as-pessoas-exageradamente-otimistas.shtml). Pior, segundo os especialistas, "os indivíduos privados de sono que participaram do estudo tenderam a fazer escolhas com mais ênfase nos lucros monetários e menos nas opções que permitem reduzir as perdas".

Quer saber? Para quem ainda pensa em lucrar alguma coisa depois desse Carnaval, aqui vai minha sugestão: não perca seu tempo seu tempo acreditando em artigos de vulgarização científica veiculados na 4a feira de cinzas. Ou ele está sendo patrocinado por alguma grande corporação do setor farmarcêutico, que tenta te convencer que seu anti-depressivo funciona, ou o responsável pelo artigo em questão está sofrendo do mesmo mal que descreve: excesso de otimismo. Lamento informar mas é que simplesmente não existe otimismo após o Carnaval. Só cinzas e ressaca! E quem disser o contrário está sendo otimista demais para o meu gosto.

E já que eu nem tenho forças para mudar o rumo dessa prosa... melhor nem insistir. Até amanhã, ressaqueado leitor!

terça-feira, 8 de março de 2011

Montanhas fotogênicas

Júbilo para os olhos, regozijo da alma. Quando a vida empaca, o céu escurece e a incerteza ronda a existência, é só olhar para as montanhas e me lembrar de que deve existir um bom motivo para eu estar aqui de volta.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Questão existencial com cara de enquete

Arrebatada por um brevíssimo lampejo carnavalesco, cá fiquei pensando com os meus botões: o que levaria alguém a ostentar um celular rosa desses nos outros 361 dias do ano?

domingo, 6 de março de 2011

Sem palavra, nem reputação...

Meus caros: meus dedos datilográficos não resistiram! Chove cântaros nessa cidade e minha reputação já não vale nem um amendoim torrado. Por isso, decidi mandar às favas minha promessa para dar este singelo recado: neste carnaval, dance como o Cisne Negro!



P.S.= Greetings from the Black Rabbit!

sábado, 5 de março de 2011

Carnaval 2011: as águas vão rolar...

E já estão rolando! Hoje, o primeiro dia de carnaval amanheceu em pleno dilúvio. As nuvens ainda pairam sobre o meu apartamento. Deve ser porque eu não viajei e nem sei se vou viajar. É como diz aquele velho hit da Bahia: "não sei se vou ou se fico, não se vou ou se fico... onde estiver, quero estar com você..."

Aliás, este carnaval está sendo a mais completa incógnita. Nada definido, tudo a decidir. É o autêntico carnaval do "seja o Deus quiser"!

No mais: amigos, leitores, passantes por este blog sem rumo definido, gente foragida do Brasil e que não pode curtir carnaval: não contem comigo! Não vou mais escrever neste blog durante o carnaval, nem que eu fique em BH, debaixo de chuva! Afinal, tenho uma reputação para cuidar (não sei bem qual é, mas tenho!).

Fora isso, aos foliões que já estão longe daqui, desejo um excelente carnaval! E que voltem com a saúde preservada.

Bom carnaval para todo mundo! E até a 4a feira de cinzas.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Bye, bye Grupo EME!

Último dia de trabalho no Grupo EME.
Obrigada a todos pela paciência, pelos pães-de-queijo, pelo café na reunião (que eu mesma preparava, diga-se de passagem) e pelas diversas ocasiões em que rimos uns dos outros.
Aproveito a oportunidade para agradecer Danila, Gabriel, Mônica e Thaiane (em ordem alfabética, que é para não dar briga) pela singela homenagem ao lado.
E aos demais, o meu "até breve"!

quinta-feira, 3 de março de 2011

Boa tarde: cuide bem da sua criança!

Impressionante como tem criança maltratada no mundo. Não estou falando apenas de crianças que são fisicamente supliciadas, mas também de adultos que carregam em si crianças magoadas ou maltratadas. Digo isso porque se, por um lado, o corpo cresce, por outro, a criança teima em permanecer lá dentro, encolhida, sobrevivendo como pode. É muito difícil, por exemplo, não ficar de cabelos em pé vendo cenas do enterro da pequena Lavínia, assassinada aos 6 anos pela ex-amante do pai (http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/03/03/sepultamento-da-menina-lavinia-morta-pela-amante-de-seu-pai-marcado-por-emocao-protesto-923926951.asp). Mas nem todo caso de maus-tratos termina em morte, e essas crianças mal-curadas e mal-acolhidas têm que seguir adiante, apesar dos pesares.

Indo na contramão disso tudo, o meu comentário de hoje é uma homenagem à minha criança e à criança que existe dentro de cada um de nós. E nada melhor do que um mergulho nas melhores memórias de infância para deixá-la contente. Quis então escutar uma das minhas canções preferidas do disco Arca de Noé 2 - O Leão - que foi música-tema na minha formatura de 3o. período do Jardim de Infância.

A bem da verdade, há até pouco tempo, achava que minha geração saía ganhando disparado da geração posterior - a chamada "Geração Xuxa" - por termos tido o privilégio de curtir Vinícius de Morais compondo para crianças. Só que depois de reescutar a Arca de Noé com as minhas sobrinhas, fiquei na dúvida: "deu um pulo e era uma vez um cabritinho montês" me pareceu um final trágico demais para um cabritinho. Ou então: "tua garra, uma navalha cortando a presa na queda", visto agora pelos olhos da vegetariana que me tornei, parece mais um ritual macabro: "quando se cansa, o leão mata um com cada mão"... E por aí vai. Mas esses eram dilemas que certamente nunca incomodaram a criança que fui, já que eu não nasci vegetariana. E, segundo consta nos autos, até que eu fui uma leoazinha bem convincente no teatrinho daquele ano.

Enfim, melhor deixar essas elocubrações pacifistas para outro dia. Hoje vou deixar a criança brincar solta, dançando na roda. Fica aqui então, para deleite geral, a canção "O Leão", interpretada por Fagner.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Piadas e mais piadas: "humor é lá fora"!

Depois do nome de Fernando Collor de Mello ter sido aventado para a presidência da Comissão de Relações Exteriores do Senado, é a vez do Sr. Tiririca, o deputado federal mais votado no Brasil na última eleição, mostrar a que veio na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados (http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/03/02/tiririca-voces-confundem-palhaco-de-la-com-deputado-daqui-923911274.asp). Na condição de membro permanente desta comissão, Tiririca espera contribuir com sua vivência de artista popular e palhaço para a temática dessa comissão.

Pode parecer implicância gratuita minha para com o nobre deputado, mas não é. Veja bem, não vou despejar minha ironia no fato de ser este senhor um homem de pouca escolaridade, nem no fato de ele ter tirado da sua profissão o sustento de seus seis filhos, conforme alegou Tiririca à imprensa no decorrer do dia de hoje. Reverencio a arte popular, pois acredito que ela envolve formas de mestria muito complexas e que levam muito mais tempo para serem reconhecidas por pares do que a maioria dos mestrados e doutorados por aí. Não é este, portanto, o foco da questão para mim.

O que mais me aflige, no caso, é a falta de memória do Sr. Tiririca quando este esbraveja diante dos jornalistas: "Humor é lá fora. Vocês (da imprensa) confundem o palhaço de lá com o deputado daqui. Aqui tenho que ser sério. Aqui tem o negócio do decoro". Alto lá, seu Tiririca: quem apareceu vestido de palhaço, falando em ajudar "os mais necessitado (sic!), inclusive a minha família" e conclamando o eleitor a votar "no abestado", não fui, nem a imprensa brasileira: foi o senhor! Tá tudo aqui: um verdadeiro pot-pourri para refrescar a memória de quem por ventura já tenha esquecido a sua nobre performance no último pleito.



O problema é que chorar as pitangas no plenário, pedindo respeito aos colegas e ao seu eleitorado, requer muito mais do que um esforço de abtração do seu passado recente, Sr. deputado: a atitude requer uma desvinculação moral do que foi dito em campanha, como se a campanha fosse "outra coisa" que não a política séria, aquela que exige decoro.

Só que o Sr. Tiririca e seus assessores de campanha se esqueceram de que pode existir vida política após o imediatismo do vale-tudo da campanha eleitoral. E é aí que o marketing eleitoral se vê forçado a deixar de ser mera estratégia de campanha para se tornar um verdadeiro trabalho de gestão de imagem. Trocando em miúdos, é a preocupação com a imagem pública que deve transcender o momento da campanha. E quem se esquecer disso, corre o risco de ter que gritar por respeito no plenário, perdendo o humor (aquele mesmo que o elegeu) ou pedindo para que o palhaço (que o levou até lá) não seja confundido com o deputado.

Também, para quem já anunciou que votaria no governo, mas acabou sendo traído pelos próprios dedos e votando na proposta do partido adversário, um sintoma de esquizofrenia a mais ou a menos, nem assusta tanto assim. E vamos que vamos, que depois de uma piada, sempre vem a outra... Aliás, advinhem quem será o vice-presidente da Comissão do Turismo e Desporto? Quem falou em "Romário" põe-a-mão-aqui-que-já-vai-fechar...

terça-feira, 1 de março de 2011

Automóveis, alvos móveis

Fiquei me lembrando daquela música do Ed Motta: "automóveis, alvos móveis, atropelamento e fuga". Foi essa a triste sensação que ficou quando vi o vídeo do atropelamento (vergonhoso, vergonhoso, vergonhoso...) impetrado pelo funcionário do Banco Central, o sr. Ricardo Reis, no último dia 25 de fevereiro, em Porto Alegre. O alvo foram pelo menos 16 ciclistas que faziam uma manifestação pacífica promovida pelo Grupo Massa Crítica em prol da substituição do carro pela bicibleta como veículo de transporte(http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/882600-justica-analisa-pedido-de-prisao-de-atropelador-de-ciclistas-no-rs.shtml).

O flagrante do atropelamento não deixa muita margem às conjecturas:



Mesmo contra a evidência das imagens, o atropelador alegou inocência. Só que sua situação tem ainda vários outros agravantes. A primeira delas é que, exatamente como na canção de Ed Motta, trata-se de uma sequência de atropelamentos, seguida de fuga sem prestação de socorro às vítimas (imperativo legal de qualquer pessoa que vivencia uma situação de atropelamento). Em segundo lugar, ao depor na delegacia, o motorista afirma ter "agido em legítima defesa" de si próprio e do seu filho de 15 anos, que presenciou toda a cena. Em terceiro lugar, o Sr Reis prestou um desserviço à formação do seu filho de 15 anos, ao qual deveria dar um exemplo... positivo! Pelo menos, é isso que se espera de um pai.

Bem, como este blog é bastante afeito a ironias, vou fingir que levo a sério a alegação de "legítima defesa" acionada pelo Sr. Reis e tentar imaginar diversas situações em que ciclistas poderiam atentar contra a integridade física e moral do senhor em questão:

1. Assassinato por buzinaço: ciclistas ensandecidos acionaram todos, de uma só vez, buzinas, apitos e campainhas estridentes, com o fino propósito de enlouquecer o motorista do Golf preto; atentaram, portanto, contra a integridade psicológica do motorista, que não suporta apito, nem buzina...

2. Agressão estética deliberada: mulheres com varizes, crianças sem dentes e velhinhos sem cabelo ostentatam suas mazelas estéticas livremente pelas ruas de Porto Alegre, com o intuito claro de estragar a paisagem que se desenhava pela janela do Golf; contra um crime dessa monta, não há ação mais preventiva do que o atropelamento; as crianças ficarão com menos dentes e as damas e velhinhos, com mais hematomas, isso é certo, mas pelo menos não passearão mais pelas ruas da cidade...

3. Transgressão da lei da gravidade: como se não bastasse os inconvenientes causados até então, os ciclistas, durante o atropelamento, optaram deliberadamente por infringir a lei da gravidade e voaram por cima do capor do carro; e ainda agiram de má fé, arranhando a lataria... atropelamento mais que merecido!

4. Obstrução da via: Mesmo depois de derrubados que nem dominó, os ciclistas insanos mantiveram-se no firme propósito de continuar transgredindo a lei, obstruindo desta vez a passagem dos demais carros com a imposição de barricadas de pneus, paralamas despedaçados e cacos daquelas armas de destruição massiva que chamam de buzinas... Ameaçaram a integridade do motorista, portanto, antes, durante e depois do episódio meramente defensivo.

Bem, vou parar por aqui. Minha ironia tem limite e a covardia desse sujeito também deveria ter. O poder de causar danos físicos de um carro é incomparavelmente superior ao de uma bicicleta. A suposta ameaça da qual se defendeu o motorista faltoso não era física, mas simplesmente psicológica: ele estava sendo confrontado com sua própria barbárie. E perdeu feio para ela!