UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: maio 2012

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Glaciares

Tem dias em que os jornais se tornam terrenos áridos e pedregosos, onde nenhuma notícia boa ou digna de comentário parecer vingar. Hora de apelar para o "tópico frio", aquele que serve de subterfúgio para falar de alguma coisa que não foi dita em lugar nenhum - nem nos jornais, nem na conversa de botequim.

Pois bem: hoje é dia de "tópico frio". E já que nada de suficientemente atrativo chamou minha atenção, passemos logo ao subterfúgio. Matéria publicada na Folha online anuncia: "Temporada de visitação ao Alaska tem início em junho" (http://www1.folha.uol.com.br/turismo/1097493-temporada-de-visitacao-ao-alasca-tem-inicio-em-junho.shtml).

Para quem não sabe, o Alasca é "visitável" entre junho e setembro - período que cobre o final da primavera e o verão naquela região. Fora desse período, não sobra muita coisa: só um punhado de gente e a Sarah Palin.

E aí, o leitor tropicalíssimo então pondera: o que tem de bom para se ver no Alasca? A matéria, claro, joga a isca com a resposta: "O litoral recortado, repleto de baias onde se destacam os glaciares, permite um contato direto com a natureza da região", avisa a matéria.

Pois se a intenção era seduzir o leitor afoito, aqui vou eu! Pudesse eu tomar um navio - aquele velho navio - iria hoje direto para o Alasca. Em um gesto desprendido, afundaria a cabeça - e com ela, alguns trilhões de neurônios recalcitrantes - no primeiro glaciar que visse pela frente. A manobra é arriscada, visto que minha cabeça anda quente e os glaciares andam derretendo rápido. Mas não há vida plena onde não há risco.

Na pior das hipóteses, ficaremos eu e as focas a reclamar da vida...




Espero que me compreendam, baleias, focas e leões marinhos, e que perdoem a heresia do meu "tópico frio": mas um subterfúgio para esfriar a cabeça é fundamental!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Canis lupus

E aqui vai mais um comentário sobre o tema "políticas públicas no mundo animal": depois do sucesso das políticas de imigração seletiva para abelhas suecas na Inglaterra (http://www.cronicasdejuvenal.blogspot.com.br/2012/05/bombus-em-busca-do-tempo-perdido.html), é a vez dos lobos voltarem às florestas da Europa Central.

Basicamente, o repovoamento dessas florestas pelos lobos tem sido ocasionado pela efetividade de políticas ambientais tomadas em anos anteriores: "contribuiu para o retorno um enfoque maior na política de meio ambiente, de proteção das florestas e a proibição da caça aos lobos, lei da União Europeia (UE) de 1992 que começou a ter efeito há cerca de 15 anos", afirma matéria publicada hoje no jornal O Globo (http://oglobo.globo.com/ciencia/lobo-retorna-europa-central-ressuscita-lendas-traz-desafios-5053405#ixzz1wK3lFsdP).

Pelo visto, o retorno do lobo resvala também em questões de governança, já que sua preservação está prevista em tratados internacionais: "No plano internacional, o lobo começou a ser protegido por um acordo da chamada Convenção de Berna, da qual são signatários todos os países que têm população desses animais".

E para quem duvidava da convivência pacífica entre seres humanos e lobos, as estatísticas são mais que alentadoras:  na região de Lausitz, leste da Alemanha, "Duzentos mil habitantes vivem nessa região, sem que tenha sido registrada uma única vítima do animal nos últimos dez anos. No mesmo período, apenas 16 das 15 mil ovelhas foram mortas por lobos, o que significa uma cota de 0,1%".

Nos termos do encarregado de animais selvagens da ONG Nabu - uma associação alemã de defesa do meio ambiente - "o lobo não é mais perigoso do que um porco selvagem, não vê nem as crianças pequenas como presas, apenas os veados. É diferente do urso, que vê o homem como presa".

Quem diria! Depois dessa, as fábulas precisarão de outro bicho para assustar as criancinhas. Enquanto a ameaça de desemprego grassa no reino fantasioso dos irmãos Grimm, os lobos reais brindam a vida com um gole d'água fresca do riacho, fazendo votos para que outro animal ocupe o miserável lugar de vilão no imaginário popular. 

P.S. = Eu voto na barata!

terça-feira, 29 de maio de 2012

Bombus - em busca do tempo perdido

Alguns países como o Canadá e a Suiça praticam há anos uma política de imigração seletiva. O Reino Unido também, mas só que desta vez as trabalhadoras não vem dos países em estágio avançado de desespero humano. As trabalhadoras visadas pela nova política de imigração vêm logo ali do norte, isto é, da Suécia... e têm asas!

Matéria publicada hoje no O Globo online dá detalhes desta nova empreitada migratória: "Cientistas britânicos pretendem recuperar 24 anos perdidos, tempo em que um tipo de abelha (Bombus subterraneus), também conhecida no Brasil como mamangaba, foi dada como extinta no Reino Unido. Os especialistas reintroduziram nesta segunda-feira a espécie trazendo insetos da Suécia, depois de três anos de trabalho" (http://oglobo.globo.com/ciencia/depois-de-24-anos-abelha-retorna-ao-reino-unido-5041707#ixzz1wDs2s2c7).

Pois é... No mundo dos países do dito Primeiro Mundo, políticas compensatórias de combate às desigualdades - demográficas, neste caso específico - entre países só acabam em alegre colaboração porque o assunto é fauna: "A abelha tem um papel importante na polinização das plantas. Porém, o inseto enfrentou um declínio estimado em 97% no Reino Unido. Na Suécia, por outro lado, sua população está aumentando". Se fosse um exército de trabalhadoras somalis, ávidas por um prato de comida, não sei se a transferência teria sido tão bem acolhida...

A diferença básica é que aqui o excesso populacional de uns é bem recebido por outros. E a política migratória tem requintes, vejam só: ela vem associada a uma política de assentamento no campo. "Os ambientalistas que atuam no projeto vão continuar monitorando as abelhas. Eles também estão trabalhando com agricultores para que o habitat delas seja conservado. Muitos chegaram a receber para que certos tipos de flores sejam plantadas ou mantidas. Outros são orientados a não cortar o feno para silagem tão cedo".

Em entrevista ao jornal The Guardian (e não "Gardian", conforme citado na matéria do jornal O Globo), um tal Nikki Gammans, responsável pelo projeto de reintrodução das abelhas, afirmou  que "este é um símbolo de que ainda há esperança: não temos de ficar passivamente assistindo a perdas de espécies e habitats".

Bem, se ainda há esperança, então está tudo bem. O problema vai ser se, um dia, a política migratória das abelhas falhar e a Bombus subterraneus resolver fazer jus a seu nome, promovendo atentados no metrô de Londres.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Cheias

Fluir junto com os problemas - mas acima deles - uma solução ironicamente simples.

Vejamos este exemplo publicado hoje na Folha online.

A Defesa Civil do Amazonas está tendo que realocar doze famílias duplamente desabrigadas, que até então viviam na localidade de Careiro da Várzea, situada a 25km de Manaus (AM). Digo "duplamente" porque o rio Solimões subiu tanto este ano que acabou cobrindo "as casas e abrigos onde as famílias estavam alojadas" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1095969-familias-atingidas-pela-cheia-no-amazonas-vao-morar-em-balsas.shtml).

O que fazer para conter esta cheia inédita, que fez o rio subir 13 cm acima do recorde histórico que já havia sido alcançado 2009? A solução foi simples. As famílias "começaram a ser transferidas nesta sexta-feira para barracas montadas em cima de uma balsa de ferro de 70 metros de comprimento", onde "foram instaladas cinco barracas e dois banheiros químicos". "Há fornecimento de água e energia elétrica", informa ainda a matéria.

Sobe o rio, sobe o barco, ficam as casas. E a vida segue seu livre curso.

Bom fim de semana para quem vai, para quem fica e para quem ainda não decidiu se vai ou se fica.

Ao café nosso de cada dia!

Coisa boa é ter  um blog. Coisa melhor ainda é ter um blog inspirado na ironia machadiana. A vida já é cheia de dissabores, então por que não fazer o que a gente mais gosta e mais sabe fazer na vida?

E já que este blog é meu e eu faço dele o que eu quero - com todo respeito às leis e a minha consciência, que é muito mais exigente do que as leis deste país - vou falar do que eu gosto de verdade: café! Minha gente, eu nem sabia, mas hoje, dia 24 de maio, é o Dia Nacional do Café!

O que seria de mim sem ele? Seria algo com um Machado de Assis sem ironia: ou seja, um ser incompleto. Machado de Assis não seria quem foi sem fazer uso da ironia. E a ironia nunca mais foi a mesma depois que Machado de Assis veio ao mundo. Enfim... O fato é que, hoje, eu sou um ser indissociável do café, assim como Machado de Assis é indissociável da ironia. Também sou irônica, mas não tenho a classe, nem o estilo do mestre. Mas, enquanto eu não chego lá, vou bebendo café, pois em um blog a gente faz o que gosta e o que saber fazer (e nem sempre as duas coisas andam juntas, infelizmente).

Bem, tenho que reconhecer que minha relação com café já passou por atribulações. Houve um período - que durou uns 5 anos, acho - em que fui obrigada a abdicar dele por questões de saúde. Agora que eu e o café reatamos nossa longa e profícua amizade, saúdo a bebida, a ironia e o mestre, Machado de Assis.

E ai daquele que subestimar o poder do café na imaginário afetivo do povo brasileiro! Neste barco não estou sozinha: são milhões de pessoas neste país que - como eu - amam café: "Segundo a associação dos produtores, em 2011 o Brasil teve o maior consumo per capita do mundo. Foram, pelo menos, 82 litros da bebida por brasileiro" (http://www1.folha.uol.com.br/comida/1095332-no-dia-do-cafe-veja-dicas-do-maior-especialista-do-brasil-para-melhorar-a-bebida.shtml).

82 litros de café per capto durante um ano. Inacreditável! E quem dera se o consumo das obras de Machado de Assis fosse proporcional ao do café. Quem sabe não teríamos um país ironicamente mais feliz, menos besta e com gente fazendo o que realmente gosta e saber fazer?





quinta-feira, 24 de maio de 2012

Visita real

Israel Kamakawiwo'Ole é um daqueles seres especiais, cuja voz é capaz de expressar com exatidão o sentido da palavra "transcendência". Basta ele abrir a boca para que uma autêntica sessão de teletransporte tenha início. Aliás, pouco importa aonde a voz do bardo havaiano vai lhe levar: a única coisa certa é que já não há mais retorno para aquele lugar onde você estava.

A letra da belíssima "Hawai I '78" não deixa por menos: ela fala de uma experiência mágica de "transcendência", em que o rei e sua rainha viajariam dos tempos remotos até os dias atuais para visitar os seus domínios.

"O que eles pensariam dessas rodovias que cortam suas terras sagradas?", indaga Kamakawiwo'Ole. "O que pensariam da vida moderna da cidade grande?" A resposta vem sob a forma de um lamento entrecortado de tristeza e nostalgia.

Essa música é um convite à reflexão e à transcendência. É como se, de repente, ela me levasse a perguntar com toda honestidade: o que minha parte mais sábia pensaria de mim se ela me visitasse hoje?

A resposta não precisa ser um triste lamento.


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Recusas

Eu hoje cheguei à seguinte conclusão: recusar o óbvio não é só uma questão de limitação intelectual ou mesmo de desvio de personalidade; é uma questão de conexão com o tempo e o lugar em que se está inserido. Na minha humilde opinião, quem recusa o óbvio apresenta problemas seríssimos de autismo social e merece ser punido com o rigor da lei. E pronto, acabou!

A razão de tanta revolta é esta notícia vexamosa publicada hoje no jornal Hoje em Dia online: "Um passageiro desistiu de voar após saber que a aeronave seria pilotada por uma mulher" (http://www.hojeemdia.com.br/minas/homem-se-recusa-a-voar-com-piloto-mulher-em-confins-1.449152).

Para nossa completa consternação, "o fato aconteceu no sábado (18), durante o embarque do avião da companhia Trip Linhas Aéreas, no aeroporto Tancredo Neves, em Confins, Região Metropolitana de Belo Horizonte". Só me resta então agradecer a este ignóbil cidadão, cuja identidade não foi revelada pela Assessoria de Imprensa da Trip, por ter colocado a Roça Grande na rota do autistas sociais, dos que perderam o trem bala da história e ainda por cima ficam tropeçando nos trilhos.

O fato é grave, mas a reação da Trip me deixou ainda mais consternada: "Diante deste fato, a comandante 'convidou educadamente esse senhor a sair da aeronave', informou a Trip. O passageiro foi escoltado de volta ao aeroporto e aguardou por outro voo."  Está tudo errado, Dona Trip! Liberar o passageiro do vôo é reconhecer - mesmo que implicitamente - que existe razão suficientemente válida para alguém se recusar a ser guiado por um piloto do sexo feminino.

O certo mesmo seria a comandante obrigar o passageiro a permanecer no vôo, só que com pequenas alterações na rota inicial: da Roça Grande, a aeronave partiria em vôo direto para Porto Alegre; de lá, pularia para Salvador, com direito a troca de aeronaves passando pela pista de decolagem e sob o sol de meio-dia; o vôo então seguiria para Recife, Rio Branco, Campo Grande, Manaus, São Paulo, Vitória, São Luís do Maranhão e Macapá, nesta ordem estrita, para só então retomar a rota Goiânia-Tocantins.

Um banho de realidade: eis o que merece o infrator! Que é para pensar duas vezes antes de abrir a boca e despejar conteúdo ilícito e impróprio para os ouvidos mais afinados com o seu tempo e lugar no planeta Terra.

E tem mais: quando eu chamar essa cidade onde vivo de "Roça Grande", por favor, compreendam: eu nunca estou exagerando! Os indícios de provincianismo são fortes e as atitudes condizentes com a nomenclatura. O pior cego, meu caro leitor, é aquele que não quer ver. E tenho dito!

terça-feira, 22 de maio de 2012

Apogeu e perigeu

Nem todos tiveram o prazer do testemunho ocular, mas ainda assim valeu a pena "folhear" as fotos na Internet: mesmo tendo sido visível apenas em algumas regiões da Ásia e da América do Norte, nossas retinas foram presenteadas com essas belas imagens do eclipse solar de ontem (http://oglobo.globo.com/ciencia/durante-eclipse-solar-estrela-ficou-parecida-com-um-anel-4955127).

Aliás, este mês tem sido fértil em espetáculos celestes desta natureza. Há duas semanas atrás, tivemos a oportunidade de testemunhar a famosa Superlua, momento em que nosso satélite alcançava o ponto mais próximo da Terra na sua órbita, o que fez com que ele parecesse "até 14% maior e 30% mais brilhante".

Passado tão pouco tempo, um novo fenômeno ocorre justamente no momento oposto, isto é, no ponto em que a lua estava mais afastada da Terra. Exatamente por isso, a lua, ao ficar "na frente do Sol, pareceu ser um pouco menor que a estrela. Como não foi totalmente coberto, o Sol ficou com a aparência de um anel muito brilhante", conforme descreve a matéria publicada hoje no jornal O Globo online.

Pois é a lua que nos ensina: a vida é feita de apogeus e perigeus, isto é, de momentos em que estamos mais próximos e mais distantes daquilo que escolhemos como o centro da nossa existência. A questão é que poucos de nós temos realmente ciência do eixo em torno do qual orbitamos ciclicamente. Isto é: quais são, de fato, nossos anseios prementes, nossas reais motivações, aquilo que nos faz acordar de manhã e chegar até o final do dia certos de termos cumprido nossa missão?

E assim como a Terra, que se move em torno de um sol, centro do nosso sistema, nossos anseios e motivações também mudam de lugar. E eles têm seu próprio sol - seu próprio eixo de referência - e acabam levando todos nós, luas orbitantes, consigo  no espaço. Em outros termos, nossos anseios e desígnios nunca são gratuitos; eles nos levam a reboque até o resultado dos nossos atos.

Estranhos momentos estes de apogeu existencial, em que nos distanciamos - mesmo que momentaneamente - daquilo que realmente nos move. São momentos de teste, pois a distância torna o nosso alvo (no caso, a "nossa" Terra) menos nítido e, portanto, mais difícil de ser divisado.

Que fazer então? Mudar de órbita? Talvez simplesmente esperar que coisas fantásticas como este último eclipse possam nos acontecer, nos colocando frente a frente com o sol da consciencia para pedir a ele nosso bem maior: clareza dos nossos erros e também das nossas qualidades. E aí então, por sorte ou  merecimento, tudo aquilo que nos move, passará também a nos comover.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Status de relacionamento

É... Os tempos realmente são outros!

Na Índia, homem se casa, não muda status de relacionamento no Facebook e acaba divorciado da esposa dois meses depois da união conjugal. Pelo menos é o que afirma notícia publicada hoje na Folha online (http://f5.folha.uol.com.br/humanos/1092363-mulher-pede-divorcio-apos-marido-nao-conseguir-mudar-relacionamento-no-facebook.shtml).

Citando como fonte o jornal "Deccan Chronicle", a notícia relata a decisão da esposa de dar fim ao relacionamento nos seguintes termos: "a moça afirmou à justiça que ela não pode confiar nele depois de sua falha para anunciar o casamento na rede social".

Para rebater tese tão bem fundamentada, o advogado do marido desmemoriado veio com a seguinte justificativa: "Ele estava disposto a fazer isso na mesma hora ou até mesmo desativar sua conta, no entanto, a mulher não estava interessada em continuar com o casamento e disse que seu marido poderia estar fazendo coisas pelas costas e ela não podia confiar nele".

Achei justíssima decisão dela!

Não se pode mesmo confiar em alguém que ignore que as redes sociais se tornaram um verdadeiro celeiro de desavenças entre casais de todas as idades. Aliás, sou totalmente a favor à iniciativa dos casais tentarem primeiro manter um "relacionamento sério" no mundo virtual das tais redes de relacionamento; se der certo, aí, sim, eles passariam à união de corpos. Isso evitaria uma série de inconvenientes desagradáveis em plena praça pública facebookiana e reduziria drasticamente o número de divórcios no mundo moderno.

Querem uma prova? Dêem uma olhada no Oscar Niemeyer: ele acaba de sair do hospital após ficar 12 dias internado com pneumonia e desidratação (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1092506-arquiteto-oscar-niemeyer-recebe-alta-apos-16-dias-de-internacao.shtml). O seu caso é exemplar: aos 104 anos de idade, Niemeyer está no seu segundo casamento. O primeiro durou cerca de 78 anos e só terminou porque sua esposa veio a falecer em 2004.

O segredo de tanta longevidade -  inclusive, a conjugal - não poderia ser outro: o astuto arquiteto de Brasília nunca teve de quebrar a cabeça com seus relacionamentos no Facebook. Tão claro e certeiro quanto 2 + 2 = 4.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Coisa deles lá

Agora, falando sério: as pessoas teriam muito a ganhar se elas se interessassem mais pelos calendários demográficos do que por um fim de mundo (supostamente) anunciado pelo calendário maia. Poucos desconfiam, mas é na demografia que reside a chave para o entendimento de uma verdadeira e profunda mudança nos padrões das relações econômicas, culturais e sociais que ocorrerão nos próximos anos.

Em termos de professia demográfica, nota-se, por exemplo, que os EUA conheceram em 2011 a concretização de uma tendência que começou a se desenhar no período pós-guerra e que acaba de ser confirmada com a publicação hoje dos dados do último censo daquele país. "Os bebês nascidos em famílias de minorias étnicas representaram pela primeira vez na História a maioria (50,4%) em relação aos filhos de brancos que vieram ao mundo durante todo o ano", revela matéria publicada hoje no jornal O Globo online (http://oglobo.globo.com/mundo/bebes-de-minorias-sao-maioria-nos-eua-4922219#ixzz1vBN9A34i).

Isto significa que, muito em breve, a chamada "maioria" deixará de sê-lo, cedendo lugar a uma população de composição mais heterogênea do ponto de vista étnico-racial, isto é: composta por latinos, asiáticos, negros, conforme categorização adotada naquele país. "Segundo as projeções dos demógrafos, os brancos deixarão de ser maioria na população adulta depois de 2040, com impacto difícil de prever sobre a economia, a política e a cultura americanas".

O crescimento populacional não-branco não está, contudo, ligado a um suposto aumento da imigração, como poderiam supor alguns. "O crescimento é movido principalmente pelos nascimentos de bebês (a taxa de fecundidade desses grupos étnicos é superior à dos brancos) em solo americano". Trocando em miúdos, não deixa de ser uma revisitação da ideologia do "façam amor, não façam a guerra", só que totalmente destituída da estética hippie, mas com profundas consequências para a auto-imagem de um país.

E se alguém aí estiver achando que a tendência é "coisa deles lá" e que isto não tem nada a ver conosco, está na hora de atualizar seus conceitos com relação a nossa auto-imagem também. É que nosso censo de 2010 revelou algo muito parecido: "pela primeira vez na História do Censo, a população do Brasil deixa de ser predominantemente branca. Pelos dados de 2010, as pessoas que se declararam brancas são 47,73% da população, enquanto em 2000 eram 53,74%. Nos outros Censos, até agora, os brancos sempre tinham sido mais que 50%" (http://oglobo.globo.com/politica/censo-2010-populacao-do-brasil-deixa-de-ser-predominantemente-branca-2789597).

Claro, como a questão ultrapassa o simples pertencimento a uma categoria demográfica para envolver uma consciência mais profunda do sentido histórico da própria minoria, a buraco é sempre mais embaixo. "No governo do presidente Barack Obama, primeiro representante de uma minoria a governar o país, o número de deportações de imigrantes mexicanos em situação ilegal cresceu exponencialmente, ultrapassando a marca alcançada nos dois mandatos do presidente anterior, George W. Bush", recorda com muita propriedade a matéria publicada hoje sobre no O Globo.

E se alguém aí, mais uma vez, ficou achando que perseguição e minorias é "coisa deles lá", então o melhor mesmo vai ser este(a) dito(a) cujo(a) ir dormir com esta notícia aqui, publicada também no dia de hoje: "A Justiça Federal de São Paulo condenou por crime de discriminação a estudante de Direito que postou, em 2010, mensagem preconceituosa e de incitação à violência contra nordestinos no Twitter" (http://oglobo.globo.com/pais/condenada-estudante-acusada-de-discriminacao-no-twitter-4917740#ixzz1vBWFIPrU).

Moral da história: o país e o mundo estão mudando. E está passando da hora de atualizarmos nossos conceitos.

Genérico

Aviso aos navegantes: estou dando um tempo nas veleidades do mundo noticioso para fazer um desabafo de fã, pode ser?

Então lá vai: eu juro que essa eu não entendi! A banda inglesa Letz Zep - que se apresentará amanhã na cidade de São Paulo para cantar hits consagrados do legendário Led Zeppelin - diz contar com o apoio de dois dos ícones da banda original: Robert Plant e Jimmy Page.

Pelo menos é o que afirma esta nota publicada hoje no Guia Folha: "O quarteto tem aprovação de Robert Plant e Jimmy Page - respectivamente, vocalista e guitarrista desta que é uma das maiores bandas de rock" (http://guia.folha.com.br/shows/1090034-com-aprovacao-de-robert-plant-grupo-britanico-toca-led-zeppelin-em-sp.shtml).

Para mim, soa tão estranho como a indústria farmacêutica fazer propaganda de genérico. Mas o pior não é isso. O preço dos ingressos - que variam entre R$ 100 e R$ 180 - me levou a crer que o show era com a banda original. Isso porque os ingressos do setor VIP, que custavam "módicos" R$ 220, já estão esgotados.

Das duas, uma: ou eu fiz voto de pobreza, não fui informada e fiquei totalmente fora da realidade do mercado de shows no Brasil; ou eu vou precisar quebrar muito cofre de porquinho para poder ver John Paul Jones, Jimmy Page e Robert Plant subirem juntos no palco.

Enquanto o porquinho engorda, fico por aqui curtindo comodamente, no sossego do meu lar, este pequeno prazer youtubiano:

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Acordo

Quem não se lembra daquela campanha da Benetton lançada no final do passado portando o slogan "Unhate" - aquela mesma que mostrava figuras políticas ou religiosas mundiais aos beijos? (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com.br/2011/11/no-tunel-do-tempo-da-publicidade-16_24.html).

É bem verdade que o beijo era fotomontado. Mas era justamente na improbabilidade da cena que residia seu maior atrativo: conciliar figuras públicas "aversas" em um ato a um tempo íntimo e afetivo: Nicholas Sarcozy e Angela Merkel, Barak Obama e Hugo Chávez, o Papa Bento XVI e o imã Al Azhar, etc...

Nada ao azar, diga-se de passagem. Tática de campanha velha de guerra (já que os primeiros indícios de provocação via publicidade vieram ao mundo na virada dos anos 1990), tudo parece ter sido friamente calculado para estarrecer e chocar multidões. Claro, sempre obtendo cobertura midiática gratuita e a certeza de correr na boca do povo.

Pois bem: hoje foi a vez a Santa Sé arregaçar as manguinhas e fazer valer seu peso político. "O Vaticano e a grife italiana Benetton chegaram nesta terça-feira a um acordo em relação à publicação de uma imagem do papa Bento 16 beijando o imã Al Azhar", relata matéria publicada na Folha online (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1090646-vaticano-faz-acordo-com-benetton-sobre-imagem-polemica-do-papa.shtml).

O fim do litígio foi anunciado publicamente por Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano: "A Santa Sé não quis pedir indenizações de natureza econômica, mas quis obter o ressarcimento moral de reconhecimento do abuso realizado e afirma a sua vontade de defender, inclusive por meios legais, a imagem do pontífice". Com isso, "além da retirada da imagem, a marca deverá doar uma quantia em dinheiro para um projeto de caridade da Igreja".

Como se o Vaticano andasse pobre, pobre, pobre, de marré, marré, marré. Aliás, se for para zelar pela reputação moral do clero, o melhor mesmo seria gentilmente solicitarmos aos meios de comunicação do mundo que parem de veicular esses casos horrendos de pedofilia que pululam por aí afora e que só contribuem para o desmerecimento da religião católica.

Hora dessas, a Família Benetton deve estar mais é rolando de rir no tapete da sala, enquanto escolhe qual cofre de porquinho vai quebrar para pagar sua dívida de caridade - certamente uma bagatela inexpressiva diante extensa cobertura noticiosa gratuita e que, inclui, inclusive, a atenção da autora deste blog.

Aliás, vou dormir porque do meu cofre de porquinho cuido eu!



terça-feira, 15 de maio de 2012

Santa Inocência, Batman!

Meu nome hoje seria Perplexidade, mas acabei trocando-o por Desânimo.

Para falar a verdade, eu não estava nem aí com esse lero-lero em torno das fotos íntimas de Carolina Dieckmann. Há alguns anos, quando eu ainda campeava em terras estrangeiras, pude ouvir de longe o mesmo tipo de polêmica em torno da privacidade com o caso Cicarelli. Daquele burburinho, ficou só uma lição: o produto imagético motivador da polêmica costuma não valer nem o esforço de uma procura no Google.

Mas só fui mudar de nome mesmo quando li esta matéria publicada na Folha online de hoje, abordando medidas práticas para que "textos, fotos e vídeos íntimos fiquem bem guardados" (http://www1.folha.uol.com.br/tec/1089392-fotos-de-dieckmann-nua-tiveram-8-milhoes-de-acessos-saiba-como-proteger-as-suas.shtml).

Para início de conversa, a principal maneira de impedir que seus arquivos delicados caiam nas mãos de terceiros é a criptografia. Isto significa "embaralhar as informações dentro deles" e só torná-las legíveis novamente por meio de senha.

Só que aí começa o receituário para alavancar uma senha "poderosa", isto é, dificilmente advinhável por um hacker mal-intencionado. Ela deve ter pelo menos 8 caracteres e misturar letras, números e símbolos. E você se pensou em utilizar aquele dispositivo gentilmente oferecido pelo seu navegador como paliativo contra a complexidade a senha, pode desistir: as senhas armazenadas assim também podem ser facilmente interceptadas por hackers. O mesmo vale para as famosas perguntas-chave, valiosas quando se quer lembrar da senha esquecida: não vale usar informações facilmente garimpáveis nas redes sociais, como cidade onde nasceu, time preferido, etc.

Além dos programas de criptografia (alguns deles até gratuitos), ainda tem mais coisa para ser baixada para proteger seus arquivos: programas "trituradores" como CCleaner prometem apagar para sempre aqueles arquivos que você achava que tinha excluído simplesmente porque você os jogou na lixeira o seu cumputador. E se você achava que as coisas funcionavam assim, benvido(a) ao mundo dos espertos: arquivos exlcuídos na lixeira podem ser recuperados, "mesmo que a máquina seja reformatada". Ugh!

E se você achou que o martírio tinha terminado, calma que ainda tem mais informação para acabar com sua santa inocência internética de vez: você certamente terá que desembolsar mais algum dinheiro extra para comprar um HD externo, dar preferência a acessos a serviços de Internet pagos em detrimento das redes sem fio públicas (sem senha), atualizar devidamente seu anto-vírus, além de contratar uma babá todas as vezes que chamar um técnico de informática na sua casa.

É isso mesmo. A matéria incita vigilância estrita sobre o(a) funcionário(a) em questão: "Se você precisar consertar sua máquina, remova a unidade de armazenamento dela ou peça ao técnico que faça o conserto na sua frente". Mas como é que eu vou fazer uma coisa dessas se eu ainda estou apnhando para saber o que é unidade de armazenamento? Aos mais aflitos como eu, a matéria ainda tenta dar alguma esperança: "Se isso não for possível, vale a pena usar a criptografia ou o triturador de dados". E assim voltamos ao topo da lista de sugestões. Bravo!

Claro, com tanta coisa para entender, providenciar e administrar, o sono dos justos corre o risco de ficar abalado. Na verdade, já sinto saudades dos tempos em que não tinha conhecimento desses "perigos" e podia dormir tranquila, sem me preocupar com hackers de nenhuma ordem.

Mas os tempos mudaram! O jeito vai ser recuperar o sono perdido, seguindo o passo-a-passo desse outro receituário: "Conheça sete maneiras de acabar com a insônia sem usar remédios" (http://oglobo.globo.com/saude/conheca-sete-maneiras-de-acabar-com-insonia-sem-usar-remedios-4877384). Resta agora saber se vai me sobrar algum tempo para dormir.

Emfim... boa noite para quem fica!




sexta-feira, 11 de maio de 2012

Na sala de estar

É verdade! Eu já andava com saudades de uma das minhas implicâncias preferidas: as matérias jornalísticas sobre o fim do mundo.

Mas esta aqui pelo menos tem o mérito de não entrar na onda da "Crônica de uma Catástrofe Anunciada": matéria publicada no jornal O Globo online por arqueólogo da Universidade de Boston que acaba de publicar na Revista Science diz que é tudo mentira: o mundo não vai acabar em 2012! (http://oglobo.globo.com/ciencia/novos-calendarios-maias-afastam-fim-do-mundo-em-2012-4864914#ixzz1uWdO6hjM).

Ufa! Ainda bem! Precisava mesmo de um artigo da Science para ter certeza disso. Aliás, uma das poucas novidades trazida pelo arqueólogo da vez, o sr. William Saturno, é a originalidade da fonte citada: o mais antigo calendário astronômico maia de que se tem notícia e que é "centenas de anos mais velho que o chamado 'Códice de Dresden', de onde os arautos do fim do mundo tiraram a ideia de que os maias previram uma catástrofe global em 21 de dezembro deste ano". E, exatamente como na vida acaêmica moderna, entre duas versões do mesmo dito, prevalece a fonte mais antiga!

A outra novidade trazida pelo arqueólogo também tem lá o seu charme: o mural está disposto em um ambiente um tanto quanto inusitado. "Os hieróglifos estão em uma das paredes de um cômodo de um complexo habitacional em Xultún que os pesquisadores acreditam era usado como local de trabalho peplos (sic!) sacerdotes e astrônomos responsáveis pela contagem do tempo".

Que curiosa homologia! Na maior parte das salas de estar dos conjuntos habitacionais do nosso país (na eventualidade de realmente possuírem este cômodo), o mundo acaba todas as noites quando a TV está ligada no Jornal Nacional. Moral da história: somos mais maias que os próprios maias, pois nosso ciclo de catástrofes dura apenas 24h, tempo necessário para a fabricação da próxima edição do dito telejornal.

"É a primeira vez que vemos esse tipo de escrita na parede de uma casa e um espaço como este tipo de uso em uma cidade maia – destaca Saturno". Se eu tivesse pensado nisso antes, também teria escrito um artigo para a Science. Mas como comi mosca, William Saturno primará sobre William Bonner. E nossos conjuntos habitacionais continuaram sem o glamours do seu corrrespondente maia.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Muralha

Da série "Ideias de Jerico": se a Ferrari queria aparecer mais do que qualquer outra marca do planeta, ela definitivamente conseguiu seu intento!

Símbolo de ostentação, poder e status do homem ocidental, a famosa marca de carros fez questão de manchar o único artefato humano avistável da lua: a Muralha da China.

Pelo menos é o que reza notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online: "As marcas de pneus deixadas por um automóvel Ferrari em um evento promocional nas muralhas históricas da cidade de Nankin (leste da China) provocaram a fúria de vários chineses e levaram a montadora italiana a pedir desculpas"  (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/ferrari-pede-desculpas-a-china-por-marcas-de-pneus-em-muralha-1.443285).

Aposto que alguém aí em frente à tela do computador já deve estar se perguntando: como é que um automóvel da linha Ferrari 458 Itália foi parar no alto da Muralha da China? Elementar meu caro Watson: "A Ferrari foi alçada à parte superior da muralha por uma grua e no local fez várias manobras, deixando as marcas de pneus sobre as pedras, segundo um vídeo que mostra agentes de limpeza tentando, em vão, limpar as marcas".

Sem dúvida, a Ferrari acabou fazendo um "negócio da China": "O incidente destacou o crescente ressentimento na China contra o luxo às vezes ostentoso ligado à marca esportiva". Como se precisasse de muita coisa para despertar a ira anti-capitalista dos chineses.

E, pensando bem, coitado do jerico! Duvido que algum teria uma ideia tão estúpida assim!



quarta-feira, 9 de maio de 2012

Ouro de Mina

Garimpar uma notícia que pudesse suscitar o mínimo resquício de otimismo na minha pessoa hoje foi tarefa árdua, quase impossível. O melhor que achei foi isso aqui: "Dustin Hoffman salva vida de jovem que sofreu parada cardíaca", anuncia título de notícia publicada na Folha online (http://f5.folha.uol.com.br/celebridades/1087151-dustin-hoffman-salva-vida-de-jovem-que-sofreu-parada-cardiaca.shtml).

Está certo notícia é requentada de outra publicada previamente no tabloide inglês The Sun. Mas, na altura do campeonato, pouco importa. Nessas horas de escassez de notícias boas, dispenso sem delongas meus exigentes critérios de originalidade.

É verdade também que o salvamento do jovem Sam Dempster, um advogado de 27 anos, nem foi tão espetacular assim: "No momento do incidente, o ator, de 74 anos, ligou para emergência e, enquanto esperava a chegada dos médicos, ficou ao lado do advogado durante 15 minutos. De acordo com o jornal britânico, Hoffman chegou a realizar massagens cardíacas na vítima".

Mas pouco me importa hoje se o salvamento resumiu-se à uma ligação, massagens cardíacas (relatadas por um tabloide sensacionalista de índole duvidosa) e 15 minutos de espera pela ambulância. Por hoje, basta: O Sr. Hoffman já tem obteve minha simpatia.

A bem da verdade, estou pouco me lixando para o fato de que o evento tenha acontecio há dez dias. Para mim, tá valendo assim mesmo. O que eu quero hoje é motivo para deitar minha cabeça no travesseiro e sonhar com dias melhores, povoados de notícias alvissareiras.

Mas, por hoje, chega! E se ao deitar minha cabeça no travesseiro eu acabar sonhando com o Dustin Hoffman, já estarei levantando minhas mãos aos céus!

Aliás, ótimo ideia! Vou ali consultar meu travesseiro e perguntar o que ele acha do salvamento de Dustin Hoffman. Abraços para quem fica, que o meu travesseiro anda bom de conversa.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Violência à brasileira

Matéria publicada hoje no Jornal Hoje em Dia confirma nosso favoritismo: o Brasil, País da Mil e Uma Plásticas, está entre os primeiros colocados... no mapa mundial da violência contra a mulher (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/2.349/brasil-esta-em-7-lugar-em-homicidios-de-mulheres-1.442506).

Os resultados revelados pelo estudo "Mapa da Violência de 2012: Homicídios de Mulheres no Brasil" - realizado pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO) e pelo Instituto Sangari - são simplesmente vexamosos: além de estarmos posicionados em 7o lugar numa lista de 84 países, os números mais recentes sinalizam um crescimento sensível na última década: "O objetivo do estudo é traçar um panorama da evolução do homicídio de mulheres entre 1980 e 2010, quando foram assassinadas 91.932 mulheres, sendo quase a metade - 43.486 mortes - na última década desse período", revela a matéria.

Nada mal para um país que se diz liberal e que não possui leis que imponham a extirpação do clítoris ou condenem mulher adúltera à morte por apedrejamento.

A bem da verdade, aqui se pratica excisão e lapidação de um jeito muito nosso. O primeiro castigo - o da "excisão" -  nasce da obsessão auto-multiladora de se adequar - pela via cirúrgica - o corpo que se tem a um modelo que poucas são. Já a punição da mulher com a morte virou simplesmente uma questão de método: trocamos as pedras pelas balas. De resto? Nada a celebrar!

Para quem quiser acessar o relatório completo do estudo, eis aqui o link:  http://www.mapadaviolencia.net.br/.

Boa noite para quem fica. Vou ali sonhar com dias melhores para nós, mulheres brasileiras.





sexta-feira, 4 de maio de 2012

Maratona

Oba, oba, oba!

É hoje que começa a Maratona no Olimpo! A ordem agora é subir a montanha em busca da inspiração dos deuses e deusas.

Abraços para quem fica, sorte para os que me acompanham.

O Site das Cebolinhas

Queridos leitores: saibam que esse nosso ofício de comentarista de generalidades e banalidades diárias comporta alto grau de risco e requer, antes de mais nada, muita classe. Fato incontestil: ao rir da banalidade alheia, você pode estar relatando suas próprias fraquezas de caráter.

Exemplo clássico é essa matéria publicada hoje no jornal Hoje em Dia online: ela divulga um site de gosto bastante duvidoso, cuja proposta é compilar fotos bizarras e supostamente mal-sucedidas - na modesta opinião vaticinal de quem as selecionou (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/site-reune-fotos-bizarras-de-pessoas-que-buscavam-glamour-1.440846).

Mas falemos primeiro do site (http://thechive.com/). Após uma breve visita exploratória, nota-se que ele muito provavelmente compila fotos que tenham sido previamente publicadas na Internet (ao menos, é o que dá a entender a seção "Daily Afternoon Randomness") ou que tenham sido enviadas pelos internautas (vide balãozinho "submit pics" no canto direito da página). Além disso, e a julgar pelo seu slogan, o site parece particularmente adepto da auto-ironia com o provocativo título de "provavelmente o melhor site do mundo".

A meu ver, um dos problema gritantes de sites "críticos" como este é que eles tomam por universais determinados critérios - absolutamente particulares, diga-se de passagem - de beleza e sofisticação, só que pelo avesso: é como se A contasse uma piada sobre B para C, e ambos interlocutores considerassem B abominável, desprezível ou indigno de respeito. Mas em um mundo pluralista, marcado pela diversidade de padrões de comportamento, modelos estéticos e gostos, nem sempre (quando não muito na maior parte das vezes) A e C comungam das mesmas visões sobre B. E é nessas horas que alguém pode não entender o motivo do riso, inclusive B, alvo da chacota.

O segundo problema desse tipo de site é de cunho ético. Afinal, "The Chives" pode ser lido por A, B e C. E é quase certo que B certamente não ficaria feliz de saber que ele é considerado "bola fora", motivo de escárnio e desdém de A, C e quem mais visitar e comentar a url. E mais: será que as fotos de B foram publicadas com o seu consentimento expresso ou foram surrupiadas por A e C? E se tiverem sido previamente aprovadas pelo seu protagonista, o que levaria alguém a se expor a tamanha degradação? Estas são perguntas cujas respostas fatalmente não serão dadas no âmbito desse comentário.

Voltando à matéria do Hoje em Dia: muito pior do que divulgar um site de gosto duvidoso como se fosse a oitava maravilha do universo é expor o próprio pré-conceito nos jugamentos. Convenhamos, o lead da matéria foi de uma infelicidade extrema: "Cabelo ruim, maquiagem ou foco inadequado. O 'The Chive' não deixa escapar nenhuma imagem. Confira".

Bem, se alguém ainda não entendeu aonde quero chegar e qual a razão da minha perplexidade, aqui vai uma breve explicação: dizer "cabelo ruim" fala muito dos conceitos de beleza do seu autor. Ele pressupõe uma divisão maniqueísta em cabelos bons e cabelos ruins. Os primeiros se adequam ao critério estético em voga e não necessariamente da maioria (cabelos lisos), enquanto os segundos encarnam o contra-exemplo da beleza e da sofisticação (cabelos crespos). Em outras palavras, a notícia reproduz os mesmos vícios do site que ela divulga: toma por universal critérios de beleza absolutamente particulares (tem muita gente linda e feliz com os cabelos supostamente "ruins"); reforça o mesmo préconceito contra quem escapa à norma, expondo sua imagem ao ridículo.

É por essas por outras que ironia reclama classe. Senão, ela vira preconceito puro. A uma hora dessas, o patrono deste blog, Machado de Assis - homem irônico e refinado - deve estar se contorcendo na tumba!

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Aqui, agora e amanhã

Não se falou de outra coisa hoje nas redes sociais, nos papos em torno da garrafa de café no escritório, no banco do transporte coletivo.

Aos cinco meses de idade, o menor bebê nascido vivo no Brasil deixou hoje o hospital após 1 ano de internação. "Quem vê a menina com os atuais 3,300 quilos nem diria que ela é a menor bebê que já nasceu no Brasil, com 360 gramas. No mundo, há registros de apenas 138 crianças que nasceram com menos de 400 gramas", informa a matéria publicada no jornal Hoje em Dia online (http://www.hojeemdia.com.br/minas/menor-bebe-do-brasil-ganha-peso-deixa-uti-e-ja-esta-em-casa-1.440308).

A pequena Carol encarna hoje o milagre da vida: " 'Muitas crianças prematuras só sobrevivem porque os médicos investem no tratamento da mãe e o caso de Alexandra e Carolina prova que é possível tratar, com sucesso, crianças muito pequenas', explicou o obstetra do hospital, Frederico Pereira".
Diagnosticada com displasia boncopulmonar, indício de má formação nos pulmões, a pequena guerreira lutou pelo seu direito ao sol: e conseguiu.

Agora é esperar que ela cresça feliz e com saúde, e seja alfabetizada o mais rápido possível para poder desfrutar dos conselhos da médica cirurgiã Luciana Aun, autora do livro "Segredos do Antienvelhecimento", publicado pela Editora Livre Expressão (165 págs., R$ 34).

Na contramão de especialistas que aconselham comer menos para viver mais, Aun afirma que "para manter a saúde e retardar os efeitos do passar dos anos no corpo é preciso até consumir algumas calorias extras - desde que vindas dos alimentos certos e com novos arranjos nas proporções de cada grupo de nutrientes conforme a fase da vida" (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1084102-medica-propoe-mudanca-alimentar-para-retardar-envelhecimento.shtml).

Ao propor uma modificação na tradicional pirâmide alimentar - que estipula as proporções ideais de consumo de proteínas, carboidratos, vitaminas, gosduras, açúcares e outros nutrientes importantes para a alimentação saudável - Aun reivindica um aumento substancial dos níveis de gordura "boa" nas fases da pré-menopausa e da andropausa. "Gorduras boas, especialmente as ricas em ômega 3, facilitam a fabricação e o transporte de hormônios, sem causar inflamação", esclarece.

Bem... Para quem nasceu com 360 gramas como a pequena Carol, uma velhice rica em gorduras "boas" nãodeixa de ser um prognóstico bastante atraente. Mas o aumento de gorduras consideradas "boas" não basta por si próprio e deve vir acompanhado de pelo menos três outros ingredientes mágicos: 1) "da reserva de antioxidantes, substâncias que combatem os radicais livres, moléculas relacionadas aos processos degenerativos do organismo"; 2) de atividade física; e 3) meditação.

Findo o receituário, uma constatação: celebrar a vida é primar pela qualidade do que se come, do que se pensa e do que se respira.

No mais, boa noite para quem fica.

terça-feira, 1 de maio de 2012

O lobo do lobo do homem

A sincronicidade é um daqueles fenômenos que conecta eventos aparentemente díspares e distantes, fazendo-os parecer próximos.

Pois bem: notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online dá uma dimensão do nível de deterioração que anda assolando as relações humanas: "Americana é processada por morder seu cachorro", avisa o título da matéria (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/americana-e-processada-por-morder-seu-cachorro-1.439900).

Bem, se você já arregalou os olhos imaginando a suposta cena, prepara-se: o cão não foi a única vítima. Analise Garner, a autora da proeza, "uma americana de 19 anos que mordeu seu buldogue durante uma briga com a mãe foi processada por crueldade contra os animais, anunciou a polícia". Como se não bastassea dupla agressão, um fato

Mas o mais insólito mesmo dessa dupla agressão é que tudo indica que sua autora não vai ser processada por morder a mãe, mas, sim, por morder o cachorro! " 'O cachorro acabou mordendo Analise nas costas em letítima defesa', explicou o sargento Mike Smith. 'Não haverá acusação contra o cachorro', acrescentou". Ufa, ainda bem! Seria um constrangimento sem precedentes pedir a um cão agredido que narrasse, com detalhes, a imagem da filha mordendo a mão da mãe!

Enquanto isso, no Santuário do Caraça - lugar relativamente ermo onde não pega celular, Internet ou GPS - um lobo-guará dá aulas de civilidade e vem comer pacificamente, bem próximo das mãos humanas.



Mundo de estranhas contradições esse nosso: só mesmo a desconexão das "benécias" da tecnologia humana para nos fazer pensar na distância que nos separa de determinadas pessoas - ou grupos de pessoas - e que essa pode ser muito maior do que uma simples distância geográfica. A sincronicidae, neste caso, me fezrefletir sobre a inversão dos papéis que atribuímos corriqueiramente aos seres humanos e aos animais.

No final das contas, vou acabar mesmo é concordando com Caetano Veloso: "sejamos o lobo do lobo do homem".