UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: dezembro 2013

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Ciclo 24

Calma, calma, o ano já está acabando.

Esta notícia é justamente para você, que achou o ano de 2013 dos mais turbulentos e está fechando o ciclo com um raminho de arruda atrás da orelha e gritando "saravá" da janela. É que os jornais online do dia trouxeram uma boa noticia: você não está só no universo.  

Para a alegria geral do nosso sistema solar - e mais além - o Sol também está concluindo, neste mês de dezembro, o ciclo solar 24 -  período de atividades que dura aproximadamente onze anos e durante o qual ocorre a inversão total do campo magnético do astro rei (http://oglobo.globo.com/ciencia/sol-vira-de-cabeca-para-baixo-intensifica-atividade-eletrica-11180098).

Em termos bestamente simples, significa que o sol ficou de cabeça para baixo - ou de pernas para o ar, como queira - exatamente como a sua vida ao longo deste ano. Não sou eu quem diz, é a NASA: "No período em que ocorrem as inversões magnéticas, as atividades solares se intensificam, o que favorece a ocorrência de erupções e manchas na estrela, além de ejeções de massa coronal - grandes erupções de gás ionizado a alta temperatura". Com isso, "os raios cósmicos também são afetados, o que favorece a ocorrência de explosões e eventos violentos na nossa galáxia". Ou seja, estamos todos no mesmo barco.

Agora que você percebeu que não foi o único a vivenciar revezes existenciais e achaques explosivos , alegre-se: 2014 está batendo à porta. Ciclo novo, com as bênçãos do Sol. Saravá!



sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Quebra de protocolos

Bom demais para ser verdade!

Erro no site de vendas da companhia aérea Delta Airlines, durante toda a manhã de hoje, permitiu com que os consumidores comprassem passagens aéreas por preços irrisórios: para se ter uma ideia, "voos domésticos chegaram a ser vendidos por menos de US$ 5 (R$ 12)", enquanto a travessia continental entre Nova Iorque e Seattle saiu pela bagatela de US$ 25 (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/12/1390412-erro-em-site-permite-a-compra-de-passagens-aereas-por-menos-de-us-5-nos-eua.shtml).

Obviamente, a alegria durou apenas o tempo que a empresa levou para perceber o erro e tirar o site do ar. Mas dessa quebra de protocolos ficou um consolo: "A companhia, que admitiu o erro, disse em nota que irá manter válidas as tarifas cobradas dos consumidores que conseguiram efetuar as compras mais baratas e assumirá o prejuízo". Menos mal.

Outra alegria que durou pouco foi ver o popular presidente do Uruguai, José Mujica, de sandalinhas franciscanas durante a "cerimônia de posse do seu novo ministro da Economia, Mario Bergara" (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/12/1390277-mujica-vai-de-sandalias-a-posse-de-ministro.shtml).

Mais do que plausível, a justificativa para a quebra de protocolos aplicar-se-ia, sem o menor problema, a qualquer contexto tropical: "O calor do Uruguai, acima dos 35°C, foi a justificativa para que Mujica optasse por sandálias e levantasse as calças quase na altura dos joelhos". E é claro que os sazonais e factíveis 40ºC de calor no Rio de Janeiro também seriam uma ótima desculpa para a quebra de protocolos, SE - e somente SE - nossos políticos trabalhassem neste período do ano.

De modo que, por falta de quorum, a quebra de protocolo na vestimenta foi adiada para o mês de junho, próximo ao solstício de inverno. Quanto às passagens aéreas com redução de preço, ficaremos a ver navios... mais uma vez!

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Natalinas tardias

Todo ano é a mesma coisa: nos dias que antecedem o Natal, o mundo parece que vai acabar!

Foi mais ou menos este o sentimento de quem viu ou teve notícia do movimento de pessoas na Rua 25 de Março, em São Paulo, às vésperas do Natal: quintessência do termo "superlotação", estima-se que um dos principais polos do comércio popular da maior cidade da América do Sul tenha recebido, "nas imediações do Natal, de 800 mil a 1 milhão de pessoas [que] passam por dia pela região, segundo a União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências (Univinco)" (http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2013/12/1389928-unico-comerciante-a-trabalhar-na-25-de-marco-no-natal-diz-e-so-pelo-habito.shtml).

Mas eis que nesta manhã do dia 25 de dezembro, tudo se inverte: equipe do caderno São Paulo do jornal Folha de S. Paulo acusou o movimento oposto, qual seja: um esvaziamento quase absoluto de uma das principais vias de comércio da capital paulistana. "A sãopaulo correu a 25 de Março de cima a baixo por três vezes. Contou 12 pessoas em 15 minutos: seu Manuel, oito policiais militares na labuta, um catador de latas e os dois clientes da Campeão".

Por conta desse esvaziamento costumeiro, o "seu" Manuel virou celebridade. Ele foi responsável pelo funcionamento do "único comércio aberto na via às 11h de hoje": o bar e churrascaria Campeão, situado na rua 25 de Março, esquina com Maria Benedita. A justificativa é para lá de conhecida: " 'É só pelo hábito. Trabalho porque tem que trabalhar', disse o dono do lugar, que pediu para não ser fotografado".

Seu Manoel: pois de todos as esquisitices experimentadas nesta vida, esta de fazer as coisas "por hábito" é a de que eu mais quero me curar. Não digo isso pelo fato de estarmos "transgredindo" a norma do descanso em dia de feriado (quase) consensual. Cá para nós, também estou escrevendo aqui, hoje, escrevendo em pleno Natal, e nem por isso não me sinto nem devedora nem lesada (nas duas acepções do termo: econômica e mental). Mas dar prosseguimento ao curso das coisas pela simples razão de que "sempre foi assim" é uma opção existencial que oscila entre o determinismo atávico e a total descrença no imponderável.

Se bem que, na solidão dos seus hábitos repetitivos, seu Manuel deve ter acalentado outras almas como as dele, sem família próxima ou porto seguro onde ancorar em um dia pleno de consensos. " 'Pouca gente mora por aqui. Os donos das lojas com certeza não vêm pra esses cantos, então só ficam os pobres coitados que ralam', disse Welington Sousa, 26, que trabalhou até as 16h de ontem como vendedor de uma loja de surf ali do lado".

Em caso de dúvida existencial, no entanto, basta limpar o balcão com um pano úmido e esperar secar as incertezas: "Amanhã começa a voltar tudo ao normal", disse seu Manoel à equipe da Folha de S. Paulo. "E eu vou continuar aqui." A menos que o imponderável se manifeste na forma de algum acontecimento imprevisto: milagre de Natal?


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Emendas e prognósticos

Deputados estaduais de Minas Gerais: emendem-se!

Depois de quererem passar uma emenda tenebrosa para reduzir uma área ocupada pela Mata do Cercadinho, no bairro Buritis, de 224 para 154 hectares, eis que alguma esperança desponta no horizonte. "A proposta rendeu polêmica desde a última segunda-feira, quando a Comissão de Meio Ambiente da Casa aprovou, na calada da noite, a emenda apontada pelo deputado estadual Fred Costa (PEN) como 'emenda Frankenstein', por não ter a ver com o assunto do projeto do Parque do Ibituruna", revela notícia publicada no jornal Hoje em Dia online (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/politica/cai-emenda-que-ameacava-mata-do-cercadinho-no-buritis-1.202925).

É bom mencionar que a iniciativa do redução da área verde - como se estivessem sobrando muitas aqui nessa cidade - partiu do deputado Gustavo Corrêa (DEM). Por favor, guardem esse nome nas próximas eleições e deem o troco, reduzindo sua candidatura a pó! Quanto ao futuro da mata, os prognósticos são incertos: "Corre o risco de algum deputado apresentar no ano que vem um projeto de lei para tratar da redução da área da Mata do Cercadinho, mas com a lei do Sistema Nacional de Unidade de Conservação da Natureza, vai ficar mais difícil”, relata o deputado Fred Costa, responsável pela derrubada da emenda Frankenstein.

Aliás, agora que o ano vai chegando (nada tranquilamente) ao fim, eu não me arrisco a nenhum prognóstico para o 2014, senão o seguinte: o ano de 2013 ainda não acabou! A bola estará rolando até o último segundo da prorrogação do segundo tempo.

E isso, amigos, vale para tudo e em todos os campos. Namastê para os que ficam!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Simulacro

Simulacro. Desde a morte de Jean Baudrillard, o termo andava meio esquecido. Mas um aplicativo chamado "Santa Spy Cam", promete reviver o conceito em toda a sua plenitude.

Claro, a razão para tamanha arqueologia conceitual é comercial: "Um publicitário criou uma empresa de tecnologia para fazer crianças acreditarem em coisas que não existem, como Papai Noel, fada do dente, coelhinho da Páscoa etc." (http://classificados.folha.uol.com.br/negocios/2013/12/1386804-empresa-quer-faturar-provando-que-o-papai-noel-existe.shtml).

O aplicativo, que é o primeiro produto da empresa, nada mais faz do que apresentar narrativas em que Papai Noel, elfos e renas, encenados por atores e animais reais, interagem nos ambientes domésticos dos usuários, confirmando a teoria da "visita" natalina.

Os desenvolvedores alegam que são as crianças os principais demandantes do aplicativo: " 'As crianças sempre querem provas de que o Papai Noel e os elfos existem', explicou Wilson, diretor de criação de uma agência, ao site da revista 'Bloomberg Businessweek' ."

Bem, se a alegação tiver fundamento, então sinto que teremos problemas com as novas gerações. Seerão muitos os que insistirão em construir lareiras inúteis para um Natal veranesco, na esperança ver o bom velhinho enganchado com seu saco de presentes. E assim permanecerão iludidos até os 50, 60 ou 70 anos, até que alguém tenha o bom senso de inventar um aplicativo que desmistifique a existência do Papai Noel, dos elfos e das renas de nariz vermelho.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Não exatamente como nossos pais

Carga surpreendente é retida na alfândega do aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo: de acordo com a Receita Federal, a carga retida é composta por nada mais, nada menos que uma tonelada de cabelo humano, proveniente da Índia.

Motivo da retenção? É que mentira cabeluda também tem perna curta. A carga "tinha valor declarado de US$ 15 mil, muito inferior aos US$ 400 mil (cerca de R$ 1 milhão) que, segundo os fiscais do órgão, são seu valor real" (http://oglobo.globo.com/economia/uma-tonelada-de-cabelo-humano-retida-em-guarulhos-11083866).

Mas para quem acha que a Receita anda vendo cabelo em casca de ovo, dá-lhe mais uma irregularidade: "A Receita também constatou que o importador não era o real comprador da mercadoria". Com isso, calvos e quimioterapeutizados teriam muito o que temer, já que nem sempre o fornecedor deste tipo de matéria-prima respeita os requisitos sanitários exigidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

 Aliás, condições sanitárias precárias envolvendo cabelos (naturais ou artificiais) têm se tornado um problema de alta capilaridade neste país. Prova disso é que o campus Leste da USP - que conta com mais de quatro mil membros, entre alunos, professores e funcionários - teve suas férias antecipadas "por conta de problemas envolvendo piolhos de pombo e a qualidade da água no campus" (http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2013/12/1386216-com-pombos-e-agua-impropria-usp-leste-decide-suspender-aulas.shtml).

De cabelos em pé, a direção da USP Leste não teve outra alternativa senão antecipar as férias, "após três salas de aula terem sido interditadas na semana passada por causa de infestação de piolhos de pombos". A despeito do alívio de muitos com a antecipação da férias, é bem provável que os alunos da USP Leste tenham a mesma nostalgia de seus pais, que entoaram, há anos, a célebre canção de Belchior: "já faz tempo e eu vi você na rua/ cabelo ao vento/ gente jovem reunida".

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Transparência

 Muitos clamaram por mais transparência nos processos seletivos da UNB.

O jeito encontrado então pela instituição foi reformular as normas que descrevem os objetos portáveis em dias de concurso naquela instituição, proibindo "que os candidatos portem recipientes plásticos — tais como garrafas de água e suco — que não sejam fabricados em material transparente" (http://oglobo.globo.com/economia/emprego/cespeunb-proibe-que-candidatos-levem-garrafas-que-nao-sejam-transparentes-em-concursos-11049254).

A ideia é "aumentar a segurança em dia de aplicações de provas de concursos públicos ou para ingresso na Universidade de Brasília (UnB) e reduzir o risco de irregularidades". Várias outras medidas de coibição à tão disputada cola foram implantadas, mas esta, de longe, é mais tautológica de todas: fabricado com material transparente, o invólucro acaba revelando seu conteúdo aos demais. Mas a transparência é também uma consequência: seremos tantos mais transparentes quanto mais nos mostrarmos.

Para garantir sua isonomia, a reformulação das regras de concurso só se esqueceu de um coisa: a opacidade das mentes torpes é terreno tão fértil, que ainda se há de criar outros meios de burlar a norma vigente e obter injustamente uso daquilo.

Isto posto, meus olhos estão turvos de sono. Chega de transparência por hoje. vou dormir. Abraços para quem fica.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Superlativos

Em tempos de mudança climática, a natureza anda cheia de superlativos. De um lado, cientistas conseguem recuperar a marca da menor temperatura registrada por satélite no nosso planeta: "O lugar mais frio da Terra atingiu a amarga marca de - 93.2 graus Celsius", relata notícia publicada no jornal Hoje em Dia online (http://oglobo.globo.com/ciencia/o-lugar-mais-frio-da-terra-11023131).

O interessante é que a descoberta foi retroativa, já que a "temperatura foi medida por satélite na Antártica, em agosto de 2010, de acordo com uma pesquisa apresentada durante o encontro da União Geofísica Americana, em São Francisco".

De outro lado, a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil alerta que, "nos próximos quatro dias, pode chover a metade do esperado para todo o mês de dezembro em Belo Horizonte". Isto equivale a dizer que corremos o risco de ter cerca de 150mm de precipitação em quatro dias, ao passo que a média histórica mensal é de 319mm (http://www.hojeemdia.com.br/minas/nos-proximos-4-dias-pode-chover-metade-do-esperado-para-todo-o-mes-em-bh-1.200346).

Em meio a tantos extremos e recordes batidos, algumas explicações surgem cá e acolá. Se aqui, na Roça Grande, "a brusca mudança climática é decorrente da chegada de uma uma frente fria em Minas Gerais", lá embaixo, na Antártica, "geralmente, estas temperaturas superfrias ocorrem quando bolsões de ar ficam aprisionados na superfície da terra. Se o céu fica claro por alguns dias, o solo irradia o calor restante para o espaço, criando uma camada de ar super refrigerado acima da neve."


Não se sabe ao certo, mas se for mesmo verdade que aqueles dias de céu claro na Antártida eventualmente ocasionam chuva forte ao cerrado, então a solução para quem quer ver sol durante nossos dias quentes e chuvosos está fácil: basta pegar o primeiro voo para o polo sul.

Simples assim!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Contagem regressiva

17, 16, 15, 14, 13, 12, 11....

11 segundos! Tempo suficiente para que se pudesse testemunhar que "o sistema que colocaria o satélite sino-brasileiro CBERS-3 na velocidade correta parou de funcionar 11 segundos antes do tempo correto, já no último estágio do lançamento, provocando a queda do artefato" (http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2013/12/1383192-falha-nos-11-segundos-finais-da-propulsao-derrubou-satelite-sino-brasileiro.shtml).

Fatais, os onze segundos de antecipação fizeram com que a parceria com os amigos chineses amargasse um triste fim, já que o satélite, de acordo com notícia publicada no jornal Folha de S. Paulo online, "o quarto feito em parceria com a China, não conseguiu atingir nem a velocidade nem a órbita corretas", revela. As causas da falha ainda estão sendo apuradas, mas, ao que tudo indica, o problema "é a integração com os componentes chineses".

Frustrados com o adiantamento do lançamento do foguete, os cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) tentam dar o troco já pensando em adiantar o lançamento do CBERS-4, originalmente previsto para 2015. No entanto, "segundo uma estimativa do Inpe, para adiantar o cronograma de lançamento seriam necessários cerca de 50 engenheiros do país asiático trabalhando no Inpe para integrar os satélites."

Ora, ora! Irônico seria que imaginar que, no afã de superar os problemas de integração, Brasil e China acabassem integrando ainda mais sua expertise em exploração de mão de obra.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Não corta!

Acreditem, a vida é cheia de ironias. No dia exato em que Nelson Mandela sobe para o céu e se torna uma estrela, cá no País das Mil e Umas Plásticas, escolas ainda sombram na mais completa demonstração de intolerância.

O caso, que está sendo investigado pela Polícia Civil de Guarulhos e ganhou repercussão hoje na mídia eletrônica brasileira, envolve o menino Lucas, de 8 anos (http://oglobo.globo.com/pais/escola-investigada-por-racismo-apos-pedir-para-aluno-cortar-cabelo-black-power-10976962). O garoto teria sido impedido de se matricular na escola onde estuda por ter se recusado a cortar o cabelo "estilo black power" sob o pretexto de escolher um corte mais "adequado" ao regimento escolar.

Neste dia duplamente triste - Mandela que se vai, a intolerância que ainda grassa - faço dois pedidos simultâneos. A Lucas, peço penhoradamente que não seja nem mais nem menos "adequado" do que sua beleza natural permite. Aos dirigentes da escola de Lucas, peço que leiam as melhoras de Mandela, selecionadas especialmente para marcar sua passagem (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/mundo/dez-citac-es-marcantes-do-ex-presidente-da-africa-do-sul-nelson-mandela-1.198867).

Quem sabe Mandela não começa a fazer milagres logo no primeiro dia e consegue abrir um bocado a cabeça desse povo?

Inspiração é o que não falta.


Fonte: http://youtu.be/C8py3MaTT4Q

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Dança com fitas

"Como numa dança com fitas", disse o cientista do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa,  Chao-Wei Tsai. Ele é o autor de artigo que será publicado semana que vem no Astrophysical Journal sobre descoberta recente realizada pelo observatório espacial infravermelho Wise.

Trata-se de dois buracos negros que parecem estar "muito próximos um do outro e gravitacionalmente ligados" no núcleo de uma galáxia denominada WISE J233237.05-505643.5. (http://oglobo.globo.com/blogs/sociencia/posts/2013/12/03/a-danca-mortal-de-dois-buracos-negros-gigantes-517069.asp). Frutos do choque entre galáxias, a novidade pode ajudar a explicar o surgimento dos buracos negros supermassivos, característicos do centro das galáxias: acredita-se que, "com os seus respectivos buracos negros centrais dando início a uma dança como a observada na WISE J233237.05-505643.5", a tendência é "que eventualmente se fundam em um único buraco negro".

"Acreditamos que o jato de um dos buracos negros está sendo desviado pelo outro, como uma dança com fitas", assim resume Tsai. Quem diria, pois, que a astronomia se prestaria à tamanha proeza poética? Não que o recurso explicativo das metáforas esteja pouco presentes nos textos de popularização da ciência. Mas a imagem da dança com fitas se prestou a mais de um propósito hoje: ela me lembrou daquelas situações da vida em que o impacto de duas forças devastadoras acaba sendo anulado e gravitacionalmente equilibrado pelo seu próprio potencial de destruição, numa espécie de "dança mortal", conforme descreve a notícia.

Bom... Pelo menos para quem assiste a 3,8 bilhões de anos-luz de distância, a dança com fitas entre os buracos negros é  metáfora rica e preciosa, que nos fala da essência da vida que alguns levam aqui na Terra, das nossas próprias lutas pela sobrevivência e pelo equilíbrio conquistado lá onde só caos teria lugar.