UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: fevereiro 2011

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Duas notícias que não são bem notícias

Duas notícias para começar bem a semana e terminar bem o mês!

A primeira não é propriamente uma notícia: é quase um achado! Bem, todos dizem que praia de mineiro é cachoeira - o que tem lá seu quinhão de verdade. Mas será que nossos compatriotas litorâneos precisam disputar a unhas e dentes seu espaço vital com coolers, churrascos e carro com música de gosto duvidoso? Talvez. Se bem que na praia existe o agravante do comércio informal de empadinha com salmonela e camarão mumificado... Enfim, não dá para ficar medindo tragédia. Há que se encontrar soluções. E a solução, nós a encontramos neste último fim de semana: uma cachoeira secreta, totalmente ao abrigo do barulho, do stress e dos dejetos!

A cachoeira secreta fica em lugar indizível, perto de outro curso d'água interessante o bastante para atrair os apreciadores de despacho, coolers, churrascos e carro com som alto e música duvidosa. Do outro lado da estrada, subindo a ribanceira, lá está nosso pedaço de paraíso: uma mini-cachoeira com água gelada e cristalina (perfeita para gelar maçãs, como mostra a foto ao lado), uma mini-hidromassagem e, de quebra, uma vista de encher os olhos. O único problema é que, para mantê-la secreta, todo sigilo é pouco.

A segunda notícia não é propriamente uma notícia: é quase uma piada! Saiu hoje no O Globo Online: pesquisa da Brown University aponta que pessoas com escolaridade avançada tem menos propensão a desenvolver doenças cardíacas (http://oglobo.globo.com/vivermelhor/mat/2011/02/28/pessoas-com-nivel-de-escolaridade-avancado-tem-menos-chances-de-desenvolver-doencas-cardiacas-mostra-pesquisa-923893857.asp). Aqui, pela primeira vez na história do universo, o recorte de gênero nos favorece: o impacto positivo do aumento progressivo da escolaridade é tanto maior nas mulheres do que nos homens.

Uma salva de palmas para os pesquisadores da Brown! Deveria mostrar isso para aquele cardiologista que pendurou um holter no meu braço no final do ano passado e conseguiu previr uma hecatombe cardíaca num ser com perfil de atleta e vocação natureba como eu!

P.S.1 = Obrigada André e Gisely por compartilhar conosco seu valioso segredo!
P.S.2 = Meus sinceros respeitos aos adeptos das religiões afro-brasileiras (e digo isso sem nenhuma intenção de ser irônica) que buscam as cachoeiras para suas oferendas, mas evito sempre pisar em despacho. Afinal, lugar de culto é lugar de culto. E lugar de lazer é lugar de lazer. É cada um no seu quadrado. Por isso, fui procurar o meu.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

No túnel do tempo da publicidade

Algum dia, em algum lugar do planeta, alguém há de argumentar que eu só sirvo para falar mal da imprensa cotidiana. Então já vou me antecipando a essa crítica e dizendo que não é verdade: eu também sou capaz de me estarrecer com a publicidade. Ela nos fornece um espelho interessante daquilo que somos ou que fomos. Ou melhor: ela fornece um espelho daquilo que um grupo de profissionais acredita ser o que desejamos: tanto aquilo que desejamos ser, como aquilo que desejamos ter.

A colocação anterior carece de exemplos. Partamos do anúncio acima, retirado de um banco de dados que formei há uns 5 anos. Esta publicidade de sungas da Poesi, que foi publicada na Veja de 31 de outubro de 1979 (p.5), mostra como andava o ideal de corpo masculino naqueles idos.

Passados 25 anos, o ideal de corpo masculino ganhou, no mínimo, vários centímetros de massa magra. O fato de que o produto anunciado pouco precisasse apelar para a sensualidade do corpo masculino para dar o seu recado - e aqui estamos falando particularmente de uma campanha de doação de órgãos promovida pelo governo do Estado de Minas Gerais e publicada na Revista Isto É de 10 de novembro de 2004 (p.78) - só vem a confirmar a minha intuição de que os modelos estéticos são tanto mais sugestivos, quanto menos forem absolutamente necessários para o anúncio em questão.

Se, no primeiro exemplo, os três cavaleiros parecem envergonhados e nem sequer encaram de frente o olhar do(a) leitor(a) - talvez porque o slogan anuncie "maiôs para uma amor de verão", ao passo que eles estão só de sunga! - no segundo, o modelo foi "decepado", preservando-se assim uma situação de "anonimato". Sobrou só um corpo pedindo para o leitor(a) ter o desprendimento necessário para encarar a doação de órgãos. Na primeira publicidade, a intenção de seduzir estava óbvia demais para ser assumida de frente. Na segunda, deslocada demais do objetivo do anúncio para ser admitida enquanto tal.

Engraçadas essas publicidades. Na pior das hipóteses, elas me deram uma dimensão de como os gostos mudam. Fica aqui a minha provocação: "Olhos nos olhos, quero ver o que você faz!" Compra a sunga ou doa um rim? Isso é você quem escolhe!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Chuva! E ambiguidades...

Tem certas ambiguidades nos títulos das matérias que, tal qual bebida alcoólica e volante de carro, devem ser evitadas a todo custo! Manchete da Folha Online estampava hoje: "Um mês após dar à luz, Penélope Cruz aparece sem barriga" (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/880585-um-mes-apos-dar-a-luz-penelope-cruz-reaparece-sem-barriga.shtml). Mas ela já não deu à luz? Então, para que a barriga? Ai, minha santa paciência! Tivesse o jornalista pensado duas vezes, não escrevia essa barbaridade.

Mas chega de falação! Com a entrada da lua minguante, sinto uma vontade imensa de me recolher aos aposentos mais confortáveis do fundo da minha alma e ficar lá, enroscada que nem um caracol, esperando dias mais favoráveis. "Good times for a change..." Até!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Palmas para o dinossauro "sarado"!

Depois de saber que Fernando Collor de Mello (PTB-AL) foi designado presidente da Comissão das Relações Internacionais do Senado, resolvi consolar minha tristeza caindo de cabeça na superficialidade das notícias sobre o mundo animal. Aliás, tenho fortes indícios de que esse tipo de notícia fala mais do ser humano que somos, do que do objeto analisado.

"Mas é óbvio, somos nós que escrevemos as matérias, sua cabeçuda!", diriam alguns. Sim, é verdade. Enquanto sujeitos da observação, tendemos mesmo a imprimir nossa marca nas "descrições objetivas" do mundo a nossa volta. Até aí, nada demais. Fazemos isso o tempo todo, com tudo aquilo que se presta à nossa observação. Mas com o mundo animal a coisa tende ficar mais grotesca: os paralelos com a vida humana abundam. Nunca dá para saber se, no fundo, aquilo é notícia sobre bicho ou sobre aquilo que julgamos importantes para nós mesmos. Ou melhor, aquilo que alguns julgam ser importante para eles mesmos.

A prova é a nova descoberta científica anunciada nos jornais de hoje. Na Folha Online, diz-se que cientistas descobrem um "dinossauro chutador" (http://www1.folha.uol.com.br/bbc/879786-cientistas-acham-dinossauro-chutador.shtml). Denominado cientificamente de Brontomerus mcintoshi, o danado tinha coxas hipertrofiadas como as do ex-jogador Dunga. Até aí, tudo bem. Só que, no bojo da matéria, atribui-se ao professor Mike Taylor, da University College London, um arrazoado interessante para justificar as coxas estilo "pilotis" do dinossauro: "O Brontomerus então teria coxas muito fortes, musculosas e capazes de disparar chutes". A conclusão disso tudo é apresentada pelo jornalista: "Por isso, o Taylor acredita que inicialmente, os coices teriam sido usados para disputar a atenção de fêmeas, possivelmente evoluindo para defesa." Dois neurônios bem preguiçosos já seriam suficientes para chegar à primeira conclusão: qualquer semelhança com malhadores hipertrofiados de academia, não é mera coincidência: sedução e defesa continuam sendo objetivos perseguidos por muitos. Mas passemos à notícia seguinte.

Já no O Globo Online, a ênfase é dada a aqueles aspectos anatômicos do bicho que levaram os cientistas a supor que ele utilizava suas coxas como armas (http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2011/02/23/cientistas-descobrem-brontomerus-mcintoshi-dinossauro-que-viveu-ha-110-milhoes-de-anos-923863881.asp). Mas a conclusão imputada ao professor Mike Taylor é, no mínimo, hilária: "Brontomerus Mcintoshi é um dinossauro carismático e uma descoberta emocionante para nós" (?!!!!). Das premissas à conclusão, o salto foi gigantesco, provavelmente proporcional ao tamanho das pernas do dinossauro. Aliás, fiquei até achando que tinha pulado algum parágrafo na minha leitura atabalhoada. Desnecessário dizer que Perplexidade agora é o meu nome! Alguém aí, por favor, seria capaz de me explicar: 1) como um dinossauro consegue ser carismático? 2) Como é que os dados empíricos disponíveis (restos de ossos, diga-se passagem) serviram de fundamento para um análise psicológica tão ousada?

Por fim, a matéria do Hoje em Dia Online. A comparação, meus caros, já vem explícita no título: "Cientistas descobrem o dinossauro mais 'sarado' " (http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/noticias/mundo/cientistas-descobrem-o-dinossauro-mais-sarado-1.244290). Descrito como "um novo dinossauro particularmente atlético" e "dotado de 'coxas torneadas' ", a matéria passa a bola mais uma vez para Mike Taylor: "O chute era utilizado, provavelmente, durante uma disputa entre dois machos por uma fêmea, mas com toda essa mecânica, seria impossível não crer que ele se utilizasse também do golpe para se defender de um predador". Claro! Nada mais científico. Só faltou ele dizer que os machos da espécie chutavam as fêmeas ao término de cada relacionamento. Maria da Penha neles, cientistas!

Bem, tudo isso para dizer que ficou claro que a ordem dos fatores e a ênfase em um ou outro aspecto - disputa entre machos e luta contra predadores - mudou conforme o contexto jornalístico. Parece óbvio também que a analogia entre o mundo animal e o comportamento do macho humano já vinha empacotada desde a fonte, que nada mais é do que uma notícia requentada da Agence France-Presse(AFP). Mas esta não é a questão. A questão é a recriação do dinossauro como um prolongamento das nossas expectativas sociais: na ciência e no relato jornalístico, a um só tempo. Mas não dizem por aí que era Deus quem tinha criado o Homem a sua imagem e semelhança? Bem, só me resta crer que os cientistas foram à forra, tentando fazer o mesmo: pobres dinossauros!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Problemas de má formação

Inaugurando a série "Dilemas do espaço público"...

Está dando o que falar o programa "Domingo Espetacular", exibido no último domingo pela Rede Record. Ele vem sendo criticado por exibir uma matéria de aproximadamente 21 minutos sobre pessoas com má formação (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/878852-record-expoe-pessoas-com-ma-formacao.shtml).

Euzinha aqui, que não assisti ao programa, fiquei me perguntando a razão de tanto barulho: algum jornal já foi processado por mostrar o Tiririca ou o Romário discursando? É, porque enquanto a má formação intelectual grassa, nós nos indignamos com o Circo dos Horrores da TV brasileira.

Longe de querer justificar um erro pelo outro, não custa nada perguntar: pode a diferença prescindir da visibilidade? Como reivindicar respeito e reconhecimento social sem ser visto publicamente?

P.S.= Enquanto isso, em Trípoli, Kadafi pede para morrer como um mártir. Eis aí uma das mais contundentes contradições da Modernidade: até na hora da morte, o ditador quer ter a ilusão da escolha individual! Vai entender...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Notificadores relacionais

Olha só a bola da vez: o Facebook lança um novo aplicativo - o "Breakup Notifier" ou, simplesmente, Notificador de Separações - cuja função é avisar quando um pretendente comprometido termina seu relacionamento (http://www1.folha.uol.com.br/tec/878727-aplicativo-manda-e-mail-quando-pessoa-desejada-fica-solteira.shtml). Funciona assim: vc adiciona uma lista de pessoas de seu interesse cujo status é "casado" ou em "relacionamento sério" (desde que, é claro, a figura desejada faça parte da sua lista de contatos). Aí, tão logo uma dessas pessoas altera o status de relacionamento dela, você será avisado por email. Daí a cair matando, é só um passo, meu caro Watson.

Mas o mais interessante mesmo não é a advertência de mudança de status. O "Notificador de Separações" mostra que pode ser mais inteligente que você e se antecipar a sua esperteza. Ou seja, caso você queira dar o tumé no Facebook e acionar deliberadamente o aplicativo no sentido de avisar as demais pessoas de uma suposta ruptura sua, sem com isso alterar publicamente o seu status para solteiro, o aplicativo te dá uma bronca, exibindo a seguinte mensagem: "Você está em um relacionamento! Safadinho...".

A meu ver, o aplicativo em questão tem limitações óbvias, a saber: ele é basicamente dirigido para o público-alvo respeitador do status de relacionamento alheio, isto é, aquele que aguarda a hora certa para fazer a investida. Por isso, ele deixa de fora aquela outra parcela de avacalhadores de relacionamento que gosta de ver o circo pegar fogo e que ataca pretendentes comprometidos deliberadamente. Além disso, o aplicativo ignora se a pessoa comprometida desejada pretende pular a cerca e deixar a coisa do jeito que está, isto é, sem alterar status de relacionamento coisíssima nenhuma. Em suma, o aplicativo parte de algumas premissas básicas para que ele funcione a contento: 1) quem está comprometido não quer ser assediado; 2) quem está interessado vai respeitar o status de relacionamento do objeto de interesse.

Como as coisas não são bem assim e essas duas premissas podem estar totalmente furadas, proponho a criação de outro aplicativo: o "Notificador de Pulação de Cerca". Você começa selecionando na lista de contatos do seu parceiro(a), todos aqueles que julga potencialmente perigosos: ex-namorado(a)s, ex-ficantes e ex-entusiastas da pessoa com quem você se relaciona atualmente; em seguida, o "Notificador de Pulação de Cerca" lhe avisará de qualquer movimento suspeito da pessoa selecionada para com o seu parceiro(a): mudanças da status de relacionamento da outra parte, ou qualquer outra troca de mensagens insidiosas como convites para bebericagens, casamentos, batizados, bailinhos ou despedidas de solteiro. O "Notificador de Pulação de Cerca" também lhe avisará de qualquer alteração no penteado, cirurgia plástica ou progressão na carreira do "perigo em potencial". Tudo isso para você manter a sua ansiedade e a sua necessidade de controle nos limites mais elevados.

Mas assim como o "Notificador de Separações", o "Notificador de Pulação de Cerca" também parte de algumas premissas que podem estar equivocadas, tanto do ponto de vista empírico quanto filosófico: ele registra potenciais ameaças a partir de um grupo de controle selecionado por você, isto é, a partir de seu conhecimento concreto dessas ameaças. Ele não leva em consideração, por exemplo, todos as ameaças potenciais futuras, que podem ser probabilisticamentes aferidas por meio cálculos matemáticos arrojados. Desta forma, proponho também o lançamento do "Notificador de Possibilidades Remotas de Traição", capaz de calcular todas as probabilidades do seu amado(a) se interessar por qualquer outro ser vivo entre a Via Láctea e a Constelação da Ursa Maior. Aqui, o método de seleção das ameaças vituais é avançadíssimo. Tudo pode entrar na amostragem: qualquer objeto de desejo que venha a interferir na sua exclusividade (presumida, diga-se de passagem) como principal foco de investimento afetivo na vida do seu amado(a): desde os brinquedinhos da infância (a primeira boneca, o primeiro carrinho, a bola de ping pong quebrada), passando pelos lazeres (jogar bola, escalar, ir ao cinema, sair para dançar, desenhar e ouvir música), até a famigerada sogra(o), que pode ser também um importante foco concorrencial de investimento libinal. Uma vez retraçadas todas essas ameaças de traição passadas, possíveis ou imaginadas, o "Notificador de Possibilidades Remotas de Traição" avisa de qualquer suspiro ou alteração de batimento cardíaco desses potenciais destruidores de lares.

Mas é claro que, exatamente como os anteriores, o "Notificador de Possibilidades Remotas de Traição" tem lá também os seus limites. Ele consegue rastear as ameaças potenciais existentes em milhares de anos-luz, bem como todas as ações impetradas por elas, mas não consegue lhe devolver a paz de espírito. Por isso, proponho a criação de um último aplicativo: o "Notificador de neuroses". Ele rastreará todos os usuários que tenham feito uso individual ou combinado dos notificadores anteriores, mantendo-os sob estreita vigilância. Ele lhe avisará sempre que um usuário dos notificadores tentar se tornar seu contato via Facebook (caso ele já não seja um contato atual). Além disso, se você namora ou se relaciona com um usuário de notificadores, o "Notificador de Neuroses" se encarregará de terminar o relacionamento por você, sem qualquer ônus adicional. E, de quebra, sugere uma lista de terapeutas holísticos, amplamente treinados em artes marciais, para cuidar de neuróticos como você e como todos os demais usuários de qualquer aplicativo de notificação.

De notificação em notificação, meu caros, meu recado é um só: "orai e não vigiai"! Vai ser melhor para todo mundo.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Flores para um fígado maltratado!

Estava reparando no quão viscerais foram os meus comentários na semana que passou. Também, os temas não têm ajudado muito: Tiririca, centopeias, Ronaldo, salário mínimo, banheiro público que não é público... Foram tantas as mazelas que meu pobre fígado terminou a semana prejudicado.

É para poupá-lo do féu das minhas próprias críticas que hoje só vou falar das flores. Mas quais flores? As flores do cerrado, ora essa! Esse ecossistema fantástico, com tantas maravilhas sob ameaça constante (http://www.agrosoft.org.br/agropag/102494.htm)... Nos idos de 2008, já eram 131 espécies da flora do cerrado ameaçadas de extinção. Bem, mas vamos deixar a denúncia para outro dia e falar de coisas mais leves: proponho, então, uma hermenêutica das flores do cerrado!

Se repararmos bem de perto, essas danadinhas chegam a ser de uma fragilidade comovente. É tanta delicadeza, tanta gentileza na forma, tanto jeito doce (e ao mesmo tempo contundente) de se anunciar, que chegar a criar um atrito com a aridez do ambiente circundante: predregoso, irregular, ácido.

No entanto, elas - as flores - simplesmente desconsideram o meio em que vivem. Porque em meio a pedras, areia e espinhos, elas precisam irromper da adversidade para dar o seu recado. Autistas ou teimosinhas? Obstinadas, tenazes ou simplesmente irreverentes? As flores do cerrado parecem realmente não ligar a mínima para o que pensam, o que dizem, o que falam, "deixa isso para lá, vem pra cá, o que é que tem?". E se olharmos ainda mais de perto, talvez cheguemos à tácita conclusão de que elas vêm ao mundo só mesmo para caçoar dos pedregulhos. Existiria um quê de deboche nisso tudo, de provocação pura de quem não tem o que fazer em meio a tanta secura? Seriam irônicas, as flores do cerrado?

Pode até ser que não haja nada de nobre na sua beleza, que tudo não passe de puro atrevimento. Também, pudera: sua existência já é um desafio. Mas nem uma amante contumaz da ironia machadiana como eu seria capaz de dar um verdicto tão áspero e definitivo. Prefiro deixar o assunto em aberto.

Então, nessa tarde de sábado, quero apenas convidá-los a se deleitar com as cores e formas dessas flores da Serra do Cipó. Porque enigmáticas elas são mesmo. Mas certamente não há, no mundinho circunscrito do cerrado, beleza comparável à delas.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O MEC manda avisar: está aberta a temporada da botecagem!

Depois de dois dias vociferando impropérios contra as mazelas da votação do salário mínimo, chegou a hora de mudar o foco da minha ironia machadiana. O prato cheio da vez é a nova resolução de desregulamentação dos programas de pós-graduação lato sensu pelo Ministério da Educação (MEC). O presidente da Câmara de Ensino Superior, que é órgão deliberativo do Conselho Nacional de Educação (CNE), o Sr. Paulo Speller, é quem explica os pormenores da resolução: "Antes, o MEC tinha de avaliar as condições do local, o currículo. Agora serão cursos livres, ou seja, as entidades poderão continuar a oferecer as especializações, mas sem a necessidade de aprovação" (http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/noticias/brasil/governo-deixa-de-regular-pos-graduac-o-lato-sensu-1.242297). "Na prática", ensina a matéria do Hoje em Dia (cuja fonte é o Estado de São Paulo), "a medida faz com que o governo deixe de regulamentar o setor de pós-graduações lato sensu".

A minha interpretação é outra, Sr Speller: na prática, o que o MEC está legitimando é abertura da grande Temporada dos Botecos! Quer um mestrado? Um doutorado? Um MBA meia-boca? Então vá até o botequim mais próximo, porque lá eles te arrumam um diploma. É, porque fazer pós-graduação não demanda mais que um esforço digno de boteco: o ensino obtido não passa de tira-gosto, desde que se pague a conta, é claro!

Ao adotar a "política da botecagem", o MEC mantém uma conduta duvidosa quanto à qualidade dos programas do ensino superior como um todo, mas mais particularmente diante das pós-graduações. Na prática, Sr. Speller, é o mercado que vai regular a qualidade da oferta. Mas, afinal, pra quê tanta pendenga com gastronomia refinada quando a expectativa é só tomar umas biritas na esquina? Dá-lhe pinga com mel e torresmo cabeludo!

P.S.= Quer denunciar um programa de pós-graduação de baixa qualidade? Chame a Inspeção Sanitária, pois O MEC está lavando suas mãos...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Em breve... na Academia Brasileira de Letras!

Essa foi a melhor do dia - pelo menos até agora: "Tiririca se engana e vota no salário de R$600" (http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/02/16/apesar-de-dizer-que-tinha-acompanhado-governo-tiririca-vota-sim-ao-minimo-de-600-923819046.asp). É que o deputado mais votado do Brasil havia declarado, ontem, que votaria pelo mínimo de R$545 em apoio ao seu partido, o PR, que, por sua vez, apoia o governo do PT.

O mais legal é que Tiririca jura que votou com o governo. Contrariando seu partido, o governo, a lista de votações disponibilizada pela Câmara dos Deputados e o seu próprio dedo, Tiririca vive um drama típico do esquizofrênico: ele acha que fez uma coisa, mas na verdade fez outra. Misturando realidade objetiva e subjetiva num caldeirão de bruxa, foi o seu dedo que acabou se confundindo e tamborilando o hino do PSDB.

Aliás, não seria surpreendente que outras partes do corpo do deputado Tiririca ganhassem autonomia progressiva com o passar dos meses na Câmara dos Deputados: é que naquela régia instituição, enquanto as mãos de uns lavam as mãos de outros, muitos acabam metendo os pés pelas mãos. Deve ser isso o que eles, os deputados federais, chamam tão carinhosamente de "autonomia parlamentar".

Uma salva de palmas para o Sr. Tiririca! Com tanta independência e inventividade assim, vai acabar entrando para a Academia Brasileira de Letras antes do final do ano e destronando todos os Imortais. Afinal, como eu já havia comentado anteriormente (dia 02-02), se o Sarney pôde, qualquer um pode...

P.S.= Que o fundador da Academia Brasileira de Letras, mentor intelectual deste blog, não me ouça!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Milagre nosso de cada dia

Aqui na Terra Brasilis, todo dia é dia de milagre: enquanto Ronaldo Fenômeno vira santo, a oposição do governo federal quer fazer o milagre da multiplicação dos pães com o novo salário mínimo. Vejamos mais de perto esses dois comoventes exemplos de beatitude (atribuída ou auto-reivindicada).

Com peso acima do limite e aproveitamento abaixo da média na Copa Libertadores, o jogador de futebol Ronaldo Fenômeno decide se aposentar e é homenageado com medalha e cargo no comitê paulista de organização da Copa de 2014 (http://oglobo.globo.com/esportes/mat/2011/02/16/ronaldo-recebe-medalha-de-alckmin-passa-integrar-comite-paulista-da-copa-do-mundo-de-2014-923813382.asp). Fato é que Ronaldo, um fenômeno aplaudido pelos travestis (quem é que não se lembra da tentativa de estorção que sofreu do travesti Andréia Albertini?), parece já ter sido perdoado de antemão pela mídia por todos os escândalos vividos e pelos muitos quilos acumulados. Coroado com tanto amor e compreensão assim, Ronaldo deve ter passado o dia em estado de graça.

Já o governo petista vive o inferno na terra. Quem um dia acreditaria que o Partido dos Trabalhadores seria vaiado por sindicalistas e pressionaria o salário mínimo para baixo? Mais hilário ainda: enquanto o governo promete R$545 e os líderes sindicais reclamam R$560 (até aí, tudo bem), é o partido da oposição, o PSDB, quem pede o milagre mais arrojado: uma salário mínimo de R$600 (http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/02/16/debate-do-salario-minimo-no-plenario-da-camara-provoca-vaias-aplausos-das-galerias-923812512.asp). E sabe quem acabou saindo hoje aplaudido pelas forças sindicais lá do plenário da Câmara dos Deputados? Os deputados do DEM Ronaldo Caiado e ACM Neto!

Sinal dos tempos? Fim do mundo? Sei lá. Mas milagre é o que não falta!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

E eu com isso?

Andei procurando algo de interessante para comentar hoje, mas tava difícil. Olha só o que encontrei pelo caminho:

1. Namorada de Cristiano Ronaldo posa de biquini para revista (http://www1.folha.uol.com.br/esporte/875955-namorada-de-cristiano-ronaldo-posa-de-biquini-para-revista.shtml

Pergunto: E daí?

2. Irmão da princesa Daiana anuncia que irá se casar pela 3a vez (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/875926-irmao-da-princesa-diana-anuncia-que-ira-se-casar-pela-3-vez.shtml).

Pergunto: o mundo vai parar se não souber disso?

3. Kate Moss toma café no Rio sem sutiã (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/875913-kate-moss-toma-cafe-em-hotel-no-rio-sem-sutia.shtml).

Pergunto: além da lei da gravidade, ela está ofendendo alguém?

Senhoras e senhores: uma salva de bocejos para a imprensa "faits divers"!

E até amanhã, se os deuses quiserem e os jornais cooperarem...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Yes, I'm 36 now!

É legal, mas só acontece uma vez por ano: a cada dia 14 de fevereiro eu fico mais experiente. Em função da particularidade da presente data, e contrariamente às publicações anteriores, vou dar um tempo nos comentários sobre notícias inusitadas para celebrar minha humilde existência.

Esta celebração - contudo, entretanto, porém - não tomará a forma de uma lista de conquistas e obstáculos encontrados pelo caminho, nem de uma carta de intenções para o ciclo que se inicia. Deixo essas duas tarefas (que podem ser chatas, entusiasmadas ou nostálgicas, dependendo da ênfase dada, respectivamente, às conquistas e obstáculos) para outros espaços e outros momentos. Minha celebração hoje toma a forma de fruição pura e simples: nada de reflexões, nem de projetos.

Assim sendo, no dia de hoje, e em homenagem a mim mesma, vou aproveitar deste espaço para me dar de presente uma das minhas músicas preferidas:



No mais: "Happy Valentine's Day" ou "Joyeuse St-Valentin"! Fica a escolha ao gosto do freguês.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Constrangimentos desnecessários

Coisa esquisita nesse país é esse apego desmesurado aos banheiros públicos. Aliás, de "público" eles não tem nada. É que eles foram sofrendo um progressivo processo de privatização ao longo dos anos: na passagem da moita ao banheiro (com direito a papel e sabão líquido), houve certamente um salto qualitativo não negligenciável, só que acompanhado de uma grande restrição do acesso.

Esse apego tem gerado atitudes extremamente vexatórias da parte dos funcionários de isntituições que servem ao público em geral, como bancos, órgãos de atendimento aos cidadãos. Veja bem: nesses locais, a privatização é tão absurda que ultrapassa a barreira financeira imposta pelos shoppings que, ao invés de oferecerem gratuitamente suas instalações aos seus consumidores, cobram pelo acesso a elas. E não venham me dizer que cobrar pelo banheiro é coisa normal: nesses 7 anos de vida nos EUA e Canadá, nunca vi uma única instalação comercial cobrar pelo acesso ao banheiro. E não venham me falar da falta de educação do povo brasileiro, patati, patatá... Os cinemas americanos parecem ter passado por um guerra de pipoca ao final de uma sessão e nem por isso eles cobram mais caro dos seus frequentadores. Ou talvez até cobrem... sei lá.

Enfim... Fato é que o caso desse senhor é típico aqui no Brasil: impedido de ter acesso ao banheiro de uma agência bancária, ele acaba urinando na própria roupa (http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/noticias/brasil/idoso-urina-na-calca-apos-ser-impedido-de-ir-a-banheiro-em-agencia-bancaria-1.239357). Da minah parte, o que eu mais desejo nesse mundo é que ele entre na justiça contra o banco pedindo reparação por danos morais.

Mas enquanto ações judiciais dessa monta não acontecem, existem outros (outra, no caso) com atitudes bem mais pragmáticas. Uma amiga da mãe de um amigo - cujo nome não poderia citar, até porque desconheço totalmente - foi impedida pela funcionária do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Sete Lagoas de ter acesso ao banheiro do local, sob a alegação de que o banheiro era de uso restrito dos funcionários. A senhora em questão tentou argumentar que era idosa e doente, mas não adiantou; nada da funcionária deixá-la passar. Ela, que estava de saia naquele dia, tomou uma decisão arrojada: abaixou a calcinha e fez xixi em plena agência do SAAE, sob a vista estarrecida de todos os presentes.

Precisava desta atitude drástica? Bem, não sei. Mas tenho certeza de que depois disso a funcionária do SAAE vai pensar duas vezes antes de negar o acesso de alguém ao banheiro do local.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Pela gretinha da gaveta, um abismo!

Fui abrir uma gaveta de recordações e dei de cara com um abismo: o abismo de certos sentimentos que, de tão profundos, sublimes e puros, chegam a ser vertiginosos. "Why can't this be love?" E era!

Segue essa música do Van Halen em homenagem a aqueles idos de 1992, aos pulos de alegria e à vertigem da descoberta.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Queen e florestas subtropicais

Num dia de verão (deliciosamente) quente como o de hoje, uma notícia como a que se segue corre o risco de ganhar ares de profecia: cientistas que estudam fósseis de plantas e animais na Antártida afirmam que por lá existiu, há cerca de 100 milhões de anos, uma exuberante floresta subtropical (http://www1.folha.uol.com.br/bbc/872876-cientistas-desvendam-florestas-fossilizadas-na-antartida.shtml). É que, nesse período, a terra teria experimentado um aquecimento tão pontente que as calotas de gelo da região derreteram, cedendo espaço a florestas densas e verdejantes.

Bem, tá certo que com um calor desses, sou capaz de acreditar em qualquer coisa. A questão é: e daí? A notícia pode até ser legal, mas ela em nada altera, de um ponto de vista estritamente prático, a minha vida ou a sua. No máximo, sentiria empatia pelas calotas derretidas: eu e elas temos derretido sob o sol.

Por outro lado, saber que existiu vida farta lá onde hoje só tem gelo, dá uma noção da transitoriedade da nossa existência nesse mundo, mundo, vasto mundo. E em tempos em que muita música de qualidade duvidosa grassa sem pudor (aliás, que pudor?), as do Queen ficam parecendo floresta subtropical na Antártida: ainda que sua existência no passado pouco ou nada altera a vida da maioria dos mortais no presente, só o fato de saber que o Queen um dia existiu, já é em si um grande alento contra o superaquecimento da indústria da vulgaridade rebolante - leia-se: funks, axés, breganejos e pseudo-pagodes.

A semelhança das florestas subtropicais da região da Antártida - capazes de sobreviver a invernos longuíssimos - o Queen resiste, nem que seja na memória dos fãs. Entusiastas do bom rock'n'roll, alegrai-vos: as florestas subtropicais podem voltar. Em homenagem a elas e à boa música, com vocês, uma das minhas preferidas: The March of the Black Queen!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Gnomo, sapo e centopeia

É impressionante como as prioridades públicas são definidas nesse país. Foi só a Cidade do Samba começar a pegar fogo (literalmente!) lá no Rio, que o Poder Público - na pessoa do seu prefeiro, Eduardo Paes - correu para abrir os cofres públicos no intuito de reparar os estragos causado pelo incêndio (http://oglobo.globo.com/carnaval2011/rio/mat/2011/02/08/prefeitura-vai-liberar-3-milhoes-para-grande-rio-uniao-da-ilha-portela-923754226.asp). Ai, quem dera se todo prefeito do Rio tivesse liberado 3 milhões em caráter emergencial para conter os estragos causados no ensino público! As escolas sem samba e seus alunos carentes agradeceriam imensamente.

Mas hoje não quero estragar meu fígado pensando nisso. Melhor, achei uma outra notícia que, de tão inusitada, é bem capaz de revigorar fígado, baço e pâncreas de uma vez só. Escutem essa: ladrão pula muro em Ribeirão Preto para roubar enfeites de jardim, a saber: um gnomo, um sapo e uma centopeia (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/872318-ladrao-invade-casa-para-furtar-gnomo-de-jardim-em-sp.shtml). Desnecessário dizer que as motivações do ladrão são totalmente ignoradas pela polícia, bem como seu paradeiro.

Fiquei então imaginando qual seria o destino provável daqueles três companheiros de jardim. Elocubrações de toda ordem me vêm à mente. Quanto à centopeia, dizem que ela já colocou seus 100 pés no mundo. O sapo, coitado, foi engolido pelo primeiro passante (nos dias de hoje, engolir sapos é prática corriqueira). E o gnomo, tão logo tomou conhecimento da generosidade do Sr. Eduardo Paes, quis também montar sua escola de samba. Foi visto pela última vez num jantar de negócios com os Anões do Orçamento e mais cinco piromaníacos, fazendo planos orçamentários para o carnaval do ano que vem.

P.S.= Eu havia dito, na segunda publicação deste blog, que duendes e gnomos só entrariam aqui quando convidados. Bem, este foi um caso.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Teve bão!

Não perdi as chaves do carro,
Não fiquei desidratada,
Não pisei no calango,
Não corri de cachorro,
Não esqueci de apreciar a paisagem,
Não rolei morro abaixo (nem morro acima),
Não escondi minha fome,
Não abri mão de beber água de côco,
Não entendi porque o domingo tem só 24 horas!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O Homem Elástico

O deputado federal e homem elástico Romário teve um belo dia de trabalho ontem no congresso nacional: bateu cartão às 10h17 para, logo em seguida, ganhar o Rio para conversar mais de perto com o seu reduto eleitoral.

O caráter inusitado é que este corpo-a-corpo com o eleitorado aconteceu numa partida de futevôlei na Barra da Tijuca, tendo sido, portanto, bem mais suado do que o da maioria dos congressistas (http://extra.globo.com/noticias/rio/romario-joga-futevolei-em-dia-de-sessao-legislativa-998686.html). Claro, não estou levando em consideração aqueles parlamentares que fornicam com suas amantes em horário de trabalho - estes provavelmente tão suados quanto Romário - mesmo porque este tipo de corpo-a-corpo é dos mais banais lá no Congresso.

A diferença aqui, senhoras e senhores, é que o sr. Romário já era figura publicamente (re)conhecida antes de pisar o Congresso. Ou seja, até o pipoqueiro da Praça do Papa o reconheceria vestido de mulher num desfile da Banda Mole. Com um pé no Congresso e outro na areia quente, a atitude de Romário não passou despercebida de ninguém. Ela serviu apenas como uma prévia da elasticidade não só do braço que bate o ponto, como da consciência que move aquele corpo.

Parabéns, sr. Romário. Continue suando a camisa pelo eleitorado brasileiro! Mas lembre-se que sua imunidade parlamentar não previne contra o câncer de pele causado pelo excesso de exposição ao sol.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Ano do Coelho


De acordo com o horóscopo chinês, 2011 é o Ano do Coelho que, por sinal, é também o meu signo. Ora, ora, seu Coelho: faça-me o favor! Me prometeu um ano calmo, agora tem que cumprir (http://www.hoops.pt/astrologia/coelho.htm).

Dizem que as pessoas desse signo são persuasivas, diplomáticas, benevolentes, calmas e responsáveis. Aliás, bem que podia ser mesmo! Prefiro terminar o ano assim, do que peluda, dentuça e correndo atrás da cenoura!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Piadinha de mau gosto

Tiririca, o deputado federal mais votado do país, tomou posse ontem na Câmara dos Deputados em Brasília. Aliás, o site da instituição cita como obra de sua lavra (a única por sinal), o livro "As piadas fantárdigas do Tiririca" (http://www1.folha.uol.com.br/poder/869875-vida-e-obra-dos-deputados-traz-ate-piadas-fantardigas.shtml).

Próximo passo da sua carreira meteórica rumo ao absurdo: entrar para a Academia Brasileira de Letras. Afinal, se o Sarney pode...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Beatas da quermece mundial

Quem, em sã consciência e algum resquício de contato com o entorno social, nunca viu uma beata rezando? Não estou perguntando se você freqüenta, está de acordo ou professa práticas que supostamente levam à beatitude, estou apenas perguntando se já viu...

Pois é, praticamente todo mundo já viu uma ou várias delas. O que ninguém parece ter reparado foi que a tchurma do FMI parece ter aderido ao movimento, só que rezando numa outra cartilha.

Essa matéria assinada pela Reuters e que foi publicada hoje no O Globo Online é um exemplo perfeito:“A economia mundial começou a melhorar, mas está cercada de problemas como alto desemprego e os preços em alta, o que pode aumentar o protecionismo e os problemas sociais, disse o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta terça-feira”, o digníssimo senhor Dominique Strauss-Kahn. (http://oglobo.globo.com/economia/mat/2011/02/01/desequilibrios-globais-do-periodo-pre-crise-estao-voltando-diz-fmi-923712465.asp). As analogias possíveis entre o FMI e as beatas não tem nada de sofisticada, como vocês verão a seguir. Traduzindo em miúdos: o rebanho de Deus começa a andar na linha, mas ainda tem muito vício na área (desemprego e preços em alta), o que pode corromper espíritos incautos, aumentando consideravelmente o número de pecadores (protecionismo e problemas sociais). Só que aqui o nó da retórica reside justamente em nivelar “protecionismo” e “problemas sociais”, como se o primeiro fosse causador do segundo. Ninguém precisa ser Manu Chao para saber que a onda da batatinha não é presença das barreiras alfandegárias ou qualquer outra forma de protecionismo de mercados nacionais: é sua ausência que causa estrago.

Mas para rezar na cartilha do FMI, é preciso ter uma imaginação fértil e olhos vigilantes, capazes de antever todas as ameaças do demo. Por exemplo, um dos perigos para o qual Strauss-Kahn alerta, e que estaria ameaçando a fé do seu rebanho, é justamente o crescimento dos países emergentes: “O primeiro [perigo] é a recuperação desigual entre países, com nações emergentes crescendo muito mais rápido que as economias desenvolvidas e possivelmente superaquecendo”. O segundo perigo seriam as “tensões sociais em países com desemprego elevado e desigualdade crescente de renda”. A estratégia de aproximar fenômenos de naturezas distintas permanece como no parágrafo anterior, só que com uma nuance suplementar: insinua-se nas entrelinhas uma relação de causalidade entre o crescimento de pobres (que deveriam permanecer pobres, já que deles é o Reino dos Céus) com o desemprego e a má distribuição de renda.

De uma certa forma, o Brasil tem demonstrado que o crescimento dos emergentes pode ser um antídoto ao desemprego. Mas como as circunstâncias práticas do mundo real desafiam qualquer clivagem maniqueísta, o temor de que o crescimento econômico não leve à distribuição de renda é pertinente. Longe de querer acender uma vela para o (meu) diabo nesse particular (no caso, o FMI), esta questão coloca-se como um desafio para todos os países emergentes, inclusive o nosso.

Enfim, com esta estranha mistura entre fanatismo neoliberal e preocupações altruístas com o desemprego elevado e ausência de distribuição de renda, a pregação prossegue. A bíblia deles data dos escritos apócrifos achados no Consenso de Washington nos idos de 1990. Até o hermeneuta mais iniciante é capaz de interpretar esse texto: para criar empregos, pobres do mundo inteiro, rezai na cartilha do FMI. Amém!

P.S.= Para aplacar a ira das Novas Beatas, estou postando esse vídeo dos Novos Baianos, um verdadeiro lenitivo para almas refinadas como a minha e a sua!