UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: maio 2011

terça-feira, 31 de maio de 2011

Mudanças e andanças

Mudar de casa em dia de eclipse dá nisso: uma profusão de acontecimentos e emoções vindas nem sei bem de onde. Corre daqui, corre dali, vento no rosto, poeira no cabelo, braços doendo de tanto carregar peso, sede.

Só quando a gente muda de casa, é que pode remexer naquilo que ficou guardado um tempão, só esperando o tempo de certo para ser esquecido novamente.

Enfim: um brinde aos começos, recomeços e novos rumos.

Casa nova, vida nova!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

"Gadgets" pseudo-necessários

O Blog Digital & Media publicou ontem uma matéria que atentava para a irracionalidade dos hábitos de consumo dos "gadgets" eletrônicos (leia-se se "tranqueira") como o iPad 2 (http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2011/05/29/mal-foi-lancado-ipad-2-usuarios-ja-esperam-pelo-ipad-3-924559294.asp).

A bem da verdade, sem explorar muito o tema em primeira mão, o blog apenas replicava comentários atribuídos seja ao site "ReadWrite Mobile", seja a supostos rumores em curso na Internet sobre o futuro lançamento do iPad3. Sobre essa necessidade de prospectar características de um produto que ainda nem sequer foi lançado, o blog avalia: "Segundo especialistas, essa ansiedade revela um comportamento cada vez mais frequente no mundo tecnológico: a necessidade de consumir lançamentos ignora a racionalidade, e pagar mais por mudanças mínimas é o preço emocional do objeto de desejo".

Na pior das hipóteses, os "especialistas" (quem mesmo?) em questão acertaram em cheio sobre uma coisa: essa obsessão besta de querer ter sempre o último lançamento de algo totalmente inútil para uma dada realidade de consumo. Essa colocação me fez pensar em um papo que tive certa vez com a minha amiga Elô quando morávamos em Montreal: que saco esse deslumbramento de amigos, parentes e afins aqui no Brasil com tudo o que é moda em algum lugar do mundo!

Mas se o deslumbramento ficasse só na babação em cima do último modelo de iPhone, ainda ia. O problema é que deslumbramento logo virava cobrança e competição: você viu? Não conhece? Não comprou? Em que mundo você vive? Não adiantava a mínima você argumentar que um celular, por exemplo, pudesse ser totalmente inútil em uma cidade em que a telefonia local era gratuita, que existia serviço de caixa postal virtual em casa, que tudo funcionava perfeitamente, que nunca se tinha perdido nenhuma proposta de emprego, nem desencontrado de amigo algum, resumindo: NADA adiantava! Nunca!

Estranha essa mania de querer sempre estar em conexão com uma pseudo-vanguarda, quando as necessidades concretas apontam para coisas muito mais simples e menos sofisticadas. Talvez seja uma grande necessidade de querer se sentir inserido em um contexto mais "descolado". Talvez seja medo de "ficar para trás". Mas para trás de quem, se a atitude em si já é um atraso?

Senhoras e senhores: boa noite! Vou dormir muito bem sem saber para que vai servir esse tal iPad3.

P.S.= Um leitor bem-informado me sugeriu essa música como trilha sonora do post. A letra cai como uma luva, hehehê!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Mama mia!

A boa nova que eclodiu na mídia brasileira hoje traz à baila o Papa Bento 16, autoridade máxima da Igreja Católica Apostólica Romana. Ele teria mandado fechar um convento balado lá da Itália, por supostas "iregularidades litúrgicas, financeiras e morais" (http://www1.folha.uol.com.br/bbc/921639-papa-bento-16-fecha-convento-em-que-freiras-dancavam-em-cerimonias.shtml).

O convento em questão, o Basílica di Santa Croce in Gerusalemme (Basílica da Santa Cruz de Jerusalém), além de ser uma bela relíquia turística situada na cidade de Roma, possui outras particularidades bastante interessantes. Segundo matéria publicada hoje na Folha de São Paulo Online, ele havia passado por reforma recentes e sido parcialmente transformado em hotel. Além disso, outras formas menos convencionais de expressão artística começaram a acontecer no local: além de concertos, apresentações de dança estariam sendo executadas pelas freiras durante as cerimônias religiosas.

Até aí, nada de muito inovador. Até para cantar, as bandas gospel dão um sacudidinhas assim para o lado, o que, com algum esforço de imaginação, pode ser chamado de dança. Mas a matéria da Folha vai além e não deixa sublinhar a "procedência" dos performadores das expressões artísticas em voga naquele convento: "O abade Simone Fioraso, um extravagante ex-estilista de Milão, já tinha sido transferido do mosteiro há dois anos", ressalta a matéria. Quanto às dancinhas, elas eram desempenhadas por "uma das freiras do mosteiro, Anna Nobili, ex-dançarina erótica, [que] fez várias apresentações de dança com outras freiras durante cerimônias religiosas".

Até aí, também não vejo essencialmente nada demais. As Igrejas Evangélicas estão cheias de ex-alguma (ex-atriz pornô, ex-traficante, ex-ladrão) e nem por isso andam fechando suas filiais. Ao contrário, elas andam é abrindo outras para caber mais gente. E mesmo dentro da liturgia católica, existem precendentes importantes: Maria Madalena, que havia sido prostituta, pregou o quanto pode ao lado de Jesus (e a quem este, por sinal, andou salvando do linchamento).

Bem, ainda que essas ponderações pudessem ter sido feitas, a opção do jornal brasileiro - talvez por um certo apego ao escândalo e devidamente motivado pelos jornais da Itália que lhe serviram de fonte - foi de "instigar" o debate público, postando uma foto da alegre e bela Anna Nobili dando um salto de fazer inveja a Julie Andrews no filme "A noviça rebelde".

Mas, que tipo de problema ético emerge do ato de dançar? Afinal, quem nunca dançou que atire a primeira pedra! A menos, claro, que o inquérito encabeçado pela Congregação dos Institutos de Vida Consagrada do Vaticano, encarregado de fazer luz sobe os boatos, tenha detalhes mais sórdidos do que estes, detalhes estes que ainda não vieram a público. O pronunciamento do Padre Ciro Benneditinni, porta-voz do Vaticano, foi bem lacônico nesse sentido: "Uma investigação descobriu provas de irregularidades litúrgicas e financeiras, além de (irregularidades de) estilo de vida, que provavelmente não estavam de acordo com o de um monge".

Resta saber, claro, que tipo de monge faz o hábito de dançar. Infelizmente, quem quer que se proponha tirar a prova e ir ver de perto, vai dar de cara na porta: mesmo se todos os caminhos levam a Roma, o convento já está fechado!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Do galo para o vinho!

Frisson total no mundo dos atordoados!

Pesquisadores do UT Southwestern Medical Center vêm estudando uma droga poderosa, feita a partir do resveratrol, que é um neuroprotetor presente no vinho (http://oglobo.globo.com/vivermelhor/mat/2011/05/26/composto-de-vinho-tinto-pode-reduzir-os-efeitos-de-concussoes-na-cabeca-diz-pesquisa-924541057.asp). O objetivo da nova droga "é observar se há redução dos danos ao cérebro após o impacto e a restauração das funções cerebrais sutis através de seus efeitos antioxidantes".

Uma das utilizações concretas da droga seria, por exemplo, na recuperação de atletas cuja prática esportiva os expõe a riscos de concussões (traumatismo causado por pancada na cabeça) como, por exemplo, os boxeadores. O resveratrol, que já vinha sendo testado em animais e reduzindo "significativamente danos a longo prazo", será testado agora em duas dúzidas de atletas voluntários. Mas o melhor da história é o método: "neste estudo, uma dose diária oral será administrada por sete dias, em até duas horas depois da luta".

Mas eu, que não bati minha cabeça em lugar nenhum e não sou boba nada, já tô vendo o "embroglio" lá na frente: vai ter atleta querendo passar diretamente à fonte e entornar litros de vinho, com a desculpa de recuperar os neurônios e suas conexões. Até aí, tudo bem: uma dor de cabeça a mais, outra a menos não vai fazer tanta diferença. O problema vai ser quando começarem a vender vinho Chapinha nos parques de diversão, na saída do carrinho tromba-tromba, para ver se dá para salvar alguma coisa dos cérebros mais sacudidos. Ou pior, o vinho pode acabar ganhando o mesmo status do espinafre do Popeye: depois da briga da escola, basta um galãozinho para colocar tudo em ordem.

Será um caso típico daquilo que chamam solenemente de experimentos com "efeitos não-pretendidos"... E tenho dito!

quarta-feira, 25 de maio de 2011

2012: o ano das motos!

Todo dia é dia de celebrar alguma coisa. Uns andaram hoje comemorando o Dia do Orgulho Nerd; outros, o não-fim do mundo; ou, ainda, o simples fato de o dia de hoje ter sido um belo dia de céu azul. Afinal, cada qual celebra o que bem entende. Mas quando o assunto é trânsito, fica difícil comemorar alguma coisa.

O Instituto de Pesquisas Econômicas (IPEA) divulgou hoje o estudo "A Mobilidade Urbana no Brasil", capaz de arrepiar os cabelinhos do pé até a nuca. De acordo com matéria publicada hoje no Hoje em Dia, "a pesquisa mostra que a demanda por transporte público caiu 30% na última década. No mesmo período, a compra de carros cresceu em media 9% ao ano e a de motos, 19%" (http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/noticias/brasil/em-dez-anos-havera-mais-motocicletas-do-que-carros-nas-ruas-do-pais-1.285076). Trocando em miúdos, a previsão catastrófica é a de que, a partir de 2012, a aquisição de motocicletas será maior do que a de automóveis. Ou seja, ao que parece, o fim do mundo vai ser mesmo em 2012, hehehê!

E qual o problema disso? Segundo Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho, técnico de planejamento e pesquisa do IPEA, citado na matéria do Hoje em Dia, a moto já polui mais do que o carro; e se comparada ao transporte público, polui até 40 vezes mais.

A questão é saber, meu caro Watson, de qual transporte público estamos falando nesse trecho. É bom lembrar que o danado do ônibus emite monóxido de carbono, ao passo que o metrô não emite gases poluentes, pois é movido à energia elétrica. Qualquer criança sabe disso! A prova disso é que essa informação está disponível no site da Discovery Kids (http://www.canalkids.com.br/meioambiente/planetaemperigo/poluar2.htm).

Mas é claro que o aumento de formas mais poluentes de transporte não é um problema que só pode ser imputado aos motoqueiros, ávidos por exercer seu poder de consumo. As empresas responsáveis pelos transporte em ônibus e o poder público tem sua parcela de culpa nessa história: "O alto custo das passagens também influenciou a mudança do comportamento - desde 1995, as tarifas dos ônibus urbanos aumentaram cerca de 60% acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC)".

Preço salgado das passagens de ônibus, ar poluído pelas motos, carros matando gente que nem guerra civil. Para onde correr? Não sei, mas se tivesse que correr, tentaria ir de bicicleta: barato, não polui e, se depender dos morros de BH, vc vai sair com as coxas e panturrilhas da grossura das do Dunga (nos áureos tempos, claro).

terça-feira, 24 de maio de 2011

E a saga continua...

Ueeebaaaaa!!!! Para quem achava que loucura pouca é bobagem, o Sr. Harold Camping - o tal que previu o fim do mundo para o sábado passado - está aí para mostrar toda a sua tenacidade.

Segundo matéria do Hoje em Dia, a nova data do fim do mundo foi revelada em pronunciamento na estação de rádio de sua seita, a Family Radio (http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/noticias/mundo/pregador-dos-eua-remarca-juizo-final-para-outubro-1.284554). Senhoras e senhores, agendas na mão: a data "definitiva" passou a ser o dia 21 de outubro de 2011!

Sim, sim! Ao que parece, o homem não larga o osso de jeito nenhum. Após um breve sumiço das vida pública, muita reflexão deve ter se sucedido na mente deste senhor (uma provável consulta aos seus "superiores" ?), de modo que ele achou por bem relevar o indiscutível fracasso da previsão do último sábado da seguinte forma: "Não estamos mudando a data em absoluto, só entendemos que temos que ser um pouco mais espirituais com relação a isto", avalia o decano de 89 anos.

Bem, acho melhor eu ficar por aqui, tentando entender o que significa ser "bastante espiritual" com relação a este tipo de previsão. No mais, se o mundo não acabar no dia 21 de outubro próximo, vou querer saber onde o Sr. Camping descola uma dose disso aí que ele toma antes de cada pronunciamento na rádio... Pelo teor catástrofico das profecias, no mínimo tem metanol misturado na marvada! Haja fígado, viu?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Por que parou, parou por quê?

Lembra quando eu disse que o líder messiânico Harold Camping havia previsto o fim do mundo para o dia 21 de maio de 2011 (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/04/camping-versus-shiva-o-grande-duelo.html)?

Passados dois dias do chamado dia D, há severas evidências de que a previsão do Sr. Camping melou totalmente. Se bem que de vez em quando a gente vê cada coisa nos jornais que chega a nos colocar em dúvida se realmente o mundo está ou não se acabando. Hoje, por exemplo, vi uma coisa estarrecedora sendo noticiada nos jornais, que acabou levando esta que vos escreve a crer que o fim do mundo parece estar parado ali na esquina, a dois passinhos de nós.

Eis aqui o motivo de tanta perplexidade: funcionária do Instituto Médico Legal de Curitiba é denunciada pelo roubo de R$ 100 de um cadáver (http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2011/05/23/funcionaria-do-iml-do-parana-presa-suspeita-de-roubar-100-de-cadaver-924519049.asp). De acordo com O Globo Online, o delito pode ser agravado pelo fato de se tratar de vilipêndio de vítima de homicídio.

Se bem que, apesar de a funcionária ter surrupiado uma quantia nada negligenciável, aproveitando-se do fato de estar a vítima completamente indefesa (ao que parece, o defunto nem mexia, como aliás tem que ser mesmo), a infratora pelo menos sabe que jamais vai poder ser acusada de latrocínio (isto é, roubo de seguido de morte). No limite, ela poderá alegar a contração de empréstimo junto à vítima, a ser restituído - quem sabe? - na próxima incarnação... Vai saber... Com esse clima de Armagedon, tudo pode colar.

Enquanto isso, os seguidores do Sr. Camping - principalmente aqueles que, como o Sr. Robert Fitzpatrick, doaram milhares de dólares para fomentar a publicidade do suposto fim do mundo (http://www1.folha.uol.com.br/bbc/919774-fieis-tentam-compreender-ausencia-de-fim-do-mundo.shtml) - andam corroídos por uma dúvida, bem maior, por sinal, do qualquer outra que me aflige: "Não entendo o porquê... Não entendo como nada aconteceu", relata o Sr. Fitzpatrick, justamente um desses aí que doou algo em torno de 140 mil dólares para as tais campanhas de fim do mundo.

Fiquei foi imaginando o que farão daqui para frente esses diletos seguidores, frustrados por terem feito girar as cifras publicitárias locais, sem com isso obter nenhum retorno para a "marca". Quanto ao autor da profecia frustrada, este já não dá as caras publicamente há dias.

Quanto a mim, estou mesmo é muito curiosa para saber o líder messiânico vai fazer para "salvar" o fim do mundo? Ou será que está próximo o fim da ideia de "fim do mundo"? Enfim... Nada de concreto pelo momento.

Mas qualquer que seja a estratégia de salvação da teoria do fim do mundo daqui para frente, o Sr. Camping certamente estará fazendo que nem a funcionária do IML: vilipendiando o cadáver de uma professia que já nem consegue mais se mover.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Saúde de quem mesmo?

Hoje à tarde, uma amiga minha me arrastou pelas mãos até uma banca de jornal. Ela tinha o firme propósito de me convencer a escrever uma nota de protesto sobre o último número de uma revista masculina chamada Men's Health - revista esta que eu não tinha tido até então o dissabor de conhecer.

De tão indignada, ela até conseguiu convencer o dono da banca a deixá-la abrir a revista, só para me mostrar uma determinada matéria, tida como a principal responsável pela alteração do fluxo do seu eletrocardiograma naquela semana. A matéria em questão, com chamada de capa e tudo, tinha como título os seguintes dizeres: "Você transa com sua chefe? A gente mostra o caminho" (por sinal, muito bem recheada de fotos sugestivas e de um realismo cabal, que exibia, entre outras coisas, uma dama lasciva de bruços sobre uma máquina de xerox). Isso mesmo, estimados leitores: a matéria prometia um passo a passo de como levar sua digníssima chefe para a cama.

Confesso que só vi a matéria de relance, não tendo tido, portanto, a oportunidade (leia-se a disposição) de me "deliciar" com os detalhes mais lúbricos do texto. Como a ausência de uma leitura sistemática e atenta inviabilizaria qualquer tipo de crítica decente, condizente com os padrões mínimos de qualidade analítica adotados nesse blog, fiquei curiosa e fui até o site, na esperança de exumar devidamente o cadáver e encontrar a matéria em questão (http://menshealth.abril.com.br/). Infelizmente, não encontrei a matéria. Mas o que encontrei merece igual atenção.

Para início de conversa, o que por lá vi me levou de volta à adolescência: é que o paralelismo com a Revista Capricho (http://capricho.abril.com.br/home/) fica evidente. Não que eu tenha lido Men's Health aos doze anos, mas a idade mental do eu-lírico das duas publicações é mais ou menos a mesma.

Querem exemplos?

1. Quesito relacionamento maduro com o sexo oposto. Matéria da Men's Health: "Ela é para casar? Ela é autocentrada. Um estudo da Universidade do Texas (EUA) aponta que a generosidade dela é diretamente responsável pela sua felicidade". Matéria da Capricho: "Garotos contam: coisas fofas que as meninas fizeram para conquistá-los".

2. Quesito ombro amigo. Matéria da Men's Health: "21 conselhos 'geniais' do seu amigo do peito". Matéria da Capricho: "Ele foi fofo ou pisou na bola? Conta para a gente aquela história que te deixou chocada".

3. Quesito erotismo. Matéria da Men's Health: "Especial Garota MH: as dicas e segredos das garotas da seção mais bonita das Men's". Matéria da Capricho: "Você namora, pega ou larga os garotos que a gente escolheu? Vote e participe!".

4. Quesito conhecimento útil. Matéria da Men's Health: "Ela goza mesmo? Clique aqui e descubra tudo o que você precisa saber sobre o assunto". Matéria da Capricho: "As melhores dicas para você conquistar de vez o coração dos garotos".

Não vou me alongar aqui na crítica ao "receituário do macho bem-sucedido" que a Men's Health tenta vender. Nem precisa! Basta comparar os exemplos e tirar a prova. Ambas as revistas parecem dialogar com públicos semelhantes, com carências parecidas e necessidade de afirmação idem.

Coincidência? Mera casualidade? Sei não! Do jeito que a coisa anda, o Justin Bieber vai acabar sendo capa da Men's Health!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Fofocas, ciência e jornais

Existem momentos em que a ciência escolhe andar de mãos dadas com o senso comum, seja para desconstruir as bases das crenças deste, seja para sofisticar ainda mais seus argumentos, conferindo assim determinada legitimidade a atitudes corriqueiras.

Confesso que fiquei na dúvida quanto à motivação desta pesquisa, publicada na Revista Science e divulgada hoje no O Globo Online(http://http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2011/05/19/pesquisa-publicada-na-revista-science-mostra-como-reagimos-fofoca-924494050.asp). Em princípio, ela parece se utilizar de um experimento laboratorial para confirmar uma máxima que poderia parecer pouco surpreendente para muitas pessoas: a de "que inconscientemente prestamos mais atenção ao rosto de pessoas de quem ouvimos coisas negativa".

A metodologia empregada não deixa de ter lá a sua sofisticação: voluntários foram observados por detrás de uma tela onde uma série de rostos "neutros" se sucediam aos pares, e aos quais estavam associadas mensagens positivas, negativas e neutras. A ideia dos pesquisadores era de reproduzir uma situação chamada de "rivalidade binocular", segundo a qual "quando duas imagens diferentes são apresentadas simultaneamente aos olhos, a pessoa primeiro vê uma imagem e depois a outra, mas o tempo que cada imagem é registrada geralmente não é controlada conscientemente pelo espectador".

Não me cabe aqui discutir a dificuldade inerente à aplicação do conceito de "valência" (isto é, aquilo que se tem como valores "positivos", "neutros" ou "negativos") em pesquisas comportamentais, porque esta questão em si mereceria páginas e mais páginas de comentário. Por ora, basta que aceitemos tacitamente a existência de um consenso em torno daquilo que os pesquisadores e voluntários julgavam como sendo "positivo", "negativo" e "neutro". Embora a descrição do método na matéria tenha sido bastante econômica, acredito que a intenção primeira era registrar o percurso dos olhos e as expressões faciais dos voluntários diante dessas imagens às quais se associavam frases diversas, de modo que estes últimos não se vissem sendo observados. Assim, na inconsciência do olhar inquisidor dos pesquisadores, estes voluntários teriam o tempo gasto na observação de cada imagem devidamente registrado pelos pesquisadores.

A conclusão não podia ser outra: de acordo com a matéria, "os voluntários registraram os rostos associados às informações negativas por mais tempo, comparado às imagens com informações neutras ou positivas", o que em si seria um indicativo claro de uma maior predisposição à fofoca (aliás, o título da matéria não deixa margem para dúvida: "Pesquisa publicada na revista Science mostra como reagimos à fofoca"). Porém, por mais que o método tenha sido engenhoso, a forma pela qual o experimento foi relatado deixa algumas questões em aberto.

Primeira pergunta que merece uma resposta mais consistente do que aquela fornecida pela matéria do O Globo: todo comentário negativo pode ser realmente considerado "fofoca"? Porque se puder, o próprio jornal em questão, ao invés de vender notícias de crimes, castástrofes e outros eventos disruptivos da regularidade cotidiana, estaria simplesmente vendendo "fofoca".

Segunda pergunta que não quer calar: registrar um rosto por mais tempo é necessariamente bom? Trocando em miúdos: reter a imagem de alguém por algum tempo já vale em si o esforço de qualquer anunciante ou comunicador? Porque se valer, qualquer conteúdo, independentemente dos seus pressupostos éticos e morais, seria considerado válido ou mais interessante unicamente por estar sendo mais observado.
Só que a prudência analítica nos adverte que nem tudo o que é observado por mais tempo é recebido como algo bom ou válido. Ao contrário, uma informação desta natureza pode estar causando repulsa ou descontentamento.

Verdade seja dita, é claro que nem toda confusão na argumentação merece ser imputada à matéria da Science. O ficou claro, no entanto, foi que o viés assumido na matéria do O Globo deixou entrever um certo sabor pela fofoca e pelo sensacionalismo que, no final das contas, mais parece ser uma orientação editorial do que propriamente um achado científico.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Controvérsias sobre a longevidade e suas provas

O que fazer, nos dias atuais, para se tornar a pessoa mais velha do mundo?

Bem, na falta de uma resposta pronta, fica pelo menos o consolo de que uma coisa é conseguir chegar lá; outra, bem diferente, é conseguir provar que se chegou nesse estágio.

É que a notícia alvissareira que chegou aos jornais de hoje - a de que a atual mulher mais velha do mundo seria uma mineira de 114 anos e 313 dias, natural de Carangola (MG) - acabou colocando às claras algumas dificuldades para a atestação da verdadeira idade do reivindicante(http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2011/05/18/mineira-de-114-anos-reconhecida-pessoa-mais-velha-do-mundo-pelo-guinness-924488558.asp).

De acordo com o editor-chefe do Guinness World Records, Craig Glenday, diversas notificações de longevidade já haviam sido comunicadas ao organismo, mas esta é a primeira comprovação oriunda do Brasil. A matéria do Hoje em Dia é mais explícita quanto às dificuldades de comprovação: "O Guinness afirma que 95% das alegações de pessoas que dizem ter 115 anos ou mais mostram-se falsas ou impossíveis de se documentar. A publicação ressalta que certidões de nascimento expedidas muito posteriormente ao nascimento não são provas aceitas da data" (http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/minas/mineira-de-114-anos-e-a-pessoa-mais-velha-do-mundo-1.281435).

Resta saber, claro, que tipo de via institucional percorreu a Sra. Maria Gomes Valentin, autora da proeza, para que tal comprovação fosse possível, sabendo-se que a decana nasceu em 1896.

Enquanto lia a matéria - e não sem uma ponta de inveja - ia perguntando aos meus botões se acaso algum dia minha idade chegar a três algarismos, terei coragem de assumir publicamente que um dia gostei (e muito!) dessa música do Eurythmics... ou se, ao contrário, vou fazer questão de fingir que esqueci.

Qualquer que seja a resposta, e enquanto esse dia não chega, vou curtindo a música e admitindo o desvio de caráter publicamente. Com vocês: "There must be an angel".

terça-feira, 17 de maio de 2011

No túnel do tempo da publicidade 4

Para quem se delicia com as políticas da diferença e outras questões de reconhecimento colaterais, eis aqui uma surpreendente demanda de gênero imposta ao mundo do jeans.

A Levi's reivindicava, lá nos idos de 1982, ter tido a engenhosa ideia de adaptar do seu modelo tradicional às exigências do contorno da mulher. Antes disso, ao que parece, o mesmo modelo servia para ambos os sexos. Ou melhor, o modelo era dirigido para o público masculino - aquele que detinha então maior poder de consumo - e as mulheres que se virassem para lado de lá com suas costureiras, pregas e outras mazelas mais. Até então amigas, a especificidade do corpo feminino era solenemente ignorada pela esfera da produção.

Que as coisas mudaram de lá para cá, não resta a menor dúvida. Hoje, em seminário LGBT na Câmara dos Deputados, Preta Gil e Wanessa Camargo deram as mãos para debater sobre união civil de pessoas do mesmo sexo. Matéria do Globo Online estampava: "A cantora e atriz Preta Gil compareceu ao seminário e declarou ser bissexual. A cantora Wanessa Camargo também foi ao evento para apoiar a causa, mas deixou claro ser heterossexual" (http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/05/17/homossexuais-realizam-seminario-na-camara-pedem-deputados-aprovacao-de-casamento-civil-entre-pessoas-do-mesmo-sexo-924480411.asp).

Enquanto a preferência sexual parecia um fator importante para a repórter, o deputado Bolsonaro, ignorando a presença das divas, espumava do lado de fora: "Eles não vão me convidar, porque eles têm medo, porque lá dentro não tem homem. Eles são heterofóbicos". Não, senhor Bolsonaro! O senhor é que é mulherfóbico! O senhor e o jeans produzido até o início da década de 1980.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Que nem o E.T.!

Não bastava me sentir um verdadeiro E.T. nesse mundo!... E ainda tive que sair correndo, desembestada, crente que estava atravessando uma sala ampla em linha reta, quando na verdade estava pegando uma diagonal e quase saindo voando pela porta.

Mas o pior e o mais inédito foi acordar no meio da noite, rindo. Efeitos colaterais de uma das aulas de biodança mais engraçadas da minha vida.



Vou dormir, que amanhã o dia será longo!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Moda estranha...

Não sei o que anda acontecendo no chamado mundo da moda, mas coisas muito estranhas vêm fazendo parte do seu campo semântico.

Numa rápida lida nas notícias de ontem, três fatos associados a esse universo me saltaram aos olhos. Em primeiro lugar, temos a marcação do julgamento do estilista John Galliano, acusado de proferir insultos públicos de caráter anti-semita (http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2011/05/12/estilista-john-galliano-vai-julgamento-em-junho-924440963.asp).

Em seguida, algumas linhas mais abaixo, ficamos sabendo, da boca do secretário de segurança pública de São Paulo, o Sr. Antonio Ferreira Pinto, que a "explosão de caixas eletrônicos virou crime da moda" por lá (http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2011/05/12/explosao-de-caixas-eletronicos-virou-crime-da-moda-diz-secretario-de-seguranca-publica-de-sp-924445151.asp).

E se você achava que de barbaridades o mundo da moda já andava cheio, dê uma olhada nessa última notícia: a modelo Nives Celsius - de quem eu nunca tinha ouvido falar, mas que supostamente andou brilhando sob os holofotes da mídia fofoqueira por transar com o marido e jogador de futebol no gramado do estádio do Dínamo Zagreb - acaba de gravar hit em homenagem às namoradas e mulheres de jogador de futebol (ao que parece, uma bela e promissora profissão que anda despontando no horizonte da Humanidade...) (http://oglobo.globo.com/blogs/planetaquerola/#379789). O refrão não deixa dúvidas quanto ao teor da homenagem: "Goal, goal, goal, score me a goal. I'm naked, you are naked, score me a goal".

Eu, héin? Neste mundo de incertezas, mais vale ficar de olho na índole de quem faz a sua cabeça, no teor moral do que se apregoa como sendo “a” tendência momento, e naquilo que se anda adotando como modelo de vida. E se for para escolher entre estar na moda e ter modos, prefiro de longe a última opção!

No túnel do tempo da publicidade 3

No mundo da publicidade, já houve uma época em que aparelhos eletrodomésticos e carros eram associados à ideia de permanência, solidez, tradição e até conservadorismo. Eram publicidades que traziam embutidas em si a ideia de que certas coisas na vida tinham que ser feitas para durar.

O mais engraçado é que isso nem faz tanto tempo assim. Por exemplo, uma publicidade do grande "must" da Volkswagen no final da década de 1970, a Brasília (Revista Veja, 14-03-1979, p. 43), mostra bem como as relações de consumo de carros um dia estiveram associadas à ideia de transmissão de valores familiares. Assentada na premissa de que "filho de peixe, peixinho é", a propaganda aposta numa continuidade de hábitos de consumo que só seriam possívei, claro, se a Brasília continuasse sendo produzida por pelo menos mais 20 anos.

Essa outra publicidade de aparelhos de ar condicionado da marca Springer (Revista Veja, 28-11-1979, p. 109), veiculada também no ano de 1979, é ainda mais ousada no quesito "permanência". É que ela foi feita numa época em que a expressão "obsolescência programada" não passava de um palavrão incompreensível (bem, ela hoje é isso e algo mais: diz respeito à prática das empresas de projetar um produto com vida útil programada, o que geralmente acontece bem antes do que o consumidor deseja).

Levada às últimas consequências, a lógica da argumentação dessa publicidade de ar condicionado vai na contramão do ritmo frenético de consumo que se verifica hoje quando o assunto é "aparelho celular" (a prática de oferecer, todos os anos, um aparelho mais moderno a baixo custo já é praxe em qualquer operadora): nela, pai e filho posam ao lado de um aparelho comprado 21 anos antes e que estaria, supostamente, em perfeito estado de uso.

Claro, tudo isso aconteceu anos-luz antes dos incenivos governamentais no sentido de favorecrer a reposição de eletodomésticos antigos pelos de "linha verde", na tentativa de redução do consumo médio de energia elétrica. E nem precisa falar que não só uma pequena parte da população brasileira tinha acesso a esses produtos, como também a própria população nacional em si contava com alguns 100 milhões de habitantes a menos. Trocando em míudos: ainda planando nas nuvens do desenvolvimeno verificado nos anos do Milagre Econômico, preocupações ecológicas dessa natureza ainda estavam longe do horizonte político do Brasil (não que hoje elas estejam, mas, enfim, isso é assunto para outra ocasião).

Finalmente, nesta última publicidade das TVs Semp Toshiba (Revista Isto é, 21-10-1981, p. 100), o "realismo" da imagem é associado à "realeza" do produto que é, ao fim e ao cabo, digno de rei. O aspecto inusitado deste exemplo é que talvez esta seja a única publicidade de TV de que tenho notícia que tenha associado progresso técnico - isto é, "garantia de qualidade real, precisão e perfeito funcionamento" - com uma forma de autoridade caucada basicamente no fator hereditário (a menos que alguém ainda acredite hoje na teoria do poder divino dos reis... Se bem que depois daquela baboseira da casamento real, eu já não ouso colocar minha mão no fogo por ninguém!).

Enfim, guardadas as devidas particularidades, todas essas publicidades colocam em suspenso a ideia de que tecnologia avançada é sempre sinômino de futuro. O paradoxo, no final das contas, reside no fato de que em um passado relativamente bem recente, tecnologia já foi praticamente sinônimo de... passado!

terça-feira, 10 de maio de 2011

Aos especialistas, as batatas!

O meu comentário de hoje é dedicado com muito amor a todos os especialistas, e em especial aos neurobiologista da University College London.

Enquanto uma equipe de peritos da Al-Qaeda discute se o barbudo da fita divulgada pelos EUA era Osama bin Laden ou não, um grupo de neurobiologistas da University College London fazem a festa nos museus. É que estes descobriram que as reações químicas experimentadas por um observador de arte são bastante semelhantes àquelas experimentadas pelas pessoas apaixonadas (http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2011/05/10/observar-obras-de-arte-proporciona-mesmo-prazer-de-estar-apaixonado-revela-pesquisa-924423905.asp).

Para nos fazer crer nesse achado, artigo do O Globo revela como uma equipe de especialistas em neurobiogia andou escaneando cérebros de voluntários para verificar como "a mesma parte do cérebro que é estimulada quando uma pessoa se apaixona reage quando olhamos uma obra de arte". Segundo estes, a observação da arte provoca um aumento dos níveis de dopamina no córtex óbito-frontal do cérebro, substância química esta associada à sensação de bem-estar.

A matéria merece um adendo metodológico: esses mesmos voluntários (não se diz em momento algum quantos) foram expostos a 28 figuras, dentre as quais estavam incluídas O Nascimento de Vênus, de Botticelli, e os Banhistas na Grenouillière, de Monet.

Claro, como uma analista de mídia que já foi suficientemente torturada pelos grandes dilemas metodológicos das ciências humanas, não posso me furtar à uma pergunta crucial para entender a convergência dos achados de pesquisa: quem são esses voluntários?

Senão, vejamos: que experimentos "neurobiológicos" possam apostar reiteradamente na universalidade da química humana é uma coisa. Mas daí a pressupor que a fruição da arte não esteja submetida à parâmetros estéticos apreendidos ao longo da vida, e segundo contextos culturais bastante específicos, aí então já é querer apelar para um "universalismo químico" desconectado de qualquer realidade empírica.

Se fosse para bagunçar o coreto da demonstração desses especialistas, bastaria apenas dois exemplos simples e palpáveis para dar a entender que a amostragem pode estar enviesada. Imaginemos então: 1) um astigmata "fruindo" diante do quadro os Banhistas na Grenouillière; 2) uma recatada senhora fundamentalista islâmica de tendência xiita diante da Vênus de Botticelli. Difícil imaginar que moléculas de dopamina alegres e saltitantes sejam a única opção nesses casos.

É bem certo que a motivação inicial dos pesquisadores poder ter sido outra, na medida em que "a pesquisa sugere que a arte pode ser usada para aumentar o bem-estar e a saúde mental do público em geral". Na verdade, eles acreditam que ela pudesse trazer algum conforto aos pacientes ds hospitais e auxiliar na sua recuperação. Mas se a ideia era estudar os centros de compensação de prazer no cérebro, o melhor mesmo era encontrar outro mote.

E, pelo amor de Deus, parar de querer compensar o incompensável!

P.S. = Love? Love is in the air!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cerrado, cerrado meu...

Existe destino mais triste que o seu? Essa aqui é especialmente dedicada a quem tem um pezinho (ou os dois) no norte de Minas ou nos Vales do Mucuri e Jequitinhonha.

Artigo da Folha Online divulga conclusões de estudo encomendado pelo governo da Terra do Pão de Queijo ao Ministério do Meio Ambiente: "um terço do território de Minas Gerais pode virar 'deserto' em 20 anos" (http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/913167-norte-de-mg-pode-virar-deserto-dentro-de-20-anos.shtml).

As causas para o processo de desertificação não são segredo nem para o Polichinelo: elas estão ligadas diretamente ao "desmatamento, a monocultura e a pecuária intensiva, somados a condições climáticas adversas", o que acaba empobrecendo o solo de pelo menos 142 municípios do nosso estado.

Só que as consequências parecem ser mais graves do que se alardeia nos jornais mineiros (se é que se alardeia alguma coisa): além de condenar as terras à impropriedade para qualquer uso econômico ou social, o processo de desertificação obrigaria pelo menos 2 milhões e 200 mil pessoas a deixarem essas regiões, o que comprometeria, pelo menos, 20% da população mineira.

Como, após uma checagem rápida e descuidada, tive a impressão de que nada se vê, se lê ou se ouve sobre essa "morte anunciada" aqui nos jornais da Terra do Pão de Queijo (podendo esta que vos escreve estar totalmente enganada por mera falta de rigor analítico), ficou-me parecendo que a questão parece estar longe de constituir um tema de debate na mídia regional.

Como consolo besta, só nos resta rezar para que algum ente extraterrestre abrace nossa causa e salve nossas últimas florestas e reservas de cerrado, talvez às custas de alguns royalties em cima das nossas benécias naturais - mas fazer o quê? se, ao invés de conservarmos o que temos e quem aqui vive, preferimos um vôo direto para Miami para enchermos nossas malas com os comprimidinhos engarrafados pelas grandes corporações farmacêuticas de alhures... Na melhor das hipóteses, tomaremos alguns cursos de sobrevivência no deserto, organizado por alguma associação Tuaregue.

Alguém aí se habilita?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Café, sexo e assoar o nariz...

Artigo da Folha Online alerta: "Café, sexo e assoar o nariz podem aumentar o risco de se sofrer um derrame" (http://www1.folha.uol.com.br/bbc/912122-cafe-sexo-e-assoar-nariz-sao-principais-gatilhos-de-derrames.shtml).

Estudo conduzido pela University Medical Center, envolvendo 250 pacientes, e publicado originalmente na Revista Stroke, revela que "todos os fatores citados na pesquisa aumentam a pressão arterial capaz de resultar em ruptura dos vasos sanguíneos".

A conclusão que eu tiro disso tudo não poderia ser mais simples: já que não dá para eliminar os três fatores totalmente da sua vida, evite, pelo menos, exercitar os três ao mesmo tempo.

Fora isso, bom fim de semana!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Curiosidade e eloquência

Lembra aquela notícia inofensiva de ontem, que falava de uma vaca que deu à luz à quadrigêmeos? Pois eu hoje descobri que nem só de histórias pacíficas vivem as vacas.

Intitulada "Igreja é condenada a pagar indenização por morte de vaca", matéria veiculada na Folha Online narra as augruras do agricultor Ivandro Rodrigues Souza, no interior de Santa Catarina (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/911970-igreja-e-condenada-a-pagar-indenizacao-por-morte-de-vaca-em-sc.shtml). Souza, que morava próximo à Igreja do Céu do Cruzeiro Iluminado, do movimento Santo Daime, acredita que a igreja tenha sido responsável pela morte de sua vaca. "O agricultor disse que, na ocasião, fiéis atiraram fogos de artifício em direção à sua casa e que um de seus animais, uma vaca --que estava prenhe-- assustou-se e quebrou uma porteira do curral. O animal, cujo leite era destinado a consumo familiar e venda, abortou dois dias depois devido ao susto, morrendo mesmo depois de receber tratamento". Laudos veterinários confirmaram ausência de causa infecciosa no aborto, o que pode levar a crer que o animal tenha abortado de susto.

Eu, obviamente, como qualquer leitor com um mínimo de sensibilidade, me compadeci da sorte de ambos: agricultor e vaca. Claro! Quem não se sensibilizaria com a sorte de alguém que perde, a um só tempo, uma fonte de renda e de alimento familiar?

Mas a pressa é inimiga da perfeição e das reflexões mais críticas. Sem subtrair ao agricultor seu quinhão de razões para ficar decepcionado (alimento e sustento são coisas sérias), penso que algumas questões adicionais merecem ser colocadas:

1) O fato de ser a igreja em questão um templo de consumo do Santo Daime não teria enviezado a decisão?

2) Esse mesmo tipo de decisão judicial já foi proferida contra templos de outras religiões, como as igrejas católicas e evangélicas? É, porque fogos de artifício costumam ser muito amigos das quermesses de igreja...

3) A igreja em questão tinha conhecimento do potencial de dano causado pelos fogos? Já tinha sido advertida a respeito? Barulhos como esse eram frequentes? Sim? Não? Em caso positivo, qual a frequência?

Bem, quaisquer que sejam os atenuantes ou agravantes da questão, fato é que a Justiça acabou decidindo por uma indenização da ordem de R$ 6.800. "Procurada, Gianna Schmidt Siqueira, advogada da igreja, não quis comentar o assunto", decisão esta que só nos deixa o dissabor de não conhecer outro lado da história.

Seja por omissão de uma das fontes, seja pela possível empatia do repórter com a causa do agricultor, temos que o fato noticioso não passou dessa condição. É que para virar reportagem, ambos são imprescindìveis: fontes eloquentes e repórteres curiosos!

Quem sabe de uma próxima?

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Fígados, pedaladas e açúcar

Eu ia até inaugurar a série: "eu hoje não vou reclamar"! Ontem mesmo já tinha tentado e, claro, não tinha conseguido. Acabei foi reclamando do mestre Machado de Assis: aquele tudo sabe e tudo vê em termos de ironia.

À luz de novas vibrações pacíficas, quis então escolher uma matéria bem leve, dessas que nos ajudam a manter a fé na vida: algo do tipo "Vaca dá à luz a bezerros quadrigêmeos" (http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/minas/vaca-da-a-luz-bezerros-quadrigemeos-no-triangulo-1.274961).

Mas aí dei de cara com essa matéria do O Globo Online sobre o consumo de açucar por atletas e não resisti. A matéria em questão repercute um estudo publicado na revista americana "Medicine & Science in Sports & Excercise", que trata da ingestão por atletas de bebidas à base de frutose e glucose (http://oglobo.globo.com/vivermelhor/mat/2011/05/04/acucar-nao-problema-para-quem-faz-exercicios-regularmente-diz-estudo-924380698.asp) .

Como o título prometia uma coisa duvidosa - "açúcar não é problema para quem faz exercícios regularmente, diz estudo" - lá fui eu conferir o arrazoado da matéria. Decepção completa. Se ela começa dizendo que pessoas que exercem atividade física regularmente não precisam se preocupar com a ingestão de açúcar - que, de acordo com a matéria, pode até ser benéfica em alguns casos - ela termina demonstrando outra coisa. Ela relata, com muita simplicidade, o experimento realizado por cientistas suiços e britânicos em que uma série de ciclistas foram submetidos a graus diferenciados de exercícios e tiveram seus fígados medidos por ressonância magnética antes e depois desses mesmos exercícios. Na verdade, esperava-se com isso medir a perda do glicogênio antes e depois da atividade física.

Até aí tudo bem. Mas o que a matéria relata como conclusão científica é outra coisa: que após beberem bebidas à base de glicose e frutose, esses atletas repuseram rapidamente o volume de glicogênio no fígado (uma reposição de 9% para quem bebeu frutose e de 2 % para quem bebeu glucose). A última linha da matéria só vem a confirmar a limitação das conclusões do estudo: "A conclusão dos especialistas é que bebidas com frutose são duas vezes mais eficientes que as com glucose no que diz respeito à recuperação do fígado". Só isso. Ou seja: simplesmente verificou-se uma maior e mais rápida reposição de açúcar no fígado com bebidas açucaradas, o que nada tem a ver com o fato de atletas terem ou não terem "problemas" em decorrência da ingestão de açúcar.

Infelizmente, matérias assim tem sido tem cada vez mais ferquentes: elas começam prometendo "X" e relatando "Y". No final das contas, ficou parecendo matéria paga pela Nestlé ou pela Gatorade. Resta apenas saber se o desvio de conduta já estava presente na matéria revista americana ou se a escorregadela é apenas um exagero sensacionalista da matéria do O Globo. Se alguém tiver mais dados, por favor, levante a mão.

Quanto a mim, se meu objetivo era não reclamar, devia mais é ter ficado com as vaquinhas quadrigêmeas. Boa noite!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Chalaça ou ironia?

Tem dias - exatamente como o de hoje - que eu me pego reclamando demais da vida. E o pior que me podia acontecer era isto virar tema de preocupação. Tá certo que, por um lado, um blog dedicado à ironia machadiana não poderia fazer muito melhor. Mas, por outro lado, tenho medo de estar perdendo o humor, que é a quitessência da ironia machadiana.

Diante desse dilema de grande monta, saí à cata de uma notícia que valhesse o comentário do dia. Consegui até rastrear uma noticiazinha inofensiva, intitulada "Confira objetos que grudam na parede e dispensam pregos" (http://classificados.folha.com.br/imoveis/909365-confira-objetos-que-grudam-na-parede-e-dispensam-pregos.shtml), achando que daria para ficar numa boa, sem reclamar, sem achar defeito, sem ver contradição em nada. Mas acabei derrapando na parte da matéria em que se comenta a iniciativa da marca Plugplush de substituir ventosas de silicone pelas de pvc, que é um material derivado do petróleo e, portanto, de teor ecológico duvidoso. Desisti. A tentação de reclamar foi maior do que minha criatividade.

Confesso que tentei achar outras notícias mais alegres, sem grande sucesso. Difícil ser leve e inconsequente nos dias de hoje. Falta de sorte também. Fato é que acabei não achando nada que me aprouvesse.

A solução, pensei, é ir beber na fonte. Foi nesse intuito que saí à caça do grande, do magnífico, do inigualável, do supremo guru desse blog: Machado de Assis. E como bom guru, ele não pode falhar. Nele fui buscar consolo e inspiração. Mas o que achei foi uma dica no conto "Teoria do Medalhão", onde o tema "ironia" serve de mote de reflexão ao pai, que dá o seguinte conselho ao jovem filho aniversariante:

"— Somente não deves empregar a ironia, esse movimento ao canto da boca, cheio de mistérios, inventado por algum grego da decadência, contraído por Luciano, transmitido a Swift e Voltaire, feição própria dos céticos e desabusados. Não. Usa antes a chalaça, a nossa boa chalaça amiga, gorducha, redonda, franca, sem biocos, nem véus, que se mete pela cara dos outros, estala como uma palmada, faz pular o sangue nas veias, e arrebentar de riso os suspensórios. Usa a chalaça." (Teoria do Medalhão, Obra Completa, de Machado de Assis, vol. II, Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994: 37).

Ficou, no lugar do costumeiro desconforto diante do mundo, uma dúvida cruel: ironia ou chalaça?! Caramba, viu! Nunca imaginei um dia poder ler isso dele, o grande mestre. Luciano, Swift e Voltaire que me acudam! Depois de tanto esforço, não consegui evitar uma última reclamação: os bons gurus só servem para te encher de dúvidas. E tenho dito!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Lucidez: essa qualidade maravilhosa...

A lucidez - essa qualidade preciosa e cada vez mais rara - parece estar mesmo em vias de extinção!

Em meio à histeria causada pela execução sumária bin-ladeana, fica difícil manter os olhos na tela do computador, sem com isso franzir a testa. Que o Sr. Obama já havia quase se igualado ao Sr. Osama em escala de fanatismo nacionalista, isso já sabíamos. Mas daí a dizer que o "mundo é um lugar e mais seguro por causa da morte de Osama bin Laden" (http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/05/02/obama-diz-que-mundo-ficou-melhor-com-morte-de-bin-laden-924361558.asp)... Ora, Sr. Presidente, faça-me o favor! Vou continuar pegando ônibus e virando as esquinas escuras com a mesma precaução de antes, sem tirar, nem por. É que talvez o "mundo" seja um pouco maior do que o seu quintalzinho...

Enquanto os detalhes da execução permanecem obscuros - jogado ao mar? morto com um tiro na cabeça? Desde que dê tempo para a coleta de DNA... - o carnaval comia ontem na Timesquare. Mas não pensem que histeria possui apenas dimensões coletivas. Ela pode ser vivida também em grupos menores, à semelhança desse acampamento para mocinhas de 8 a 11 anos, que buscam aprender os modos da realeza (http://www1.folha.uol.com.br/folhinha/909046-acampamento-em-londres-ensina-modos-da-realeza-a-meninas.shtml).

Entre várias outras coisas mega-interessantes, "lá as meninas aprendem a carregar um livro (ou coroa!) na cabeça, a se comportar no chá da tarde inglês e a andar a cavalo". Bom, até aí, passa. Não tenho nada contra tomar chá, nem andar a cavalo, nem contra fazer malabarismos com livros, apesar de achar que estes podem ser mais divertidos ou úteis quando lidos. Mas o pior vem depois e tem a ver com diretamente com a prerrogativa de acessibilidade daquilo que é ensinado: "Ser princesa é querer ser o melhor possível. Tem a ver com bondade, com botar as necessidades de outros à frente das suas", reza a idealizadora do acampamento Jerramy Fine, de 34 anos. Só que - reparem bem - na sua singela visão, "a realeza não é pra qualquer um".

Ótimo! Depois de patentear "auto-superação", "bondade" e "dedicação altruísta" como qualidades intrínsecas da realeza - algo para lá de discutível - definiu-se (por decreto real?) que estas prerrogativas não podem ser compartilhadas com todos. Parabéns: ensinam às pequenas jovens inglesas que o que é bom é para poucos e que qualidades como essas devem resistir a qualquer ímpeto de universalização. Como se ser bondoso, melhor a cada dia e menos auto-centrado não fosse uma questão de cidadania e sim de privilégio.

E euzinha, com a testa mais franzida do que rosto de cachorro da raça boxer, fico por aqui indagando às estrelas que curso no mundo ensinaria os outros a ter mais lucidez. Garanto que se eu descobrir, não farei como a mestrinha do acampamento inglês: meu achado vai ser aberto que nem software livre, com ponto de distribuição na Timesquare!

domingo, 1 de maio de 2011

O no. 100!

O centésimo comentário desse blog é uma homenagem aos domingos de sol, cachoeira e vento no rosto.












P.S.= Resta saber por onde andam Gisely e André. Estivemos lá na Cachoeira Secreta (carteirinha V.I.P. em punho) e necas de pitibiribas daqueles dois!