UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: outubro 2013

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Óculos bestas

Um comentário rápido para fechar com chave de ouro este dia cheio de emoções.

"A uruguaia Cecilia Abadie foi multada na quarta-feira (30) por dirigir seu carro enquanto usava os óculos conectados do Google, chamados Glass, em San Diego, Califórnia, cidade onde mora" (http://www1.folha.uol.com.br/tec/2013/10/1364892-mulher-e-multada-por-dirigir-usando-oculos-inteligentes-do-google-nos-eua.shtml).

De acordo com a notícia publicada no jornal Hoje em Dia online, a lei californiana proibe dirigir veículo motorizado "se um receptor de televisão, um monitor de vídeo, uma TV ou uma tela de vídeo, ou qualquer outro meio similar de exibição de sinal de vídeo que produza aplicações de entretenimento ou de negócios estiver operante e localizado em um ponto à frente da parte traseira do banco do condutor." Para tentar escapar da multa, a infratora  alegou "que estava com o aparelho desligado."

O jeito então foi ela recorrer ao Google +, rede social da Google, para se queixar do multa. Outros usuários, tão ou menos esclarecidos que a senhora Abadie, confortaram-na sua dor: "A repercussão por parte de outros usuários do Glass foi imediata, com uma 'hashtag' criada para o assunto, #freececilia", incentivando-a a recorrer da multa.

Sinal de que o Google Glass, conhecido como "óculos inteligentes", infelizmente, ainda não foi capaz de contaminar seus usuários.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Animalesco

Ainda sobre a polêmica do uso de animais em testes de laboratório, penso que o verdadeiro problema é a inversão de papeis: seres humanos no lugar de ratos, cães no lugar de seres humanos, seres humanos no lugar de minhocas.

Olhem só como são as coisas: o vereador José Paulo Carvalho de Oliveira (PT do B-RJ), conhecido como "Russo da Autopeças", conseguiu colocar humanos abaixo da condição de minhocas. O distinto senhor teria afirmado, no dia 8 de outubro, em plena sessão comemorativa dos 25 anos da Constituição na cidade de Piraí (RJ), que "mendigo não tem que votar, mendigo não faz nada na vida. Aliás, acho que deveria até virar ração pra peixe" (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/10/1363923-vereador-se-desculpa-por-dizer-que-mendigo-deve-virar-racao-pra-peixe.shtml).

Por outro lado, pesquisa do Datafolha indica que, globalmente falando, os paulistanos são contra o uso de cães em testes de laboratório, mas a favor do uso de ratos como cobaias: "Enquanto o emprego de cães em pesquisas foi reprovado por 66% dos entrevistados, 59% reprovaram o uso de macacos, 57% rejeitam o uso de coelhos, e apenas 29% condenaram o uso de ratos" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/10/1363200-maioria-dos-paulistanos-defende-uso-de-rato-como-cobaia-diz-datafolha.shtml).

"Coitadinhos dos ratos", pensaram alguns. Outros, mais sensibilizados com sua pouca popularidade nas pesquisas, diriam que "os ratos deveriam ser tratados como qualquer outro animal". Mas, em um ponto, todos certamente concordariam com os extremistas: neste país de paradoxos, o que não dá é para tratar bicho que nem mendigo: sua condição fica abaixo da condição da minhoca, já que esta última ao menos pode ser isca e ter lá sua utilidade.

Mundo estranho esse nosso! 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Maya

Impactante o vídeo que mostra o resgate da surfista brasileira, Maya Gabeira, que sucumbiu às ondas da praia de Nazaré, em Portugal, na manhã desta 2ª feira (http://oglobo.globo.com/blogs/radicais/posts/2013/10/28/video-mostra-resgate-de-maya-gabeira-em-nazare-513445.asp).


Depois de cair de uma onda gigante, Maya esteve bem perto de desvelar todas as ilusões que este mundo do Absoluto, como sugere o significado do seu nome em sânscrito (http://pt.wikipedia.org/wiki/Maya_%28filosofia%29). Ela submergiu a ponto de não ter mais forças para se agarrar ao jetski do também surfista Carlos Burle (http://oglobo.globo.com/blogs/radicais/posts/2013/10/28/maya-gabeira-sofre-acidente-surfando-em-portugal-513430.asp).

Ao chegar à praia, Maya foi ressuscitada pela equipe de resgate e levada a um hospital na cidade de Leiria, onde foi constatada uma fratura no tornozelo. Sua coragem, no entanto, é de mais de 30 metros, tamanho provável da onda surfada. Maya acabou testemunhando os mistérios da Vida e da Morte, segundo narrou seu salvador e amigo: "Ela não tinha mais forças para pegar o sled (prancha de resgate). Falei para ela segurar a corda, acho que foi o último esforço que ela fez de vida ali, segurando a corda. Na próxima onda, ela estava boiando, sem consciência. Ela sumiu, mas graças a Deus apareceu de novo e pude pular e agarrar ela."

Filha do mar, Yemanjá te devolveu para os braços da mãe Terra. Odoiá, odoiá.


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Andanças

Não imaginava terminar esta 6ª feira com uma homenagem póstuma, mas hoje se foi Paulinho Tapajós, compositor de diversas canções famosas como "Sapato Velho", "Cantiga por Luciana" e "Até Voltar".

Em meio a tantas canções de sucesso, uma delas, "Andança", composta em parceria com Danilo Caymmi e Edmundo Souto, me fala alto ao coração. Não sem surpresa, acabei me deparando com este vídeo em que Beth Carvalho conta a história da composição e de como ela foi premiada no Terceiro Festival Internacional da Canção.


Sem mais para o momento, deixo, junto com o meu verso preferido, minha profunda reverência ao mestre Tapajós.

"Já me fiz a guerra por não saber
Que essa terra encerra o meu bem querer
Que jamais termina o meu caminhar
Só o amor me ensina onde vou chegar"

 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Pipoca no asfalto

Na onda das denúncias de maus tratos aos animais que vêm animando as manchetes desde 6ª feira passada, após a pirotécnica liberação dos cães da raça beagle de um laboratório na cidade de São Roque (SP) (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/10/1360723-se-deixarem-busco-ratos-afirma-luisa-mell-sobre-maus-tratos-contra-animais.shtml), novas cenas de maus tratos animais usados como cobaias - a porcos, mais especificamente - ganham a mídia nacional.

Segundo relato publicado em matéria no jornal Folha de S. Paulo ,"cinco animais vivos, sedados, passavam por cirurgias experimentais de traqueostomia - abertura de um orifício na traqueia para permitir a respiração artificial - durante uma aula do curso de Medicina". (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/ativistas-invadem-laboratorio-e-filmam-uso-de-porcos-em-aula-de-medicina-1.185484).

Imbuída deste mesmo espírito preservacionista que impera pelo país afora, quero deixar aqui minha demonstração pública de preocupação com os pombos!

Em breve notícia publicada também no jornal Hoje em Dia online, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) adverte que o lote número 123 da marca de pipocas "Brasileira", fabricado no dia 1º de abril de 2013, cuja validade vai até 1º de março de 2014, contém um elevado teor de aflatoxina: "Segundo a ANS, a aflatoxina é uma substância produzida por um fungo que, em grandes concentrações, pode ter efeito cancerígeno" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/10/1361388-anvisa-suspende-venda-de-pipoca-com-substancia-cancerigena.shtml).

Estupefata com os possíveis danos à saúde dos grandes consumidores de pipoca, deixo meu conselho a título de contribuição: aos pombos, dê apenas milho.

"E para as crianças? Devemos dar pipoca?"

Bem, como este nosso país é cheio de paradoxos, alguns reacionários facilmente sustentariam que as crianças mais pobres - e somente elas - deveriam ser constantemente nutridas com essas iguarias. Depois, deixaríamos que elas crescessem junto com algum câncer maligno para que, ao chegarem aos hospitais públicos, sirvam de cobaias para os médicos residentes: estes, certamente, saberão sedá-las como porcos, tal qual como se faz nas faculdades de medicina pelo país afora.

Riscos do paradoxo! E há quem acredite, veementemente, que os indigentes sociais valem menos do que qualquer animal de laboratório.

P.S. = Voltando aos pombos: se estiver fazendo o calor que fez hoje, cancele também o milho: há um grande risco de virar pipoca no asfalto.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Sobras e faltas

O que acabo de ler chama para a reflexão: "Levantamento realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostra que 47% dos consumidores brasileiros já pagou por algum produto que não usou" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/economia-e-negocios/quase-metade-dos-consumidores-ja-comprou-algo-que-n-o-usou-1.184447). Ou seja, quase metade da nossa população já jogou dinheiro fora em algum momento da sua vida.

Bem, se fôssemos uma sociedade da abundância compartilhada (em que todos têm acesso à cesta básica), mais igualitária (sem os mais de 20% da população vivendo em estado de indigência) e com os maiores índices de escolaridade do planeta, ainda ia. Mas não somos. Pelo contrário, ainda temos 28% da população morando em áreas precárias (http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/08/brasil-avanca-mas-e-quarto-pais-mais-desigual-da-america-latina-diz-onu.html).

Mas a situação parece bem pior do que se imagina. De acordo com a notícia publicada no jornal Hoje em Dia online, "seis em cada dez entrevistados admitem que já ficaram endividados por adquirir algum bem que não precisavam ter comprado".

A explicação para tamanha estupidez? Nada alentadora, já vou avisando: "isso acontece, segundo a pesquisa, porque o consumidor brasileiro tende a se preocupar com a imagem que transmite às pessoas do seu convívio, idealizando para si próprio um padrão de consumo que muitas vezes não corresponde ao orçamento pessoal".

Como diria aquela velha expressão: "eu poderia ter ido dormir sem essa".

Boa noite para quem fica!

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Retóricas

Claro está que o poder político não pode - e talvez nem consiga! - prescindir da retórica. Mas tem coisas nessa arena da política internacional que parecem saído do arco da velha.

Depois do descabelamento diplomático com as atividades de espionagem dos EUA, executado em praça pública mundial pela nossa presidenta Dilma - e uma crescente simpatia mundial pela figura de Edward Snowden, hoje seguramente o dedo-duro mais procurado do planeta (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com.br/2013/07/unissono.html) - chegou a vez dos franceses subirem nas tamancas.

Não que estes últimos lhe tenham oferecido abertamente asilo político, como sugerido pelos nossos senadores. No entanto, como era de se esperar, "novas revelações sobre a espionagem em massa dos serviços norte-americanos provocaram reações iradas da França, que convocou o embaixador dos Estados Unidos em Paris" (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/10/1359895-todos-os-paises-espionam-responde-a-casa-branca-as-acusacoes-da-franca.shtml).

E onde entra a retórica (sem "r" maiúsculo mesmo) nisso tudo? No tom teatral das trocas públicas de argumento. Nessas horas, o estardalhaço sempre começa por uma boa reportagem investigativa (e não seria a investigação um nome mais elegante para espionagem?): "Segundo o jornal 'Le Monde', em sua edição desta segunda-feira, a agência americana de Segurança realizou 70,3 milhões de gravações de dados telefônicos de franceses em um período de 30 dias entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013."

A cena seguinte é quase tão previsível quanto engarrafamento em véspera de Natal: as autoridades máximas saem de suas alcovas e vêm a público demonstrar, em alto e bom som, sua indignação: " 'Estou profundamente escandalizado', declarou nesta segunda-feira em Copenhague o primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault". "Nós também estamos!", vocifera a plateia mundial. E seguem-se as vaias.

E os EUA com isso? Estão que nem rádio velho: nem ligando! " 'Já deixamos claro que os Estados Unidos recolhem informações de inteligência no exterior do mesmo modo que todos os países recolhem', afirmou a porta-voz da agência [de Segurança Nacional americana], Caitlin Hayden". O drama do dia então se encerra com um simples telefonema diplomático: o presidente americano Barack Obama liga para François Hollande para explicar o inexplicável - mesmo porque o incabível não tem mesmo cabimento.

O problema é que, sob um certo aspecto, Hayden e Obama estão cobertos de razão: espionagem todo mundo faz. E a França também. Basta dar uma olhada no que dizem alguns jornais europeus já há alguns anos sobre as práticas de espionagem industrial nada ortodoxas que vêm sendo executadas pelo país hexagonal: "Telegramas divulgados pelo WikiLeaks e publicados hoje pelo diário norueguês Aftenposten indicam que a França é o país mais activo em matéria de espionagem industrial, relegando para segundo plano países como a China ou a Rússia" (http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1748461&seccao=Europa).

E fica a pergunta: então, pra quê tanta conversa jogada fora? Na melhor das hipóteses, para garantir a colônia de férias vitalícia para Edward Snowden.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Sonhos acessíveis

Sonhos, pensamentos e ideias cada vez mais palpáveis? Sim, para cegos.

Graças às novíssimas impressoras 3D que a Yahoo desenvolveu no Japão, é possível materializar sonhos e ideias para que as crianças cegas possam experimentá-las. Funcionando como uma espécie de "Google tátil", a impressora "utiliza o mesmo sistema dos buscadores para fazer com que crianças cegas possam sentir o resultado de suas pesquisas com o tato" (http://www1.folha.uol.com.br/folhinha/2013/10/1358658-impressora-3d-permite-que-criancas-cegas-descubram-formas-de-animais-e-objetos.shtml).

Acoplada a um sistema de voz, a "Hands on Search" (como ela é chamada) só precisa de um comando sonoro coletado por microfone para buscar o objeto mencionado e criar "o que ouviu na forma de uma miniatura": "Após dizer 'girafa', por exemplo, um menino recebe uma versão do animal que cabe em suas mãos. O mesmo acontece com tiranossauros, prédios e carros", explica notícia publicada hoje pelo jornal Folha de S. Paulo.

Duvidou do feito? Dê uma olhada em um vídeo bacaninha (com cara de comercial, lógico) lá na notícia e tire suas próprias conclusões. De resto, a ideia é sedutora: tocar nos conceitos, agora, vai passar de metáfora a realidade.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Caixa de fósforo

Viver nesse mundão grande sem porteira requer muitos esforços adaptativos. Por um lado, a vida requer suaves práticas de deslizamento em barranco (basta ver, no comentário de ontem, como os elefantes têm saído bem nessa tarefa). Por outro, ela requer encolhimentos e desapegos, para não dizer verdadeiras amputações.

Este parece ser o caso dos chamados novos "xodós do mercado" imobiliário de São Paulo: apartamentos de 30m2 que, segundo matéria publicada na Folha de S. Paulo online, acabaram se tornando "um dos segmentos preferidos das construtoras nos últimos anos" (http://classificados.folha.uol.com.br/imoveis/2013/10/1355586-xodos-do-mercado-imoveis-de-1-quarto-encolhem-organiza-espacos-e-desafio.shtml).

Facílimo entender tanto apreço: o preço! "Um imóvel com 30 m² e com metro quadrado de cerca de R$ 12 mil sai por R$ 360 mil, o que atrai muitos investidores de olho em garantir rentabilidade com aluguel". Eis aí, seguramente, a caixa de fósforo mais cara do mercado.

Perguntado sobre o "processo de adaptação" necessário aos novos padrões espaciais do imóvel, o empresário Airton Lozano, de 56 anos, posou sorrindo para a foto. E afirmou: "É prático manter o apartamento, além de o edifício ter infraestrutura de hotel, com manobrista, camareira e serviço de manutenção". A ideia principal é poder oferecer um apartamento pequeno, funcional e bem localizado.

Realmente, levar um carrinho de compras da pseudossala para a pseudocozinha deve requerer uma manobra imensa. Feliz da camareira que conseguir achar uma cama para ser arrumada: na foto 1, por exemplo, a única coisa felpuda e digna de receber um "corpitcho" cansado é o tapete. Na foto 2, eu suspeito que a cama seja o sofá e vice-versa. E na foto 3, a cama está de frente para o forno, o que deve conferir uma sensação de "aconchego" bastante particular às noites de verão.

E  - pasmem! - a coisa está mudando rapidamente: "Levantamento da Folha com base em dados da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio) aponta que o tamanho médio de um imóvel na cidade de São Paulo passou de 110 m² em 2006 para 71,6 m² neste ano até agosto."

Nomes variados qualificam o mesmo tipo de imóvel. Para quem vende, o nome disso é "praticidade". Para quem compra, "infraestrutura de hotel". E para quem observa de longe: combinação ímpar de "perda de qualidade de vida" + "especulação imobiliária".

Acho que vou preferir descer barranco com os elefantes! 

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Barranco filosófico

Você começa a segunda-feira cansado(a), com o corpo doído, sem a menor vontade de fazer o quer que seja. Que expressão lhe vem à mente?

Certamente, alguns terão pensado na célebre frase: "o mundo podia acabar em barranco para eu morrer encostado". Outros, mesmo sem ter pensado logo de partida, concordarão com a escolha. Mas estes elefantes da África do Sul não vão achar a menor graça nessa modalidade de fim de mundo.

Notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online relata o drama registrado pelas lentes de Christophe Beaudufe, "um fotógrafo amador [que] flagrou o momento em que uma manada de elefantes deslizou em uma encosta íngreme a caminho do rio Sabie no Parque Nacional Kruger na África do Sul. Cerca de 60 mamíferos estavam no grupo e, em menos de 20 minutos, estavam todos no vale tomando água" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/fotografo-flagra-elefantes-deslizando-em-barranco-na-africa-do-sul-1.181075).

Segundo o jornal britânico Daily Mail, de onde a notícia brasileira foi pinçada, "Beaudufe fazia um safári na África quando avistou o grupo escorregando e parou para registrar a cena". Não fossem as fotos que Beaudufe tirou do "ski-bunda' dos elefantes um espetáculo auto-evidente, era bem provável que as impressões pessoais do fotógrafo, transcritas entre aspas pelo jornal britânico, ofuscassem o evento em si, tamanho seu poder de sedução: "Eu não conseguia ver nenhum elefante caindo sobre o outro, e todos eles pareciam dominar as técnicas de deslizamento", de acordo com o fotógrafo. "Não havia nenhum sinal de estresse nos elefantes", avalia, para então conclui terminantemente: "No começo, eu pensei que tinham perdido o equilíbrio, mas eles continuaram a deslizar como crianças em um playground."

Moral da história: quer ser feliz na segunda-feira? Domine o estresse aprimorando técnicas de deslizamento. Na pior das hipóteses, você vai estar pronto(a) para o fim do mundo, caso este venha acabar em barranco.

De qualquer forma, evite praticar próximo a um ou mais elefantes: eles pode ser mais experientes e passar por cima de você. Literalmente!   


sábado, 12 de outubro de 2013

Falso positivo

Neste mundo de aparências, em que nada é e tudo pode ser, fica difícil discernir o incerto do duvidoso. Não faltam, portanto, originais falseados em imitações de imitações. No final das contas, nunca dá para ter muita certeza do terreno onde estamos pisando. E as notícias diárias estão lá para nos prover de casos flagrantes de falsificação ou indefinição "identitária".

Assim foi com a interdição, hoje, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, de nove produtos com farinha de milho. "Os alimentos foram interditados preventivamente por 90 dias, por apresentarem teores de ferro inferiores a 4,2mg/100g. Ou seja, estão em desacordo com a legislação vigente e não contribuem para prevenir a ocorrência de anemia ferropriva, segundo informou a reguladora" (http://oglobo.globo.com/economia/defesa-do-consumidor/anvisa-proibe-venda-de-nove-produtos-de-farinha-de-milho-10334735). Em outras palavras, os produtos até lembram o milho, mas, contudo, sem os benefícios agregados.

Ainda no campo das indefinições, a notícia desta vez causa espanto: pesquisadores estariam "trabalhando para identificar a carcaça de um animal encontrado em agosto em uma praia de Almería, na Espanha. A criatura tem chifres e mede entre quatro e cinco metros de cumprimento", explica a notícia (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/pesquisadores-tentam-identificar-animal-encontrado-morto-em-praia-da-espanha-1.179959). O difícil reconhecimento do animal, já que ele foi achado em estágio avançado de decomposição, contrasta bastante com a rapidez com que pude perceber dois errinhos ortográficos em uma exígua nota que não excede cinco linhas: "fauna marina" e "indetificação". Valha-me Deus!

Pois a única felicidade autêntica que nos foi trazida pelas notícias dos jornais do dia de hoje foi a localização da estátua da Samaritana, peça de Aleijadinho desaparecida desde os anos 1970. "A peça esculpida por Aleijadinho (1737-1814) faz parte do conjunto arquitetônico de Ouro Preto e integrava um chafariz instalado nos fundos do casarão onde atualmente funciona o museu Casa Guignard", mas fora retirada do local de origem sem autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/10/1355244-estatua-de-aleijadinho-desaparecida-ha-37-anos-e-encontrada-em-bh.shtml).

Agora, sobre a índole da Samaritana, pouco se sabe. Boa ou má, isto tem muito pouca importância; sabe-se, contudo, que mercadores e colecionadores de arte são os melhores artífices na identificação de falsificações. Se fosse o contrário, os herdeiros do interceptador final da Samaritana, o empresário e colecionador de arte Arthur Vale Mendes, não teriam tido que devolver ao Iphan nada mais, nada menos do que 28 peças sacras adquiridas ilicitamente, dentre as quais figuram esculturas de Aleijadinho e um quadro do Mestre Athaíde.

É mole?

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Ecosport violento

Você já foi barrado em festa, evento ou qualquer outro lugar bacaninha só porque não estava vestido à altura? Se a resposta for sim e você já tiver se recuperado do trauma, parabéns. Se a resposta for não e o ato de exclusão ainda for doído, então está na hora de saber que o inverso também é não só constrangedor, como também perigoso.

É o que sugere esta notícia sobre o sequestro relâmpago do pedreiro Paulo de Jesus, ocorrido na Roça Grande (http://www.hojeemdia.com.br/minas/pedreiro-e-vitima-de-sequestro-relampago-por-engano-em-bh-1.178687). "Segundo os policiais, o pedreiro, de 53 anos, e um colega, estavam em um Ecosport, de cor prata, na rua Raimundo Lopes Figueiredo, quando foram  surpreendidos pelos suspeitos, que anunciaram o assalto e ordenaram que a vítima fosse para o banco de trás do veículo", relata a notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online. "Em seguida, eles foram até Contagem e, no bairro Cidade Industrial, forçaram a vítima a fornecer seus cartões bancários com as respectivas senhas".

Na realidade, o verdadeiro alvo do sequestro, nos dizeres da notícia, "era um diretor da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) que mora na casa onde Paulo de Jesus iria prestar um serviço". Obviamente, os sequestradores custaram a constatar que eram verdadeiras as alegações da vítima de que ele não era o empresário e que tampouco tinha dinheiro na conta bancária.

Moral da história: com vida, a vítima foi abandonada na Via Expressa e acabou ficando sem seu celular e aproximadamente R$ 100 em dinheiro. Com vida, sim, mas totalmente abalado. E, sou capaz de apostar, ele dificilmente vai querer entrar em um Ecosport nos próximos 20 anos...  

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Panóptico

Câmeras, câmera e mais câmeras. Tudo em prol da tão almejada e fugidia segurança.

Bem, se você achava que ainda existia algum recôncavo mal-convexo deste mundo que estivesse ao abrigo das câmeras vigilância, saiba então que está chegando o dia de perder de vez todas as suas esperanças. A gota d'água será a instalação de câmeras na Catedral Metropolitana de São Sebastião, em Ribeirão Preto (SP), por motivos de segurança.

Tudo porque o padre local, Eduardo Tibério, acabou sendo roubado dentro da própria igreja após ouvir mulher em confissão: "O furto que envolveu o padre ocorreu após ele ouvir a confissão de uma mulher bem vestida e com idade entre 35 e 40 anos. Ele diz que não costuma levar o telefone para o confessionário, mas, naquele momento, aguardava uma ligação importante de sua família que reside em outra cidade", afirmou o padre em notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/apos-se-confessar-mulher-furta-celular-do-padre-dentro-da-igreja-1.178144). 

"Apesar do prejuízo", prossegue a notícia, o padre "não quis registrar queixa na polícia e disse que perdoa a ladra com base nos dogmas cristãos". Difíceis dias os nossos. Que o padre tenha agido por coerência de princípios ou por mera praticidade, pouco importa. Fato é que, antes de roubá-lo, a dama em questão já era ré confessa.

Consolo besta: quando soarem as trombetas do Apocalipse, estaremos sendo filmados!

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Acidez básica

Tá vendo? Nisso é que dá ficar reclamando das aulas de química do colégio, alegando que vai fazer jornalismo e que nunca mais vai precisar saber de nada daquilo.

Notícia displicente, publicada no jornal Hoje em Dia online, fala do inquietante lago Natrão, na Tanzânia, capaz de transformar animais vivos em estátua.... graças à "combinação de acidez e temperatura alta [que] deixa a água letal para os animais da região. Os que têm contato com o líquido acabam mortos e calcificados, formando um cemitério de estátuas" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/mundo/lago-na-africa-tem-agua-mortal-que-transforma-animais-em-estatuas-1.176777).

Até aí, tudo bem. O problema é quando o(a) dileto(a) repórter tenta dar uma ideia do que significa uma água ácida: "A água do local tem o pH natural (acidez), que varia entre 9 e 10.5. O normal para o consumo é 7. A temperatura da água chega a alcançar 60 ºC". Se ele (ou ela) não tivesse matado a aula de química para jogar fliperama (avô do playstation), saberia que o ph acima de 7, considerado ponto neutro, é básico e não ácido.

Bem, poderíamos ter ido dormir com essa, mas o implacável redator nos premiou com uma segunda nota digna de comentário: seu desleixo com o texto foi tão grande que ele(a) próprio(a) até conseguiu entrar em contradição consigo mesmo: "O único animal que sobrevive a esse tipo de água é o peixe Alcolapia alcalina, um tipo de tilápia conhecido por ser muito resitente (sic!)".

Bem, se é alcalino, logo não é ácido. E se é básico, também pode se dizer alcalino, pois os termos, neste contexto, são intercambiáveis.  Difícil é engolir que a tilápia alcalina não morre por causa da acidez da água. Melhor seria comê-la com sal, possível composto resultante dessa barafunda química.


Vou dormir. Essa conversa toda me deu azia. Boa noite para quem fica.


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Aparição pública

Não tem sido fácil o retorno ao mundo dos vivos. E encontrar algo digno de menção em meio às  mazelas diárias narradas nos jornais tem sido um outro desafio.

Mas eis que consigo pinçar uma pérola em meio às inúmeras notícias insossas sobre celebridades inexpressivas: "O escritor colombiano Gabriel García Márquez, 85, fez neste domingo (29/9) uma rara aparição pública na Cidade do México, onde vive" (www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/09/1349636-garcia-marquez-vai-a-inauguracao-de-boliche-no-mexico-e-mostra-dedo-para-fotografo.shtml).

A bem da verdade, o enfoque da notícia não ajuda em nada a distinção do meu autor preferido em relação às demais celebridades inexpressivas, visto que o tema da notícia insossa foi sua aparição em inauguração de boliche na cidade do México. Teria sido uma cobertura banal - com ênfase no que comeu e com quem foi - se, e somente se, García Márquez não fosse o gênio que é: em foto replicada nos quatro cantos do mundo pela agência de notícias Notimex, "Gabo", como é conhecido entre os íntimos, enfrentou as câmeras com deliberado ato libidinoso e deu uma solene "dedada" para os fotógrafos.

Mas o melhor mesmo da notícia foi a hermenêutica da imagem proposta pela própria agência de notícias: " 'Gabo' estendeu o dedo médio para um fotógrafo da Notimex que registrava sua presença no local - não está claro se o fez em tom de brincadeira ou se estava irritado".

Não está claro? Por via das dúvidas, a notícia pressente a imbecilidade do seu leitor médio ao lhe propor o seguinte diagnóstico: "O autor de 'Cem Anos de Solidão' e 'Ninguém Escreve ao Coronel' sofre de demência senil, segundo revelou seu irmão Jaime no ano passado".

Um gênio esse García Márquez! Quase tão bom quanto Einstein fazendo careta...