UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Caixa de fósforo

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Caixa de fósforo

Viver nesse mundão grande sem porteira requer muitos esforços adaptativos. Por um lado, a vida requer suaves práticas de deslizamento em barranco (basta ver, no comentário de ontem, como os elefantes têm saído bem nessa tarefa). Por outro, ela requer encolhimentos e desapegos, para não dizer verdadeiras amputações.

Este parece ser o caso dos chamados novos "xodós do mercado" imobiliário de São Paulo: apartamentos de 30m2 que, segundo matéria publicada na Folha de S. Paulo online, acabaram se tornando "um dos segmentos preferidos das construtoras nos últimos anos" (http://classificados.folha.uol.com.br/imoveis/2013/10/1355586-xodos-do-mercado-imoveis-de-1-quarto-encolhem-organiza-espacos-e-desafio.shtml).

Facílimo entender tanto apreço: o preço! "Um imóvel com 30 m² e com metro quadrado de cerca de R$ 12 mil sai por R$ 360 mil, o que atrai muitos investidores de olho em garantir rentabilidade com aluguel". Eis aí, seguramente, a caixa de fósforo mais cara do mercado.

Perguntado sobre o "processo de adaptação" necessário aos novos padrões espaciais do imóvel, o empresário Airton Lozano, de 56 anos, posou sorrindo para a foto. E afirmou: "É prático manter o apartamento, além de o edifício ter infraestrutura de hotel, com manobrista, camareira e serviço de manutenção". A ideia principal é poder oferecer um apartamento pequeno, funcional e bem localizado.

Realmente, levar um carrinho de compras da pseudossala para a pseudocozinha deve requerer uma manobra imensa. Feliz da camareira que conseguir achar uma cama para ser arrumada: na foto 1, por exemplo, a única coisa felpuda e digna de receber um "corpitcho" cansado é o tapete. Na foto 2, eu suspeito que a cama seja o sofá e vice-versa. E na foto 3, a cama está de frente para o forno, o que deve conferir uma sensação de "aconchego" bastante particular às noites de verão.

E  - pasmem! - a coisa está mudando rapidamente: "Levantamento da Folha com base em dados da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio) aponta que o tamanho médio de um imóvel na cidade de São Paulo passou de 110 m² em 2006 para 71,6 m² neste ano até agosto."

Nomes variados qualificam o mesmo tipo de imóvel. Para quem vende, o nome disso é "praticidade". Para quem compra, "infraestrutura de hotel". E para quem observa de longe: combinação ímpar de "perda de qualidade de vida" + "especulação imobiliária".

Acho que vou preferir descer barranco com os elefantes! 

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