UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: agosto 2012

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Lua azul

Hoje foi o dia do tão comentado - discutido, blogado, postado - evento astronômico e astrológico de grande magnitude: a chamada "lua azul".

O fenômeno, que ocorre "quando ocorrem duas luas cheias no mesmo mês, é registrado nesta sexta-feira (31) no Brasil e em vários outros lugares do mundo. O efeito geralmente acontece a cada três anos", relata notícia publicada no jornal Hoje em Dia online (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/fenomeno-da-lua-azul-e-registrado-em-varios-locais-pelo-mundo-1.28984).

Cercada de mitos e crenças e superstições, a lua azul é terreno fértil para todo tipo de sortilégio. Pelo sim, pelo não, trago cá comigo a certeza de que ela só me trouxe presentes: um passeio na caverna, afago de avó, o calor de uma fogueira contemplativa, uma pena de papagaio azul e - para fechar com chave de ouro - promessas de vôos ainda mais altos em pleno deserto do Atacama.

Diante de tantas bênçãos, a escassez é de palavras. Só me resta agradecer, agradecer, agradecer...

  

Clima de deserto

Há muitos anos que o clima aqui da Roça Grande - cidade de onde escrevo estas maltraçadas linhas - deixou de fazer parte do plano piloto das grandes beneces do Criador.

Sim, amigos, já houve um tempo em que os tuberculosos faziam fila para virem desfrutar da pureza do nosso ar e regenerarem seus pulmões. Mas esses dias já vão longe, envoltos na poeira do tempo e na poluição dos automóveis que não param de afluir às ruas da nossa capital.

E as coisas mudaram bastante desde esses tempos primevos. Hoje em dia, os turberculosos estão fazendo despacho na esquina para ver se chove um pouquinho aqui esse pedacinho de caatinga urbana. A razão para estes gestos repentinos de fé deve-se tão somente ao fato de a humidade de relativa do ar ter chegado hoje a 13% , "índice considerado típico de deserto" (http://www.hojeemdia.com.br/minas/clima-de-deserto-castiga-bh-e-previs-o-e-de-tempo-mais-seco-1.28508).

E mais: pelo visto, ainda existe espaço para piora. "Uma massa de ar seco estacionada na região central do Estado poderá fazer com que a situação piore ainda mais nos próximos dias, conforme alerta do 5º Distrito de Meteorologia", relata notícia publicada no jornal Hoje em Dia online.

Diante da aridez e da secura reinante, um pouco de devaneio não faz mal a ninguém. Minha memória prodigiosa acabou me presenteando com a lembrança dessa canção da banda America, um clássico de outros anos que eu prefiro nem dizer quais são.

A letra fala de uma visita ao deserto no lombo "de um cavalo sem nome". "No deserto, você pode lembrar o seu nome", prossegue a letra. Bem, somente quem já viveu o inusitado ato de esquecer o próprio nome - sem que se fizesse, para tanto, qualquer uso de baribitúricos, narcóticos ou qualquer outra droga lícita ou ilícita - sabe o quanto pode ser ontologicamente reconfortante pensar em um lugar onde ele vai ser sempre lembrado, aconteça o que acontecer.

Pois hoje, em meio a tantas mudanças desafiadoras, acolho a visita ao deserto como um lenitivo para a alma de viajante. Apesar do calor e da secura do solo, pode-se desfrutar da beleza de um "céu sem nuvens". Pouco tenho do que me queixar: apesar dos pesares, minha vida hoje está repleta de sons, a semelhança do cenário de deserto descrito nessa mítica canção.

Com vocês, o original: "A horse with no name" (America).






quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Vazio ou cheio

Sabem aquela história em que se pergunta se copo com água até a metade está vazio ou cheio? A resposta mais sábia reza que o copo pode ser os dois ao mesmo tempo, dependendo da perspectiva que cada um adota: cheio pela metade, se considerarmos o nível de água; ou vazio pela metade, graças à presença do ar.

A nova medida que prevê reserva de 50% das vagas das universidades federais para alunos oriundos de escola pública responde bem à comparação. "A presidente Dilma Rousseff sancionou na tarde desta quarta-feira (29) o projeto que reserva metade das vagas nas universidades federais e nas escolas técnicas do país para alunos que cursaram todo o ensino médio em colégios públicos" (http://www1.folha.uol.com.br/educacao/1145181-dilma-sanciona-projeto-de-cotas-para-alunos-do-ensino-publico.shtml).

Qualquer que seja a perspectiva adotada - a do copo vazio ou a do copo cheio - uma coisa é certa: o projeto de lei sancionado hoje promete virada histórica no perfil das universidades públicas federais. De acordo com notícia publicada hoje na Folha de S. Paulo online, dentre os alunos das escolas públicas, terão preferência negros, pardos e indígenas, respeitando-se regras de proporcionalidade dessas populações nos diferentes estados.

Além disso, o texto prevê a interseção dos critérios raciais com os de renda média familiar: "Ainda conforme o texto aprovado pelo Congresso, dos 50% reservados para cotas, metade das vagas será destinada a alunos com renda familiar de até R$ 933,00 por pessoa. Nesse grupo, também é preciso respeitar o critério racial. Assim, os 50% das cotas restantes podem ser ocupados por quem tem renda maior, desde que seja obedecido o critério racial".

De certa forma, o texto solapa pelo menos um dos principais argumentos que vinha sendo mobilizado para descreditar as políticas de cotas no ensino superior: a falta de interesse do governo em melhorar a qualidade do ensino público. Em primeiro lugar, porque a reserva de 50% das vagas para alunos oriundos de escolas públicas poderá, a curto e médio prazo, impactar na decisão de uma parcela de alunos que, de olho no vestibular, trocavam a escola pública pela rede privada. Agora, os alunos que quiserem otimizar suas chances de ingresso no nível superior tenderão a permanecer na rede pública, já que suas chances de seleção serão aumentadas.

Em segundo lugar, a decisão tem desdobramentos práticos também para aquela parcela de alunos que não têm outra opção senão a rede pública de ensino. Para estes também as chances de ingresso em uma insituição de ensino público superior de qualidade serão otimizadas. Com isso, ele terá um incentivo a mais para investir nos estudos, aumentando a qualidade da presença dos alunos na rede pública.

Para a universidade pública, dois desafios de extrema importância se colocam desde já. O primeiro diz respeito ao corpo docente, que terá que lidar a curtíssimo prazo com a mudança da realidade da sala de aula. Boa parte desses professores fazem parte de um grupo economicamente favorecido, que historicamente teve acesso privilegiado ao ensino superior. Portanto, não é de se espantar que eles sejam os primeiros reclamar do suposto "empobrecimento" do perfil médio dos alunos das federais em todos os seus níveis: socioeconômico, intelectual e até (na opinião de alguns) moral. Caberá a este professor buscar estratégias para se ajustar ao novo perfil discente. 

O segundo desafio diz respeito aos outros 50% que não foi contemplado pelas cotas. Muitos destes alunos terão que lidar com uma realidade de sala de aula que até então não tinha vivenciado: sentar-se lado a lado com alunos com com baixa renda e/ou negros, pardos e indígenas. Para outros tantos, será um exercício inédito de convivio com a diversidade humana em sua essência: cor, raça, credo, classe e origem social.

Mais uma vez, repito: a comparação da nova política de cotas com um copo com água pela metade é perfeita. Se quiserem focar nas deficiências de um grupo que não passou pelas melhores escolas da rede privada, basta lembrar que 50% do copo está vazio. Mas se quiserem lembrar que o aluno da rede pública pouca chances tinha de se formar nos centros uiversitários de maior qualidade e investimento nas atividades de pesquisa e extensão, então chegou a hora de perceber que o copo vai começar a ser preenchido agora.



terça-feira, 28 de agosto de 2012

Igual, mas ao contrário

Um robô batizado com este nome - Curiosity - não poderia deixar de ser indiscreto: enviado pela NASA ao Planeta Marte, o pequeno robô curioso começou a enviar fotos coloridas e em alta resolução das formações rochosas próximas ao local onde aterrisou no dia 6 de agosto de 2012.

Dentre essas formações, encontra-se o Mount Sharp. "A montanha, com 5,5 quilômetros de altura, tem intrigado os cientistas por uma peculiaridade geológica que têm chamado de 'Grand Canyon ao contrário'. As camadas rochosas mais perto do cume são inclinadas em relação às que se encontram por baixo", relata matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo online de hoje (http://oglobo.globo.com/ciencia/curiosity-revela-peculiaridade-geologica-em-montanha-de-marte-5919979#ixzz24tjuwVWN).

Igual, mas ao contrario: assim caminham as coisas em Marte - antes, durante e depois da passagem do robô Curiosity por Marte. O Mount Sharp é quem nem uma carta de baralho: para ser legível para os dois lados da mesa de jogo, as cartas trazem seu duplo convivendo pacificamente no mesmo espaço.

O Grand Canyon de lá não é o mesmo daqui, mas pouco importa: ele serve para mostrar que o igual comporta variações. E que a paz é possível... nem que seja em outro planeta!

Espetáculo lindo de viver. Será que ainda dá tempo de me mudar para Marte?

 
  

O desconhecido

Posso até estar equivocada... Mas prefiro acreditar que o medo é capaz de rugir tão alto quanto um leão.

Claro, não estou falando do signo de leão, pois em pleno 27 de agosto, não há mais leoninos festejando aniversário. Mas como então explicar a presença de um leão - supo-stamente foragido  na vila de St Osyth, na costa leste da Inglaterra?

De acordo com notícia da BBC Brasil replicada pela Folha de S. Paulo online, o misterioso animal teria sido ouvido por moradores neste domingo, dia 26, por volta das 19h. "Policiais acreditam na veracidade das informações sobre o leão, já que uma foto tirada por moradores - ainda que feita de longe e de má qualidade - foi mostrada às autoridades. Eles chegaram a fechar ruas próximas a Earls Hall Drive, local onde o leão teria sido avistado" (http://www1.folha.uol.com.br/bbc/1143714-britanico-ouve-rugido-e-policia-busca-suposto-leao-desconhecido.shtml).

No entanto, interpelado pelas autoridades, o Zoológico Colchester já avisou que não deu falta de nenhum de seus felinos."Um circo que estava na área também foi contactado, mas informou que não não tem nenhum animal desaparecido, e sequer possui leões", relata a notícia.

Tal qual cabeça de bacalhau - que todos dizem saber existir, mas a maior parte nunca viu - o animal continua mobilizando forte aparato policial, incluindo homens armados e dois helicópteros para rastreamento das supostas pegadas. Como as evidências eram fracas, "a polícia primeiro recomendou que a população ficasse dentro de casa, mas depois voltou atrás e disse que todos devem aproveitar o dia de verão, mas sendo cautelosos". 

Está certo, cautela nunca é demais. Mas se, por um lado, a polícia acabou reconhecendo que "a origem do animal é desconhecida", por outro resta admitir que o medo faz também suas presas. E que neste mundão de incertezas e profundas transformações, ninguém está isento de cair em armadilhas desta natureza: o animal é tão somente uma metáfora do próprio desconhecido.

Mas... e a foto? A pura e simples conformação deste medo em megapixels. E o oposto disso é aproveitar os dias de verão dispensados pelo nosso sol interno. Carpe Diem!

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Vendedores cegos

E já que ontem falávamos de longevidade, aqui vai uma notícia que faz jus à imagem que o Poder Público tem dos idosos deste país: "Supermercados da capital paulista deixaram de exigir o RG de todos os compradores de bebida alcoólica para cumprir a Lei Antiálcool. Agora, somente quem aparenta ter menos de 25 anos tem de apresentá-lo ao caixa" (http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/1141591-supermercado-deixa-de-pedir-rg-a-idosos-para-venda-de-bebida.shtml).

Isto significa que, durante o mês de agosto deste ano, os idosos da cidade de São Paulo que foram porventura flagrados comprando uma cerveja no boteco da esquina tiveram que sacar o RG da carteira e mostrá-lo ao vendedor, que "anotava o número e o registrava no sistema". Bravo! "Assim, justificou a Apas (Associação Paulista de Supermercados), era possível comprovar o cumprimento da lei, que veta a venda para menores de idade". Haja necessidade de conrole!

Estou simplesmente impressionada com a incoerência da Lei Antiálcool! Além de ser um ato de violência flagrante contra o idoso - que, constrangido pelo vendedor, teve de provar o óbvio ululante - ela se mostrava totalmente dissociada de seu contexto sociocultural: afinal, no País das Mil e uma Plásticas, uma parte considerável da população está pronta para passar pelas intervenções cirúgcas as mais variadas para aparentar menos idade - e não o contrário!

A única maneira de aplicar uma lei dessas seria contratando somente vendedores de bebida cegos nos supermercados de Sâo Paulo: eles seriam certamente os únicos a não se sentirem constrangidos de pedir o RG a um idoso. Quanto a nós, reles mortais dotados de uma capacidade mínima de visão - estaríamos fadados a morrer de vergonha da imbecilidade alheia!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

De volta ao começo

Perguntados sobre o segredo da longevidade, um grupo de nove irmãos da Sardenha responderam em uníssono: a sopa minestrone!

Mais nova fraternidade de anciãos a entrar para o Guinness Book of Records, "os irmãos Melis são da comuna de Perdasdefogu, na província montanhosa de Ogliastra", na Itália, conforme relata matéria publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1141683-nove-irmaos-italianos-somam-818-anos-de-idade.shtml).

Somadas, as idades dos nove irmãos alcançam a notável marca de 818 anos. "A pessoa mais velha da família Melis, Consolata, vai completar 105 anos na quarta-feira. Sua irmã mais nova, Mafalda, tem 78, e é apelidada por seus irmãos de 'a Pequena' ".

Impressionados não só com a longevidade dos Melis, mas também com a dos demais habitantes da Sardenha, os "cientistas vêm tentando identificar o que leva os sardos a ter vida tão longa --371 deles têm mais de 100 anos, ou seja, há 22 centenários para cada 100 mil sardos". A hipótese levantada pelos cientistas associa herança genética, frugalidade da dieta mediterrânea e estilo de vida ativo.

Bem, pode até ser! Mas hoje vou preferir a simplicidade das hipóteses poéticas: o segredo da longevidade está em nunca perder a habilidade de "chegar ao fundo do fim/ de volta ao começo".

Trocando em miúdos bem miúdos: viverá tanto mais aquele estiver sempre disposto a recomeçar.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Sem permissão

Aconteceu com uma senhorinha idosa, mas poderia ter acontecido com qualquer infeliz em tenra idade: impregnada de boa vontade, mas sem permissão para tanto, "mulher de 80 anos tentou restaurar por conta própria uma obra do pintor espanhol do século 19 Elías García Martínez e acabou danificando a pintura" (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1140947-idosa-tenta-restaurar-pintura-do-seculo-19-por-conta-propria-e-danifica-imagem.shtml).

A façanha da velha dama só foi descoberta depois que funcionários do Centro de Estudios Borjanos foram a Igreja Santuario de Misericordia buscar o quadro doado por uma descendente de Martínez.

Tarde demais!

A progressão das imagens publicadas em notícia veiculada hoje pela Folha de S. Paulo online não deixam margem para dúvida: a barbeiragem foi de lascar! Desfigurado e irreconhecível, a imagem do Cristo concebida pelo pintor espanhol acabou rebaixada à condição de bonequinho pedagógico - aquele feito com uma bola e vários risquinhos. Tudo feito com a melhor da intenções... Não é à toa, portanto, que o inferno anda cheinho delas.

A lição que fica? Por ter confundido a "transfiguração do Cristo" com a "desfiguração do Cristo", essa senhora bem que merecia um exame audiométrico.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Verdade chocante

Já ouvi falar de "tratamento de choque", mas esse aqui é realmente hors concours: a Universidade Ryukyun, do Japão, adotou o tratamento de choque para aumentar os polifenois da batata-doce. Isto porque "o choque aumenta o conteúdo de polifenóis antioxidantes saudáveis em 60%",  segundo afirmam os autores da pesquisa em notícia publicada hoje no jornal O Globo online(http://oglobo.globo.com/ciencia/batata-doce-eletrificada-retarda-os-efeitos-do-envelhecimento-5844726#ixzz248tQF9kZ).

Cientificamente falando, polifenois são aquelas coisinhas para as quais há até pouco tempo atrás ninguém ligava, mas que todo mundo agora acha que fazem a maior diferença. É que os polifenois começaram a aparecer massivamente nas publicidades de alimentos, prometendo mundos e fundos para retardar o envelhecimento. Em termos mais leigos, eles são apenas "compostos químicos, encontrados naturalmente em frutas e vegetais, que ajudam a retardar os efeitos do envelhecimento".

Mas, atenção: o tal tratamento de choque tem lá as suas sutilezas: "No estudo, Kazunori Hironaka (principal autor da pesquisa) e os colegas colocam o alimento em uma solução de sal, que conduz eletricidade. Dão um choque, então, por cinco minutos, até chegarem aos resultados, que não afetam em nada o sabor".

Pronto! Prato cheio para os compulsivos-obsessivos com a aparência. Do jeito que o envelhecimento é mote para histeria coletiva aqui no País das Mil e Uma Plásticas, não há de faltar gente colocando sal na água da piscina e indo nadar em dia de chuva, a espera da queda de um raio. Isto tanto é mais verdade para os nativos aqui da Roça Grande, cidade privilegiada pelo seu relevo e clima, considerada referência mundial no campo de raios, relâmpagos, trovoadas e afins.

Portanto, habitantes da Roça Grande, não temam! Os comparsas pesquisadores da Universidade de Ryukyun garantiram que a descarga não altera em nada o sabor do "alimento". Porém, se nada der certo com o seu tratamento de choque, não vale culpar nossos antípodas: eles provavelmente fizeram o teste com batatas mais inteligentes do que a maioria da nossa população.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Cabeção

Não sou eu quem diz, mas os pesquisadores da Universidade de Yale que, de acordo com matéria veiculada hoje no jornal O Globo online, teriam publicado recentemente um artigo a respeito no jornal Nature Medicine. "Depressão e estresse crônico podem causar a perda de volume do cérebro, uma condição que contribui para insuficiências emocionais e cognitivas" (http://oglobo.globo.com/saude/pesquisadores-de-yale-mostram-como-estresse-diminui-cerebro-5756299).

A explicação neurofisiológica para a diminuição de volume no cérebro ressalta a ação de uma "espécie de interruptor genético" que seria supostamente responsável pela redução de conexões entre os neurônios. Na verdade, "o interruptor reprime a expressão de genes necessários para a formação de conexões sinápticas entre células do cérebro, que por sua vez contribui para a perda de massa cerebral no córtex pré-frontal".

Tivesse esta notícia sido lida há algum tempo, subiria nas tamancas para questionar explanações científicas que tentam, via de regra, explicar fisiologicamente comportamentos que são também culturalmente informados.

Mas não! Os tempos agora são outros. Não que eu tenha me desapegado da minha vocação culturalista... Mas esta explicação era a justificativa moral que me faltava para eu encarar mais uma vez a estrada: meu córtex pré-frontal precisa se manter robusto e operante!

Por conta desta necessidade - que considero convenientemente fisiológica - vou me retirar por alguns dias para uma missão de suma importância: salvar um cérebro da degenerescência; resolver pendências existenciais de primeiro, segundo e terceiro grau; e alterar padrões de comportamento e pensamento que eu nem sequer sabia que tinha.

Como as metas são ambiciosas, o tempo é curto e a mochila ainda nem começou a ser arrumada, vou deixá-los aqui com uma recomendação expressa: malhem o cérebro! E que todas as suas conexões neuronais permaneçam em paz neste ano tão cheio de surpresas e atribulações.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Polaridades

O feriado deste 15 de agosto, dia da padroeira da Roça Grande, acabou com cara de Finados. Ou melhor, com ares de um dia propício para velar tanto pelos que estão em vias de partir como pelo que acabaram de fazer a passagem.

De acordo com o editorial da edição de hoje do jornal Hoje em Dia online, o cerrado mineiro estaria entre os que estão em vias de partir. Contudo, ao contrário do que muita gente acredita, não são as queimadas que mais ameaçam um dos principais biomas das Gerais. Contra estas, prossegue o editorial, existe uma proteção natural contra os incêndios nos períodos de seca, pois as "árvores típicas dos cerrados, com suas cascas grossas, resistem bem às chamas e os arbustos renascem em seu esplendor verde logo que as chuvas, generosas, começam a cair", (http://www.hojeemdia.com.br/minas/cerrados-sob-ameacas-1.22661). .

O problema seria, portanto, de outra ordem: "O que costuma destruir cerrados é sua exploração predatória pelo homem", prossegue o editorial. Para se ter uma dimensão dos interesses econômicos envolvidos, "só em julho as exportações do ragronegócio mineiro somaram US$ 450 milhões". E tais interesses, ao contrário do cerrado, estão mais vivos do que nunca: "Segundo dados da Embrapa, 42% do rebanho brasileiro vivem em áreas de cerrado e respondem por 55% da carne produzida no país".

Entre os que acabaram de fazer a passagem está Altamiro Carrilho, flautista brasileiro conhecido como a "lenda viva do choro" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/morre-altamiro-carrilho-um-dos-mais-importantes-musicos-brasileiros-1.22736).

Altamiro deixou extensa obra: "virtuoso na flauta transversal, o músico gravou, ao longo da carreira iniciada na década de 40, mais de cem discos e foi autor de cerca de 200 composições do gênero que o consagrou, entre elas 'Bem Brasil', 'Cheio de Moral', 'Flauta Chorona' e 'Canarinho Teimoso' ”.

Findo o dia pensando nas ironias deste mundo: o "rei do sopro" se foi aos 87 anos, vítima de um câncer de pulmão. Mas nosso cerrado não fica muito atrás: diversas espécies da flora deste bioma precisam da temperatura elevada das queimadas para florecerem. O confronto diário com as polaridades da existência deixa no ar um mote para reflexão: o que distingue o sopro da vida do sopro da morte não é sua intensidade, nem seu calor. É tão pura e simplesmente: o sopro.

De Altamiro Carrilho, ficará na lembrança a exuberância da obra. Do cerrado - se nada for feito - ficará apenas a lembrança.








 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Clandestinidade

Casos de inseminação artificial tornaram-se tão comuns que poucos se lembram da época em que a novidade ainda era uma espécie de tabu - a ponto de virar tema de novela da Rede Globo. Mas este caso de inseminação artificial aqui tem um requinte que nenhum outro pode oferecer: a amostra de sêmen pode ter pulado o muro de uma penitenciária!

Isso mesmo: "o pai da criança é integrante do grupo Hamas e está preso em uma penitenciária israelense, onde visitas conjugais não são permitidas. Ele e a mulher não se veem há mais de 15 anos, no entanto desejavam ter um filho homem (http://oglobo.globo.com/mundo/semen-clandestino-mulher-palestina-da-luz-bebe-de-pai-preso-5786805#ixzz23ZxlYy8E).

Ninguém quis dizer exatamente como isto aconteceu, mas fato é que uma amostra clandestina de sêmen chegou com segurança até a clínica de inseminação artificial, onde o "material passou por um procedimento para que as chances de nascer um menino fossem maiores, o que de fato aconteceu."

O garoto recém-nascido é o terceiro filho do casal, mas não será o único a não conhecer o pai no momento de vir ao mundo. Sua esposa estava grávida de cinco meses da sua segunda filha, quando o militante foi preso. Pelo visto, o garoto só irá conhecer pessoalmente seu pai quando estiver adolescente, já que "o palestino cumpre sentença de 32 anos de prisão por ter participado do ataque a israelenses no mercado de Majane Yehuda, centro de Jerusalém".

Enquanto este dia não chega, ficam aqui uma sugestão que - por questões óbvias - irá servir de inspiração e auto-análise para o pequeno: a canção "Clandestino", de Manu Chao (a qual reproduzo abaixo).


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Terras altas

Segundo dados do IBGE. a expectativa de vida dos brasileiros vem crescendo consideravelmente nos últimos 30 anos (http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2010/12/expectativa-de-vida-dos-brasileiros-aumenta-11-anos-informa-ibge.html).

No entanto, ninguém jamais terá conseguido frustrar a morte com tanta vêemencia como este  mineiro aposentado de 66 anos.  Francisco das Xagas Silva é uma verdadeira pedra no sapato da Grande Ceifadora. Segundo notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online, há cerca de quatro anos ele teria sofrido "70 paradas cardíacas, em um período de 12 horas", tendo saído "quase que ileso" (http://www.hojeemdia.com.br/minas/mineiro-highlander-sobrevive-a-70-paradas-cardiacas-em-12-horas-1.22207).

Denominado na matéria de "Highlander" - personagem imortal interpretado por Cristopher Lambert em filme homônimo de 1986 - o Sr Francisco não deixa a menor sombra de dúvidas de que seu esporte preferido é ver a avó pela greta: "Antes disso, o aposentado, que trabalhava como eletricista, já teve úlcera supurada (aos 17 anos), tuberculose (aos 23 anos), sofreu trombose, quase teve que amputar a perna, mas perdeu o dedo do pé (aos 53 anos) e retirou três tumores benignos da próstata (58 anos)".

É pouco?

Então, tome mais. O seu currículo de teimosias é realmente de extasiar os mais céticos: após suas inúmeras paradas cardíacas, 14 dias em coma, uma ponte de safena e três stents (molas para abrir artérias), o mineiro pensa em pleitear o status de imortal sem nem sequer passar perto da Academia Brasileira de Letras: "Após o susto" - qual deles??? - "ele parou de fumar dois maços por dia e começou a frequentar a academia, pelo menos cinco veze por semana. A única coisa que o eletricista não conseguiu foi controlar a ingestão de doce, já que é diabético". Que bom! Seria muito chato para ele ter quebrado todos os recordes de auto-superação antes de atingir a média da expectativa de vida dos brasileiros: 73,4 anos em 2012.

Agora, cá para nós: se ficar comprovado que o segredo da longevidade está diretamente associado à vida em "terras altas", então serei  eu a primeira a pleitear um rancho no cume do Pico da Bandeira. E tenho dito!





sábado, 11 de agosto de 2012

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Queda livre

Esta é para todos nós irmos dormir pensando na morte da bezerra...

Tudo aconteceu no dia 07 de dezembro, ainda que o ano do evento não tenha sido mencionado. Imaginem a seguinte situação: dois irmãos caem em queda livre de uma plataforma instalada no 47º andar de um edifício da cidade de Nova Iorque. Um se salva, o outro não. Que nome se pode dar a um evento desta natureza? Sorte? Ou uma série de condições plenamente explicáveis pelas leis da física?

Uma combinação de ambas as opções é a tese defendida nesta reportagem produzida pelo Discovery Channel e difundida pela TV UOL (http://tvuol.uol.com.br/assistir.htm?video=homem-cai-do-47-andar-de-edificio-e-sobrevive-04020E993260DC893326). O desfecho da queda dos dois irmãos Moreno, ambos encarregados de limpar os vidros do edifício, é estarrecedor: sobrevive ao impacto da queda, estimada em 6 segundos de duração, equivale a sobreviver a uma batida de um carro a 175km/h em um muro de tijolos.

A questão, portanto, gira muito mais em torno das possíveis explicações para a sobrevivência de Alcides Moreno do que para a morte do seu irmão. Hipóteses variadas - como a incrível coincidência de duas peças que se soltam quase que simultaneamente, fazendo a plataforma cair praticamente na horizontal - são fartamente ilustradas com simulações gráficas. Dentre elas, a possibilidade do irmão morto ter sido arremessado da plataforma pouco antes do impacto final, o que determinou sua morte.

Tirando o desconforto de ter sido dublado no molde das antigas novelas mexicanas transmitidas pelo SBT, o vídeo vale a pena. A narrativa é razoavelmente convincente e só perde, em termos de impacto, para a própria queda.

No entanto, convem avisar que vai ser difícil tirar da boca uma pergunta com gosto de fel: por que uns são escolhidos e outros não?

Na ausência de respostas a tão enigmática pergunta, findo o meu dia, pronta para sonhar com a morte da bezerra.

(Se alguém quiser o link original onde o vídeo está hospedado, aqui vai ele: http://tvuol.tv/bvc55V).

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Ócio

Queridos amigos: a vida é mesmo cheia de imprevistos, surpresas e incertezas. Por isso mesmo, nunca deixo de me surpreender com as frases de duplo sentido que aparecem diariamente na nossa prezada mídia de massa.

Ora, vejam só: título de notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online anuncia - com todas as letras - que a "Câmara aprova o fim do crime de vadiagem" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/politica/camara-aprova-fim-do-crime-de-vadiagem-1.20407).

Muito obrigada! Tenho certeza de que muita gente aprova também. O problema é que o resto da reportagem contradiz em parte a informação que aparece logo no título. Na verdade, o "Plenário aprovou, nesta quarta-feira (8), um projeto de lei, (Lei 4668/04) que retira da Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei 3.688/41) o crime de vadiagem".

Ah, se as coisas fossem simples assim! Como se bastasse a câmara aprovar o fim de alguma coisa para esta mesma coisa deixar de existir. Na verdade, está acontecendo justamente o contrário: por ter se tornado tão amplamente difundida, a vadiagem adquiriu caráter crônico e deixou de ser obra pura e simples da vontade individual de cada um.

Vadiagem aqui, vale registrar, significa se entregar "habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover a própria subsistência mediante ocupação ilícita". Aliás, se levarmos o texto a sério, entenderemos que quem for pego se entregando "habitualmente à ociosidade", poderá pegar prisão simples por um período que varia de 15 dias a 3 meses.

Para quem ainda não pegou o espírito da coisa, a definição é ampla o bastante para incluir nela toda forma de mendicância - o que seria totalmente risível em um país com a população de rua que nós temos. Isto soa, no mínimo, engraçado: a vadiagem deixou de ser uma transgressão porque ela se tornou demasiadamente comum para ser reprimida pelas vias oficiais. E digo "oficiais" porque vira e mexe aparece um pobre coitado desses aí, que vive na rua, espacado ou com o corpo queimado covardemente por gente sem um pingo de humanidade.

Por hora, a matéria foi apenas aprovada em votação simbólica pela Câmara, devendo passar ainda pelo Senado. Mas a questão agora é: o que esta alteração no nosso quadro jurídico muda na prática?


Acho que muito pouca coisa. Quem já estava vivendo nas ruas não sairá delas porque a vadiagem simplesmente deixou de ser contravenção. Na melhor das hipóteses - e com alguma sorte e presença de espírito - mudaremos talvez nossa concepção de ócio.

Enquanto este dia não chega, fecho os olhos e fico aqui pensando em uma das minhas atividades ociosas preferidas: dança a dois, de rosto colado, ao som de uma canção que é, para mim, um hino ao ócio contemplativo.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Incerteza

Sim, revezes fazem parte da vida. Todo mundo já passou ou passará por algum enquanto estiver fazendo seu passeio existencial "neste  asteroide pequeno que todos chamam de Terra" (expressão tomada de empréstimo da canção de Zé Ramalho). Mas revezes na velhice são um tanto mais dramáticos do que em outros períodos da vida, já que o tempo necessário para a recuperação é mais escasso.

A história desta idosa de 96 anos que está internada há meses no Hospital Rio Laranjeiras, na cidade do Rio de Janeiro, é uma história de revezes, sem dúvida, mas não necessariamente pelos mesmos motivos ressaltados nesta notícia publicada hoje no jornal O Globo online: "A trama envolvendo a senhora que está no Rio Laranjeiras começou em 29 de fevereiro deste ano, quando ela passou mal. Com problemas intestinais, foi buscar ajuda na Delegacia do Idoso, em Copacabana. Os policiais a encaminharam para o Centro de Assistência Social, em Laranjeiras, onde os profissionais verificaram que ela tem plano de saúde, pago mensalmente por débito automático. Por isso, foi internada na Rio Laranjeiras" (http://oglobo.globo.com/rio/foto-tira-do-anonimato-idosa-internada-em-hospital-do-rio-5717715).

O problema é que a notícia começa levantando uma falsa lebre ao sugerir, logo nas primeiras linhas, que Leonora Amar Rousseau teve sua vida alterada em função da popularidade alcançada com a publicação de sua foto nas redes sociais: "Moradora de Copacabana, sem nenhum parente vivo, ela enfrentava seu drama sozinha até a semana passada, quando uma foto sua, deitada num leito hospitalar, foi divulgada nas redes sociais e, imediatamente, compartilhada por milhares de pessoas".

A notícia toma como indicador de popularidade o número de compartilhamentos que sua foto recebeu desde que foi parar nas redes sociais: "A foto de Leonora está presente em vários perfis do Facebook. Há casos em que a imagem foi compartilhada mais de 70 mil vezes", informa. Mas a própria notícia fornece evidências contrárias logo em seguida: no fundo, no fundo, a vida desta senhora pouco ou nada foi alterada desde que ela se tornou uma celebridade "pública", já que "Leonora está realmente internada e, apesar de não ter família, a equipe médica sabe exatamente quem ela é e onde morava até ser encaminhada à unidade".

Bem, se nenhum parente foi localizado - pois a idosa não os tem - e nenhuma nova informação sobre seu passado veio à tona, o que poderia ela ter ganhado com tamanha notoriedade pública? Comiseração? Em termos, pois Dona Leonora faz parte deste seleto clube de pessoas que chegam à velhice amparados de alguma forma por serviços de saúde privados. Além disso, de acordo com o hospital, a nobre dama está lúcida e caminha normalmente, o que, em si, já é uma boa notícia.

Bem, se ela pouco ganhou com a súbita fama, a única coisa realmente fidedigna na história da Dona Leonora parece ser a inconstância da vida. Apesar da idade avançada e do pouco tempo que lhe resta, ela sabe tão pouco como eu ou você o que o destino lhe aguarda nos próximos dias: apesar do seu estado de saúde ser estável, ela "permanece na unidade à espera de uma decisão do Ministério Público Estadual". De qualquer forma, "o Rio Laranjeiras informou que entrou com um procedimento na 2ª Promotoria do Idoso para que o MP assuma a mulher e, se for o caso, a encaminhe para um lar de idosos".

Bem, quanto a nós, meros expectadores do seu drama pessoal, nada mais nos resta senão ir dormir com uma pequena lição: a despeito da morte ser a única coisa certa na vida, viver é como jogar nos últimos minutos da prorrogação de um jogo de futebol: enquanto a bola estiver rolando na grama, a vida nos surpreenderá.

Assim é!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Probleminhas de espaço

Quando chegarmos ao dia 31 de dezembro deste ano, teremos ao menos um consolo: 2012 terá sido o ano dos acontecimentos irônicos!

Exemplos? Aqui vão eles!
De um lado, temos a volta do palhaço Bozo à grade da programação do SBT. O problema, na verdade, não é o programa do palhaço em si, mas o tipo de questionamento que sua volta anda suscitando: "A ressurreição do Bozo coloca uma pulga atrás da orelha da dupla Patati e Patatá. Tem espaço para tantos palhaços no canal?", indagam outros palhaços de plantão (http://f5.folha.uol.com.br/televisao/1132318-volta-do-bozo-ao-sbt-provoca-inseguranca-em-patati-e-patata.shtml).

Para os palhacinhos Patati e Patatá, fica aqui meu conselho: se faltar espaço para todo mundo no SBT, corram para CPI do Cachoeira: lá todos são benvindos. Aliás, basta dar uma olhada no banco dos réus para concluir o óbvio: a semelhança é evidente.

E já que estamos falando em acontecimentos irônicos, este aqui também tem a ver com o mal uso do espaço disponível. Segundo notícia do jornal Hoje em Dia online, o caso teria causado comoção na Alemanha: esquilinho afoito "entrou no buraco do sistema de drenagem da chuva e não conseguiu sair, ficando apenas com a cabeça do lado de fora"(http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/esquilo-e-resgatado-apos-ficar-preso-em-bueiro-de-rodovia-na-alemanha-1.19173).

Bem, mais uma vez, o problema não é o esquilo em si, mas a reação que ele causou nos passantes: "os motoristas que passavam pelo local, na pequena cidade de Isernhagen, acionaram a polícia, preocupados com a segurança do animal". Conclusão: o bichinho só saiu de lá "depois de 15 minutos de trabalhos e com a ajuda de uma moradora da região, que providenciou azeite de oliva".

Fosse aqui no Brasil, aproveitaríamos o calor do asfalto, juntaríamos o azeite e faríamos uma fritada, pensando se tratar de um quati. Afinal, quando a fome aperta, qualquer leve semelhança acaba ficando evidente...

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Taciturna

Total identificação com a Juma, filhote de hiena que nasceu no zoológico de Berlim. Juma é simplesmente uma hiena que não ri (http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/9107-conheca-juma-a-filhote-de-hiena-que-nao-ri#foto-174525). E não, não tive dó dela. Pelo contrário: achei que era direito natural de toda hiena - ou de qualquer outro ser vivo - rir quando quiser.

Sim, hoje estou que nem a hiena Juma: me dando ao luxo de usar meu livre-arbítrio para ir de encontro às expectativas gerais. Não vou falar do desempenho do Brasil nos jogos olímpicos, não vou falar do julgamento do Mensalão, nem quero saber qual o cachê que aquela celebridade pediu para fazer seu "ensaio sensual" (que deve ser o oitavo de uma efêmera cerreira que, no total, não durará mais de 20 meses).

Nada disso me interessa.

Quero, na tranquilidade do meu lar, acreditar no livre arbítrio da hiena. E ir dormir mais cedo do que o habitual. E esperar que a tempestade que está armando caia durante a noite.

E por falar nisso: boa noite!



Placebo e cafeína

O consumo exagerado de café gera tremores nas mãos. Os portadores da doença de Parkinson apresentam tremores nas mãos e perda de movimentos. No entanto, um curioso estudo da Universidade McGill, no Canadá, revela que "a cafeína parece ter um efeito oposto em pessoas com a doença da Parkinson: ela ajuda a aliviar os tremores e a recuperar os movimentos" (http://oglobo.globo.com/saude/cafe-ajuda-aliviar-efeitos-da-doenca-de-parkinson-5667371#ixzz22RmYcOgD).

O pesquisador responsável pelo estudo, Ronald Postuma, dividiu o universo de 61 portadores da doença em dois subgrupos. "Um deles, recebeu comprimidos de cafeína durante seis semanas — o equivalente a três xícaras de café por dia —; o outro, recebeu um placebo pelo mesmo período",  revela a matéria publicada hoje no O Globo online.

Os cafeólatras levaram a melhor: "Apenas o grupo com cafeína mostrou ter avanço significativo nos testes de problemas motores, com diminuição da intensidade dos tremores e aumento da mobilidade geral".

No meu limitado entender, o experimento serve como metáfora para a vida de cada um de nós. Pois a vida também é assim: um laboratório de surpresas. Às vezes, alguns de nós caímos em "grupos de controle" alimentados à base de placebo, mas acreditamos piamente estarmos tendo convulsões ou sequelas reais e legítimas. Mas elas não são. São apenas reações exageradas, fruto de uma mente tendenciosa e auto-indulgente.

Nesse mesmo laboratório, no entanto, há um certo número de pessoas que terminam seguindo um caminho distinto e sendo expostos à pílula "certa", isto é: aquela que vai remediar suas dores e trazer cura ou conforto. A questão é que, exatamente como a pílula de cafeína, o remédio certo jamais se apresenta como tal: ele virá geralmente travestido de seu oposto. Mas justamente aquilo que supostamente acentuaria nossos problemas é que termina nos curando.

Tanto no vasto terreno das nossas experimentações existenciais quanto no laboratório da Universidade McGill, a diferença entre placebo e cafeína é sempre omitida ao paciente para garantir a qualidade dos resultados. Testados às cegas, somos avaliados em função das nossas reações. Mas que reações são essas? Reais ou sugestionadas?

No vale-tudo da cafeína x placebo, duas grandes verdades existenciais podem ser empiricamente observadas: a mentira tem perna curta e só se cura quem tem coragem de arriscar.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Quem vai e quem fica

Tem dias em que me sinto na obrigação de sair à cata de notícias esperançosas nos jornais. É quase uma obrigação moral, uma espécie de pacto de resistência que faço comigo mesma contra o pessimismo reinante - dentro e fora de mim.
O problema é que os jornais andam avaros de notícias esperançosas. O jeito então é render homenagem a vida de um modo bem particular: agradecendo aos que partem dela, saudando aos que dão início a mais um ciclo de vida neste dia 1o de agosto de 2012.

Dentre os que partem está Gore Vidal, escritor, homem político e crítico mordaz do Governo Bush (filho) justamente quando o país vivia o auge de sua histeria nacionalista. Crítico mordaz do imperialismo estadounidense e fonte inesgotável de tiradas espirituosas, Gore Vidal defendia que "os EUA vivem um sistema político de um só partido com duas alas direitistas" (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1129554-escritor-americano-gore-vidal-morre-aos-86-anos.shtml).

Do lado de cá da linha que separa a vida do reino de Hades, celebramos também o aniversário de Ney Matogrosso, este jovem de corpo e espírito que completa 71 invernos brasileiros. Capaz de agradar gregos e troianos (com toda ambiguidade que esta frase pode comportar), Ney apaga velinhas acendendo uma esperança no meu coração - principalmente essa minha metade que quer madrugar na Bodeguita. Valeu, Ney! Esperança não tem preço.






Fonte: (http://youtu.be/pMmGF0w7su0).




quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Fosso digital

O lançamento do Índice Integrado de Telefonia, Internet e Celular (Itic) hoje pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, acabou me remetendo a uma antiga discussão sobre a distância infraestrutural entre países "ricos" e "pobres". "O Brasil está na média mundial quando o assunto é acesso a tecnologias da comunicação, mas as desigualdades internas são grandes: o acesso em Moema, bairro nobre da zona sul da capital paulista, é tão bom quanto na Holanda" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/economia-e-negocios/inclus-o-digital-espelha-desigualdades-do-brasil-1.16864).

Utilizando dados de pesquisa global do ano passado do instituto Gallup e do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, o índice da FGV "mede o acesso das pessoas com mais de 15 anos de idade a celular, internet via computador, telefone fixo e computador sem acesso à rede".

Bem, que o Brasil é país de contrastes de diversas ordens - sociais, culturais, econômicas - isso é um fato que nem o umbigo da vedete mais exibida consegue ignorar. Obviamente, essas diferenças se expressam não somente no ambito das áreas urbanas e rurais do país (como já era de se esperar, aliás), como também revelam discrepâncias entre bairros de uma mesma cidade.

Não é de se surpreender, portanto, que diferenças de acesso atinjam cidades de grande porte, como é o caso de São Paulo ou Rio de Janeiro: o " Itic de Moema - considerando a região administrativa - é 93%, contra 83,9% na região administrativa da Lagoa - que engloba Leblon e Ipanema, entre outros bairros -, melhor índice do Rio. Se fosse um país, Moema seria quinta colocada no ranking mundial, atrás da Nova Zelândia e acima da Holanda", descreve matéria publicada hoje no jornal Hoje em Dia online.

É interessante notar que, em escala nacional, as cidades com maior taxa de acesso são São Caetano do Sul (82,6%), Santos (78,2%), Florianópolis (77%), Vitória (76,6%) e Niterói (76%). Curiosamente, são cidades que "já se destacam em termos de renda per capita e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)", de acordo com o pesquisador do CPS/FGV e coordenador do estudo, Marcelo Neri. O que termina, a meu ver, derrubando um velho "adágio", segundo o qual as tecnologias de comunicação e informação impulsionariam o desenvolvimento econômico e cultural e permitiram a redução de diferenças - ou "fossos" - econômicos, culturais, sociais existentes em áreas ricas e pobres.

O tal "adágio", contudo, nasceu de um contexto histórico preciso, no início da década de 1970, mais especificamente, quando se acreditava que as diferenças em termos de infraestrutura de comunicação e informação entre países ricos e pobres aumentavam a distância econômica e social eles. Além disso, a polarização da produção cultural de massa nos chamados países de "primeiro mundo" e sua concomitante difusão para os países receptores do "terceiro mundo", tornavam desigual a circulação dos fluxos comunicacionais entre os diversos países, colaborando, entre outras coisas, para a projeção e permanência  de estereótipos culturais dos primeiros com relação aos últimos.

Munida da esperança de que ver o aumento do acesso às tecnologias de comunicação e informação solucionar esses problemas, a década de 1970 viu nascer o NOMIC - Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação - um projeto de países "não alinhados" que previa a reorganização dos fluxos mundiais de comunicação, coom ampla participação de governos e terceiro setor.

Apesar do NOMIC ter caído no esquecimento nas décadas subsequentes muito em função do lobbying das grandes corporações privadas de comunicação, seu argumento de base permanece latente nas políticas sociais de expansão do acesso às novas mídias: a revolução digital colaboraria para aumentar o acesso à informação e, consequentemente, alavancaria a mudança social.

O índice da FGV vem, no entanto, mostrar que o "fosso digital" vem se complexificando cada dia mais e exigindo novas estratégias para sua superação. Entre as diversas conclusões do estudo, o pesquisador Marcelo Neri destaca "a abrangência do celular em países como o Brasil. Excluído do índice o acesso à celular, o Itic do Brasil cai para 39,3%, mas sobe para 70º no ranking global".

Contrariamente à lógica do NOMIC, que prevê a ampliação do acesso lá onde ele não existe, as novas políticas devem tirar proveito da infraestrutura adquirida. É o que dá a entender o pesquisador da FGV, que "defendeu a importância de se utilizar os telefones móveis nas políticas de inclusão digital, em vez, por exemplo, de universalizar o acesso a computadores". O argmento agora é outro: "Dois terços dos pobres do Brasil têm celular. O celular é um dispositivo que está onde as pessoas estão", ressalta Neri em seu depoimento.

Finado o NOMIC, é a vez dos fabricantes e operadoras de celulares deitarem e rolarem em cima das nossas pequenas - mas muito bem preservadas - diferenças.