UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Polaridades

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Polaridades

O feriado deste 15 de agosto, dia da padroeira da Roça Grande, acabou com cara de Finados. Ou melhor, com ares de um dia propício para velar tanto pelos que estão em vias de partir como pelo que acabaram de fazer a passagem.

De acordo com o editorial da edição de hoje do jornal Hoje em Dia online, o cerrado mineiro estaria entre os que estão em vias de partir. Contudo, ao contrário do que muita gente acredita, não são as queimadas que mais ameaçam um dos principais biomas das Gerais. Contra estas, prossegue o editorial, existe uma proteção natural contra os incêndios nos períodos de seca, pois as "árvores típicas dos cerrados, com suas cascas grossas, resistem bem às chamas e os arbustos renascem em seu esplendor verde logo que as chuvas, generosas, começam a cair", (http://www.hojeemdia.com.br/minas/cerrados-sob-ameacas-1.22661). .

O problema seria, portanto, de outra ordem: "O que costuma destruir cerrados é sua exploração predatória pelo homem", prossegue o editorial. Para se ter uma dimensão dos interesses econômicos envolvidos, "só em julho as exportações do ragronegócio mineiro somaram US$ 450 milhões". E tais interesses, ao contrário do cerrado, estão mais vivos do que nunca: "Segundo dados da Embrapa, 42% do rebanho brasileiro vivem em áreas de cerrado e respondem por 55% da carne produzida no país".

Entre os que acabaram de fazer a passagem está Altamiro Carrilho, flautista brasileiro conhecido como a "lenda viva do choro" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/morre-altamiro-carrilho-um-dos-mais-importantes-musicos-brasileiros-1.22736).

Altamiro deixou extensa obra: "virtuoso na flauta transversal, o músico gravou, ao longo da carreira iniciada na década de 40, mais de cem discos e foi autor de cerca de 200 composições do gênero que o consagrou, entre elas 'Bem Brasil', 'Cheio de Moral', 'Flauta Chorona' e 'Canarinho Teimoso' ”.

Findo o dia pensando nas ironias deste mundo: o "rei do sopro" se foi aos 87 anos, vítima de um câncer de pulmão. Mas nosso cerrado não fica muito atrás: diversas espécies da flora deste bioma precisam da temperatura elevada das queimadas para florecerem. O confronto diário com as polaridades da existência deixa no ar um mote para reflexão: o que distingue o sopro da vida do sopro da morte não é sua intensidade, nem seu calor. É tão pura e simplesmente: o sopro.

De Altamiro Carrilho, ficará na lembrança a exuberância da obra. Do cerrado - se nada for feito - ficará apenas a lembrança.








 

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