UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: 2012

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Veranescas

Este calor extremo que persiste há dias me remeteu hoje a duas notícias que passeiam pelo mesmo campo semântico: calor, inferno, refrigeração, suadouro, graus Celsius, massa de ar quente, recorde abosluto de todos os tempos de todas as galáxias, etc, etc, etc.

A primeira das duas notícias nos coloca face a face com a dura realidade da preservação dos acervos  na cidade do Rio Janeiro: "Desde maio, o sistema de ar-condicionado da Biblioteca Nacional, no Centro, está desligado, provocando temperaturas de 47 graus, 100% acima do ideal para o acervo, e reduzindo a visitação" (http://oglobo.globo.com/rio/dentro-da-biblioteca-nacional-47-graus-sombra-dos-livros-7149922).

Obviamente, não podemos nos compadecer dos acervos de livros sem nos sensibilizar também com as condições insalubres do "acervo humano" que cuida desses mesmos livros. Afinal, 47ºC foi  a também sensação térmica ontem no bairro de Santa Cruz, Rio de Janeiro, já que um "bônus" de humidade em cerca de 4ºC a sensação térmica.

Desse jeito, os funcionários da Biblioteca Nacional só tem duas alternativas: a) entrar no prédio fazendo sinal da Santa Cruz para não morrerem desidratados; b) transferir o mobiliário de escritório para qualquer esquina de Santa Cruz: ao menos assim os livros ficam a céu aberto; se pegarem fogo por lá, tenho certeza de que ninguém duvidará da tese de combustão espontânea.

A segunda notícia do dia, apesar de dramática, servirá ao menos para refrescar as ideias: "Um aquário gigante explodiu em um shopping de Xangai, na China, deixando 15 pessoas feridas" (http://www.hojeemdia.com.br/m-blogs/r%C3%A1dio-patrulha-1.530/aqu%C3%A1rio-explode-mata-tubar%C3%B5es-e-fere-15-pessoas-na-china-confira-v%C3%ADdeo-1.72673).

Não se sabe ao certo o que fez o aquário de vidro acrílico de 15 cm de espessura se romper, matando "três tubarões-limão e dezenas de tartarugas e peixes menores". Mas sabe-se com uma certa segurança que o desfecho da notícia publicada a respeito no jornal Hoje em Dia online poderia ter sido mais inteligente. Afinal, qual o interesse em saber que "Chen Yongping, um funcionário da direção do centro de compras, disse que o estabelecimento não pretende ter outro aquário no futuro"?


Tivesse um aquário desse se rompido em plena Biblioteca Nacional na tarde de hoje, era bem provável que os três tubarões-limão tivesse se transformado em postas grelhadas, ali mesmo, no ladrilho da instituição. Com vantagem nítida com relação às tartarugas e aos peixes menores: os turbarões-limão já estariam devidamente temperados.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A cruz e a caldeirinha

Agora acabei de crer que aquela conversa de alinhamento da Terra com o seu sol e Alcione, aquela estrela/buraco negro situada no centro da nossa galáxia, só pode ser verdade!

As manchetes dos jornais não me deixam mentir: o calor grassa pelo país afora tal qual fogo na palha. E tudo indica que a metáfora será cada vez menos metafórica e mais literal se algo não for feito na esfera celeste: o calor bate recorde por todos os lados nesse país.

Aqui na Roça Grande, por exemplo, estamos sofrendo o mês de dezembro mais seco dos últimos 37 anos: "Neste mês, choveu o equivalente a 70,1 milímetros na região metropolitana de Belo Horizonte, apenas 24% do esperado para dezembro, cuja média histórica é de 319 milímetros" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1206599-belo-horizonte-mg-tem-dezembro-mais-seco-dos-ultimos-37-anos.shtml).

Os jornais falam de uma massa quente que não larga do nosso pé: a estiagem prolongada "é causada pela atuação de uma massa de ar quente que dificulta a formação de nuvens sobre a capital mineira e bloqueia a chegada de frentes frias vindas do Sul do país, além de ser influenciada pelo fenômeno El Niño", explica matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo online.

Com isso, estamos esperimentando temperaturas 4ºC mais elevadas do que a temperatura média máxima para esta época do ano, que fica em torno de 28ºC. Mas tenho certeza de que tem o dedo de Alcione aí no meio: a coisa anda tão feia que o Rio de Janeiro registrou hoje, 4a feira, o dia mais quentte em 97 anos: "Em Santa Cruz (um dos bairros mais afastados do centro), na zona oeste, os termômetros marcaram 43,2ºC".

Tudo indica que a atual cruz de quem mora em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, é o calor: com a anuência e colaboração enfática de Alcione, "com a elevada umidade do ar e o vento quente que sopra vindo do norte, a sensação térmica foi ainda maior: 47ºC" naquele bairro. O que fez de lá um estranho parodoxo: Santa Cruz foi hoje a própria filial do inferno na cidade do Rio de Janeiro.

Ao contrário do Rio, a temperatura máxima na cidade de São Paulo foi medida na Zona Leste: "Segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergência), a maior temperatura foi de 32,7ºC, na Penha, zona leste, por volta das 14h" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1206732-sao-paulo-tem-maxima-de-327c-na-tarde-desta-quarta-feira.shtml). "Na média, a capital paulista teve 30,7ºC", índice considerado elevado para aquela cidade.

Trocando em miúdos: enquanto a secura paira por todos os lados na Roça Grande, o El Niño não deixa nenhuma frente fria subir do Sul; sem alternativa, São Paulo frita à leste, ao passo que o Rio ferve mesmo é à oeste. E no centro da Galáxia, lá está Alcione, rindo de tudo e de todos.

Simplesmente não temos para onde correr: se correr, o bicho pega; e se ficar: o bicho morre assado!






segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Solstício 2

Meu solstício de Natal tem lua, asa, poesia e liberdade. E tem a amplidão do espaço para sonhar com dias cada vez melhores.

Que o seu solstício pessoal seja assim também: um desafio às próprias limitações, um salto pleno na confiança no que não se conhece e que ainda está por vir.

Abraços a todos!







domingo, 23 de dezembro de 2012

E o fim do mundo?

Uai, não acabou, não?

Então, levanta, serve um café que o mundo NÃO acabou!


Dou notícias quando o café tiver terminado!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Trufas negras

Dizem que o segredo é a alma do negócio. Mas pode ser também sua derrocada, como mostra com propriedade essa notícia sobre o desaparecimento das trufas negras, publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online (http://www1.folha.uol.com.br/comida/1204588-cientistas-afirmam-que-a-mudanca-climatica-esta-afetando-a-producao-de-trufas-negras.shtml).

Não, não estou falando daquele bombom de chocolate macio, mas, sim, do fungo do gênero Tuber, que cresce geralmente na raiz de certas árvores da região mediterrêna da Europa. "Apesar do avanço nas técnicas de cultivo, a trufa ainda é farejada por cães treinados e retirada à mão das raízes em que cresce. O custo dela, claro, é naturalmente alto", relata a notícia.

Com o aquecimento global, prossegue a notícia, tem chovido cada vez menos na Espanha e na França. Cientistas da revista Nature "acreditam que, com isso, as árvores hospedeiras e os fungos acabam competindo pela água e isso reduziria a produção". Por isso, o fungo está ficando cada vez mais raro nas regiões mediterrâneas, fazendo com que o preço fique ainda mais elevado a cada ano: "Em Paris, o pound da trufa negra (cerca de 0,45kg) está custando €2 mil (por volta de R$5.450)".

O problema é que, até bem recentemente, o segredo na produção/coleta de champignons raros era tido como algo altamente estratégico: não contar sua localização era uma forma de reserva de mercado, configurando uma prática que ainda conserva grau elevado de artesanalidade. Claro, "o fato de os produtores de cogumelos não compartilharem informações dificulta o trabalho realizado por eles".

Senhoras e senhores, coletores de champignon em geral: lembrem-se de que, se o mundo realmente acabar hoje, seguindo as (supostas) profecias maias, o segredo da localização das trufas negras vai para o beleléu junto com todo o resto.

Na minha humilde opinião, mais vale um gosto satisfeito, do que um gosto adiado. Portanto, senhoras e senhores coletores de trufas negras, convidem alguém de suas relações para compartilhar o paradeiro das trufas negras. Faça um macarrão ao molho de trufas, saboreiem uma bebida de seu agrado e olhem, juntos, para o firmamento: há muito mais coisas entre o céu e a terra do julga nossa vã filosofia. Depois, brindem o cosmos e se esqueçam das trufas: elas não valerão um centavo em um cenário de ficção científica.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Hermanas

Enquanto derretemos de calor nessa terra e só pensamos no fim do mundo, nossos quase antípodas, os sul-coreanos, gelaram o pé para eleger a primeira mulher como presidente: "Em dia eleitoral que foi feriado, 40,5 milhões de sul-coreanos estavam registrados para comparecer às urnas, 76% dos quais se dirigiram às sessões eleitorais, um número alto se forem levadas em conta as temperaturas no país, que giravam em torno dos -10 Celsius" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/coreia-do-sul-elege-primeira-mulher-como-presidente-1.70263).
 
A presidente eleita, Park Geun-Hye, 60 anos, é "filha de Park Chung-Hee, ditador que comandou o país durante 18 anos até seu assassinato em 1979". Seu principal adversário neste pleito foi Moon Jae-in, 59 anos, um "filho de refugiados norte-coreanos e ex-advogado de direitos humanos" que "já foi preso por protestar contra o regime de Park Cung-He".

Praticamente da mesma idade, ambos já foram - e continuam sendo - separados por cisões ideológicas profundas. Mas o mundo gira. E ei-los mais uma vez separados por mais uma oposição política.

Serão Moon e Park amigos algum dia? Não sei. Mas nestes tempos de intensa mudança, nada impede que eles dêem a volta por cima do passado e das credenciais políticas para construir uma parceria inesperada.

Parcerias, conquanto inesperadas, podem também ser ousadas e harmoniosas... como este belíssimo encontro entre Mercedes Sosa e Anna Saeki. A letra já diz tudo:

"Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar
Y una hermana muy hermosa
Que se llama libertad"

Fica como legado esta linda referência à liberdade de compor com opostos - e, quem sabe um dia, até com seus quase antípodas.




quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Alinhamentos

Esses tempos de transição entre algo e outra coisa - do contrário, não seria transição! - têm levado muita gente a olhar eventos corriqueiros sob as lentes de aumento da tragédia. Assim foi recebido o dia de calor, hoje, aqui na Roça Grande: um sinal claro do final dos tempos!
Se bem que esse tom de tragédia esteve mais na fala das pessoas ao longo do dia, do que na mídia impressa propriamente dita: "nesta terça-feira (18), o termômetro chegou aos 32ºC em BH e a umidade relativa do ar ficou em 31%, considerada baixa para esta época do ano" (http://www.hojeemdia.com.br/minas/previs-o-de-calor-e-chuva-nos-proximos-dias-em-bh-e-regi-o-metropolitana-1.69849).

Sem as frentes frias, tão comuns para esta época do ano, o clima geral acabou sendo mesmo de consternação. E muito embora os termômetros da capital já tenham marcarado temperaturas bem mais elevadas do que essa, a impressão que fica é a de que a sensação térmica era compatível com a de um dia típico do deserto do Saara.

"Por que será?", pergunto eu. "Simples", respondo para mim mesma. A razão só pode estar no tão propalado alinhamento cósmico entre nosso sol, o planeta Terra e o sol central, que fica no centro da galáxia. Não tem outra alternativa: só o alinhamento com dois sóis explica o calor absurdo que fez hoje!

Obviamente, estou ironizando mais o calor do que o alinhamento, seja ele com que sol for. Aliás, para combinar com a temática do momento, até fui ontem fazer um realinhamento postural - quadríceps, pélvis, ombros, maxilar e por aí vai. Se a Terra derrreter no meio dou desses dois sóis, pelo menos eu me vou desse mundo alinhada que só.

Isto é o que eu chamo de consolo besta!

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Obelix fujão

Cá estou eu de volta após alguns percalços de ordem tecnológica: se meu computador antigo tinha apagãos repentinos, o novo resolveu ter uma parada cardíaca e ficar mais lento do que uma lesma. Minto: as lesmas são beeeeem mais rápidas!

Enfim... cá estou de volta e com tempo bastante para me inteirar apenas de duas ou três notícias do dia, porque o ano está acabando e minha bateria está indo junto com ele - não a do computador cardíaco, mas a minha mesmo. Mas a leitura de duas notícias foi o suficiente para perceber o quão equivocados podemos estar quanto ao fim do mundo.

Pois saibam que a NASA soltou nota para alertar os desavisados sobre a improbabilidade do fim do mundo. Nos dizeres de David Morrison, "cientista da Nasa e especialista da vida no espaço", "a ideia de que o mundo acabará subitamente, por uma causa qualquer, é absurda" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/profecia-maia-sobre-fim-do-mundo-n-o-sera-cumprida-garante-nasa-1.69197).

A matéria até que ficou didática: para cada risco, uma explicação cientificamente comprovada de que a profecia maia não está com nada no balaio. Por exemplo, contra a suposição de que o mundo acabará repentinamente, graças ao superaquecimento do sol, a agência explica que "a Terra existe há mais de 4 bilhões de anos e passarão muitos anos antes do Sol tornar nosso planeta inabitável”. Contra a probabilidade de que um asteróide ou algo parecido se chocar com a Terra, o centista explica que "não há asteroides tão grandes perto de nosso planeta como o que exterminou os dinossauros". E assim prossegue matéria, apresentando temores comuns e revelando sua escassa fundamentação cientifica.

Bem, tudo estaria redondinho se a argumentação da NASA não pecasse em dois aspectos: o mundo pode acabar não somente por razões de caráter cientificamente comprovável, mas também por hecatombes outras que nada têm a ver com as forças da natureza.

Podem ter certeza, por exemplo, de que a decisão do ator francês Gérard Depardieu de renegar a cidadania francesa e picar sua mula para a Bélgica foi a maior catástrofe política do governo Hollande. "O motivo da partida, que provocou polêmica na França, é o aumento de impostos sobre as grandes fortunas, medida adotada pelo governo socialista do presidente François Hollande - uma taxa de 75% sobre rendimentos superiores a € 1 milhão vigorará por dois anos", explica a notícia (http://oglobo.globo.com/mundo/exilio-de-depardieu-novo-reves-de-hollande-7080902). 

Como vocês podem ver, a razão para o fim do mundo na França não tem nada a ver nem com asteróides nem com pandemias virais. O máximo que se pode dizer é que a evasão de Depardieu lembra vagamente, pelo seu caráter conservador, o movimento da Contra Reforma, mas mesmo assim devo admitir que as razões históricas de um e outro evento são bem distintas.

O outro equívoco da NASA também não tem nada a ver com a fundamentação científica dos seus argumentos, mas com o público ao qual eles se destinam. Sou capaz de apostar meus óculos de grau que os arautos do Apocalipse maia estão pouco se lixando para as explicações científicas, sejam elas da NASA ou de qualquer outra autoridade governamental. Vir a público para tranquilizá-los é como  chover no molhado: tanto faz como tato fez, tanto antes pelo contrário.

E para os franceses, se isto não for o fim do mundo, então ele é o fim da França, pelo menos da forma como eles a conheceram. Certamente, terão de procurar outro ator para viver Obleix no cinema, já que o ator símbolo da nação francesa acaba de rasgar o passaporte para ir viver sua ficção de "nação" em outra freguesia. Pelo menos isso eles têm comum: assim como Depardieu, os gauleses eram bem avessos à tributação romana.

P.S.= Se o mundo vai acabar, eu não sei. Mas se acabar, este certamente será o primeiro fim do mundo blogado do começo ao fim!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Negativas

Como a iminência - fictícia ou real - do fim do mundo, nada mais oportuno do que colocar os pingos nos "is". Ou lenha na fogueira, como queiram. A hora é agora, porque se o mundo acabar mesmo, pelo menos fica o consolo de que você  não passou desta para melhor engasgado com as asneiras que vê pela frente todos os dias.

Pois bem, meus amigos, o fim do mundo não está próximo: ele já está aí, o tempo todo, do seu ladinho. Na verdade, o mundo já vem acabando a passos lentos há muito tempo. A prova cabal desta lenta degradação da existência feliz e livre de pré-concepções auto-limitadoras é a busca obsessiva por um padrão de beleza esteticamente impossível de se obter pelas vias naturais. Ou pior ainda: um padrão estético incompatível com a própria saúde física - o que em si já atesta uma certa descompensação mental e emocional.

Vejamos, pois, o motivo de tanto escárnio: senhoras e senhores, a bola da vez em termos de padrão de beleza - pasmem! - é um negócio que se chama "barriga negativa". "O que vem a ser: um abdome com curvatura invertida. Nesse corpo, os ossos do quadril e das costelas são mais proeminentes que a barriga" (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1198390-barriga-negativa-e-a-ultima-loucura-na-busca-do-corpo-perfeito.shtml).

Mas o que há de tão grotesco nisso - perguntariam as almas mais ingênuas - afora o fato de ser este um objetivo praticamente inalcançável pelos métodos "naturais" fornecidos pela Mãe Natureza (aliás, um pecadinho muito do venial aqui no País das Mil e Uma Plásticas)?

Bem, até os especialistas da área convergem neste ponto: nos dizeres do fisiologista do esporte Turíbio Leite de Barros, "não tem como inverter a curvatura do músculo. Para ter uma barriga côncava, a pessoa precisa perder, além de gordura, massa magra". Ou seja, a moda se apoia numa combinação de dietas e exercícios que acabam virando, no final das contas, uma anti-ginástica.

E tem mais gente endossando a conclusão de que a obsessão por esssa tal de barriga negativa constitui a mais deslavada burrice dos últimos tempos: "na opinião do educador físico Saturno de Almeida, é uma estética na contramão da saúde" e pode constituir um indicativo de anorexia.

Barrigas negativadas, cérebros idem. Para obtê-las será necessário expulsar seu amor próprio e pedir que ele não volte nunca mais. No final das contas, acabar com a barriga neste nível e com o mundo, é tudo parte de um processo só. E tenho dito: antes que o mundo acabe mesmo.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Autoridades

Com a aproximação do dia 21 de dezembro de 2012, o assunto acaba sendo inevitável na grande imprensa: o tão proclamado fim do mundo acontecerá realmente?

Conquanto a resposta possa relevar do entendimento individual de cada um, o "problema" do fim do fim do mundo começa agora a ganhar dimensões de histeria coletiva - a tal ponto que o jornal Folha de S. Paulo anunciou hoje uma ampla mobilização de diversas autoridades russas para conter os ânimos da população daqueles lados (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1198008-cidades-russas-entram-em-panico-com-aproximacao-do-fim-do-mundo.shtml).

Dentre a lista de autoridades citadas, encontram-se não só "o ministro responsável pelas situações de emergência da Rússia", como também o "médico que chefia a saúde pública da Rússia, uma alta autoridade da Igreja Ortodoxa Russa, pelos legisladores da Duma e por um ex-DJ da Sibéria que recentemente se destacou no programa de televisão 'Batalha de Médiuns' ". Isso mesmo, minha gente, foi isso mesmo que vocês leram: até um ex-DJ foi convocado para dar o seu pitarco.

Bem, cada país convoca as autoridades que mais estima. E cada autoridade aborda o "problema" do fim do mundo da forma que mais lhe convém: "Por sua vez, o Estado de Yucatán, no México, que tem uma grande população maia, encara com leveza o boato sobre o fim do mundo. O governo planeja um festival maia em 21 de dezembro e, para mostrar que tudo continuará bem após essa data, uma nova edição do festival está programada para 2013", prossegue a notícia.

Nem alarmismo russo, nem otimismo mexicano. Apesar disso, a população daqui da Roça Grande também já começou a ver o fim do mundo pela greta: "Uma forte chuva atingiu Belo Horizonte e Região Metropolitana deixando vários pontos de alagamento e pessoas ilhadas no final da tarde e início da noite desta segunda-feira (10)", relata notícia publicada no início da noite no jornal Hoje em Dia (http://www.hojeemdia.com.br/minas/chuva-forte-deixa-varios-pontos-alagados-e-pessoas-ilhadas-em-bh-1.66600). 

Catástrofes (anunciadas ou sofridas) à parte, há pelo menos uma diferença básica que nos separa dos russos e dos mexicanos: se depender da pró-atividade das autoridades locais para nos preparar para o fim do mundo, esperaremos o fim do próximo ciclo de 5.125 anos do Calendário Maia.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Longevos

Não deu outra! A tão esperada morte de Oscar Niemeyer, aos seus 104 anos de idade, ganhou as manchetes da imprensa nacional ao final do dia de hoje. Em contrapartida, a morte do ícone do jazz americano, Dave Brubeck, na véspera de completar 92 anos, ganhou uma projeção um pouco mais modesta por aqui.

Não cabe aqui discutir se uma estrela merecia, de fato, mais atenção do que a outra. Aliás, acho péssima a ideia de que quando uma pessoa morre, ela vira estrela. Na verdade, o adágio cria uma situação muito desconfortável para as estrelas maiores que, em função do seu porte, tendem a se tornar um buraco negro ao se apagarem. E buraco negro, como todos sabemos, carrega consigo tudo o que está no seu entorno, inclusive a luz.

Bobagem! Iluminados que eram, não careceriam nunca de levar consigo a luz alheia. Pelo contrário, deixam para trás pérolas de iluminação. De Niemeyer vem humildade resignada: "a vida é mais importante que a arquitetura" (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1183366-a-vida-e-mais-importante-do-que-a-arquitetura-escreveu-oscar-niemeyer.shtml). De Brubeck, a crença em um código capaz de transcender as barreiras humanas: "Não entendo russo, mas entendo linguagem corporal", teria dito o músico ao ver o ex-presidente Mikhail Gorbachev tamborilar os pés ao ritmo da música (http://oglobo.globo.com/cultura/morre-musico-de-jazz-dave-brubeck-6937638).

Numa noite tão estrelada, nada melhor que lembrar que as estrelas podem até morrer. Mas os mitos... ah, estes, sim, são imortais!


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Legumes chineses

Legumes chineses plantados em Marte: quanto você pagaria por eles?

Bem, se nunca pensou nisso porque simplesmente achava que era improvável que se plantasse algo de bom em Marte, é bom começar a colocar o capacete espacial na sua sacola de feira.

De acordo com a agência de notícias estatal chinesa, "os astronautas chineses poderão no futuro cultivar legumes em Marte e na Lua, de acordo com o sucesso de uma experiência científica preliminar realizada em Pequim" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/chineses-querem-plantar-legumes-em-marte-1.63955).

De acordo com informação divulgada pela agência de notícias oficial chinesa em nota publicada hoje pelo jornal Hoje em Dia online, "quatro tipos diferentes de vegetais" cresceram em "um espaço de 300 m3 destinado a permitir que os astronautas produzam as próprias reservas de ar, água e alimentos durante as missões fora da atmosfera".

Mas ainda segundo a agência estatal de notícias, "a China aspira ser o primeiro país asiático a chegar à Lua". Certamente, o fato de existirem poucos obervadores da Human Rights Watch de plantão nesse ponto reforça ainda o caráter estratégico do empreendimento. Aliás, nada mais própício para os novos ares de transição democrática na China do que uma colônia pena no lado obscuro da Lua.

Infelizmente, não foram informadas as variedades de legumes produzidas no chamado "dispositivo de ecossistema artificial". Que pena! E boa noite para quem fica!

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Marés vermelhas

Paisagens mudam, todos sabemos. Mas algumas mudanças são mais impactantes do que outras.

De acordo com notícia publicada no jornal Folha de S. Paulo, hoje foi o terceiro dia em que a costa leste da Austrália presenciou um estranho fenômeno: "uma maré vermelha" que "se espalhou pela costa leste da Austrália e causou a interdição de diversas praias próximas a Sydney" (http://f5.folha.uol.com.br/estranho/1193079-mare-vermelha-se-espalha-pela-costa-leste-da-australia.shtml).

O fenômeno, que deixa a água do mar com coloração sanguínea, seria atribuído a um protista de nome Noctiluca scintillans. "Este organismo libera amônia que pode causar irritações na pele, por isso, banhistas são recomendados a evitar o contato com a 'maré vermelha' ", explica a notícia.

Além do efeitos negativos sobre a pele humana, a rápida proliferação da Noctiluca scintillans -atribuída supostamente a mudanças circunstanciais como "um aumento súbito na temperatura da água e uma grande umidade na atmosfera" - poderia inclusive causar "a morte de peixes na região".

Sem perder o pouco de humor que me resta - e já de olho nas milhares de narrativas espraiadas aos quatro ventos sobre um suposto fim do mundo - gostaria de lembrar que há várias formas possíveis de se abordar e narrar um evento, tendo em vista o perfil psicológico do narrrador. As supostas causas da coloração vermelha do mar na Austrália certamente variariam de acordo com predisposições individuais do responsável pela transmissão da notícia.

Por exemplo, fosse o evento narrado por um alcóolatra, ele certamente preferiria acreditar que o mar da Austrália estivesse mudando da água para o vinho. Aos olhos dos valentões, tudo não passaria de briga de macho: quiçás, os verdadeiros culpados seriam o peixe-espada e o peixe-martelo, mortalmente feridos em briga por ciúmes de uma estrela-do-mar. Já as leitoras de revistas de fofocas estariam ávidas por uma entrevista picante e exclusiva com o grupo de orcas ninfomaníacas, de apetite insaciável, responsável pela súbita mudança de coloração da água.

Bem, melhor parar por aqui, por total falta de inspiração. Claro, não sem antes esclarecer que, segundo a notícia real, "amostras estão em análise para estabelecer as causas da rápida proliferação do fenômeno." Que elas fiquem prontas logo, por favor, de preferência antes do fim do mundo e da morte da narrativa.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Pégaso

Minha gente, quem avisa amigo é: este ano de 2012 pede cuidados e atenção redobrada aos detalhes.

Sabe aquelas coisas que você vive pedindo que caiam do céu em sua vida? Pois bem: em um ano maluco como este, existe alguma chance consistente de que a coisa realmente caia... e dos lugares mais inusitados!

Não, não é exagero meu. A notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online só vem a reforçar a opinião que toda atenção é pouca em ano de fechamento de ciclo do calendário maia: "Um cavalo morreu depois de cair dentro de uma casa, no bairro Jardim dos Comerciários, em Venda Nova, na noite desta quarta-feira", relata a notícia (http://www.hojeemdia.com.br/minas/cavalo-morre-ao-cais-dentro-de-casa-em-venda-nova-1.62077).

Nesta altura do campeonato, vocês devem estar se perguntando como - cargas d'água! - esse cavalo foi parar no telhado. Ao que responde singelamente a notícia: "De acordo com o Corpo de Bombeiros, o animal teria subido no telhado da residência, que fica no mesmo nível do terreno, antes de cair. Com o peso dele, a telha quebrou e o cavalo caiu num cômodo em construção, não resistindo aos ferimentos e morrendo".

Réquiem para o cavalo, coitado. Se ele não tivesse morrido com a queda, certamente teria morrido de susto. Ao contrário da figura mitica alada, este pobre arremedo de Pégaso não sabe o que é imortalidade, e nem tampouco poderá pleitear o papel de rena na próxima seleção de atores para o Natal do seu shopping center.

Descanse em paz, cavalinho, que 2012 já está acabando!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A Comores, com flores

Ok, seu dia foi duro. O meu também.

A impressão que dá, quando se chega ao final de dias assim, é que tudo esteve fora de lugar. E como a sucessão natural dos fatos começa a desafiar qualquer entendimento racional, a melhor coisa a fazer é tentar sair dessa lama existencial, tentando colocar a culpa na lua. Sim, culpa na lua cheia, que resolveu aprontar das suas por detrás das nuvens, deixando os motoristas da Roça Grande ainda mais insanos e as maternidades abarrotadas.

De certo, há algo na inconstância da lua que me intriga. É que além de mudar várias vezes de fases durante o mês, ela ainda se dá ao luxo de distribuir milagres ao seu bel prazer, seguindo contingências que ela só ela conhece.

Pois sendo assim, por um motivo ou por outro - não se sabe ao certo - a lua quis que tudo hoje fosse flores nas Ilhas Comores! A razão é simples: "Um avião caiu nesta terça-feira no oceano Índico, perto das Ilhas Comores, após sofrer problemas mecânicos, mas todas as 29 pessoas a bordo sobreviveram", relata notícia publicada no jornal O Globo online. (http://oglobo.globo.com/mundo/aviao-cai-perto-de-ilhas-comores-todos-bordo-sobrevivem-6850444#ixzz2DThYxdlo).

Bom, como nem tudo pode ser só flores o tempo todo - nem nas Ilhas Comores - bastou descer mais uma linha na dita notícia para descobrir que: 1) a queda do avião aconteceu supostamente em razão de vazamento de combustível; 2) o avião em questão era da Embraer.

"O jato Embraer caiu a 200 metros do aeroporto de Moroni, cinco minutos após decolar nesta manhã, de acordo com autoridades". Voltamos, pois, à estaca zero: como explicar que 25 passageiros e quatro tripulantes tenham sobrevivido à queda de um avião da Embraer? Desafiando a ordem natural das coisas, sobreviveram todos. Mas a dúvida persiste: a lua cheia tem mistérios que certamente nem a própria lua entende!
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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Contagem regressiva

Ainda há pouco, li na rede social Facebook, o comentário de um amigo que pedia, em plena 2a feira, para a semana terminar logo!

Mas não é que este ano de 2012 realmente passou rápido, apesar de ter acontecido de tudo e mais um pouco? Pois cá estamos nós a praticamente um mês do dia 21 de dezembro, uma data ambiavelente que marca  tanto o solstício de verão no hemisfério sul (coisa que acontece, via de regra, todos os anos), como também o fim de uma longa era de 5.200 anos de duração (se nos fiarmos no calendário maia).

Bem, 2012 pode não ter sido o ano mais ameno da sua vida, mas você pelo menos há de convir que este foi - ou melhor, está sendo - um ano que soube realmente manter o suspense em alta. Aliás, não só o suspense, como a pressão arterial de alguns mais suscetíveis às oscilações de humor dos deuses maias. Pois bem: parece que o descontentamente anda não só entre os deuses maias, como também entre seus atuais descendentes que vivem no México, na Guatemala, Belize, Honduras e El Salvador.

Segundo notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online, "o afã mercantilista fez com que grupos indígenas acusassem governos e empresários de comercializar e corromper o sentido de mudança de ciclo, aplicando o que o líder indígena Álvaro Pop qualificou como uma interpretação ao estilo de Hollywood" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/maias-e-a-contagem-regressiva-para-o-fim-de-uma-era-1.60966).

Na Guatemala, por exemplo "espera-se que o 'fim do mundo maia' atraia 8% mais turistas" por meio de distintas atividades distribuídas em "13 sítios arqueológicos ou turísticos". Mas o ápice do evento será realmente no dia do tão esperado solstício: "Ao amanhecer de 21 de dezembro, Tikal, que foi uma das mais poderosas cidades maias, será cenário de uma cerimônia com a presença do presidente Otto Pérez, com previsão de transmissão via satélite".

Via satélite, do quintal dos maias para o mundo: quem viver, verá. Quanto a mim, mal estou dando conta de terminar o dia, quiça uma longa era de 5.200 anos. Vou deixar isto para os maias mais experientes. E para você, que ficou acordado lendo isto, espero que seu dia acabe, serena e tranquilamente, sem pirotecnia nem transmissão via satélite.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Luvas brancas

Tato, este sentido supremo, é capaz de tecer fios invisíveis, unindo o coração de quem toca ao objeto tocado. Tocar é um passo necessário para a consumação do amor. É que as pontas dos dedos têm razões que até a razão duvida.

Mas há quem pense diferente. Esta notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online prevê um tipo de "mediação" inusitado entre o ser tocante e o objeto tocado: "Hoje a noite quem visitar o museu da BMW em Munique (Alemanha) poderá tocar nos carros. Desde que use luvas, o público estará livre para acariciar as raridades" (http://classificados.folha.uol.com.br/veiculos/1190194-visitante-pode-tocar-carros-do-museu-da-bmw-com-luvas.shtml).

Denominado de Night of the White Gloves, o evento está experimentando a sua quinta edição. Para quem não sabe, "o museu conta os 95 anos de história da marca e tem 125 carros." E antes que alguém reclame das luvas, é melhor ir se conformando: a regra por lá é pegar (com luvas) ou largar, pois, "nos demais dias de funcionamento é proibido tocar nos carros. Com ou sem luvas."

Bom, certamente muitos estarão felizes só de experimentar este amor mediado e semi-tátil. Normal para quem começou a amar depois do advento do HIV. Estranho para gerações pregressas, talvez. Então, já que é assim, acabo de mudar de ideia: melhor com luvas, do que simplesmente não tocar.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Pré-Natal

Todo final de ano, o ritual se repete: correria desenfreada, ruas cheias, chuva fora de hora, trânsito caótico. Este período que antecede o Natal é tanto mais complexo quando se percebe que o pré-natal deveria ser um momento de gestação da vida. Mas não! Nessa época, tem-se justamente a impressão oposta: está todo mundo correndo como se estivesse pela hora da morte.

A prova mais cabal deste estado de espírito - nada natalino, por sinal - é que os bebês de hoje já estão cansados de antes de virem ao mundo. Pelo menos, é o que sugere notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online. "Os seres humanos adquirem a capacidade de bocejar ainda na barriga da mãe, indica um estudo publicado na revista científica de acesso livre 'PLoS ONE' " (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1189189-fetos-sao-capazes-de-bocejar-afirma-pesquisa-britanica.shtml).

Realizada por pesquisadores da Universidade de Durham e da Universidade de Lancaster (RU), a descoberta "foi feita usando a tecnologia 4D, um tipo de ultrassom que permite ver detalhes tridimensionais dos fetos em tempo real". Foram analisados 15 fetos em diferentes fases do pré-natal, entre a 24ª e a 36ª semana de gestação.

Isto posto, só me resta desejar aos meus leitores insones um "pré-natal" mais sereno e mais pleno de vitalidade, porque para mim, já deu.  Estou igual a esses fetos: só bocejando!

Bombinhas

Ironias deste ano de 2012: enquanto a Secretária de Estado Hillary Clinton e o chanceler egípcio Mohamed Kamel Amr anunciam o cessar-fogo na Faixa de Gaza (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/palestinos-e-israelenses-chegam-a-acordo-sobre-cessar-fogo-1.59419), mais de um terço dos jovens dos EUA tomam bomba.

As bombas, contudo, não se referem aqui a artefatos bélicos ou à reprovação escolar. O título da matéria publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online explica bem o tipo de "bomba" que se quer desarmar: "Mais de um terço dos jovens nos EUA toma suplemento para aumentar músculos" (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1188275-mais-de-um-terco-dos-jovens-nos-eua-toma-suplemento-para-aumentar-musculos.shtml).

Os dados andaram deixando os pediatras e psiquiatras de cabelo em pé: "Num estudo publicado na revista médica 'Pediatrics', mais de 40% dos adolescentes (dos 12 aos 18 anos, aproximadamente) disseram que malham regularmente para aumentar sua massa muscular. Trinta e oito por cento deles disseram que tomam suplementos de proteínas. Quase 6% revelaram já ter tomado esteroides". Impressionante, mas incrivelmente verossímel para a realidade brasileira.

Segundo Harrison Pope, professor de psiquiatria em Harvard, o elevado consumo de suplementos revela mudanças profundas relacionadas com a imagem corporal masculina nos últimos 30 anos. O problema é querer acelerar quimicamente algo que somente a genética poderia presentear. Resultado: "os esteroides anabólicos trazem perigo para jovens cujo corpo ainda está em desenvolvimento", pois, além de interromperem "a produção de testosterona no homem", acabam "levando a problemas terríveis de abstinência quando rapazes ainda em crescimento tentam parar de tomá-los".

Hipertrofia do lado de fora, atrofia do lado de dentro: um corpo bombado não é, necessariamente, um corpo mais afetivo. E de todos os músculos do corpo humano, o miocárdio - aquele que faz seu coração bater - é o mais cético quanto aos efeitos dos esteróides anabolizantes: quando não há espaço para sentimentos puros e genuínos, ele prefere a morte súbita à uma vida de ilusões. E como diria Alceu Valença: " e a gente se ilude, dizendo 'já não há mais coração' ".







terça-feira, 20 de novembro de 2012

Saudades da Aurora

O tema é cercado de tabus, mistérios e receios, mas nunca não deixa de mobilizar a curiosidade alheia...

Pois bem, se você morre de vontade de saber quando será a sua derradeira hora... então, de fato, chegou a sua hora - se não de passar desta para melhor, pelo menos de saber que o provável horário da sua morte está determinado geneticamente em você.

De acordo com notícia publicada no jornal O Globo online, "pesquisadores da Beth Israel Deaconess Medical Center (BIDMC), dos Estados Unidos, descobriram uma variação genética que afeta o relógio biológico do corpo humano de uma maneira que torna possível prever a hora do dia em que uma pessoa está mais propensa a morrer" (http://oglobo.globo.com/saude/gene-preve-hora-do-dia-em-que-pessoas-tendem-morrer-6770800#ixzz2CoTWD5Yy).
A notícia relata que, após analisarem o padrão de sono de 1.200 adultos saudáveis com 65 anos idade, os pesquisaadores conseguiram isolar uma molécula próxima a gene específico - o "period 1" - em grupos com comportamento de sono distintos. "Os resultados mostraram que pessoas com genótipos específicos tendem a morrer em horários também específicos, facilmente identificáveis", conclui a notícia.

Segundo o autor da pesquisa, Andrew Lim, a motivação genética para a morte estaria relacionada com o nosso relógio biológico interno, que "regula vários aspectos da biologia e do comportamento humano, tais como horários de sono preferidos, pico de desempenho cognitivo, e a duração de muitos processos fisiológicos". Dito de outra forma, significa dizer que o relógio biológico "também influencia o calendário de problemas agudos de saúde como derrame e ataque cardíaco."

Resta saber, claro, se a molécula dá uma forcinha para descobrir os horários prováveis para se morrer de de bala perdida (ou bem achada) e acidente de automóvel, isto é, de outras causas que não são geneticamente influenciadas, como o câncer e o acidente vascular cerebral.

Enfim, se esta determinação for um dia realmente possível, de uma coisa a gente já pode ter certeza: aquele sambinha vai perder totalmente a sua razão de ser: "Sei que vou morrer/ não sei a hora/ levarei saudades da Aurora".

Invertidas

Assistindo estarrecida ao ataque à Faixa de Gaza, não pude evitar a ideia de que 2012 será certamente conhecido como "o ano que deixou nossas vidas de pernas para o ar". Apostando nesta constatação, conquanto de maneira humorística, o jornal  Hoje em Dia online conseguiu alanvacar duas variações sobre o mesmo tema: a bizarrice das coisas invertidas.

Em primeiro plano, está a notícia sobre a casa construída em 2006 pelo empresário polonês Daniel Czapiewski (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/casa-de-cabeca-para-baixo-e-contra-injusticas-do-mundo-1.58300). A foto confirma para os leitores incautos que, por ventura, vierem a ler a notícia: a casa de Czapiewski  foi construída de cabeça baixo, de modo que "os móveis da residência também estão em posição invertida, o que aguça a curiosidade de quem entra na residência".

A curiosidade despertada, no entanto, não deve ter um fim em si mesma: "a ideia é transformar a atração em um símbolo de todas a injustiças contra a humanidade", já que nela se encontra "uma exposição de pinturas polacas que ilustram temas como pobreza, terrorismo, desastres naturais, guerra, comunismo e fascismo".

Também achando graça em ver inveertida a posição das coisas ordinárias está a canadense Hana Pesut, que decidiu "transformar fotos divertidas em livro" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/imagens-de-casais-invertidos-v-o-virar-livro-1.58365). A peculiaridade da iniciativa da canadense reside no fato de que as fotos foam cedidas gentilmente por casais de internautas que toparam tirar fotos, lado a lado, em duas situações distintas: primeiro, cada qual com sua própria roupa; em seguida, cada qual com a roupa do companheiro(a).

Uma pena, no entanto, a notícia em questão terminar abruptamente, com uma frase pela metade, evidenciando o descuido do repórter responsável. O máximo que ficamos sabendo é que, "chamada de 'Switcheroo', a iniciativa ficou famosa na web".

Na falta de elementos adicionais, cabem apenas elocubrações: e se o "experimento" de Pesut tivesse um sentido mais político? Mas caso a autora ainda não tenha pensado nessa possibilidade, fica aqui a minha sugestão: inverter, em suas fotos, casais que representem credos, cores, nacionalidades, religiões e filiações políticas rivais.

Bem, talvez faltem fotos suficientes que justifiquem uma extensa coletânea. Mas o exercício de reflexão não deixa de ser válido. Afinal, de onde vem a empatia senão do esforço de tentar se colocar - humilde e humanamente - na posição ocupada pelo outro?  

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Muitas pernas

Pernas, para que te quero?

Perdão pelo trocadilho, mas a pergunta é tão antiga quanto andar para frente. Mas foi a esta mesma pergunta que o Illacme plenipes, espécie que os cientistas acreditam ser aquela que possui o maior número de pernas no reino animal, achou um jeito muito próprio de responder (http://f5.folha.uol.com.br/estranho/1186068-cientistas-revelam-segredos-de-criatura-de-3-cm-e-750-pernas.shtml).

"Apesar de medir em média somente três centímetros de comprimento, o Illacme plenipes é o animal com o maior número de pernas do mundo, chegando a ter 750 membros", relata notícia publicada no jornal Folha de S. Paulo online.

O motivo para tanta perna? De acordo com o cientista Paul Marek, da Universidade do Arizona, "a grande quantidade é uma adaptação ao estilo de vida subterrâneo, já que a espécie mora a cerca de 10 a 15 centímetros de baixo da terra".

Sim, são muitas as pernas. Mas neste feriado em que o trabalho extra e a chuva deram as mãos e saíram cantarolando pelo dia afora, fico eu aqui pensando no que faria se tivesse 750 membros como Illacme plenipes. Nem precisei gastar minha imaginação: simplesmente dividiria os 750 membros por dois e obteria 375 pares de pernas. Daí, escolheria 375 destinações nesse mundão sem porteira. Cada par de pernas teria cumpriria sua missão diplomática de levar os demais sentidos aos mais longínquos recôncavos desse que Zé Ramalho chamou de "asteroide pequeno que todos chamam de Terra".

Bem, certamente minha missão diplomática iria requerer menos adaptação ao estilo de vida subterrâneo do que para o Illacme plenipes. Além, claro, da preocupação adicional de coordenar todas as pernas e suas diferentes destinações. Mas isso eu tiro de letra! Difícil vai ser calçar todos estes pés com tênis de trekking impermeáveis.

Taí uma boa campanha para o meu próximo Natal... Prometo pensar seriamente no assunto.

Excepcionalidades

O que confere valor às coisas é seu teor de excepcionalidade. Mas valor não é preço, apesar de muitos acreditarem piamente nesta equação.

Por exemplo, um diamante indiano raríssimo, de alto teor de pureza, acaba de ser leiloado por preço recorde: US$ 21,47 milhões, o equivalente a aproximadamente R$ 42 milhões (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/diamante-indiano-e-leiloado-pelo-preco-recorde-de-r-42-milh-es-1.56626).

Apelidado de "Archduke Joseph", o diamante é "de cor D, o branco mais puro, um recorde mundial para um diamante procedente das minas de Golconda, na Índia", relata a notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online. "Do tamanho de uma peça de dominó", o diamante tem preço, mas é de um valor inestimável: "as minas de diamantes de Golconda foram fechadas depois que suas reservas foram esgotadas".

Já escutar a música "Cambia todo cambia", na voz de Mercedes Sosa, é totalmente gratuito no Youtube. É gratuito, mas não tem preço. O valor? O mesmo do "Archduke Joseph": inestimável!

Joia rara que fala de mudanças, a canção de Sosa é um lenitivo para almas "de cor D".

Sirvam-se sem moderação!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Os nobres e seus brioches

Hoje, uma amiga indignada compartilhou uma espécie de comentário-denúncia lá no seu perfil do Facebook, solicitando que eu escrevesse algo a respeito do tema em questão. O tal comentário fazia alarde de algumas mal-traçadas linhas atribuídas, em princípio, a um suposto jornalista que atende pela alcunha de Walter Navarro, supostamente articulista do jornal O Tempo.

Bem, se as informações que lhe estão sendo atribuídas forem verídicas, as tais linhas foram, realmente, muito mal-traçadas. Elas são de um racismo tão escancarado, de uma irresponsabilidade tão absurda e de um etnocentrismo tão mal-ajambrado, que nem perderei meu tempo reproduzindo aqui mais do que um único comentário: "Os guaranis kaiowá não passam de recolhedores de mel no meio do mato. É o povo mais primitivo do mundo, nem chegou à Idade da Pedra", teria dito o nobre senhor.

Isso mesmo, quis dizer "nobre" senhor. No sentido mais rasteiro da palavra, "nobreza" é uma distinção por linhagem - conquanto alguns exemplos históricos tenham demonstrado que ela também pudesse ser comprada ou negociada por vias matrimoniais. Pois bem: em seu sentido menos nobre, "nobreza" significa atribuição de privilégios e status a quem teve a "sorte" de nascer do lado de lá da linha de distinção que separa os afortunados dos infelizes.

O problema é que, em uma perspectiva propriamente moderna, emancipatória e igualitária, a "nobreza" é um retrocesso nas relações humanas, visto que ela legitima a opressão e a exploração de um grupo sobre o outro, com base em status atribuído ao nascimento. Portanto, seguindo esta ordem de pensamento, se os Guarani-Kaiwovás são supostamente da "Idade da Pedra", como afirma o "nobre" senhor, então este último é filho autêntico do Antigo Regime, amigo íntimo de Maria Antonieta, e tão mal-informado sobre o conceito de sociedade pluralista que só a guilhotina dos jacobinos daria jeito na coisa.

Mas devo confessar que minha maior frustração foi ter clicado no link que supostamente me levaria ao texto supracitado (http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=20331%2COTE) e me deparado com uma lista de colunistas da qual o nome do "nobre" senhor prima pela ausência. Uma pena, devo insistir! Queria ter aprofundado minha exegese do texto do "nobre" senhor e fiquei a ver navios. Se bem que, a julgar pelas "amostras-grátis" que são oferecidas no tal comentário-denúncia, não me surpreenderia se me deparasse com uma frase do tipo: "se não tem pão, que comam brioches", a exemplo da louca Antonieta.

Quanto ao jornal O Tempo, só me resta lamentar que este veículo esteja se tornando uma espécie de filial de Klu Klux Klan, instalada no coração dos preconceitos da Roça Grande.

P.S.= Em tempo: li, após a publicação deste comentário, que o autor da pérola "Índio bom é índio morto" teria sido despedido horas depois desse crime de lesa-pátria. Pois se é assim, então lá vai: jornalista irresponsável "bom", é jornalista irresponsável decapitado! Tomou, papudo!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Carcaça

Com tanta coisa louca e sem sentido acontecendo neste ano de 2012, há espaço para todo tipo de evento e - consequentemente - para todo tipo de conjectura.

Pois bem: hoje, 2a feira brava, dia atípico para os grandes engarrafamentos, acabou sendo um dia em que o caos andou de mãos dadas com o trânsito da Roça Grande. Mas não falo de um caos qualquer, falo do caos elevado à enésima potência. Só que sem motivo aparente!
Isto é, "nada" excetuando o fato de estarmos a apenas cinco semanas do Natal, da correria, da loucura, da luta das sombrinhas por espaço na rua lotada, das lojas entupidas, do estoque esgotado, do ônibus demorado, dos encontros desencontrados, pois ninguém consegue chegar a lugar nenhum no horário desejado.

Já ia terminar o dia assim, perplexa diante do imponderável, quando dei de cara com uma notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online. Ela me deu um vislumbre de explicação para tanto caos em dia insuspeito. Sim, talvez seja isto: uma carreta carregando uma carcaça de baleia passou em plena hora do rush. "Motoristas ficaram chocados ao observarem uma baleia enorme e podre passando, na hora do rush, sobre uma enorme carreta" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/carcaca-de-baleia-e-transportada-em-carreta-na-hora-do-rush-1.56046).

E vocês hão de perguntar: por que uma carcaça de uma baleia em plena hora do rush? Ora, uma coisa de cada vez! Em primeiro lugar, nem se sabe ao certo o porquê da baleia ter virado carcaça: "especialistas disseram que a baleia pode ter sido atacada por tubarões brancos que teriam arrancado várias partes de seu corpo. Mas a causa da morte do animal ainda não está totalmente esclarecida."

Em segundo lugar, vocês hão de convir que somente o desfile póstumo de uma baleia na hora do rush para explicar tamanho congestionamento na capital mineira... Bem, a única ressalva que eu faria é que o dito desfile aconteceu em outro continente: "Segundo o jornal 'The Sun', o mamífero foi levado de Capricorn Beach, na Cidade do Cabo, África do Sul, até a chegada dos responsáveis por mover o animal".

Tudo bem, também sei que vocês hão de protestar contra a precariedade das minhas hilações, já que um evento jamais poderia ter relação plausível com o outro. Mas, meus amigos, acordem! Estamos no estranho ano de 2012. E se tem uma coisa que todos estes eventos - a verdadeira causa da morte da baleia, o congestionamento na Roça Grande, a carreta desfilando na hora do rush na Cidade do Cabo - têm em comum, é o próprio fato de eles no colocarem face a face com o imponderável.

Bem, como nada mais parece fazer sentido neste estranho e surpreendente ano de 2012, eu hoje estou prefirindo ir dormir mais leve e sossegada, no embalo das explicações fáceis e superficiais. E se um evento não explica realmente o outro, para mim isto pouco importa. Vou guardar minha perplexidade para outros eventos de maior envergadura.

Quer saber? Melhor mesmo é ir dormir logo. Mais cinco minutos online e serei capaz de provar por A + B que a baleia morreu mesmo foi de enfarte com o trânsito caótico da Roça Grande.

Boa noite para quem fica!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Cadialina e outros refinamentos linguísticos

Para fechar a semana, nada melhor do que "cadialina 25mmg"!

Bem... seria cômico, se não fosse trágico. Mas fato é que um médico da cidade de Salvador teve o desplante de receitar este "santo" remédio à senhora Adriana Santos, de 33 anos(http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1183165-medico-que-receitou-cadeado-na-boca-para-mulher-emagrecer-e-afastado.shtmls).

Intrigada com o nome do suposto remédio, a paciente pergunta ao soutor onde poderia comprá-lo. Foi aí que médico em questão, dono de um refinamento linguístico digno de um animal de carga, mandou Adriana procurar um ferreiro e comprar 6 cadeados: " 'Um para a sua boca, outro para a geladeira, outro para o armário, outro para o freezer, outro para o congelador e outro para o cofre de casa', relatou ontem à Folha a mulher, que diz ter 1,53 m de altura e 100 kg".

Como se não bastasse a afronta verbal - afronta esta que foi devidamente registrada por escrito em formulário de receita médica - o doutor "Desplante" ainda foi capaz de se defender em entrevista à TV Itapoan, alegando que Adriana Santos "vive numa comunidade que não tem capacidade de abstrair as coisas".

Prezada Adriana, você deve um favor ao mundo: não abstraia! E não deixe de comprar um sétimo cadeado para trancar a boca do referido médico, para que nada parecido saia de lá.

Fechando os nossos trabalhos, 1, 2, 3... Ora de ir para a cama. Boa noite!

As Ilimitadas

Eu já ia quase acreditando, quando li que "num esforço para estimular a criatividade dos funcionários, reduzir a rotatividade e evitar o esgotamento, algumas empresas nos Estados Unidos estão oferecendo aos empregados o benefício máximo: férias ilimitadas" (http://oglobo.globo.com/emprego/empresas-lancam-mao-de-ferias-ilimitadas-para-estimular-funcionarios-6655782#ixzz2BgUL90bo).

Não, amigos, a coisa não é exatamente aquilo que parece ser. Quando, na matéria do O Globo online se diz que as férias são "ilimitadas", não se quer dizer que elas podem durar ad infinitum. E nem que irão superar em número de horas os dias trabalhados. A diretora de recursos humanos da empresa Red Frog Events, Stephanie Schroeder, dirigente de uma empresa que adota a política de férias ilimitadas, explica que "muitos de seus 80 empregados 'tiram a dois ou três dias aqui e ali' para recarregar as energias ou cumprir obrigações pessoais, tais como ir ao casamento de um amigo; mas ninguém abusou da política da empresa de férias ilimitadas".

Bem, antes que alguém solte um rojão, dizendo que a política de férias ilimitadas é um conto de fadas, é bom avisar que, na prática, a cinderela é meio banguela. Nos EUA, "a maioria das empresas oferece um período de férias fixo: o trabalhador americano mediano de tempo integral recebeu 2,6 semanas de férias no ano passado". Ou seja, ter férias dispersas no ano quando as empresas oferecem aos seus empregados uma média de 20 dias de férias é muito menos atraente do que pode parecer em princípio.

Além disso, ao contrário do Brasil, onde "são concedidos 30 dias de férias, que podem ser usufruídos integralmente ou divididos em dois períodos em algumas empresas", nos EUA não existe tempo mínimo de férias previsto por lei. Ou seja, o empregado fica muito mais à mercê do empregador do que aqui, em terras tupuniquins. Mas isso, claro, não está dito na matéria, que fala das tais férias ilimitadas como a grande novidade da vez.

Aliás, se for para jogar mais areia na farofa do leitor ávido de férias "ilimitadas", o depoimento de Jay Jamrog, vice-presidente sênior de pesquisas do Instituto para a Produtividade Empresarial, que a matéria traz é perfeito: ele "diz que o tempo de férias ilimitado é uma forma de baixo custo de ganhar a lealdade dos funcionários, e pode ajudar a compensar fatores como baixos salários, congelamento salarial ou perda de bonificações". Ou seja, quem ganha, mais uma vez, é o empregador, que continua pagando pouco e oferecendo quase nada.

Ah, claro. Só mais um adendo: o nome disso na matéria é outro e se chama "benefício máximo", pois "ao mostrar que confiam em seus funcionários, dizem os empregadores, acreditam estar cultivando uma cultura de confiança ainda mais profunda". No final das contas, rapaziada, fica claro que as  "férias ilimitadas" têm lá eus limites.

Como dizem aqui na Roça Grande: "vai que eu tô te vendo".

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Poesia na Terra do Fogo

Findo o dia, eis o que trago no peito.


O poema do Rodrigo Liboni:

"Ju
Um cheiro suave
Fortemente suave
Das terras de longe

Um toque nas profundesas da brasa
A leveza da chama trêmula
Que libera da madeira o cheiro suave

Fogo tatum
Fogo infinitum
Fogo momentum

Chama-me"


A canção "Firelands", de Tracey Hewatt:



E o sono que chega... Boa noite!

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Integral, uma pinoia!

É do tempo do onça o adágio, segundo o qual não se deve julgar pelas aparências. Agora, é sabido e notório que não se deve também julgar pelos rótulos... principalmente pelos rótulos de embalagem de pão integral.

Análise do órgão de defesa do consumidor, Proteste, revela que pão integral industrializado é que nem cabeça de bacalhau: dizem que existe, mas ninguém nunca viu de verdade. Ou melhor, de integral mesmo ele tem muito pouco: "Quatro entre sete marcas testadas têm mais farinha tradicional do que a não refinada na composição", relata notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1180530-teste-mostra-que-pao-integral-tem-mais-farinha-branca-do-que-nao-refinada.shtml).

"A análise mediu a quantidade de fibras dos produtos (todos tinham mais do que o indicado no rótulo) e avaliou a lista de ingredientes da embalagem que, por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, devem ser organizados em ordem decrescente de quantidade". O resultado revela que em 4 marcas, a farinha branca era o primeiro ingrediente da lista.

No frigir dos ovos, ficou evidente que as marcas se aproveitam da ausência de um marco regulatório claro que determine o que é um alimento "integral", isto é, "quanto de grãos não processados um alimento precisa ter para ser vendido como 'integral'?"

Na prática a resposta é outra: muita farinha branca com um amontoado de fibras. É... Estamos todos levando gato por lebre para casa. No caso, gato branco por lebre integral. 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Frasco pequeno

É verdade, a semana passada foi a semana dos recordes: de calor aqui, de chuva acolá, de mudanças para todo lado. Mas quero começar esta semana falando de um outro tipo de recorde. O recorde da insignificância!

Bem, não é todo dia que se consegue reverter uma desvantagem explícita em vantagem competitiva; e muito menos em vantagem premiada. Mas o exemplo da cadelinha  Meysi mostra que isto pode ser possível.

Nascida com apenas 45 gramas, "Meysi foi confundida com um pedaço de placenta na hora do nascimento e quase foi jogada no lixo" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/menor-que-um-copo-cadela-pode-entrar-para-o-livro-dos-recordes-1.53183). Como se isso não fosse material suficiente para vários anos de terapia em grupo, "a cachorrinha não pode ser alimentada pela mãe já que não conseguia disputar o leite com seus quatro irmãos, que eram três vezes maior que ela."

"Pouco maior que um hamster", ou seja, com apenas 250 gr distribuídos sobre exíguos 7 cm de altura por 12 cm de cumprimento, Meysi está a 9 meses de entrar para o Guinness World Record como a  menor cadela do mundo.

Com apenas 3 meses de idade, seu maior desafio por hora é sobreviver até completar um ano de vida, quando deverá passar por avaliação para saber se destrona ou não o Boo Hoo, um chihuahua do Kentucky (USA) que detém o recorde desde de 2007.

Melhores perfumes, piores venenos. Boo Hoo e Meysi provavelmente ainda não se conhecem, mas saberão, em um futuro não muito longíquo, que tamanho não pode até não ser documento... mas precisa ser bem documentado!



sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Provadia, Sal e Memória

Arqueólogos divulgam escavação daquela que está sendo considerada como a cidade mais antiga da Europa.

Localizado no sul da Bulgária, o sítio arqueológico da cidade de Provadia contém vestígios que, segundo testes de datação de carbono, remontam ao período "Calcolítico (Idade do Cobre) médio e tardio, entre 4.700 e 4.200 anos antes de Cristo" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/arqueologos-descobrem-na-bulgaria-cidade-pre-historica-mais-antiga-da-europa-1.52117).

Estima-se que o assentamento de casas, com local de culto e muros altos, tenha concentrado cerca de 350 pessoas. Além disso, "a área é rica em grandes depósitos de sal rochoso, uns dos maiores no sul da Europa e o único a ser explorado até o sexto milênio antes de Cristo", conforme explica Vasil Nikolov, pesquisador do Instituto Nacional de Arqueologia da Bulgária.

Há 7 mil anos atrás, o sal era tão precioso quanto o ouro "por ser necessário tanto para as vidas das pessoas e como um método de comércio e moeda". Os habitantes da região de Provadia provavelmente sabiam que o sal que conserva e preserva intactos não só os nutrientes dos alimentos, como também a fibras das memórias mais singelas e voláteis.

Sal, precioso sal. O mesmo sal que me trouxe à lembrança outras lembranças felizes de um passado que se foi e que teima em voltar em sonho.

O sal pode ter sido tão precioso quanto o ouro, mas, decididamente, nada se compara à prata dessa primavera de 2012.


"Silver Springs" - Fleetwood Mac - Fonte: http://youtu.be/rYwk8IE38PA

 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Destempero

O dia de hoje conheceu a quintessência do termo destempero, pelo menos no que se refere aos recordes meteorológicos.

Aqui na Roça Grande, os termômetros acusavam recorde de calor quando, por volta das 16h da tarde de hoje, mediram 37,1º C. De acordo com o site Climatempo, esta foi simplesmente a maior temperatura registrada na cidade desde que se começou a registrar oficialmente as temperaturas, em março de 1910 (http://www.climatempo.com.br/destaques/tag/belo-horizonte/).

Já lá em Nova Iorque, os recordes são outros: "A tempestade provocou um aumento do nível das águas de quase quatro metros no centro de Manhattan, bem acima do recorde anterior, de três metros, registrado na passagem do furacão Donna, em 1960, de acordo com o Serviço Nacional de Meteorologia" (http://oglobo.globo.com/mundo/inundacao-provocada-por-sandy-deixa-metro-de-ny-sem-circular-por-4-dias-6584839#ixzz2AvsDIH00).

No final das contas, é o ano de 2012 que não cansa de surpreender: quando você que ele rendeu tudo o que tinha que render, ele salta por cima dos termômetros e estatísticas, derrubando tudo no chão, estabanado como todo ano de intensa transformação.

Quer saber? Entre o calor daqui e as enchentes de lá, sou mais a solução do Lulu Santos: "não vá para Nova Iorque, amor, não vá/ Eu quero tudo com você/ Não vá..."



terça-feira, 30 de outubro de 2012

Terror e emagrecimento

Depois das "abelhas estetas", objeto do comentário de ontem, segue mais um capítulo da série "estudos irrelevantes, notícias descartáveis".

Cientistas da Universidade de Westminster tiveram a brilhante ideia de monitorar "os batimentos cardíacos, entrada de oxigênio e saída de dióxido de carbono de dez pessoas durante a exibição de clássicos do horror" (http://f5.folha.uol.com.br/humanos/1177741-assistir-a-filmes-de-terror-emagrece-diz-estudo.shtml).

A conclusão foi um "alento" para quem mora no País das Mil e uma Plásticas e anseia por emagracimento rápido, fácil, miraculoso e, de preferência, irreversível:"Na média, os participantes queimaram um terço a mais de calorias com o os filmes do que se estivessem encarando uma tela em branco", relata a notícia.

A razão para tanto é que "os filmes que mais ajudaram na hora de perder uns quilinhos foram aqueles que davam mais sustos, fazendo as batidas cardíacas aumentarem", explica. "Ou seja, eles queimaram por volta de 113 calorias em um filme de 90 minutos".

No entanto, a matéria adverte, para tristeza das malhadores de plantão: "o estudo não analisou se o efeito é potencializado caso o participante decida ver um filme de terror enquanto anda na esteira".

Por fim, para fechar com chave de ouro a lista de sandices, a notícia apresenta um pequeno ranking de calorias queimadas por filme. O ganhador? O Iluminado, com 184 calorias, seguido de Tubarão, com 161, e O Exorcista, com 158.

Objeções, meu caro Watson? Claro, óbvio! Vamos logo a elas:

1) Para início de conversa, ninguém vai nem ao cinema nem à academia para assistir a uma tela em branco; a coisa que mais se aproxima disso é a prática do zazen, meditação zen budista que consiste em se sentar diante de uma parede em branco para esvaziar a mente, mas não o corpo. Diante de tamanhas evidências, sou levada a crer que o grupo de controle que ficou diante da tela em branco só pode ter sido importado de outro planeta.

2) O estudo trabalha com uma amostragem "estatisticamente relevante" de 10 pessoas. Maravilha! Não me surpreenderia se os pesquisadores afirmassem, em uma coletiva de imprensa, que estudos clínicos randomizados, com amostragem aleatória e probabilística, devessem ser transformados em poeira cósmica.

3) Qual vantagem em queimar 113 calorias em 90 minutos de filme quando você leva menos de 10 segundos para ingerir a mesma quantidade com um copo de 200ml de suco de laranja?

4) Se um dia "relevância social" deixar de ser um critério válido para se avaliar a contribuição social das pesquisas, então eu sugiro que se introduza a informação calórica nas embalagens de DVDs e outras mídias de suporte audiovisual. Afinal, se não é relevante, para mim, para você ou para a sociedade, há de ser para alguém mais besta que nós todos juntos.

A obra

Se as abelhas podem, por que você não pode?

É o que dá a entender a notícia veiculada hoje no jornal Hoje em Dia online sobre pesquisa da Universidade de São Carlos em parceria com a australiana Universidade de Queensland que comprova a habilidade das abelhas de reconhecerem uma obra de arte (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/abelhas-conseguem-distinguir-obras-de-arte-aponta-pesquisa-1.50528).

Intitulada "Abelhas conseguem distinguir obra de arte, aponta pesquisa", a notícia tinha mais é que deixar de firula e propor logo algo como "A Obra de Arte na Era da Imbecilidade Técnica". Pois é assim que ela trata seu leitor potencial: "Um estudo realizado por cientistas do Brasil e da Austrália mostra que elas conseguem 'apreciar' obras diferentes, como o impressionismo de Monet ou uma pintura cubista do Picasso."

Claro que o termo "distinguir" aqui está sendo usado no seu sentido menos exigente: "No caso das abelhas, os pesquisadores isolaram um recipiente com açúcar atrás das pinturas, impedindo que os insetos sentissem o cheiro. Mesmo assim, eles conseguiram encontrar o alimento, por meio da associação às obras", relata a notícia.

Trocando em miúdos, graças a sua capacidade de processar informações visuais, as abelhas conseguiram chegar aonde queriam. Ótimo! Mas quem acreditou que as abelhas seriam capazes de fazer distinções estéticas elaboradas entre uma obra de arte "autêntica" e uma picaretagem estética qualquer, vai ficar a ver navios. Afinal, se a maior parte dos habitantes desta Roça Grande ainda não sabe distinguir nem "lá" de "cré", o que dirão as abelhas, que nunca foram credenciadas por nenhuma curadoria de arte.

Pois bem fazem elas ao se aterem à produção de mel: música açucarada anda dando muito mais Ibope do que música de câmara, por exemplo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O mordomo

O que seria da ficção literária e cinematrográfica sem a mítica figura do mordomo?

Não sei. Mas certamente as noites de sono do Papa Bento XVI  teriam sido muito mais tranquilas se o seu então mordomo, Paolo Gabriele, 46 anos, não houvesse decidido distribuir alguns "materiais sensíveis" de Sua Santidade para a imprensa italiana.

"Gabriele furtou vários documentos do pontífice e os repassou a um jornalista italiano, Pierluigi Nuzzi, que publicou um livro revelando as relações entre a Igreja e vários governos, além dos esforços de Bento XVI para abafar escândalos sexuais na ordem Legionários de Cristo", relata notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/ex-mordomo-do-papa-bento-xvi-comeca-a-cumprir-pena-1.49083).

Por essa "pequena indelicadeza", o ex-mordomo e candidato a penitenciário deverá começar a "cumprir nesta quinta-feira (25) sua sentença de 18 meses de prisão em uma cela dentro da Cidade do Vaticano".

Note-se bem que o Vaticano, um dos menores estados do mundo, tem todo o interesse em "acolher"  o ex-mordomo e, assim, mantê-lo bem pertinho da autoridade máxima da Igreja Católica Apostólica Romana: "A opção de Gabriele era ser enviado a uma penitenciária italiana, mas o Vaticano considerou isso arriscado, com medo que o ex-mordomo revelasse detalhes da intimidade papal ou segredos do Vaticano aos detentos", relata a notícia.

O adágio é preciso: "A culpa é sempre do mordomo". Mas ele não deixa de ser também parcial: alguém mais pode ser culpado nessa história. Pelo menos, desde o dia em que a omissão de socorro também passou a ser crime.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Sofá do amigão

O coreano Seungji Mun projetou um sofá sui generis: o "Dog House Sofa". Feito de madeira resistente e estofado de tecido, o projeto inclui compartimento para cachorro (http://classificados.folha.uol.com.br/imoveis/1174015-coreano-faz-sofa-com-compartimento-especial-para-cachorros.shtml).

Vale dizer que  a proximidade proporcionada pelo sofá entre o cão e o seu dono permite avaliar se ele (ou ela) é realmente seu(sua) melhor amigo(a).

Por exemplo:

Se você dorme, seu cão deve se deitar também.
Se você estica as pernas, ele deve abanar o rabo.
Se você cochila, ele deve se espreguiçar.
Se você liga na novela, ele deve fingir de morto.
Se você insitir no programa seguinte, ele deve desligar a TV e te trazer um bom livro.

Do contrário, o seu cão não é cão, nem muito menos seu melhor amigo: ele é o amigo da onça!

E tenho dito!

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A volta dos que não foram

Depois do funesto e ensandecedor local de pernoite descrito no comentário de ontem, é hora de comemorar a volta dos que não foram!

Dentre estes últimos está Gilberto Araújo Santos que apareceu - vivinho da Silva Araújo Santos - em seu próprio velório, diante do olhar estarrecido da sua família (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1173732-homem-dado-como-morto-aparece-em-seu-proprio-velorio-na-bahia.shtml).

A explicação é simples: "Gilberto foi confundido com um homem assassinado na noite de sábado (20)", explica a notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online. O problema é que "uma série de coincidências contribuiu para que nem a mãe nem a filha dele percebessem a confusão", prossegue a notícia.

A lista de coincidências é farta: "Os dois homens são muito parecidos fisicamente, trabalhavam em locais próximos lavando carros, não portavam documentos, viviam na rua e eram usuários de crack, segundo a polícia". Além de portar características físicas muito semelhantes, o verdadeiro falecido estava sem documentos, sem camisa, mas com uma "bermuda com estampa parecida com a que Gilberto costumava usar".

Conclusão: o corpo errado acabou sendo velado por 16h, isto é, das 18h de domingo às 10h da manhã de 2a feira. Avisado por um amigo que o viu passando no centro da cidade, Santos correu para seu próprio velório, mas acabou "feliz" por constatar que sua família o amava e se preocupou com ele. O saldo parece ter sido bem positivo, pois "hoje, um grande almoço foi organizado na casa para festejar a volta de quem não foi".

Também no mesmo espírito de celebrar a volta dos que não foram está o achado dos biólogos do Instituto Biotrópicos, que trabalham em parceria com o Instituto Estadual de Florestas (IEF) (http://www.hojeemdia.com.br/minas/cachorro-vinagre-da-as-caras-em-minas-depois-de-170-anos-1.48009). É que no dia 29 de setembro deste ano, os biólogos conseguiram capturar imagens de uma raríssima espécie de cachorro-do-mato dentro da área do Parque Estadual Veredas do Peruaçu, em Januária, no norte de Minas Gerais.

Declaro em vias de extinção, o Speothos venaticus, que é denominado popularmente de cachorro-vinagre, teve seu último relato de aparição realizado pelo biólogo dinamarquês Peter Lund, em Sete Lagoas, no ano de 1872. Desde então, achava-se que o cachorro-vinagre tinha virado vinagre nas terras do nosso estado.

Agora, graças às imagens capturadas por "câmeras com sensor de movimento estão espalhadas por mais de 50 pontos dos 30 mil hectares do parque desde 2005", o simpático cachorro-vinagre esta virando celebridade. Não se sabe ao certo, mas parece que eles também foram vistos organizando uma grande festa... só que, neste caso específico, é para celebrar sua aparição na TV local.

Ah, se eles tivessem um dia sonhado que se tornariam tão populares um dia, certamente não teriam demorado 170 anos para voltar!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O amor e dois coelhos

Seu amor anda esfriando? Então espere pela inauguração do mais criativo motel temático dos últimos tempos!

"O empresário australiano Hayden Pearce irá transformar um necrotério em um motel 'exótico' ", explica notícia publicada no jornal Hoje em Dia online (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/australiano-quer-transformar-necroterio-em-motel-exotico-1.47603).  "A ideia é transformar as instalações para autópsia e refrigeradores em quartos 'temáticos' ", prossegue a notícia.

Quer cenário melhor para enterrar de vez um relacionamento falido, um namoro que se arrasta, um casamento que não funciona mais?

Agora, se você acha que ainda é capaz de levar seu amor à loucura, saiba que lá também é o lugar ideal: "O edifício desabitado foi por mais de 10 anos o necrotério do hospital local psiquiátrico".

O caso não poderia terminar senão em uma sequência de piadinhas mórbidas: o empresário australiano acabou matando dois coelhos com uma cajadada só. Em seguida, mandou cremar ambos no necrotério. Mas se eles tivessem sobrevivido, certamente estariam loucos de amor um pelo outro!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Outras dimensões

Bem, esta 6a feira fechou uma semana de transformações, belas surpresas e muitos aprendizados.

Momento ímpar para agradecer pelo que tenho vivido e aprendido. Aho!

Bom fim de semana para quem fica.


Avós de Deméter

Vocês vão me desculpar, mas não consegui termo melhor para definir este senhor indiano que bateu duas vezes o record mundial de pai mais velho do mundo: porque se houver algum parentesco entre Deméter, a deusa grega da fertilidade, e Ramjit Raghav, de 96 anos, então este último seria o avô daquela (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/indiano-conquista-2-recorde-ao-ser-pai-aos-96-anos-1.46306).

Bem, pode ser que eu esteja enganada e que não conheça suficientemente a cosmologia hindu para atribuir qualquer relação de consanguineidade (real ou metafórica) entre ambos, mas o fato é realmente digno de menção: "Ramajit Raghav, habitante de Kharkhoda, um povoado pertinho de Nova Delhi, teve o segundo filho logo depois de completar quinze anos de união estável com sua esposa Shakuntala Devi, de 52".

Ou seja, antes que alguém se levante e clame pelo teste de DNA de ambos os filhos, uma coisa é certa: dar à luz aos 52 e 54 anos, respectivamente, é algo igualmente estarrecedor.

Porém, a matéria publicada no jornal Hoje em Dia online omite o mérito da sua esposa (seu nome é sequer citado pela fonte, o jornal britânico Daily Mail) e dá ênfase à virilidade do esposo, como se a fertilidade de ambos, e não apenas de um dos dois, fosse necessária para que a fecundação acontecesse: "atribui sua virilidade a um estilo de vida bem austero e uma dieta equilibrada. Ele disse que levanta-se todos os dias às 5 da manhã e vai dormir com as galinhas antes das 8 da noite".

Obviamente, o senhor Raghav levanta uma série de especulações sobre as origens de sua "produtividade longeva". Elas envolvem, basicamente, sua dieta diária: "moradores da localidade acreditam que o verdadeiro segredo seria o fato dele, durante sua juventude, foi lutador e costumava consumir até meio quilo de amêndoas em um dia, outro meio quilo de manteiga e até três litro de leite".

Qualquer que seja o segredo do ancião, uma coisa é certa: como a noite começa cedo para ele, foi necessário desenvolver um método muito especial para se manter na cama por tanto tempo: "Conforme o Daily Mail, Raghav diz manter relações sexuais com sua mulher pelo menos três vezes por noite".

Enfim, em tempos em que se discute a longevidade com a emergência de centenários e supercentenários (pessoas que vivem mais de 100 e 110 anos, respectivamente), uma coisa é certa: fosse aqui no nosso país, ele já estaria na praça vendendo seu segredo dentro de uma garrafada à base de catoaba  e - quiças! - prestes de ganhar seu primeiro milhão de reais.



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Gênesis da malandragem

Diz o livro do Gênesis que Deus, quando criou o mundo, trabalhou incessantemente durante seis dias e só descansou no sétimo. Uma vez terminada a criação do mundo, Ele avaliou o conjunto da obra, deu nota 10 para si mesmo e foi dormir, tranquilinho, o sono dos justos.

Côncios de que o Deus do Gênesis era único, nossos nobres deputados federais não dormem no ponto e fazem de tudo para não se parecerem com Ele. É que a Câmara dos Deputados, em um gesto de extrema humildade, aprovou na manhã de hoje, em Brasília, texto do regimento interno que reconhece que Deus é Deus e deputado é deputado.

Na verdade, o novo regimento da casa impede a realização de reuniões ordinárias às segundas e sextas-feiras: "As regras anteriores definiam que as reuniões ordinárias deveriam ser realizadas, em todos os dias úteis, de segunda a sexta-feira. O texto aprovado pelos deputados reduz a realização dessas sessões para as terças e quintas-feiras, iniciando-se a partir das 14h" (http://www1.folha.uol.com.br/poder/1170938-camara-altera-regimento-e-restringe-reunioes-ordinarias-para-tercas-e-quintas.shtml).

Para demarcar ainda mais as distinções entre o Criador e os deputados brasileiros, o presidente da Câmara, deputado Marco Maia, rebate a crítica do líder do PPS, Rubens Bueno, segundo a qual a nova regra institucionalizaria a "gazeta" dos deputados, com a seguinte pérola: "Se o deputado Rubens Bueno tivesse inteligência emocional, procuraria se informar sobre o funcionamento do Parlamento em outros países e descobriria que o Legislativo brasileiro é um dos poucos que funciona cinco dias por semana durante o ano todo".

Deputado brasileiro não é Deus, tá certo. Mas a estratégia dos deputados foi ainda mais sagaz do que pode parecer em princípio: não só a criação de leis ficará para sempre no atraso - visto que os dias efetivamente trabalhados serão insuficientes para dar conta do recado - como também o conjunto da obra jamais poderá ser avaliado.

Está decretado então: a Câmara dos Deputados é, a partir de hoje, uma casa que luta oficialmente contra a pirataria dos métodos de criação divinos.

Golpe de mestre, nobres deputados!

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O Gambá

O comentário de hoje foi redigido entre uma "pescada" e outra em cima do teclado, o que explica sua concisão...

Pois bem: em meio a toda a turbulência da CPI do Cachoeira, o Senado brasileiro ainda consegue alavancar uma visita especial: "Um gambá invadiu, na tarde desta terça-feira, o prédio do anexo I do Senado, onde ficam os gabinetes mais disputados pelos senadores, por serem maiores e com acesso mais reservado" (http://oglobo.globo.com/pais/gamba-invade-senado-e-capturado-pelos-brigadistas-6416422).

Pelo visto, o Senado prima por visitas ilustres aos seus gabinestes: "No início do ano, o Senado passou por uma desratização nas dependências da Secretaria Geral porque uma funcionária da Casa foi mordida por um rato. Na época, o departamento de zoonoses de Brasília foi acionado para uma varredura no local".

A presença do gambá é um convite a várias reflexões: 1) ela me faz pensar no quão afins podem ser as relações entre animais e seres humanos; 2) ela evoca a necessidade de novas varreduras, de forma a evitar o retorno do gambá; 3) ela nos convida a pensar sobre o próprio sentido da palavra "varredura".

Afinal de contas: o que é e para que serve uma varredura? Para localizar perigos, isolar áreas de risco, impedir que algum evento índesejável volte a ocorrer são algumas das respostas que nos vêm logo à mente. Mas por que varrer do mapa um animal que não faz mais do que seguir seu próprio instinto?

Assim sendo, minha sugestão é simples: paguemos uma soma indenizatória aos gambás pelo forte odor exalado nos corredores do Senado! E tenho dito...

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Regularidades e paradoxos

Nada de novo sob o sol nesta 2a feira. Ok, nada de novo é exagero. Muita coisa bonita e horripilante deve ter acontecido nas últimas 24h, muito embora os jornais do dia tenham preferido reverenciar a cíclica repetição dos eventos disruptivos.

Sim, foi isto mesmo que eu disse: repetição do incomum. Pode parecer paradoxal, mas não é. A grande imprensa precisa de eventos extraordinários para sobreviver no mercado. Mas os eventos noticiosos acabam se repetindo numa expiral ascendente da falta de assunto.

Querem um exemplo? Pois aí vai um. Lembram que eu falei, na 5a feira passada, de uma senhora idosa que tinha falecido por ter tido sopa injetada por engano na veia? Pois este último domingo, foi a vez uma aposentada de 80 anos falecer após receber café com leite na veia.

"Familiares da paciente registraram o caso na delegacia de polícia local. Eles disseram aos investigadores que dona Palmerina sofreu convulsões após receber a injeção e morreu quatro horas depois", relata matéria publicada no jornal Hoje em Dia online (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/aposentada-morre-apos-ter-cafe-com-leite-injetado-na-veia-1.45149).

Mas alguém com bom senso há de protestar, dizendo que a repetição não é obra dos jornais, mas da falência do sistema público de saúde: é ele quem rouba a cena, repetindo o mesmo erro fatal duas vezes. Ou três. Ou quatro. Ou quantas vezes forem necessárias para comprovar que o sistema anda mesmo falido, ora bolas.

Sim, é tudo verdade: o sistema faliu, o jornal se repete, e eu fico na rabeira do dois. Nada de novo sob este sol enganador. Que pena! O jeito vai ser dormir o sono dos justos, até que a próxima seita apocalíptica volte atrás e reconheça que o mundo ainda não acabou. Ha! Mais um paradoxo: as seitas apocalípticas fazem de tudo para não reconhecer que o mundo acaba um pouquinho todos os dias quando se trata do nosso sistema único de saúde.

Mas constatações desta ordem não vendem nada: nem lote no paraíso, nem jornal na 2a feira. Vale, quando muito, um comentário em algum blog periférico.

Que venha, então, a 3a feira - e com ela, alguma novidade que o valha.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

No sangue

Já dizia Jorge Benjor que "canja de galinha não faz mal a ninguém. Mas até na veia?

A tese é controversa, pois alguns entendem que não. Este é o caso desta senhora de 89 anos que "morreu após ter sopa injetada na veia por uma funcionária da Santa Casa de Barra Mansa, no interior do Rio de Janeiro" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1167136-aposentada-morre-apos-ter-sopa-injetada-na-veia-em-hospital-do-rj.shtml).

O mais formidável é o ceticismo do hospital diante da "forçosa" correlação feita pela família da vítima entre sua morte e a injeção de sopa: "A direção da Santa Casa reconheceu o erro da funcionária em entrevista à TV Globo, mas disse não acreditar que ele tenha relação com a convulsão, nem com a morte da paciente".

Quanto ao Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RJ), este resolveu apimentar a discussão, dizendo "que a unidade hospitalar já havia passado por uma fiscalização no dia 3 de agosto de 2012 junto com uma equipe Ministério Público, onde foram afastadas 36 pessoas que estavam no exercício ilegal da profissão". Maravilha! Este país é realmente o paraíso do improviso: na falta de enfermeiro qualificado, vai a cozinheira mesmo.

Euzinha aqui, que já cansei de ouvir a expressão "injeção de ânimo", fiquei ressabiada com o nível de literalidade da funcionária do hospital. Mas há sopas e Sopas. E se for para morrer intoxicada com uma, que pelo menos seja uma sopa de letrinhas: questão de facilitar a impressão do laudo do IML, caso a tinta ou o tonner da impressora tenham acabado.

Aliás, já que estamos falando de líquidos inoculados involuntariamente nas veias, talvez valesse a pena perguntar antes: o que você gostaria de ver correndo nas suas - além de sangue, claro. Bem, se eu pudesse escolher, escolheria manter meu sangue assim, bem latino. Nas veias abertas da América Latina, não seria certamente um sangue "nobre", mas um sangue que desdenha das respostas insanas como as deste hospital; um sangue que carregue em si o gene da indignação social de Eduardo Galeano - e que jorre de desprezo pelo abandono das instituições públicas de saúde. "E o que me importa é não estar vencido"...