UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: No sangue

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

No sangue

Já dizia Jorge Benjor que "canja de galinha não faz mal a ninguém. Mas até na veia?

A tese é controversa, pois alguns entendem que não. Este é o caso desta senhora de 89 anos que "morreu após ter sopa injetada na veia por uma funcionária da Santa Casa de Barra Mansa, no interior do Rio de Janeiro" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1167136-aposentada-morre-apos-ter-sopa-injetada-na-veia-em-hospital-do-rj.shtml).

O mais formidável é o ceticismo do hospital diante da "forçosa" correlação feita pela família da vítima entre sua morte e a injeção de sopa: "A direção da Santa Casa reconheceu o erro da funcionária em entrevista à TV Globo, mas disse não acreditar que ele tenha relação com a convulsão, nem com a morte da paciente".

Quanto ao Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RJ), este resolveu apimentar a discussão, dizendo "que a unidade hospitalar já havia passado por uma fiscalização no dia 3 de agosto de 2012 junto com uma equipe Ministério Público, onde foram afastadas 36 pessoas que estavam no exercício ilegal da profissão". Maravilha! Este país é realmente o paraíso do improviso: na falta de enfermeiro qualificado, vai a cozinheira mesmo.

Euzinha aqui, que já cansei de ouvir a expressão "injeção de ânimo", fiquei ressabiada com o nível de literalidade da funcionária do hospital. Mas há sopas e Sopas. E se for para morrer intoxicada com uma, que pelo menos seja uma sopa de letrinhas: questão de facilitar a impressão do laudo do IML, caso a tinta ou o tonner da impressora tenham acabado.

Aliás, já que estamos falando de líquidos inoculados involuntariamente nas veias, talvez valesse a pena perguntar antes: o que você gostaria de ver correndo nas suas - além de sangue, claro. Bem, se eu pudesse escolher, escolheria manter meu sangue assim, bem latino. Nas veias abertas da América Latina, não seria certamente um sangue "nobre", mas um sangue que desdenha das respostas insanas como as deste hospital; um sangue que carregue em si o gene da indignação social de Eduardo Galeano - e que jorre de desprezo pelo abandono das instituições públicas de saúde. "E o que me importa é não estar vencido"...










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