UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: julho 2012

terça-feira, 31 de julho de 2012

Mais humano

Que o nosso Poder Judiciário vive emitindo decisões canhestras, disso já sabíamos. Mas há que se reconhecer quando a decisão é sábia e ponderada, merecendo todo nosso reconhecimento.

Assim foi com a decisão da Justiça Federal ao cortar as asinhas do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj). De acordo com notícia publicada no jornal Hoje em Dia online, o órgão pretendia proibir "o médico de atuar nas equipes de parto domiciliar e ameaçavam punir o profissional que permitisse a presença de doulas (acompanhantes da gestante) nos hospitais" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/justica-autoriza-medico-a-atuar-em-parto-domiciliar-1.16423).

Em suma, duas resoluções anunciadas anteriormente pelo Cremerj inviabilizavam não só o atendimento médico domiciliar às gestantes em locais que carecem de infraestrutura hospitalar, como também inviabilizavam o próprio exercício das parteiras. Felizmente, o juiz Gustavo Arruda Macedo entendeu que "não cabe ao conselho impedir que parteiras, doulas e obstetrizes exerçam seu trabalho, regulamentado por lei e decreto federais".

Bela decisão! Enquanto as organizações não-governamentais encabeçam, nos próximos dias, algumas manifestações públicas pela humanização do parto na cidade do Rio de Janeiro, nós, demais seres humanos do planeta, continuamos nos deparando com a difícil (e paradoxal) tarefa de tornarmos um pouquinho mais humanos a cada dia.



sexta-feira, 27 de julho de 2012

Olhos na tela

Escrever com os olhos, ler com a alma. Dois objetivos, dois desafios.

O primeiro objetivo está em vias de ser alcançado com essa nova invenção divulgada hoje pelo jornal Hoje em Dia online: "Um cientista francês desenvolveu um sistema para escrever com fluidez e desenhar em uma tela de computador usando apenas o movimento dos olhos, um avanço que poderá 'devolver a criatividade' a pessoas com deficiências severas" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/frances-desenvolve-sistema-que-permite-escrever-com-os-olhos-1.15447).

Para quem achava que os olhos eram a janela da alma, é hora de atualizar os conhecimentos: eles serão também a porta de saída. Desenvolvido principalmente para pessoas com motricidade reduzida nos membros - a exemplo do cientista Stephen Hawkings - o sistema aprimora modelos existentes que "só permitem que a pessoa selecione letras ou palavras sobre uma tela". Mais do que isto, o modelo francês dá mais liberdade de criação ao usuário diante da tela do computador, permitindo que ele possa escrever "com fluidez, desenhar ou assinar com o movimento dos olhos", de acordo com a matéria.

O curioso, na verdade, é que o protótipo tenta corrigir uma limitação ocular que todos nós temos, segundo a qual "o olho não consegue fazer movimentos suaves e regulares sobre um fundo estático". De acordo com Jean Lorenceau, pesquisador responsável pelo sistema, foi necessário criar alguns subterfúgios para que o olho humano obtivesse um apoio móvel o suficiente para que o usuário pudesse fazer curvas e não "sacudidelas": "a ilusão de ótica 'reverse-phi', descoberta pelo americano Stuart Anstis em 1970".

Sem explicar exatamente o que é a ilusão "reverse-phi", a matéria se atém à explicitar seus desdobramentos práticos: "São necessárias de duas a quatro sessões de treino de meia hora para controlar os movimentos do olho e traçar letras e figuras na tela", explica.

Mais curioso ainda é perceber que a estratégia reside em um paradoxo interessante - recorrer a uma ilusão para corrigir um "erro" natural do globo ocular. Metaforicamente falando, tal paradoxo pode nos ensinar algo mais sobre a relação entre o visível e o sensível que usualmente travamos para expessar nossos desejos.

Em seu "estado perfeito", o globo ocular não está apto a exercer mais do que seu papel imediato - isto é, o de ver, no sentido mais estrito do termo. Para que ele saia do seu estado ordinário, é preciso iludi-lo para fazê-lo transcender e assumir uma nova tarefa expressiva.

Ainda em um sentido metafórico - e desesperadamente otimista - seria preciso uma ilusão "reverse-phi" que nos permitisse dar um salto evolutivo que, em nosso estado ordinário, jamais seríamos capaz de dar. Olhos pregados na tela da alma, faríamos pequenas danças circulares, mãos entrelaçadas, pensando no nosso bem e no bem dos que estão à nossa volta. Serenaríamos nossos corações, calaríamos as desavenças e visitaríamos, juntos, nossos sonhos mais doces ao som do kântele que toquei hoje pela primeira vez. 

E aí então estaríamos cumprindo o segundo objetivo: ler com a alma.



(Fonte: http://youtu.be/8pR9Fi9j47o).




quinta-feira, 26 de julho de 2012

Com elas ou sem elas

Ah, as surpresas que a vida nos reserva! Temos de todas as cores, formas e tamanhos. Algumas são desejadas, outras nem tanto. Em maior ou menor proporção, pouco importa: não há vida que lhes seja totalmente imune.

Se quisermos um exemplo de mínima incidência, basta ver a atualização do estudo promovido todos os anos pela revista The Economist. Denominado "índice Big Mac", o estudo confirma tendência apontada no ano passado: que os brasileiros são estúpidos o bastante para pagar o 4o valor mais elevado do mundo quando o assunto é o sanduíche Big Mac (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com.br/2012/01/big-falta-de-gosto.html).

Caro e de baixíssimo valor nutritivo, o carro chefe da rede MacDonalds nos coloca face ao imponderável: por que pagar tanto por tão pouco? Ainda que a pergunta permaneça sem resposta, há, certamente, um aspecto surpreendente do estudo deste ano: desta vez, a pergunta pode ser repassada para um país vizinho, a Venezuela (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1126314-indice-big-mac-coloca-o-real-como-4-moeda-mais-cara-do-mundo.shtml).

Ao contrário do ano passado, cujos primeiros colocados eram países com alto PIB e elevado padrão de distribuição de renda entre seus habitantes - a saber, Suiça, Noruega e Suécia - o primeiro colocado deste ano é a Venezuela (US$ 7,92), seguido pelos veteranos Noruega (US$ 7,06) e Suíça (US$ 6,56). Realmente surpreendente! Mas fica no ar outra pergunta face ao imponderável: nossa estupidez é contagiosa? Porque se for, a América do Sul está lascada com a gente.

Mas antes que cortemos os pulsos ou as linhas de comunicação com nossos vizinhos, com medo do emburrecimento alheio, ainda cabe algumas divagações sobre outra classe de surpresas: aquelas que reforçam nossa fé no destino.

Sim, amigos, elas existem! E a prova está bem aqui: "Uma menina de cinco anos de idade sobreviveu a uma queda do terceiro andar de um prédio na manhã desta quinta-feira (26) em Guarapuava, no Paraná. Ela sobreviveu porque caiu sobre um carrinho com papelão, deixado no local, na Rua Pedro Vidal da Cruz, por um catador de recicláveis" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/carrinho-de-catador-de-papel-o-salva-menina-que-caiu-de-predio-no-parana-1.15072).

De acordo com a notícia publicada no Jornal Hoje em Dia online, a criança foi encaminhada sem ferimentos graves para um serviço de urgência do hospital local. Intencional ou não, pouco importa: este terá sido fatalmente o esquecimento mais feliz e surpreendente da vida deste um catador de papel!

Mantra do dia



"Estamos todos em processo de purificação. O problema é que esbarramos nos nossos pré-conceitos de como esses processos devem acontecer".

Sem comentários.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Publicidades virais

Que as campanhas publicitárias vêm se complexificando a cada dia em termos dos recursos e suportes tecnológicos que utiliza, isto a gente já sabia. Mas é preciso ter em mente que as transgressões aos códigos de ética e conduta publicitária vão na mesma linha: elas acompanham as evoluções técnicas e criam situações de difícil controle para os órgãos competentes.

A bola da vez são as chamadas "publicidades virais" - que podem incluir, entre outras coisas, vídeos de curta duração que se espalham  na rede com a velocidade de um vírus de computador, mas que possuem uma vantagem crucial com relação aos spots de TV convencionais: eles nunca se assumem enquanto tal. Ou seja, a campanha normalmente vem disfarçada de "outra coisa": testemunhos de desconhecidos sobre algo inovador ou importante, comentários em blogs (aparentemente) amadores, enfim, qualquer coisa engraçada, divertida ou atrativa o bastante para estimular o espectador a passar o vídeo para frente.

Pois bem, a publicidade viral que está gerando polêmica no momento é a do celular Pure View 808 da Nokia, intitulada "Perdi meu amor na balada". "A campanha, que teve início do dia 10 de julho, divulgou na internet um vídeo que mostra um rapaz pedindo ajuda aos internautas para localizar uma garota após supostamente ter perdido o papel em que anotou o telefone dela após uma balada. Posteriormente, foi revelado que o vídeo fazia parte de uma ação publicitária da empresa", relata matéria publicada hoje na Folha de S. Paulo online (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1125148-procon-e-conar-abrem-processo-contra-campanha-da-nokia-veja-video.shtml).

Mas quem teria se sentido ofendido com tal publicidade? O Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária (CONAR) e o Procon-SP, com base em "denúncias de consumidores que se sentiram enganados pelo vídeo após ter acreditado se tratar de uma história verídica".

O fundamento das representações do CONAR e do Procon repousam no mesmo princípio, segundo o qual toda publicidade deve ser ostensiva. Nos dizeres do próprio diretor executivo do Procon-SP, Paulo Arthur Góes, em comunicado à imprensa, "a comunicação de natureza publicitária deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal".

Bem, se nos fiarmos neste princípio, então toda publicidade viral é, em princípio, ilegal e antiética. Mas a questão não se encerra aí, claro. Para que a Nokia seja punida, o Procon deve entender que houve prejuízo aos consumidores: "O órgão abriu procedimento de investigação e, se entender que houve prejuízo aos consumidores, a empresa pode ser multada em até R$ 6,5 milhões".

Como se não bastasse, o problema da ostensividade (ou melhor, de sua ausência) na publicidade é acrescido de um segundo complicador: como provar que o testemunho afetivo de um rapaz em busca de uma garota, feito em tom totalmente pessoal, tenha provocado algum prejuízo a alguém? Aqui, o buraco começar a ficar mais profundo do que pode parecia de início: por mais que alguém tenha sido arrebatado pela "verossimelhança" do relato, fica difícil provar que a empatia com o personagem tenha gerado algum prejuízo real ao consumidor - tirando, claro, a sensação de ter se sentido estúpido por tomar por relato verídico uma publicidade com finalidade comercial.

Terceiro e último complicador, que tem a ver com as peculiaridades do próprio suporte onde o vídeo é "disseminado": como conter a disseminação de uma publicidade viral? O desafio é tanto maior para um órgão auto-regulador de adesão voluntária e pouco poder vinculante como o CONAR: "Caso o relator do processo considere que houve intenção deliberada da empresa de enganar os consumidores, o Conar pode determinar a suspensão imediata da veiculação da campanha. Caso contrário, ela poderá continuar no ar até o julgamento do mérito da questão, que leva em média 30 dias".

Trocando em miúdos: uma média de 30 dias é o suficiente para que uma publicidade viral dê pelo menos umas 800 voltas ao mundo e chegue ao famoso e tão discutido limbo jurídico da Internet - lá onde nem o CONAR nem o Procon tem qualquer poder de sustar ou punir o que quer que seja.

Moral da história: enquanto as tartarugas fazem a ronda, as lebres fazem a festa!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Bobótica de ponta

Inteligência artificial, afetividade à distância. Foi para isto que Hooman Samani, um professor de robótica da Universidade Nacional de Cingapura (NUS), criou o "kissenger", um protótipo de cabeça com micro-sensores que permite beijos mediados pelo computador.

 "O 'kissenger' se apresenta sob a forma de uma pequena cabeça de plástico com lábios de grande tamanho que, quando beijados, permitem que a pessoa do outro lado da internet sinta uma vibração na boca do aparelho equivalente que seu par estará beijando", relata matéria publicada no jornal Hoje em Dia online (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/tecnologia/cientista-cria-labios-virtuais-para-namoros-a-distancia-1.13622).

Porém, bem ao contrário do que sugere o título da matéria, não é correto afirmar  que o cientista que criou o "kissenger" desenvolveu  "lábios virtuais para namoros a distância". Na verdade, o beijo não tem nada de virtual - ou melhor, ele não ocorre em ambiente virtual - a exemplo do que ocorre no ambiente virtual do Second Life, que está disponível para devaneios cibernáticos desde pelo menos 2003. O protótipo reproduz (sabe-se lá com que grau de fidelidade) contrações musculares que captadas em outros pontos de contato: "Os lábios artificiais, feitos de silicone com detectores de movimento, garantem 'as melhores sensações', afirma seu criador".

Mas o aspecto realmente mais estúpido da parada é tentar conciliar a cabeça com lábios de silicone com o uso de câmeras: "Para aumentar a sensação do beijo, os namorados podem 'se beijar' se olhando ao vivo na tela de seus computadores".

Não, realmente não estão reiventando a roda. Estão redescobrindo a deselegância do beijo de olhos abertos.

sábado, 21 de julho de 2012

O último tweet

Decididamente, o fio que nos ata à vida  - e que conserva em nós o sopro vital - é tenue como um fio de teia de aranha.

A notícia de que um tirador fez 12 vítimas fatais na estreia do filme "Batman, o Cavaleiro das Trevas ressurge", na cidade de Denver (EUA), há apenas algumas horas já foi por si só estarrecedora (http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI6007754-EI8141,00-Sou+o+Coringa+disse+atirador+ao+ser+preso+no+Colorado.html).

Mas a notícia de que entre as vítimas havia uma sobrevivente de um tiroteio acontecido em um shopping da cidade de Toronto (CA) em junho deste mesmo ano é de fazer arrepiar a coluna vertebral (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1123199-vitima-de-ataque-no-colorado-sobreviveu-a-outro-tiroteio.shtml).

Segundo notícia publicada ainda há pouco no jornal Folha de S. Paulo online, a jovem Jessica Ghawi havia narrado os pormenores do primeiro evento trágico em seu em seu microblog pessoal, dizendo que "ela estava na praça de alimentação do shopping momentos antes do primeiro ataque que sofreu" e que sua presença no local acabou sendo determinada pela escolha do cardápio que fez naquele momento: um hamburger. "Se eu tivesse escolhido um sushi, eu não estaria no mesmo local em que um dos mortos foi encontrado", relata a vítima.

A conclusão que Jessica tirou daquele evento continua válida para todos os eventos e situações que vivenciamos ao longo da nossa passagem por este mundo: a fragilidade da vida. Ainda de acordo com a notícia, ela teria concluído o seguinte: "Lembrei que nós não sabemos onde e quando nosso tempo na terra vai terminar. Onde e quanto nós vamos respirar nosso último suspiro".

Antes de suspirar pela última vez, a jovem teria atualizado seu blog lá de dentro da própria sala de cinema: "O filme está atrasado em 20 minutos", relata. Tarde demais. Quando a hora chega, não há atrasos, nem antecipações: é simplesmente a hora de dar o último suspiro.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Morada

Estranho percurso vivido por este senhor já de idade na cidade de Ribeirão Preto (SP): "Sem dinheiro nem trabalho nem lugar onde morar, um pedreiro de 72 anos achou uma solução inusitada para se abrigar: montou, no alto de uma árvore, uma casa, usando pedaços de madeira e papelão" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/ribeiraopreto/1122624-sem-onde-morar-pedreiro-de-ribeirao-preto-sp-constroi-casa-em-arvore.shtml).

A história de vida dele é uma sucessão de desventuras: desempregado aos 72 anos (idade em que deveria estar aposentado), este senhor diz que "sobrevive catando e vendendo materiais recicláveis" e que "consegue comida revirando lixo". Para piorar seu drama, "o pedreiro, que não quis fornecer o nome, disse que vive no local há cerca de dois meses porque não tem onde ir. Ele diz ainda não receber apoio da família".

A posição da prefeitura de Ribeirão Preto não poderia ser mais catastrófica. A solução mais óbvia para foi a retirada do homem da sua moradia improvisada - mas não necessariamente oferecendo alguma alternativa mais substantiva em troca. Segundo nota da assessoria de imprensa da prefeitura, citada na matéria, "agora, uma equipe trabalhará com ações diárias para tentar tirá-lo do lugar".

Aliás, minto! A prefeitura de Ribeirão Preto chegou até a oferecer uma alternativa bastante "viável" para os problemas deste senhor: além de encaminhar o caso à "Coordenadoria do Idoso para que providências jurídicas sejam tomadas", o grande objetivo do órgão público é que o idoso "seja transferido para uma clínica de tratamento".

Enfim... Com tanta amolação na vida, o senhor pedreiro, que parece já tão acostumado à serenidade do local - "aqui ninguém me incomoda. É um lugar tranquilo" - tem pelo menos um motivo do qual se orgulhar: aos 72 anos idade e tendo ganhado a vida como pedreiro, ele ainda é capaz de subir em árvore!


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Olímpicas

É verdade: estive fora do ar durante 24 horas, mas já voltei. Apesar de curta, a minha ausência foi brindada com uma dose cumulativa de estupefação ao ler esta notícia que foi publicada hoje na Folha de S. Paulo online.

A referida notícia, que é possivelmente um verdadeiro segredo de Polichinelo, relata que pela primeira vez na história da Humanidade desde a descoberta da roda, a TV Globo perdeu o direito de transmissão das Olimpíadas na TV aberta para a Rede Record (http://www1.folha.uol.com.br/esporte/1122139-com-olimpiada-na-record-globo-troca-palmeiras-por-corinthians.shtml).

Ainda que o tal "segredo" já deva ser de conhecimento de quase todos os brasileiros (exceto a desinformada que escreve este documentário), a pseudo-revelação me deu consciência do estado de excepcionalidade deste ano que vivemos. Sim, os Maias estavam certos: há algo de incomum em 2012 que faz inveja ao ano em que Moisés abriu passagem pelo Mar Morto ou algum outro período histórico mais surpreendente da nossa história intergalática.

Os sinais dos tempos, a meu ver, são evidentes: "Este será o primeiro domingo em que a Globo terá a concorrência direta da TV Record, que detém os direitos dos Jogos Olímpicos para TV aberta. Nesta data e horário, a Olimpíada terá dois jogos de futebol masculino, além de duelos no basquete e vôlei e de outras modalidades". A TV Globo, em contrapartida, preferiu trocar o jogo Cruzeiro X Palmeiras pelo do Bahia X Corinthians.

Se você já estava queixoso, achando que o fim do mundo está próximo diante de mudanças tão drásticas, pelo menos um elemento permanece imutável, apesar de todos os chacoalhamentos energéticos em voga no momento: ambas as redes de TV transmitirão algum jogo de futebol no domingo, garantindo alguma estabilidade ontológica aos Brasileiros.

Ufa: que bom! O fim do mundo está próximo, mas ainda não chegou. 
Acho que escapamos por pouco: pelo menos, o brasileiro médio terá tempo de abrir uma latinha de cerveja e se desligar dos problemas cotidianos. Como consolo fica uma única certeza: se o mundo não acabar este ano, tudo ficará como dantes na terra de Abrantes. Ou não, como diria Caetano...

terça-feira, 17 de julho de 2012

Doce criança

Pois é: quando o fim de semana supera as expectativas, o mais difícil acaba sendo voltar para o mundo dos vivos... Principalmente quando a gente fica sabendo, em plena 2a feira - em um esforço adaptativo sem precedentes na história dos vivos - que mais um monstro do rock se foi para o Lado de Lá.

Estou falando da morte de John Lord, tecladista e um dos fundadores da lendária banda Deep Purple (http://oglobo.globo.com/cultura/morre-jon-lord-criador-do-deep-purple-aos-71-anos-5488761). O titã partiu desta para melhor aos 71 anos, vítima de uma embolia pulmonar em pleno tratamento de câncer.

Oh, Lord: tiro o meu chapéu e inclina a alma em reverência. E aproveito a ocasião para brindar a doce criança que ainda vivem em cada um de nós, mesmo quando a vislumbranos distante no tempo.

Fico por aqui com a homenagem e uma vontade enorme de escutar esta canção pelo menos mais umas 5 vezes antes de dormir. E abraços para quem fica, pois já está passando da hora de criança ir para a cama.

Com vocês, Child in Time:

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Amanhã

Amanhã, dia 13 de julho, é sexta-feira 13. E por ser 6a feira, é também Dia Internacional do Engarrafamento Quilométrico. Além disso, é meu primeiro dia de férias, Dia Mundial do Rock e dia de colocar o pé na estrada e ver outras montanhas.

Os tambores estão rufando, a mochila está no jeito, a alma está sedenta de novos vôos. Com tanta coisa importante em um dia só, por que esperar amanhã para comemorar?



Bom fim de semana para quem fica! Volto na 2a feira, totalmente transformada em alguma coisa que ainda não seu bem o que é.

Ufanatismo

Já ouviram falar daquele filme "Encaixotando Helena"? E da novela brasileira "Emplacando a burrice"?

A analogia entre o filme e a "novela" é capenga, reconheço, mas o fiz mais por uma questão de semelhança sintática no título, do que por afinidade real entre ambas as obras. Primeiro porque o filme - um clássico do início dos anos 1990 - é obra exdrúxula e ficcional, ao passo que a novela brasileira, apesar de fictícia (já que não existe novela nenhuma com este nome), é de um realismo visceral.

A novela em questão refere-se à divulgação do posicionamento que o Brasil ocupa hoje no ranking mundial de venda de carros (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/economia-e-negocios/brasil-sobe-duas-posic-es-no-ranking-de-venda-de-carros-1.9629). A matéria publicada hoje no jornal Hoje em Dia online, intitulada "Brasil sobe duas posições em ranking de venda de carros", tropeça em um ufanismo tão macabro quanto o cirurgião do filme supracitado: "segundo relatório da empresa de consultoria e informações do setor automotivo Jato Dynamics (...) o Brasil, que estava na sétima posição no relatório de abril, subiu para a quinta posição, mesmo com a queda de 8,7% nas vendas em maio, para 274.476 unidades", informa a notícia.

De acordo com o malfadado ranking, o país anda "perdendo" (com aspas bem grandes!) para a China, os EUA, Japão e Alemanha, nesta sequência. Como se número de emplacamentos fosse indicador de qualidade de vida... Claro, não precisa ser nenhum mágico para compreender que o ranking não passa de ilusão. Carros novos sendo lançados exponencialmente nas ruas é um indicador do atraso de vida, pois não tem malha viária que dê conta de tanta "placa nova" circulando neste país.

Enfim, dá até indigestão ler uma notícia dessas, justamente hoje que eu fiquei agarrada uma hora no percurso que vai da rodoviária da Roça Grande até o Centro Aministrativo do estado. Um percurso banal, mas artificialmente prolongado. Não fosse a discografia completa do Led Zeppelin no meu celular para entreter meus ouvidos, o traslado teria sido uma verdadeira tortura: encaixotada como Helena, a mercê da insensatez alheia. Muito pior do que qualquer novela das 20h!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Reviravolta

É... O ano do Dragão faz mais uma das suas!

"Em menos de 24 horas um casal de catadores de material reciclável que vive debaixo de um viaduto no Tatuapé, zona leste de São Paulo, viu sua vida virar do avesso", relata matéria publicada no jornal Folha de S.Paulo online (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1117708-vida-de-moradores-de-rua-tem-reviravolta-apos-devolucao-de-dinheiro.shtml).

A razão de tamanha mudança virou ganhou ampla divulgação na imprensa, como não podia deixar de ser: "No período, eles acharam R$ 20 mil furtados de um restaurante, entregaram o valor para a polícia e apareceram em emissoras de TV como exemplo de honestidade", prossegue.

Tamanha surpresa diante da reação de ambos me parece uma reação bastante ambivalente da parte dos jornais e comentários postados aqui e acolá. Por um lado, é bem certo que exemplos de honestidade não grassam feito chuchu na cerca. Os poucos que existem merecem ser publicizados, incensados e louvados com oferenda de flores ao mar. Ainda mais quando o ato de honestidade envolve abrir mão de uma quantia financeira respeitável.

Por outro lado, a estupefação geral da nação diante da atitude do casal pode ser um indicador de uma crença bastante arraigada, segundo a qual os pobres são mais propensos a roubar do que os ricos - seja por "necessidade", seja por "desvio de caráter", seja por um viés "cultural", enfim: seja lá por que razão for.

De qualquer forma, a reviravolta da vida de Rejaniel de Jesus Silva Santos e Sandra Regina Domingues, autores da façanha não ficou "só" na devolução integral da quantia encontrada. "Os dois ainda se encontraram com os donos do dinheiro, foram ameaçados pelos ladrões, conseguiram um teto provisório, receberam propostas de emprego e um convite para voltar ao Maranhão reencontrar a família de um deles".

Bem, não vou me alongar explicando cena por cena como tudo aconteceu. Quem quiser que dê uma olhada na matéria da Folha. Eu, que ando tão desacreditada em mudanças repentinas, agradeço aos herois do dia por me lembrar que, em 2012, tudo parece possível! 

Porque comportamento honesto merece virar "corrente" de rede social: se você acredita, curta; se você adere, compartilhe!

terça-feira, 10 de julho de 2012

O dia do gongo

Este dia ficará na memória por ser o dia em que fui salva pelo gongo. Que bom que os gongos existem!

sábado, 7 de julho de 2012

Fechado para balanço

Fim de uma semana cheia de surpresas e atribulações.

Os sinais estão inscritos no corpo fragilizado pelos excessos. Lombar e cervical perdem arrego, querendo um plano quente e confortável para se refazerem. Meus ombros já não se falam entre si há semanas: andam brigados, apesar de caídos um pelo outro. A cabeça nem pende: o pescoço anda tão contraído que ela não sai do lugar. Até os pés sentem o descaso com que são tratados. Pedem férias e algum senso de justiça para com eles, por menor que seja.

Enfim... Se bem que o todo não chega a ser um caos completo. É muito mais um corpo que atravessou tormentas e que agora se despede docemente para ir dormir.

Boa noite e bom fim de semana para quem fica. E uma canção que é um afago na alma dos justos. E no sono dos justos.


sexta-feira, 6 de julho de 2012

Guerra das declarações

As sereias existem? Documentário do canal de TV Animal Planet diz que sim, mas o serviço oceanográfico e atmosférico do governo americano (NOAA) diz que não (http://f5.folha.uol.com.br/estranho/1115689-governo-americano-lanca-nota-oficial-negando-a-existencia-de-sereias.shtml).

Só que a guerra das declarações entre a mídia televisiva e governo vai muito além disso. A querela (se houve realmente alguma) teria nascido com a sede de realismo do documentário "Mermaids: The Body Found", no qual "técnicas avançadas de computação gráfica foram usadas para mostrar como seriam as sereias, se elas existissem". E como se não bastasse a "reconstituição" via computação gráfica, o documentário também teria apelado para a autoridade da ciência, isto é, se apresentado ao público como uma "ficção baseada em fatos reais e teorias científicas".

Mas como ficamos sabendo disso tudo? Bem, o primeiro a levantar a lebre sobre a suposta divergência entre governo e canal de TV foi o jornal inglês Daily Telegraph, mas quem requentou a notícia´para nós, público brasileiro, foi a Folha de S. Paulo online de hoje. De modo que esse jogo de empurra-empurra sobre quem diz o quê, para quem e com que autoridade (numa versão revisitada do modelo de Lasswell) foi magistralmente concluído com a seguinte frase: "O 'Telegraph' afirma que telespectadores ligaram para o NOAA após a atração ir ao pedindo informações sobre a possível existência dos seres mitológico".

Moral da história: alguém disse que alguém disse que alguém disse, o que resultou numa declaração oficial da agência americana. É que nesse mundo de tantas incertezas, uns se comprometem de menos e outros, vão além da conta. A solução mais simplória é, sem dúvida, dar uma declaração oficial sobre algo que parece improvável - a existência das sereias - como se uma declaração oficial fosse suficiente para que elas, as sereias, existissem ou deixassem de existir.

Desta feita, senhoras e senhores, ficou o dito pelo não dito. E o risco de se acreditar em alguma dessas fontes é todo seu.

Boa noite e sonhe com as sereias - mesmo que elas não existam.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Pinguim de férias

Caramba! Difícil escrever um comentário que se preze no dia de hoje.

Metade das notícias são sobre o jogo do Corinthians na Copa Libertadores. A outra metade só traz fofoca sobre celebridade que não conheço (e se não conheço, melhor nem falar). Tem ainda uma terceira metade falando da descoberta da partícula de Bóson de Higgs, mas a preguiça de me inteirar de um assunto novo é grande demais para prosseguir na leitura. E, por último, uma última metade falando de catástrofes. Ou seja, é tanta metade que eu já nem sei mais.

O jeito então vai ser falar do que a visita dos pinguins na orla do Rio de Janeiro (http://oglobo.globo.com/eu-reporter/pinguins-visitam-orla-do-rio-5368980). No entanto, como a matéria se resume a um ensaio fotográfico, não haverá muito o que dizer, nem o que reportar.

Exceto que  a vida de pinguim em férias no Rio parece das mais atraentes. As poses lembram aquelas fotos das celebridades na praia em dia de semana, tiradas por paparazzi de plantão. Colocasse um crachá da Globo em um desses pinguins e ninguém notaria a diferença.

Bom, já que é assim, ficaremos por aqui. Melhor nem insistir. A maré hoje não está para peixe: está para pinguins descompromissados, bronzeados e à deriva.

Boa noite para quem fica! 

terça-feira, 3 de julho de 2012

Instabilidade na nuvem

Sempre gostei de colocar a culpa das minhas oscilações de humor na fase lunar em curso. Desde muito cedo, por exemplo, aprendi a coordenar os meus achaques nervosos com a lua cheia, as minhas crises de melancolia com a lua minguante, a minha pressa inabalável com a lua crescente. Com isso, nunca me faltaram justificativas mais ou menos socialmente aceitáveis para tais oscilações. Mas os tempos mudaram! E instabilidades de outra ordem surgem no cenário moderno.

Pois saibam então que a grande onda do momento é associar seus problemas ocasionais às "instabilidades na nuvem". Pelo visto, o mote é muito mais chique do que acusar a fase lunar. E sabem por quê? Porque, ao contrário da fase lunar, que é a mesma para qualquer parte do globo, os problemas na "nuvem" acontecem em um único local bem fora de mão, isto é, longe o suficiente para justificar qualquer intervenção prática.

Aqui vai um exemplo. Segundo matéria do jornal New York Times publicada hoje na Folha de S. Paulo online, "na noite de sexta-feira, uma tempestade de relâmpagos no Estado da Virgínia derrubou parte do Amazon Web Services, o serviço de computação em nuvem da Amazon, que fornece recursos de armazenagem e computação a centenas de companhias. Sites conhecidos como Netflix, Pinterest e Instagram ficaram fora do ar por horas", relata (http://www1.folha.uol.com.br/tec/1114588-tempestade-de-verao-prejudica-servicos-de-computacao-em-nuvem.shtml).

Um ponto forte na desculpa de "instabilidade na nuvem" é que - diferentemente da fase lunar, que muda mais ou menos a cada 7 dias - ela pode acontecer a qualquer momento, sem razão aparente: "A paralisação do final de semana aconteceu depois que uma tempestade de raios resultou em queda de energia na central de processamento da Amazon Web Services no norte da Virgínia, que abriga milhares de servidores. Por motivos que a Amazon não havia conseguido determinar até o domingo, o gerador de reserva da central também falhou".

A melhor parte da nova moda é que ninguém precisa "acreditar" na instabilidade da nuvem para que a justificativa pegue. Basta uma adesão generalizada dos usuários para que todos se sintam vulneráveis: "A Amazon construiu um negócio altamente lucrativo de computação em nuvem, com uma lista de clientes como a Intercontinental Hotels, Fox Entertainment, Unilever e Spotify, além, de 187 agências governamentais e centenas de pequenas empresas iniciantes em busca dos serviços de computação mais baratos".

No entanto, "nenhum desses grandes clientes registrou perturbações de serviços. Embora não se saiba se estavam usado a central de processamento da Amazon que foi paralisada pela tempestade, analistas dizem que a paralisação causou preocupação renovada quanto a depender dos serviços de computação em nuvem", explica a matéria. 

Já imaginou todo mundo parando, juntos, ao mesmo tempo, agora? Um sonho proletário que nem Internacional Comunista conseguiria imaginar nos primórdios do capitalismo. E a lua seria então finalmente deixada em paz, com suas fases e oscilações, como coisa típica de lunáticos, de apaixonados e de lunáticos apaixonados.

Almanaque do rock

Lua cheia, alma inquieta. E dezenas de notícias sem grandes atrativos nos jornais online.

Mas pelo menos duas delas prestam um grande serviço público às mentes nostálgicas. A primeira foi publicada no jornal O Globo online e traz resenha do livro "Popcorn — O almanaque dos filmes de rock", de Garry Mulholland (http://oglobo.globo.com/cultura/da-inocencia-ao-cinismo-53-anos-de-filmes-de-rock-5365923#ixzz1zWZfnZnn).

O livro propõe uma história dos filmes de rock entre os anos de 1956 e 2009. Mas muito "mais do que listar e avaliar dezenas de produções do gênero ao longo de 53 anos, o autor traça — com humor, acidez, ironia — um panorama da civilização nesse período a partir de seus reflexos nos filmes". Uh!!!

Sem dúvida intenção do autor era unir duas paixões - cinema e rock - em uma só jornada, além de suprir uma lacuna gritante: pouco ou nada foi dito sobre os filmes de rock, pois grande parte dos críticos de cinema desqualificavam este estilo musical. Só que, no final das contas, o autor acabou unindo três artes: cinema e rock recheados em livro bastante atraente, que tem tudo para ir parar na minha cabeceira nas próximas 48h - isto é, quando receberei meu parco salário de professora... Aceito doações, claro!

E já que estamos falando de utilidade pública, aqui vai outra informação sobre o mesmo tema: o blog (também do O Globo) "Em cartaz na Web" replica o vídeo "A história do Rock em 100 riffs" (no original "A brief history of rock'n'roll"), apresentado por Alex Chadwick e postado no site da loja Chicago Music Exchange (http://www.chicagomusicexchange.com/). O vídeo, de 12 minutos de duração, propõe um passeio pela história do rock a partir de 100 riffs (http://oglobo.globo.com/blogs/emcartaznaweb/posts/2012/07/02/a-historia-do-rock-em-100-riffs-453308.asp).

Boa viagem no tempo!