As sereias existem? Documentário do canal de TV Animal Planet diz que sim, mas o serviço oceanográfico e atmosférico do governo americano (NOAA) diz que não (http://f5.folha.uol.com.br/estranho/1115689-governo-americano-lanca-nota-oficial-negando-a-existencia-de-sereias.shtml).
Só que a guerra das declarações entre a mídia televisiva e governo vai muito além disso. A querela (se houve realmente alguma) teria nascido com a sede de realismo do documentário "Mermaids: The Body Found", no qual "técnicas avançadas de computação gráfica foram usadas para mostrar como seriam as sereias, se elas existissem". E como se não bastasse a "reconstituição" via computação gráfica, o documentário também teria apelado para a autoridade da ciência, isto é, se apresentado ao público como uma "ficção baseada em fatos reais e teorias científicas".
Mas como ficamos sabendo disso tudo? Bem, o primeiro a levantar a lebre sobre a suposta divergência entre governo e canal de TV foi o jornal inglês Daily Telegraph, mas quem requentou a notícia´para nós, público brasileiro, foi a Folha de S. Paulo online de hoje. De modo que esse jogo de empurra-empurra sobre quem diz o quê, para quem e com que autoridade (numa versão revisitada do modelo de Lasswell) foi magistralmente concluído com a seguinte frase: "O 'Telegraph' afirma que telespectadores ligaram para o NOAA após a atração ir ao pedindo informações sobre a possível existência dos seres mitológico".
Moral da história: alguém disse que alguém disse que alguém disse, o que resultou numa declaração oficial da agência americana. É que nesse mundo de tantas incertezas, uns se comprometem de menos e outros, vão além da conta. A solução mais simplória é, sem dúvida, dar uma declaração oficial sobre algo que parece improvável - a existência das sereias - como se uma declaração oficial fosse suficiente para que elas, as sereias, existissem ou deixassem de existir.
Desta feita, senhoras e senhores, ficou o dito pelo não dito. E o risco de se acreditar em alguma dessas fontes é todo seu.
Boa noite e sonhe com as sereias - mesmo que elas não existam.
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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