UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: junho 2012

sexta-feira, 29 de junho de 2012

O derradeiro vôo

O quanto de loucura conseguimos acomodar na nossa vida?

No início deste mês, já havia comentado sobre o caso daquele morador de rua da cidade de São Paulo que foi retirado à força do canteiro onde morava há 18 anos (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2012/06/crepusculo-poetico.html).

Agora foi a vez desta senhora de 76 anos, identificada como Maria do Nascimento Souza, que acabou sendo removida do aeroporto de Congonhas por uma equipe médica em função de uma crise nervosa (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1112908-idosa-que-morava-em-aeroporto-de-sp-e-internada-em-hospital.shtml).

Remoções forçadas, feitas à revelia do paciente, nunca foram novidade no tratamento dos portadores de doenças mentais. Claro, o problema não reside exclusivamente na contrariedade imposta. Afinal, existe alguma legitimidade em se "contrariar" alguém que atenta contra sua própria vida ou contra a vida de outrem. Não é este, portanto, o foco da questão hoje. A questão é indagar justamente o contrário: o que leva as pessoas a ajudarem e se solidarizarem com insanos anônimos, despossuídos, sem teto, sem lenço, sem documento?

Pois este parece ter sido o caso da ilustre moradora de Congonhas: "Segundo funcionários, ela começou a ser vista andando pelo aeroporto há algumas semanas". Graças à ajuda recebida, ela foi se ajeitando como pôde: "sensibilizados, alguns funcionários dividiam o lanche com a idosa", que "se acomodava nos bancos do saguão e carregava duas sacolas de roupas nos carrinhos de bagagem".

Perdida entre tantas partidas e chegadas, a velha dama de Congonhas talvez tivesse lá também o seu sonho de partida: um único vôo que seja, desses com bilhete só de ida para o mundo da dignidade perdida.

Para os passantes, no entanto, ficou uma lição que ainda está por ser aprendida: juntar o próprio mundo em duas sacolas plásticas, depender do desprendimento e da generosidade alheios e viver a esperar o último vôo - o derradeiro - aquele que nos levara face ao Grande Mistério para que ele nos diga, sem rodeios, a que viemos nesse mundo.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Toca Rauuuuuuuuuul!

Nocaute! E acabei caindo por terra: já não sou mais capaz de processar o rumo dos eventos. Nem mesmo o rumo dos ventos: para onde vão? Para onde me levam? O que vai sobrar de mim para contar história?

Quer saber? Ainda bem que hoje é dia de tocar Raul Seixas! O grande guru do tudo e do nada, aquele que verteu pérolas de sabedoria sem fazer questão de grandes coisas: se estivesse vivo, Raul estaria completando 67 anos no dia de hoje.

Diante da irrevogável incomunicabilidade do meu ser na presente data, vou me juntar ao coro dos ébrios que tomam água mineiral gasosa com gelo e limão e gritar a plenos pulmões: "Toca Rauuuuuuuuuuuuuul!".

E se é para tocar Raul, então que seja, de preferência, aquela canção que considero meu mantra pessoal:

Metamorfose Ambulante

Paz & Amor

Depois dessa notícia, nunca mais perderei a fé na capacidade de autotransformação do ser humano! Vejam bem: as irmãs gêmeas Lamb e Lynx Gaede resolveram dar um novo sentido à sua existência neste planeta.

De acordo com matéria publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online, que replica noticia publicada originalmente no britânico Daily Mail, a mudança das duas californianas foi radical: "na adolescência, as irmãs ficaram famosas por defender o nazismo e até lançaram um disco sob a alcunha Prussian Blue, o nome do gás que matou milhares de judeus nos campos de concentração" (http://f5.folha.uol.com.br/humanos/1111536-maconha-transforma-gemeas-nazistas-dos-eua-em-hippies.shtml).

Hoje, aos 20 anos, o discurso é outro: "A garotas, que antes negavam o Holocausto e usavam camisetas do Smile usando bigode de Hitler, dizem que agora são 'bastante liberais' ". Diria até que elas mudaram da lama para o vinho Cabernet da melhor safra do milênio passado: apregoadoras da diversidade, elas hoje defendem a pluralidade de formas e estilos de vida nesse planeta: "Temos muitas culturas diferentes. Acho que isso é demais e me faz ficar orgulhosa da humanidade todos os dias."

Qualquer mineiro ressabiado e de inteligência mediana já estaria se perguntando sobre a causa que subjaz a tamanha transformação. É aí que vem a parte, digamos, irônica da mudança: tudo não passou de uma questão de saúde. Isso mesmo! "Lynx foi diagnosticada com câncer quando estava no ensino médio. Ela tinha um tumor no ombro. Durante o tratamento, Lynx sofreu ainda de uma síndrome que a fazia vomitar". Quanto a sua irmã, Lamb, ela "também tinha problemas de saúde, sofria de dores nas costas, ligadas a estresse emocional".

E qual a solução o governiano californiano deu a ambas? Simples: "autorização para usar maconha com fins medicinais". Em pleno tratamento de câncer, Lynx desabafa: "Tenho que dizer que a maconha mudou minha vida. Estaria morta se não tivesse usado".

Agora, as meninas têm uma longa caminhada e uma nova missão pela frente. É Lynx quem relata: "Acho que nós temos que fazer mais - nós somos curandeiras. Nós só queremos externar o maior amor e positividade que pudermos".

Bem, o que realmente me estranha não é a mudança em si - isto é, a suplantação do ódio pela mensagem de amor universal. O que me choca realmente é o anacronismo delas: são pelos menos 50 anos de atraso desde que os hippies ocuparam as ruas, as estradas, o campo.

Em homenagem à nova fase da vida das moçoilas e a toda a maravilhosa discografia ainda para ser descoberta, deixo aqui a canção de um filme que teria mudado a vida delas (ah, se elas tivessem visto isso antes!):

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Autorretrato de Da Vinci

No mínimo curiosa essa lamúria em torno do atual estado de conservação do autorretrato de Leonardo Da Vinci!

A abordagem do tema por uma notícia publicada na Folha de S. Paulo online hoje não poderia ter sido mais dramática: "Leonardo da Vinci está doente e ninguém sabe de fato se ele será capaz de receber visitantes outra vez", lamenta logo de cara (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1110998-famoso-autorretrato-de-da-vinci-esta-em-pessimo-estado.shtml).

Antes que alguém aí pergunte, já vou logo avisando: não, não ressuscitaram o homem. Estão falando realmente do autorretrato: "Especialistas em conservação e restauração de arte recentemente concluíram semanas de exames no famoso autorretrato de um dos maiores gênios da história, pintado no início dos anos 1500 quando ele era sexagenário", informa. "O pequeno desenho do mestre renascentista, que mede 33,5 centímetros por 21,6 centímetros, mostra Leonardo com olhos pensativos e inchados, sobrancelhas grossas e uma barba solta".




Tudo isso porque o retrato, senhoras e senhores, está sofrendo a ação do tempo: "Os estudos não invasivos confirmaram os piores temores dos especialistas: o desenho está seriamente danificado e se deteriorando e qualquer restauração seria delicada e arriscada, para dizer o mínimo".

Antes que alguém proteste e me chame de rabugenta, gostaria de fazer duas ponderações sensatas: 1) se tudo sofre com a ação do tempo (inclusive o autor da obra, que já foi desta para melhor), por que com o retrato seria diferente? 2) Se o autorretrato de Da Vinci não envelhecer, ele não será o autorretrato de Da Vinci, mas, sim, o autorretrato de Dorian Gray.

Mas a saga do autorretrato de Da Vinci está repleta de ironias. Já que o desenho parece mesmo "condenado à morte", a solução encontrada foi conservá-lo bem perto dos mortos: "O desenho, que é mantido em uma catacumba em Turim, foi mostrado em uma exibição extremamente rara por dois meses no ano passado em relação às celebrações pelo 150º aniversário da unificação da Itália".

Triste fim o desse registro pictórico de grande raridade: "a testa de Leonardo, o nariz aquilino e as bochechas gordas dão a impressão de que ele tem um caso grave de sarampo". Com tanto exagero diante dos sintomas de doença ou envelhecimento "precoce", a impressão que fica é a de que estão tomando a obra pelo seu autor.

Mas se a intenção for esta mesma, então há muito pouco a ser feito: só nos resta desejar melhoras a esse pedaço de papel e uma rápida recuperação em algum ponto entre uma clínica geriátrica e uma clínica de estética da pele.





terça-feira, 26 de junho de 2012

Canina ou divina?

Justiça: divina ou dos homens?

Há quem diga que a dos homens é falha. Bem, a verdade é que se houvesse uma justiça "canina", o pobre Lennox teria sido poupado: "Em 2010, o cão Lennox foi retirado da casa da família Barnes, em Belfast, na Irlanda do Norte, após uma denúncia" (http://f5.folha.uol.com.br/bichos/1110236-cao-e-condenado-a-morte-por-se-parecer-com-pitbull.shtml), relata matéria da Folha de S. Paulo (cujo acesso, por enquanto, está saindo de graça).

E o que teria feito Lennox a ponto de ser denunciado e preso na Velho Continente? "Segundo a lei do país, é ilegal ter um cachorro com aparência de pitbull e o animal só pode ser salvo da execução caso seja comprovado que o 'cão não trará risco para a população' ", explica. Em defesa do cão e de sua suposta "inocência", a família argumentou que ele era a principal companhia de uma filha deficiente de 11 anos e que nunca tinha sido agressivo com ninguém.

Mas a justiça dos homens só quer saber mesmo se a Mulher de César parece honesta. É que, neste caso específico, o cãozinho parece mesmo ser o que não devia - isto é, um pitbull.  "Na última semana, um segundo julgamento do caso corroborou a primeira decisão da corte irlandesa e apenas uma questão de direito ou um perdão podem salvar Lennox na próxima semana".

Condenado a morte por sua indevida semelhança, Lennox já comoveu milhares de pessoas no mundo virtual: "A campanha pela salvação de Lennox já ganhou diversas páginas de apoio na internet, como uma petição online com mais de 160 mil assinaturas e uma página com mais de 60 mil 'curtidas' no Facebook". E, passados uns seis mil anos da publicação do livro A República, de Platão, o "caso Lennox" promete reacender o velho debate entre "essência" e "aparência" do ser.

Bom, e para quem depois dessa e de outras andou perdendo a fé na justiça dos homens, eis que sua correlata divina decide entrar em cena. Brenda Gabriela da Silva, "a menina de quatro anos que havia desaparecido no dia 10 de junho durante um culto evangélico na região do Cambuci, no centro de São Paulo, foi encontrada" hoje, relata outra matéria publicada na Folha de S. Paulo online (por enquanto, também de graça).

Tudo aconteceu quando "a diarista Geisa Maria da Silva, 31, mãe da criança, se descuidou e acabou perdendo a menina de vista durante uma celebração da Igreja Pentecostal Deus É Amor". A mãe havia comparecido à igreja para pedir pela recuperação de seu bebê mais novo, mas acabou perdendo a outra filha no local.

Certamente, haverá quem relute em chamar isso de "justiça divina". Mas o fato é que a menina só pôde ser encontrada graças a um golpe de "sorte": Brenda, que foi localizada por policiais militares em frente a uma lanchonete, foi reconhecida graças a "um vizinho da família que coincidentemente trabalha perto dali" e viu a menina, avisando a polícia logo em seguida.

Fim do sofrimento para a mãe. Sabe-se, no entanto, que além de Geisa - que "deixou de trabalhar para procurar a menina", espalhando "cartazes pelas ruas da região com a foto da filha" - "a igreja também fez uma campanha na internet". Difícil aferir se a Internet teve realmente parte nisso. Mas se tiver tido, há de haver alguma esperança para o pequeno Lennox.

Vai saber!






sexta-feira, 22 de junho de 2012

Eventos disruptivos

2012 tem sido um ano de muitos sobressaltos. Eventos disruptivos de toda ordem têm chacoalhado a vida de uns e outros, levando a instabilidade por todos os lados, desde os gabinetes das mais altas esferas hierárquicas do poder político até a barraquinha do seu Zé da esquina.

O grande exemplo do dia foi, sem dúvida, o impeachment de Fernando Lugo, presidente do Paraguai: "O senado paraguaio aprovou na tarde desta sexta-feira o impeachment do presidente Fernando Lugo, após um rápido processo iniciado na quinta-feira na Câmara dos Deputados sob o argumento de que ele não exerce sua função devidamente" (http://oglobo.globo.com/mundo/senado-paraguaio-aprova-impeachment-de-fernando-lugo-5291956#ixzz1yZKJNVRl). Ou seja, lá se foi um presidente eleito por vias legais em um processo que durou cerca de 24 horas. Parabéns para o Paraguai!

Fazendo um parelelo bem didático, o impeachment de Lugo é tão surreal e inesperado quanto aquele caso do servente de pedreiro que escapou ileso do desabamento de um dos prédios que desabaram em janeiro deste ano, no Rio de Janeiro. Contrariando todas as expectativas, Alexandro da Silva Fonseca Santos escapou por muito, muito pouco do desabamento de um prédio de 20 andares.

"O operário se salvou embora tenha feito o contrário do que se recomenda em casos de acidente como esse. Segundo especialistas em análise de risco, o elevador não deve ter despencado. A hipótese mais provável é que ele tenha caído junto com o prédio", relata matéria publicada à epoca do evento (http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/01/nasci-de-novo-tenho-que-comemorar-diz-sobrevivente.html). Ou seja, Santos sobreviveu de forma totalmente inesperada a um evento que só não fez mais vítimas porque aconteceu após o fim do horário comercial. Parabéns, portanto, para o anjo da guarda do seu Santos!

Cabeça

A Terra vista sob novo ângulo - eis o que o Nasa nos presenteou no início desta semana.

Para curiosos como eu, "a Nasa divulgou nesta segunda-feira uma nova imagem de alta resolução da Terra capturada pelo satélite Suomi NPP, precursor de sua nova geração de equipamentos de observação do planeta" (http://oglobo.globo.com/ciencia/novo-angulo-para-imagem-de-alta-resolucao-da-terra-5243664#ixzz1yUEOiMkw).

A novidade é que a foto foi tirada de um ponto de vista pouco usual: "a nave capturou um ângulo que evidencia uma das regiões que segundo os cientistas mais estão sofrendo os efeitos do aquecimento global, o Ártico", relata a notícia publicada hoje no jornal O Globo online.

Fazendo um paralelo besta, é como se a foto fosse tirada de cima, revelando a calvície em pessoa de tenra idade. Ou seja, ela faz parte daquele rol de fotos infelizes que toda pessoa tenta esconder, pois revela nossas mazelas menos desejadas ao olhar inquisidor.

Mas, vendo a questão de outro ponto de vista, a foto da cabeça da terra pode ser uma arma valiosa para quem tenta salvar o planeta. Mesmo indesejadas, essas fotos são justamente as que permitem o diagnóstico e, consequentemente, as que aumentam as chances de uma intervenção eficiente.

Guardadas as devidas proporções, o dilema da Terra e do careca é o mesmo que todos nós vivemos um pouco: somos também o resultado de fotos que revelam partes de nós mesmos que nossos olhos nem sequer alcançam. Agora, o que vamos fazer com essas informações... isso são outros quinhentos!

Enfim, para quem quiser desbravar a calvície da Terra, as imagens estão aqui: http://www.flickr.com/photos/gsfc/7394700302/sizes/o/in/photostream/.

E para quem não quer esquentar a cabeça com essas coisas a essa hora da noite: um simples "boa noite"!

  



 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Muros

Decisões de mercado nem sempre são decisões sensatas. Aliás, muitas vezes, a sensatez briga com o senso comercial e eles rolam no chão, aos chutes e pontapés, que nem duas crianças briguentas. Alguém tenta apartar, mas não funciona. E aí eles se engalfinham de novo.

Pois bem, estou me referindo à decisão do site da Folha - que deixará de se chamar Folha.com para se tornar Folha de S.Paulo, a exemplo do jornal impresso - de cobrar pelo seu conteúdo (http://www1.folha.uol.com.br/poder/1106766-folha-passa-a-cobrar-por-conteudo-digital.shtml).

Para os atuais assinantes do jornal impresso e do site Uol, tudo fica como dantes na terra de Abrantes: "assinantes do jornal impresso continuarão tendo acesso irrestrito a todos os formatos do jornal - na internet, em tablets e em celulares. Quem assina o pacote digital também pode ler o jornal em qualquer tela".

Já, nós, pobres blogueiros de plantão, que não ganhamos um centavo para comentar e compartilhar com nossos leitores as matérias que lemos, estaremos sujeitos à nova tarifação: "visitantes do site poderão ler até 20 textos por mês gratuitamente. A partir disso, será pedido o preenchimento de um breve cadastro, que dará acesso a mais 20 notícias ou colunas gratuitamente. Do quadragésimo-primeiro texto em diante, o visitante será convidado a fazer uma assinatura paga".

O pior é que a prática de desmonetarizar blogueiros livres tem até nome e sobrenome, a julgar pela matéria publicada hoje na Folha online: "Conhecido pelo nome de 'paywall/muro de pagamento poroso', ele busca aumentar o conforto e a oferta de conteúdo para quem gosta de ler o jornal sem barrar o internauta eventual". Aumento de conforto e de oferta de conteúdo para quem, cara-pálida? Para mim é que não é!

Claro, a atividade de escrever e atualizar constantemente um blog também pode ser um trabalho remunerado, da mesma forma como o acesso da notícia pode ser pago. Mas não estou falando deste tipo de blogueiro "profissional". Estou falando de outros "pés-rapados" como eu, que vivem de xeretar sites de notícia de acesso livre. Ficaremos menos livres, isso é certo. Mas nem por isso precisamos também ficar mais pobres.

Para ser sincera, há até pouco tempo achava que levantar a bandeira da liberdade de expressão em blogs era como reivindicar o óbvio: totalmente desnecessário. Mas agora estou começando a achar que a coisa anda mais feia do que parece. No cenário das "novas mídias" (só para utilizar com um vocabulário da moda), a restrição da liberdade vai perdendo um viés abertamente político (muito mais afinado com as práticas do coronelismo reinante aqui da Roça Grande) para assumir um viés supostamente "econômico".

Para vocês terem uma ideia, outro dia tinha uma mensagem aqui no Blogger dizendo que só eu conseguiria escrever um comentário no meu blog se optasse por usar o Google Chrome. Agora, terei de limitar meus acessos às matérias de um jornal online sob a pena de pagar para ter acesso ao material de reflexão que nutre este blog.

Se a coisa continuar deste jeito, daqui a pouco vou ter de pagar por cada palavra que cito de outras obras, uma aberração que faria das teses e pesquisas acadêmicas um trabalho executável somente por ricaços e magnatas excêntricos.

Ranking

Pois é, voltei.

Passei as últimas 24h de greve contra o Blogger em protesto à uma inicativa maluca (do próprio Blogger?) de restringir as funcionalidades da página, caso o usuário não escolhesse o Google Chrome como opção de navegador. Não optei e dei uma banana para os dois: Google Chrome e Blogger. E só voltei agora que percebi que todas as funcionalidades - inclusive a de escrever um comentário - me foram plenamente restauradas.

Pois então: se, por um lado, o problema técnico parece ter sido superado, por outro ele acabou deixando vestigíos de mau humor nas minhas maltraçadas linhas. Aliás, duvido que o leitor inteligente não tenha seu estado de espírito alterado ao ler o que eu li sobre uma suposta disputada mundial pela primeira posição em um ranking de supercomputadores.

Notícia publicada hoje no jornal O Globo online atesta: "O supercomputador Sequoia, da IBM, conquistou para os Estados Unidos a primeira posição na lista dos mais rápidos do mundo" (http://oglobo.globo.com/ciencia/eua-recuperam-lideranca-na-lista-dos-supercomputadores-do-mundo-5246125#ixzz1yIjuUHG3).

Mas a premiação está longe de ser um fim em si mesma. Ela serve, entre outras coisas, para resgatar a autoestima norteamericana frente aos países asiáticos: "O sistema recém-instalado superou o computador K, do Japão, construído pela Fujitsu, que ficou com o segundo lugar. É a primeira vez que os EUA tomam a dianteira da lista desde que foi derrotado pela China, há dois anos" relata a notícia.

A questão é: o que os EUA estão fazendo de útil com o supercomputador Sequoia? Eis a resposta: "O Sequoia será usado para realizar simulações para ajudar a prolongar a vida útil de armas nucleares, evitando a necessidade de realizar testes subterrâneos".

Realmente, estou de queixo caído com a nobreza da missão! Quanta rapidez prestando um desserviço à paz mundial. Acho que nem a utilização de um supercomputador para melhorar a rede de distribuição da Coca-cola me deixaria tão estarrecida.

E eu fiquei aqui pensando: "o que a sequoia, essa árvore tão bonita, tem a ver com uma missão tão inútil como essa"? Vou dormir, torcendo para não sonhar com a resposta.

sábado, 16 de junho de 2012

Um trem para as estrelas

Um trem para as estrelas: depois dos navios negreiros, outras correntezas.

Bem, se depender do primeiro trem de levitação magnética que começará a ser construído no Brasil daqui a dois meses, as "correntezas" enfrentada por este novíssimo meio de locomoção serão bem outras.

Desenvolvido no Centro Tecnológico da Coppe/UFRJ, na Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, "o trem levita graças ao campo magnético criado por imãs de terras raras e supercondutores, estes mantidos a uma temperatura de 196 graus negativos com nitrogênio líquido", conforme relata matéria publicada hoje no jornal O Globo online (http://oglobo.globo.com/rio20/no-fundao-trem-de-levitacao-magnetica-comecara-ser-construido-em-agosto-5224337).

Apelidado de Maglev-Cobra, o protótipo apresenta diversas vantagens: "quando estiver em funcionamento, não haverá barulho nem emissão de gases-estufa na atmosfera. O trem pode acelerar e desacelerar mais rapidamente, fazer curvas mais acentuadas do que um metrô (por isso o nome cobra), e, principalmente, não tem rodas nem trilhos: a composição paira no ar". Além disso, "diferentemente do que pode parecer, manter um trem que levita gasta menos energia do que fazer funcionar o metrô".

Mas o mais hilário mesmo na matéria foi a advertência atribuída a um dos responsáveis pelo projeto, Richard Stephan, do Laboratório de Aplicações de Supercondutores da Coppe: "Não é bruxaria, é ciência", teria dito o cientista.

Ufa, ainda bem mesmo que ele avisou! Já ia trocar, inadvertidamente, minha vassoura de bruxa por um cartão de passe eletrônico para o Megalev-Cobra.

Enfim, a despeito de qualquer sombra de dúvida sobre como chegar até nossos destinos prediletos, aguardaremos ansiosamente pelo novíssimo "trem para as estrelas".


sexta-feira, 15 de junho de 2012

Fóssil do dia

Muito louvável a iniciativa deste grupo de mais de 500 ONGs que, pelo sexto ano consecutivo, confere o título de "fóssil do dia" ao contra-exemplo de política ambiental, isto é, ao país que mais emperra as negociações nas convenções ambientais promovidas pela ONU (http://oglobo.globo.com/rio20/tio-sam-jurassico-5208240).

Ironias à parte - e apesar do título da premiação - os Estados Unidos conseguiram arrematar o troféu do dia justamente por utilizar energia proveniente dos fósseis, isto é, do petróleo: "os Estados Unidos gastam US$ 151 bilhões por ano com combustíveis fósseis, o que evita investimentos, dentro do país e no exterior, em fontes alternativas ou em modos de mitigar as mudanças climáticas", conforme denuncia a cúpula julgadora do prêmio.

Enfim, merecido ou não, achei a iniciativa tão válida que até tive vontade de criar meu próprio prêmio "Fóssil do Dia", no intuito de desestimular notícias mal-redigidas ou publicidades nocivas à saúde física e mental. O problema é que eu não tenho nada contra os fósseis a ponto de desmerecê-los com semelhante premiação, da mesma forma que não conheço nada que desabone os "abacaxis" para justificar a oferta de um troféu de mesmo nome a qualquer um que venha a me desagradar. Por essas e por outras, hei de preferir um nome mais neutro que puna apenas o alvo da premiação, sem desacatar a terceiros.

Qualquer que seja o nome do prêmio que eu ainda não inventei, eu certamente o daria a este grupo de físicos japoneses que criaram um modelo matemático capaz de prever o sucesso de bilheteria de filmes antes mesmo que estes sejam lançados: "Uma equipe de cientistas da Universidade Tottori desenvolveu um conjunto de modelos matemáticos que mede quanto foi gasto em publicidade antes da estreia do filme, ao longo de qual período e qual o impacto do filme nas mídias sociais", relata notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online (http://www.hojeemdia.com.br/entretenimento/fisicos-japoneses-revelam-segredo-dos-sucessos-de-bilheteria-1.459558).

O modelo é um tiro no pé (ou pior, na cabeça) daqueles que julgavam o famoso "modelo matemático da comunicação" teoricamente superado. A justificativa para tanto retrocesso tem a ver com a "precisão" dos resultados encontrados a partir da aplicação do modelo, já que os cientistas afirmam terem sido capazes de prever "a popularidade de vários sucessos de bilheteria, incluindo 'O Código Da Vinci', 'Homem Aranha 3' e 'Avatar', que posteriormente compararam com os ganhos reais gerados pelas películas". E, pasmem, de acordo com o principal responsável pelo modelo, o físico Akira Ishii, o modelo têm sérias pretensões de universalidade: "Eu penso que o nosso modelo é muito genérico. Funcionará em outros países também", promete.

Para quem não sabe, não se interessa e não é da área, a querela entre uma abordagem quantitativista da comunicação versus uma abordagem qualitativista é velha e data da primeira metado do Séc. XX. Daqueles tempos e de querelas posteriores havia ficado ao menos uma lição: a questão não é só a quantidasde de vezes com que algo que é dito, mas como é dito. Além disso, relacionar o volume de gastos em publicidade com o volume de vendas de bilheteria é uma maneira simplória de tentar explicar o fenômeno pelos acertos, sem se importar em incorporar os "casos desviantes" (ou seja, os fracassos de bilheteria) à análise.

Bem, como não li nenhum artigo, nem consultei nenhum relatório de pesquisa, não vou poder entregar meu antitroféu hoje. Na falta de informações mais conclusivas sobre o tal modelo, minha vontade era simplesmente saber se os casos de fracasso escancarados de bilheteria - mas que receberam os mesmos investimentos publicitários dos demais blockbusters - foram testados pelo modelo.

Enquanto a informação não vem, eu vou procurando um nome melhor para o meu troféu.

E bons sonhos para quem fica.


quinta-feira, 14 de junho de 2012

No lombo do coiote

É verdade, já estava mesmo na hora de mudar o rumo da prosa. Por essa razão, eu hoje optei por postar alguns meros devaneios - meus e alheios - só para lembrar a importância de rir de si mesmo - com ou sem a companhia do outro.

Rir de si mesmo é uma requintada forma de desapego e humildade. É prática saudável e profilática, capaz de evitar achaques de pessimismo e de tornar a vida muito, muito mais leve. E mesmo se ela ainda não faz parte das recomendações do Ministério da Saúde, muitos hão de concordar que ela deveria ser tão frequente quanto tomar banho: uma mais ou vezes por dia, dependendo do clima.

O vídeo abaixo traz um exemplo expressivo do mais belo ataque de riso frouxo que já vi - desses que nem fita crepe, atadura ou camisa-de-força é capaz de conter! A sequência é tão inusitada quanto a imagem de uma criança que se diverte montada no lombo de um coiote e vai descendo, às gargalhadas, morro abaixo...

Com vocês,  Elvis Presley cantando (ou melhor, tentando cantar) "Are you lonesome tonight":




Enfim, vou ficando por aqui lembrando que, nesses momentos gloriosos de auto-riso frenético, cumplicidade  - consigo mesmo e para com o outro - é pré-requisito fundamental.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

À mesa

Vocês podem até achar que é picuinha minha, mas ao final deste comentário verão que não é. Jornalistas deste meu Brasil, ouçam o meu clamor: parem de castigar a Flor do Lácio!

Admito que a discussão tinha até começado bem, já que a matéria detalhava um estudo publicado pelo maior site americano de empregos, o CareerBuilder. Refiro-me, mais especificamente, à notícia publicada hoje no jornal O Globo online abordando o risco de sedentarismo e, consequentemente, de ganho de peso em função da profissão exercida. "Segundo o estudo, 44% dos trabalhadores entrevistados ​​disseram que engordaram em seu emprego atual. O maior culpado: o sedentarismo", relata (http://oglobo.globo.com/emprego/trabalhar-engorda-especialmente-em-algumas-profissoes-5177324#ixzz1xdkHG7De).

Após uma breve explanação das "profissões de risco" -  a saber, agente de viagem, advogado/juiz, professor, serviços de proteção (policial, bombeiro), assistente social, artista/designer/arquitetos, assistente administrativo, físico, profissional de marketing/relações públicas e profissional de Tecnologia da Informação - eis que o redator da notícia acaba dando uma bela escorregada na casca de banana: "De acordo com o estudo, 54% dos participantes atribuíram o seu ganho de peso ao fato de passar praticamente o dia inteiro sentados em suas mesas".

Ora, se levarmos o comentário ao pé da letra, poderemos inferir uma solução rápida e simples para o problema do sedentarismo no trabalho: em vez de "sentar em suas mesas", os funcionários deverão "sentar em seus lustres", "em seus telhados", "na calha da varanda", "ao final de vinte lances de escada" - ou seja: eles deverão se sentar em algum lugar difícil de chegar, mas cujo esforço será recompensado com a queima de calorias.

Quanto ao pobre infeliz que escreveu esta pérola, aconselho aulas particulares de português para entender que "sentar em sua mesa" não é, não será, nem nunca foi a mesma coisa que "sentar junto à mesa".

E quanto à mim, que sobrevivo graças a uma profissão de "alta periculosidade", vou tratar de dormir logo para amanhã poder nadar meus 3 mil metros com o corpo e a consciência bem leves.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Espaço aéreo

Restrições no espaço aéreo brasileiro previstas para acontecer durante o evento Rio+20 têm ocasionado o cancelamento de uma séria de voos.

Pelo menos é o que afirma a notícia publicada hoje no site Folha online sobre os cancelamentos da companhia aérea Gol: "Foram oito voos cancelados no dia 20 de junho, 30 voos no dia 22 e três cancelamentos no dia 23", detalha (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1103048-gol-cancela-mais-de-40-voos-no-galeao-por-causa-da-rio20.shtml).

A razão para tanto cancelamento tem a ver com estirpe dos ilustres visitantes que prometeram comparecer ao evento: em maio deste ano, outro reportagem da Folha  já havia revelado que "o governo pretendia fechar parcialmente o tráfego aéreo no Galeão entre os dias 20 e 23 de junho para receber os voos de mais de cem chefes de Estado que participarão da conferência". No entanto, segundo informa a matéria, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleise Hoffmann, negou a existência de restrições nestes dias. "No máximo, disse, haveria um remanejamento de voos no dia 22 entre as 16h30 e as 22h, quando a maior parte dos líderes deve chegar".

Enfim... enquanto o poder público decide se o fechamento é ou não verdade e a companhia Gol corre atrás do seus usuários para reacomodá-los em outros vôos, eu fico aqui pensando na necessidade de se fechar o espaço aéreo em função da chegada de terceiros. Tá certo que estes "terceiros" são a autoridade máxima de seus respectivos países, mas o negócio é o seguinte: EU também quero um dia fechar o espaço aéreo deste país.

E quero mais! Quero descer em tapete vermelho no Galeão e ser recebida por fanfarra. Quero também seguir no alto de um daqueles caminhões do Corpo de Bombeiros, cercada por todos os lados de batedores da Polícia Militar. Um cortejo a céu aberto, pétalas de flores lançadas do alto dos edificios, cartazes, gritos, lágrimas, comoção pública. E, por fim, uma solenidade para poucos convidados na sede do governo. Outra fanfarra. Mais gritos, mais lágrimas, mais comoção. Desmaios na multidão. Um rebu danado nas redações, coletiva de imprensa, declaração para a posteridade. E a TV filmando tudo, enquanto o povo ensandecido vai tuítando, facebookando, compartilhando... 

Tudo isto, senhoras e senhores, porque EU consegui sobreviver milagrosamente às provações sofridas ao longo deste dia. E por tamanha façanha, mereço ser saudada como uma autêntica heroína nacional!

Fica a dica, Dona Dilma.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

O abraço

Sim, esta foi uma semana propensa a emoções fortes, altas de pressão arterial e encurtamentos da respiração. Ainda bem que o próximo de trânsito de Vênus é daqui a 105 anos, quando já terei me recuperado do tranco. Fato é que depois de todas as tragédias, ainda consegui fechar a semana com um gostinho de otimismo nos lábios.

Se bem que a notícia publicada hoje o Globo online teve lá o seu quinhão de responsabilidade nisso. No último sábado, dia 02 de junho, o caminhoneiro Renato Varela de Oliveira, 43 anos, saía de São Paulo para o Rio Grande do Sul quando sofreu um acidente na altura do município de Jaguariaíva (PR) (http://oglobo.globo.com/pais/motorista-fica-preso-as-ferragens-por-dias-sobrevive-com-laranja-5150294).

O motorista acabou perdendo o controle da direção, caindo em uma ribanceira e ficando preso nas ferragens. "Como o local é de mata fechada, ninguém conseguiu ver o caminhão tombado", explica um cabo de polícia em depoimento ao jornal.

Com as pernas presas nas ferragens, Oliveira conseguiu sobreviver às custas da carga que trazia - laranjas! - que acabaram caindo na cabine do caminhão. Ele acabou sendo achado ontem, 5a feira, pelo próprio pai, que resolveu procurá-lo por conta própria.

O desfecho da história é dado em primeira pessoa pela própria vítima: "Eu nem acreditei quando vi meu pai na minha frente. Parecia um milagre. Foi o abraço mais longo que já dei em alguém. Uma emoção que não tem tamanho".

E assim foi a semana: de uma emoção que não tem tamanho. Sem mais para o momento, deixo longos abraços para quem fica, para quem vai e para quem ainda não decidiu o que fazer da vida.

Até!

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Escolhas

Escolhas são escolhas na acepção mais pura do termo e, enquanto tal, devem ser respeitadas. E isso inclui até mesmo a opção de interromper a própria vida e partir deste mundo.

Assim foi com Bob Welch, vocalista da lendária banda setentista Fleetwood Mac. Li com extremo pesar no jornal Hoje em Dia online que ele se suicidou hoje, aos 65 anos, com um tiro no peito. A notícia menciona ainda uma suposta carta de despedia de Welch que teria sido achada por sua esposa (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/ex-integrante-da-banda-e-encontrado-morto-em-casa-1.456499).

Tal como no clássico da banda que compartilho logo abaixo, a notícia - triste notícia - foi recebida de segunda mão.

Sobre-natural

Viver é natural. Morrer também. Mas há vidas e mortes que têm um quê de sobrenatural.

Essa notícia publicada hoje na Folha online sobre o menino que acordou durante o próprio velório não deixa margem para muitas dúvidas: o caso é realmente do outro mundo!

"Uma criança de dois anos acordou, sentou no caixão e bebeu um copo de água durante seu próprio velório no sábado (2), em Belém, segundo parentes e pessoas presentes no local" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1101381-crianca-acorda-e-pede-agua-no-meio-de-seu-velorio-diz-familia.shtml).

O menino Kelvys Simão dos Santos chegou a ser levado para o hospital, mas acabou chegando morto. Enquanto a polícia civil investiga a possibilidade de erro médico na declaração da primeira morte, "há quem diga que foi um milagre ou algo sobrenatural". Pelo menos, é o que acreditam as 50 pessoas presentes no velório.

Um outro caso digno de menção foi o falecimento da única filha de Oscar Niemeyer, Anna Maria Niemeyer, aos 82 anos de idade. "O hospital informou que a causa da morte foi enfisema pulmonar", revela notícia publicada no mesmo jornal (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1101215-aos-82-anos-morre-a-unica-filha-de-oscar-niemeyer.shtml).

Neste caso específico, três interpretações são possíveis e plenamente conciliáveis: é natural alguém morrer aos 82 anos, como Anna Maria; é anti-natural uma filha morrer antes de seu pai, partindo-se do princípio de que este era 22 anos mais velho; é sobrenatural alguém como Oscar Niemeyer chegar lúcido e saudável aos 104 anos.

O ditado já dizia: "para morrer, basta estar vivo". Mas para compreender os mistérios da vida e da morte, não tem outro jeito: é preciso nascer e morrer muitas vezes!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Engarrafamento de Vênus

O tão falado trânsito do planeta Vênus acontece de hoje (5 de junho) para amanhã, mas já está causando engarrafamento desde a semana passada nas redes sociais e nos jornais online. Alerta geral: o segundo maior planeta do nosso sistema solar estará atravessando os céus e se posicionando entre o sol e a Terra (http://oglobo.globo.com/ciencia/transito-de-venus-visto-em-varias-partes-do-mundo-5129787).

O evento é o mesmo hoje e sempre, mas já provou ter usos e proveitos diversos ao longa da história. Já houve um tempo que a passagem de Vênus serviu para construir o primeiro referencial de distância no espaço: "Foi através dos estudos da passagem de Vênus que se chegou ao que é considerado o embrião de uma medida mais precisa da distância da Terra ao Sol, a chamada Unidade Astronômica, hoje fixada em aproximadamente 150 milhões de quilômetros" (http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1100795-comeca-o-ultimo-transito-de-venus.shtml). Hoje, de acordo com a matéria do jornal O Globo, os "astrônomos medem a densa atmosfera de Vênus e usarão os dados para desenvolver novas técnicas de medição das atmosferas de outros planetas fora do Sistema Solar".

Ao contrário do trânsito aqui na Roça Grande, que já se tornou habitual, o de Vênus é raro e só poderá ser visto daqui a 105 anos - ou seja, quando nós já tivermos partido desta para melhor. Mas quem estiver na capital mineira e quiser assistir o evento, ele será transmitido ao vivo na fachada do Espaço TIM UFMG do Conhecimento, das 19h30 às 00h, na Praça da Liberdade (http://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2012/06/04/interna_tecnologia,298220/transito-de-venus-sera-transmitido-ao-vivo-na-praca-da-liberdade-em-bh.shtml).

E para quem não quiser arredar o pé de casa, vai pela Internet mesmo, via site da Nasa (http://venustransit.nasa.gov/transitofvenus/).

Sinceramente? Não sei se a passagem do planeta Vênus seria capaz de mudar a atmosfera de caos que impera neste ano do Dragão, mas uma coisa eu dou como certa: de tanto ser alvo da cobertura noticiosa pelo mundo afora, ele hoje deixou de ser planeta para se tornar a estrela do dia!

terça-feira, 5 de junho de 2012

Crepúsculo poético

Estranhos tempos estes nossos! O bordão, que está ficando para lá de batido, não poderia ser mais conveniente para a situação. É que esta matéria publicada hoje na Folha online revela como o nobre ofício de poeta, já tão atacado em sua legitimidade e reputação, pode acabar opondo duas questões que qualquer desavisado dificilmente correlacionaria: saúde mental e preservação do patrimônio histórico (http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/1098923-sumico-de-poeta-sem-teto-comove-moradores-do-alto-de-pinheiros.shtml).

É, o caso é estranho mesmo. Raimundo Arruda Sobrinho, poeta e morador de rua da cidade de São Paulo de idade estimada em 73 anos, morava há 18 anos no canteiro central da avenida Pedroso de Morais, no bairro Alto de Pinheiros, zona oeste da cidade. Seu raimundo, no entanto, acabou sendo demovido de seu acampamento improvisado no último dia 23 de abril, após ser encaminhado para acompanhamento médico e psicológico no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) do bairro Itaim Bibi.

A controvérsia em torno de seu Raimundo surgiu a partir da iniciativa da publicitária Shalla Monteiro, moradora do mesmo bairro do poeta, de criar um perfil no Facebook para divulgar seus poemas e fotos. "Foi por meio do grupo virtual que o irmão, Francisco Arruda, 56, o localizou, em setembro" do ano passado, ressalta a matéria. Mas como seu Raimundo sempre recusou qualquer tipo de tratamento, a família não teve outra alternativa senão pedir a intervenção do Ministério Público do Estado.

Mas aí é que a entra o inusitado de sola na história: Josangela Roberta, casada com o irmão do poeta, afirma a internação encontrou resistência no órgão público: "na primeira vez que fomos lá, a pessoa do atendimento [do Ministério Público] disse que não poderia fazer nada porque ele era patrimônio histórico de São Paulo". O título de "patrimônio histórico" advém do fato de o itinerante ter sido imortalizado no premiado documentário "À Margem da Imagem" (2003), em que o cineasta Evaldo Mocarzel retratou a vida dos mendigos de São Paulo. Porém, com o auxílio da promotoria, a família finalmente obteve o consentimento para levar o poeta itinerante em uma ambulância. 

Sob o pseudônimo de "O Condicionado" - visto que ele se dizia "condicionado pela escravidão social e pela psiquiatria" - o poeta foi também autor de um depoimento de singular lucidez no documentário: revoltado por não encontrar quem tenha cultura para dialogar com ele, ele afirma com todas as letras: "Parece que estou num pedestal intelectual acima das nuvens".

É... Apesar de suscitar tanta polêmica em torno de si mesmo, pelo menos este consenso seu Raimundo vai ter o prazer de saborear. Digo e repito: estranhos tempos estes nossos!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Morfeu estratégico

Essa foi uma semana complexa - dessas que deixam a gente atordoado que nem cachorrinho que caiu do caminhão de mudança. Minha reação natural seria procurar algum tema mais otimista para rebater a ressaca, mas coisas insólitas andaram ou ainda andam sendo noticiadas nos jornais hoje.

Por exemplo, às 19h de hoje, a cidade de São Paulo conheceu seu engarrafamento recorde: foram nada mais, nada menos do que 295km em filas de carros avançando lentamente(http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1099213-sao-paulo-bate-recorde-e-registra-a-maior-lentidao-da-historia.shtml).

No Rio, o técnico de futebol Mano Menezes escalou, pelo intermédio de vídeos postados no Facebook, a seleção de sub-20 que vai jogar contra a Costa Rica no próximo dia 07 de junho (http://oglobo.globo.com/megazine/mano-menezes-escala-selecao-de-futebol-pelo-facebook-5090399).

Enquanto isso, na Roça Grande, a Defesa Civil alerta para pancadas de chuva e descargas elétricas até a manhã de sábado - tudo isso quando já se acreditava concluída a estação de chuva na cidade (http://www.hojeemdia.com.br/minas/defesa-civil-alerta-para-tempo-chuvoso-ate-manh-de-sabado-1.453863).

Diante dessas provas incontestáveis de que algo "diferente" paira no ar, vou preferir uma retirada estratégica. Não sei se dormir ajuda, mas, com certeza, atrapalhar não vai.

Boa noite e bom fim de semana para quem fica.

Pronta-entrega

Se tudo aqui na Terra passou, está passando ou passará pelo processo de privatização e/ou terceirização, por que isto não aconteceria também nos céus?

E assim é: "A cápsula Dragon, primeira nave desenvolvida pela iniciativa privada a se acoplar à Estação Espacial Internacional (ISS), voltou à Terra nesta quinta-feira" e acabou caindo em pleno Oceano Pacífico, perto da Califórnia, às 12h45 (http://oglobo.globo.com/ciencia/dragon-volta-terra-apos-missao-de-cinco-dias-5080158#ixzz1wVS8j5LK).

Lançada em 22 de maio deste ano, a Dragon permaneceu pouco mais de cinco dias no espaço para testar uma nova modalidade de serviço: "Neste voo de teste, a nave levou cerca de 600 quilos de suprimentos e experimentos não essenciais para a órbita, trazendo de volta aproximadamente o mesmo peso em experiências já executadas e lixo".

Com isso, espera-se que a Dragon - espécie de office-boy robotizado construído pela empresa Space Exploration Technologies (SpaceX) - seja o "profissional" mais bem pago pelos serviços prestados pela categoria em toda a Galáxia: "Com o sucesso da missão, a SpaceX espera receber sinal verde da Nasa poderá começar a cumprir o contrato de US$ 1,6 bilhão com a agência espacial americana para a realização de 12 voos de carga para a estação até 2015".

E por falar em voltar a Terra, hoje está fazendo três anos que eu voltei a esta nossa terra, a Terra brasilis. De vez em quando, tenho a impressão de levar a vida como a Dragon: um bólido despencado do céu, à deriva, esperando que a sorte ou o destino venham me salvar. Fato é que nunca imaginei que passaria pelas coisas que passei nesses últimos três anos. Mas nunca me arrependi de ter voltado, nem sequer quis reaver o que deixei para trás. Para mim, o passado acabou, o presente é incerto e o futuro a Deus pertence. De todas as lições, esta foi a mais bem aprendida.

Agora, se o plano em que vivo é o das incertezas ou se é o das possibilidades múltiplas, isto pouco importa: os tempos de "estabilidade" acabaram sendo fortuitos demais para que eu fincasse o pé em alguma coisa que não fosse uma boa trilha nas montanhas.

Mas, voltando à metáfora do bólido, é necessário reconhecer que o pior já passou: escapei do risco de desintegração ao entrar na atmosfera terrestre. Agora só falta a NASA me descobrir e oferecer um contrato bilionário pelos próximos três anos.

Ótima ideia, não?