UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: janeiro 2013

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Tiro no (meu) pé

Descobri que meu senso crítico é muito maior do que eu...

Olha, longe de mim querer fazer as vezes de uma dessas vegetarianas xiitas... Mas não posso deixar de comentar que os resultados de estudo realizado por pesquisadores na Universidade de Oxford, em uma amostra de 44.500 pessoas, revelaram justamente aquilo que os mais xiitas gostariam de dizer sobre si mesmos:  "Os resultados mostraram que os vegetarianos tinham pressão arterial mais baixa, níveis menores de colesterol ruim e estavam mais dentro da faixa de peso considerada saudável" (http://oglobo.globo.com/saude/vegetarianos-tem-32-menos-riscos-de-desenvolver-doencas-cardiacas-7445496#ixzz2JW0s19Ua ).

Em suma: "vegetarianos têm 32% menos chances de morrer ou precisar de cuidados médicos em decorrência de doenças cardíacas".

Na condição de vegetariana, tenho toda a licença poética do mundo para fazer algumas perguntinhas incômodas: algum pesquisador aí já tentou descobrir qual a porcentagem de vegetarianos que tem mais chances de intoxicação graças ao elevado teor de agrotóxicos nas verduras? E quantos estariam tanto mais propensos a contrair verminoses e outros parasitas em função do elevado consumo de alimentos que vêm da terra?

E para consumar a avacalhação: quantos já não teria morrido de cólera, esperando os carnívoros se converterem?




quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Marmitex detox

Nesse mundão grande sem porteira, onde efemeridade e banalidade encontram rima fácil, difícil mesmo é não rir dos modismos do momento. Aliás, basta uma rápida passada d'olhos nos jornais diários para se estarrecer com a volatilidade das modas e dos modismos: tudo é passível de estar na moda, inclusive o que não deveria ser - mas é! - nada mais do que uma simples moda passageira.

Pois vejam só que até as dietas de desintoxicação estão virando mania entre as celebridades. Por vias tortas, obviamente. Apelidadas de "detox" - versão condensada em inglês para analfabetos-VIPs em português - essas dietas até nascem de motivações das mais nobres: "A premissa dos tratamentos é que maus hábitos, como a ingestão de produtos industrializados e estresse, liberam toxinas e o organismo precisa de ajuda para eliminá-las", relata notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1221676-moda-entre-famosos-dietas-e-produtos-detox-tem-procura-crescente-no-brasil.shtml).

E não é que as tais "detox" já conquistaram a adesão de multidões? "A lista de celebridades que já aderiram a essas dietas só aumenta a fama do detox", prossegue a notícia. Obviamente, quando a esmola é muita, o santo desconfia: a perda de peso - e não necessariamente a saúde - é que está no horizonte de expectativas dos clientes mais famosos. Ainda que por vias tortas, a dieta de desintoxicação continua a fazer o bem sem olhar a quem: "Estamos com quase todo o elenco de 'Salve Jorge' [atual novela das 21h da TV Globo]', comemora a chef e nutricionista Andrea Henrique".

Se bem que, de todos, a mais favorecida é a própria Andrea Henrique, autora e produtora das procuradíssimas "marmitas detox": feita "com produtos orgânicos, sem lactose, glúten e gordura animal - ingredientes que, segundo a chef, prejudicam o fígado", a "comodidade sai por R$ 1.400 a semana, preço promocional". Ui! Imagina então o preço quando a promoção acabar!!!

 Dietas à parte, o importante é reter da "dieta detox" sua essência primeira: desopilar o fígado e fazer as energias fluírem a contento. Mas isto pode ser feito gratuitamente - ou quase! Basta uma conexão uma conexão à Internet, um computador pessoal e a disposição de ir até o Youtube e procurar pérolas como este vídeo em que Chet Baker e Elvis Costello dividem o palco. Mas com uma vantagem indiscutível com relação às "marmitas detox", tão disputadas pelo elenco da Rede Globo: além de liberar toxinas e possuir custo infinitamente menor, o kit salva-orelhas Baker/Costello tem o poder de desopilar o espírito. E isso... realmente não tem preço!




 Fonte: http://youtu.be/LPedQx42QE4

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Malfadada

Pela quantidade de atrocidade que anda acontecendo pelo mundo afora, há quem acredite que as fadas madrinhas têm andado um tanto quanto escassas  no mercado. Só que nem as fadas estão mais imunes às obsessões e descalabros do mundo contemporâneo.

Pelo menos, é isto o que sugere a notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online a respeito desta estranha "fada-madrinha" que apareceu nos EUA: "A americana Susan Warren, também conhecida como 'Fada da Limpeza', foi novamente detida pela polícia de Elyria, cidade localizada em Ohio, nos Estados Unidos" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/fada-da-limpeza-e-detida-apos-limpar-calcada-de-vizinho-1.83161).

O motivo para a intervenção policial? Não sei se é dos mais torpes, mas certamente levanta controvérsias: "A mulher estava varrendo a calçada dos vizinhos, mas não havia sido autorizada". A pergunta seguinte é quase automática: e o que pode haver de errado nisto? Bem, digamos que respeito ao "livre-arbítrio" não é o forte da fada: "Em um dos episódios mais recentes, a 'Fada da Limpeza' invadiu uma casa, limpou tudinho e deixou um bilhete com seu número de telefone e uma conta de US$ 75."

Neste caso específico, devo reconhecer que a ação policial teve lá o seu papel profilático: apesar de bem-intencionada, a fada é danada de espaçosa. Vai que a moda pega e  a "fada da limpeza" decide levar a farsa adiante? Dali a processar os proprietários das casas por encargos trabalhistas atrasados é outro pulinho de nada. E se o delírio continuar seu livre curso, tanto pior será: não há de lhe faltar coragem alguma para acusar quem quer que seja de exploração de trabalho escravo.

Mas muito pior do que não honrar uma fatura de US$75, amigo leitor, vai ser se o proprietário visitado resolver ignorar o telefone anotado no bilhete e não ligar para a referida fada. As estatísticas mostram que só há uma coisa pior do que uma fada obsessiva: uma fada obsessiva rejeitada! E nome do  proprietário inadimplente não há de conhecer outro destino senão a boca do sapo mais próximo.

O que nos leva a concluir, sem grandes rodeios, que não se fazem mais fadas-madrinhas como antigamente.




quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

No Limpopo

Sim, cá estou de volta, após longo e tenebroso período de uma semana de estio criativo neste blog. Não que eu quisesse dar um tempo nas postagens, mas é que meu computador (sim, o novo!) andou precisando de uma reforma. Ausentou-se por somente alguns dias, mas o suficiente para deixar minhas noites mais vazias.

Mas deixemos de lamúrias - já que não resolve nada chorar sobre o leite derramado (e muito menos sobre as postagens não realizadas ) - e passemos logo ao tema do dia: final de férias forçado para a criançada que vive às margens do Rio Limpopo, no extremo norte da África do Sul. Aliás, o fim das férias é compulsório para a família toda!

"Milhares de crocodilos fugiram de uma fazenda de criação situada no extremo norte da África do Sul, que no domingo (20) foi inundada pela cheia do rio Limpopo", anunciou hoje o jornal Hoje em Dia online, replicando o jornal sul-africano Beeld (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/15-mil-crocodilos-fogem-de-fazenda-na-africa-do-sul-apos-inundac-o-1.82259). Com isso, 15 mil crocodilos felizes e saltitantes ganharam o Rio Limpopo justamente quando os proprietários da fazenda decidiram abriram as comportas "para retirar a água".

Consequentemente, mães e pais que quiserem transitar ao longo do rio Limpopo e adjacências devem seguir com cautela: apenas "metade dos répteis que fugiram já foram recuperados nas imediações da fazenda". Já a outra metade, ela estará disposta a causar o maior engarrafamento de crocodilos jamais visto naquela via fluvial, em plena 6a feira, véspera do fim das férias escolares.

Sem mais para o momento, despeço-me de todos, afetuosamente, com uma ou duas lágrimas de crocodilos nos olhos, entristecida com o fim das férias alheias (ainda que eu mesma há muito nem saiba mais o que significa "férias").

Fato: fossem os crocodilos simples jacarés, a coisa ficava muito mais fácil. Bastava matá-los a beliscão! Afinal, são só 7.500 espécimes soltos...

 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Fóssil de camarão

Que alegria! Ano Novo, vida nova, novas descobertas. Inclusive a descoberta do velho, do esquecido e do ultrapassado.

Refiro-me, mais particularmente, à descoberta de um fóssil de camarão em pleno sertão nordestino. Mas não pense você, incauto leitor, que se trata aqui de uma camarãozinho qualquer. "Pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (Urca) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apresentaram nesta quinta-feira (17) o único fóssil de camarão achado no Brasil. A estimativa dos pesquisadores é que o fóssil tenha mais de 100 milhões de anos" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/fossil-de-camar-o-de-100-mi-de-anos-e-achado-no-brasil-1.79742).

Na verdade, a notícia da "descoberta" já não era lá tão nova assim. É que algumas dúvidas pairavam sobre a autenticidade do fóssil recém-descoberto: "Encontrado em maio do ano passado, no distrito de Romualdo, na cidade de Missão Velha, no Cariri cearense, os pesquisadores levaram oito meses de estudos para comprovar que o fóssil era de um camarão pré-histórico".

Além de ser único no Brasil, o fóssil é também novidade no resto do mundo. Ao menos, é isso que deu a entender notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo: "Na apresentação, os pesquisadores destacaram que o achado é único exemplar no mundo", afirma. Fora isso, o fóssil de camarão indica a presença de mar ou lagos de elevada salinidade  em pleno sertão pernambucano: "Com a descoberta os pesquisadores informam que há assim evidências que o semi-árido nordestino já foi banhado pelo mar provavelmente na Era Cretácea (entre 140 milhões e 65 milhões de anos)."

Apesar de todos esses achados científicos da máxima relevância, há algo que parece realmente ter passado desapercebido dos cientistas: há pelo menos 65 milhões de anos, gringos já compareciam às nossas praias sem proteção solar adequada. Sorte do nosso pequeno fóssil que, uma vez morto e desidratado, esteve por um triz de virar o primeiro acarajé do sertão nordestino!

Homens magros

Para não dizerem que eu ando de mal da pesquisa científica divulgada pela grande imprensa...

Interessante esta pesquisa encabeçada pelo Departamento de Psicologia da Universidade de Yale: "A pesquisa, publicada no início deste mês na revista científica 'International Journal of Obesity', concluiu que mulheres com sobrepeso tendem a ser consideradas culpadas mais do que mulheres magras por jurados do sexo masculino".

Por meio de método associativo, foi solicitado a "um grupo de 471 pessoas de ambos os sexos e com pesos diferentes analisar uma suposta fraude de um cheque. Fotos de quatro pessoas foram mostradas a eles (um homem gordo, um homem magro, uma mulher gorda e uma mulher magra) para que atribuíssem culpa a cada um em uma escala de cinco pontos".

Além da tendência geral de serem consideradas culpadas com maior frequência do que os demais grupos, as mulheres gordas tiveram como principais algozes os homens magros: "Entre os jurados homens magros, houve ainda a tendência a crer que as rés obesas pareciam ser mais mal-intencionadas e mais suscetíveis à reincidência, em comparação com as observações feitas pelas mulheres magras presentes no júri do estudo".

Obviamente, a pesquisa suscita uma série de questões metodológicas que não foram respondidas no corpo da notícia: e se outros critérios como idade, classe social e cor/raça tivessem sido observados na amostra?  

Não é nada, não é nada, só o critéro de cor e da origem já dariam, por si só, muito pano para a manga. Aqui no Brasil, por exemplo, um interessante estudo descrito no livro "A Cabeça do Brasileiro", de Alberto Carlos Almeida, testou o preconceito de cor associado a outras formas de preconceito como, por exemplo, o preconceito contra nordestinos.

No caso do estudo brasileiro, o método até guarda alguma semelhança com o da Universidade de Yale, mas com uma particularidade muito nossa: ao invés de testar o preconceito relacionado com homens e mulheres magros e gordos, loptou-se por listar oito homens, de tipos fenotípicos variados, os quais foram ordenados e numerados de 1 a 8, indo do mais branco para o mais preto. Pediu-se aos entrevistados que inferissem uma série de informações com base na aparência dos homens: qual deles parecia ser um advogado, qual parecia ser um criminoso, qual parecia ser nordestino....

A conclusão do estudo de Almeida revela a que ponto as diversas clivagens podem sofisticar nossas formas de discriminação: "Em suma, o preconceito é contra pardos e pretos e a favor de brancos, mas apenas dos brancos não-nordestinos" (ALMEIDA, 2007, p. 226).

Bem, não vou me alongar aqui na explicação dada ao caso nordestino, nem tampouco ao das mulheres gordas. Mas alguns achados dessas duas pesquisas convidam a uma reflexão mais detida: que alguns grupos são mais propensos ao preconceito em função de sua aparência, isso já sabemos. O que ainda talvez mereça uma discussão mais aprofundada é justamente se, tal qual no estudo americano, os homens magros seriam por aqui também os mais propensos à discriminação.

Mas esta é uma questão que prefiro deixar em aberto, já que Morfeu me chama. E com ele, não tem coré, coré: homens, mulheres, idosos e crianças de ambos os sexos, de todas as cores, credos, crenças e origens  caem, indistintamente, nos braços desse deus! 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Poesia de auto-ajuda

Nenhuma pesquisa, em nenhum lugar que esta galáxia há de comer, conseguirá abstrair seja do seu contexto sócio-histórico, seja das diversas motivações - pessoais, sociais e acadêmicas - do pesquisador. Isto posto, não vou nem perder meu tempo defendendo a suposta "neutralidade científica", tão real quantos os Smurfs ou os Muppet Babies.

Mas confesso que fiquei intrigada com esta pesquisa comentada hoje na Folha de S. Paulo online, a qual tenta provar a eficácia das poesias: "Ler autores clássicos, como Shakespeare, William Wordsworth e T.S. Eliot, estimula a mente e a poesia pode ser mais eficaz em tratamentos do que os livros de autoajuda, segundo um estudo da Universidade de Liverpool publicado nesta terça-feira (15)."

Mais intrigante ainda é o percurso metodológico para se chegar a esta conclusão: "Especialistas em ciência, psicologia e literatura inglesa da universidade monitoraram a atividade cerebral de 30 voluntários que leram primeiro trechos de textos clássicos e depois essas mesmas passagens traduzidas para a 'linguagem coloquial' ". A conclusão da pesquisa está mais anunciada do que a morte no livro "Crônica de uma morte anunciada", mas com uma desvantagem grande em relação ao romance de Gabriel García Márquez: neste último, a trama é tão envolvente que deixa o espetacdor no suspense até o último minuto.

A bem da verdade, o que dados apontam mesmo é uma elevação da atividade cerebral com a leitura de poesia: "Os resultados da pesquisa, antecipados pelo jornal britânico 'Daily Telegraph', mostram que a atividade do cérebro 'dispara' quando o leitor encontra palavras incomuns ou frases com uma estrutura semântica complexa, mas não reage quando esse mesmo conteúdo se expressa com fórmulas de uso cotidiano."

Mas a conclusão que se tirou a partir daí varre qualquer possibilidade de suspense para anos-luz bem longe daqui:"Os especialistas descobriram que a poesia 'é mais útil que os livros de autoajuda', já que afeta o lado direito do cérebro, onde são armazenadas as lembranças autobiográficas, e ajuda a refletir sobre eles e entendê-los desde outra perspectiva".

Surpreendente mesmo é esperar que uma comissão de pesquisadores de áreas como "ciência, psicologia e literatura inglesa" - e desde quando "ciência" é disciplina? - concluíssem o contrário: que os livros de auto-ajuda são mais "úteis" do que a alta literatura (uma extensão da alta-cultura). Trata-se, neste caso, de um tipo de pesquisa busca a validação, de forma incontéstil, da premissa inicialmente assumida. Obviamente, como a superiodade "semântica" da poesia sobre os livros de auto-ajuda já é um pressuposto básico da pesquisa, acaba existindo pouca margem de manobra para que uma conclusão em sentido contrário conhecesse a luz do dia.

Sem contar, claro, que a pesquisa britânica mediu o volume de atividade cerebral, mas não seu conteúdo: estímulos como "vou tacar fogo nesse livro", "putz, que cara chato!" ou ainda "como vou fazer para me livrar desse livro o mais rápido possível" podem muito bem ter animado as teias neuronais dos 30 voluntários, enquanto os cientistas atribuíam o feito às palavras incomuns ou às estruturas sintáticas complexas. Viés na análise, meu caro Watson!

Finalmente, a cereja do bolo: desde quando a poesia tem por obrigação ser "útil"? Esta conclusão, com certeza, deve ter feito Shakespeare, Wordsworth e T.S. Eliot darem três pulinhos de susto no caixão. Pois a utilidade da poesia é sua própria existência, meus camaradas. Tentar dar um sentido racional maior à uma atividade da ordem da fruição e do sensível é que, a meu ver, parece uma atividade neuronal totalmente inútil. 

Depois dessa, vou dormir! Mas não sem antes ler pelo menos duas quadrinhas do Manoel de Barros para aplacar a contrariedade das minhas teias neuronais...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Odetinha

Esse mundo mesmo cheio de surpresas!

A Arquidiocese do Rio de Janeiro está a procura de um primeiro milagre que torne possível a beatificação de Odette Vidal de Oliveira, mais conhecida como Odetinha. Se o milagre for comprovado, Odetinha será a primeira santa nascida no Rio de Janeiro, conforme relata notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online

" 'Já identificamos centenas de graças alcançadas por fiéis que pediram a intercessão de Odetinha. Mas agora precisamos comprovar de fato um milagre', explica o padre e historiador João Cláudio Loureiro do Nascimento, membro de uma comissão da Arquidiocese do Rio criada para identificar novos nomes que podem integrar a lista de santos da Igreja Católica". (http://www1.folha.uol.com.br/poder/1212614-garota-que-morreu-aos-9-anos-pode-se-tornar-1-santa-nascida-no-rio.shtml).

 Dentre os possíveis milagres atribuídos à candidata a santa, está "a recuperação de uma mãe, que, após o parto, teve uma grave hemorragia. Os médicos teriam afirmado ao próprio marido que sua mulher não iria sobreviver. No hospital, ele pediu a ajuda de Odette em suas orações", prossegue a notícia.

O mais interessante disso, a meu ver, releva do fato de que "Odette Vidal de Oliveira morreu em 1939, vítima de meningite". Pois vejam bem: se fosse nos dias de hoje, as chances de termos uma santa nascida na zona norte do Rio de Janeiro seriam mínimas. Em primeiro lugar, porque a violência nesse país anda tão assustadora que nem mulheres grávidas são mais poupadas (http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2013/01/policia-divulga-retrato-falado-de-suspeito-de-atirar-em-gravida-em-sp.html).

Em segundo lugar, a saúde pública anda tão catastrófica no Rio que, caso ela fosse baleada, dificilmete sobreviveria. Mesmo porque ela poderia ter a infelicidade de ir parar justamente naquele hospital que o médico fraudou o ponto no plantão para passar o Natal em casa (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1213123-medico-que-faltou-a-plantao-no-rio-fraudava-folha-de-ponto-diz-policia.shtml).

Por último, caso Odetinha sobrevivesse às duas primeiras baterias de teste de sobrevivência, ela teria que superar um desafio que se impõe a todos os cariocas, independente da idade e das condições financeiras: suportar o calor do Rio de Janeiro, que no final do ano passado já bateu o recorde histórico de calor, desde o ano 1915, quando se começou a medir as temperaturas na cidade (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com.br/2012/12/a-cruz-e-caldeirinha.html). O calor tem sido tanto, que até os bichos de Jardim Zoológico daquela cidade começaram a receber dieta especial a base frutas e picolés para aguentar o tranco.

Com isso, se é realmente de milagre que Odetinha precisa para se afirmar como a primeira santa carioca, então aqui vão minhas três sugestões de milagres: 1) tornar a cidade do Rio de Janeiro socialmente justa e pacífica; 2) fazer o sistema público de saúde funcionar eficazmente para todos, sem distinção de cor, credo, idade ou classe social; 3) fazer com que as crianças em idade escolar daquela cidade sejam tratadas com tantos cuidados, frutas e picolés quanto os dos animais do zoológico.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Cidadão honorário

"Em Roma como os romanos", diz o ditado. 

Pois é... Quem mandou o ator Gérard Depardieu trocar a cidadania francesa pela russa? Essa pergunta, suspeito eu, deve ter torrado as caraminholas do próprio ator. Pelo menos é o que faz supor esta notícia publicada hoje pelo jornal Folha de S. Paulo online: "O Grande Teatro Dramático de Tiumen, no sul da Sibéria, quer propor ao ator francês - e agora cidadão russo - Gérard Depardieu um contrato de um ano com um salário base de 16 mil rublos (pouco mais de R$ 1.000)" (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1212274-teatro-na-siberia-quer-contratar-depardieu-por-salario-de-r-1000.shtml). 

Para entender o quão irônica pode soar a proposta do teatro russo, é preciso estar a par da famosa querela da troca da cidadania suscitada pelo célebre ator que representou Obelix no cinema francês, querela esta que já havia sido comentada em verso e prosa nos mais diversos veículos de comunicação, inclusive neste blog (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com.br/2012/12/obelix-fujao.html).

A razão para um gesto considerado anti-nacionalista por alguns está ligada à insatisfação dos proprietários de grandes fortunas na França diante do rigor da nova política fiscal do governo Hollande. Mas a realidade de lá é outra: além do salário de base e outros benefícios que foram propostos a Depardieu, "a instituição estaria disposta a custear o aluguel de uma casa simples para o ator, no centro de Tiumen, que tem pouco mais de 600 mil habitantes. ou buscar uma nova cidadania".

Mas agora que começa a chover ofertas de emprego para Depardieu, talvez seja hora do ator pensar seriamente em se adaptar à realidade de seu novo país... Ou - quem sabe - mudar mais uma vez de cidadania, até achar um pacote "casa + emprego + política fiscal" que lhe seja palatável.

Uma coisa é certa: com essa Depardieu não contava! De tão rigoroso, o inverno russo é capaz de congelar qualquer salário!

    

Apophis

Beleza! Solzão brilhando nesse janeiro de 2013 e todo mundo achando que, findo o ano de 2012 e fracassadas todas as profecias de fim de mundo, tudo voltaria ao normal... Será mesmo?

Para ser sincera, acho difícil - muito difícil mesmo! - voltarmos ao que éramos antes de 2012. E o motivo disso é muito simples: a histeria milenarista apocalíptica que vinha sendo cultivada desde a década de 1990 chegou ao seu ápice no ano passado, quando se quis imputar aos Maias a responsabilidade de terem previsto o fim do mundo. E como o cultivo de tamanha histeria foi longo e cuidadoso, é provável que algumas sementes vãs tenham sobrevivido - perdoem-me pelo trocadilho -  à ausência do fim de mundo.

Na verdade, todos santo dia, foram pilhas e mais pilhas de matérias na imprensa online dedicadas a temas apocalípticos, todas elas devidamente comentadas em blogs geridos por gente desocupada e sem assunto (como eu, por exemplo). Aliás, essa foi uma tendência que o próprio filme "2012" soube antecipar magistralmente: criou-se o mercado da catástrofe anunciada, muitas vezes para justificar a inércia à mudança da parte de algumas pessoas (atitude fundada na crença de que "ah, se vamos todos morrer mesmo, para quê que eu vou mudar?"), outras tantas para canalizar uma certa angústia existencial para fins de consumo (no estilo "compremos nossa felicidade porque o mundo tá acabando e ela tá em promoção"). Afinal, foram filmes, livros e eventos escritos, promovidos ou publicados em nome de um evento cuja consequência maior é o aniquilamento da própria existência. Ai, quanto frenezi!

Nem precisa dizer que essa turminha toda foi dormir arrasada ao final do dia 21 de dezembro. Por esses lados aqui da Roça Grande, tivemos, inclusive, um dia auspiciosamente belo para compensar todas as expectativas frustradas. Pois bem, é para esses aí, que andam sem ocupação desde que o fim do mundo não vingou, que comento a seguinte notícia, publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online: "Astrônomos estão se preparando para observar o asteroide Apophis, que passará esta quarta-feira a cerca de 14,45 milhões de quilômetros da Terra, e voltará a aparecer por perto daqui nos próximos anos, com uma possibilidade — considerada extremamente remota — de atingir nosso planeta em 2036" (http://oglobo.globo.com/ciencia/asteroide-apophis-passara-proximo-terra-esta-quarta-feira-7231484).

Ora, sabemos que a simples menção do termo "possibilidade considerada extramamente remota" já é mais do que suficiente para atiçar a imaginação dos apocalípticos  frustrados. Basta lembrar que "se isso realmente acontecer, o Apophis, que tem um diâmetro de 300 metros, causaria uma explosão 100 mil vezes mais poderosa do que a provocada pela bomba atômica de Hiroshima".

Pronto, o estrago está feito! Nem adianta falar que as estimativas iniciais, realizadas na ocasião da descoberta do asteróide, em 2004, eram de uma em 45 mil e que, mais tarde, ela foi revista e passou de uma para uma em 250 mil. De nada adianta esse blablablá! O bom apocalíptico é aquele que não se importa em adiar a felicidade em prol de algum sacrifício imediato. Até 2036, eles terão nada mais, nada menos do que 23 anos para ensaiar tudo aquilo que aprenderam sobre histeria coletiva ao longo do ano de 2012.

Por fim, se a ideia de uma hecatombe de grande proporções parece atraente para alguém que está me lendo nesse momento aí do outro lado da tela, aqui vai uma notícia para ajudá-lo a esquentar os tamborins para 2036: "A temperatura máxima atingiu 40,7 graus Celsius (°C) nesta terça-feira (8), no bairro da Saúde, zona portuária da capital fluminense, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A sensação térmica chegou aos 50°C devido à baixa umidade relativa do ar, em torno de 40%" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/sensac-o-termica-chegou-a-50-graus-nesta-terca-feira-no-rio-de-janeiro-1.76329).

Sensação térmica de 50ºC? Um sinal dos tempos, não resta a menor dúvida....







terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Matisse roubado

Enfim, a chuva!

Sim, ela mesma: a tão aguardada chuva. Aquela com a qual sonhamos tanto ao longo destes últimos dias de calor insano. Aquela que deu o ar da graça pela primeira vez este ano: a chuva, linda e abençoada chuva!

Pois lá ia eu com a alma agradecida fazer a leitura dos jornais do dia - já antecipando o deleite de uma boa noite serena e fresca de sono - quando metaforicamente caio das nuvens: senhora e senhores, nenhuma louvação foi feita à chuva que caiu abundantemente esta tarde.

Em contrapartida, sobraram matérias fartamente ilustradas com fotos que falavam dos diversos pontos de alagamento na Roça Grande (http://www.hojeemdia.com.br/minas/chuva-em-belo-horizonte-arrasta-carros-e-deixa-pessoas-ilhadas-1.75812), do aumento do número de afogamenttos em Minas Gerais(http://www.hojeemdia.com.br/minas/dezoito-morreram-afogados-na-primeira-semana-de-janeiro-1.75823) ou, ainda, da correlação entre o aumento do número de casos de dengre e o aumento da temperatura (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/estudo-liga-aumento-da-temperatura-a-casos-de-dengue-1.75886).

Pois então, de pirraça, não vou comentar nenhuma dessas notícias. Vou preferir falar dessa pintura de Matisse - intitulada "Le Jardin" - que acaba de ser recuperada depois de alguns anos de sumiço total e irrestrito: "O quadro 'Le jardin', de Henri Matisse, roubado do Museu de Arte Moderna de Estocolmo, há 25 anos foi encontrado nesta segunda, em Essex, ao norte de Londres, na Inglaterra" (http://oglobo.globo.com/cultura/quadro-de-matisse-roubado-ha-25-anos-encontrado-em-londres-7213909).

Segundo o jornal inglês The Independent, a pintura em questão, que foi "feita em 1920, [e] avaliada em US$ 1 milhão, foi levada no dia 11 de maio de 1987 por um ladrão que escapou pouco antes de a segurança chegar ao local". Isso aí: US$ 1 milhão pelo quadro de Matisse. Valor elevado, diriam alguns. Mas eu tendo a achar que este é um valor tímido se comparado ao valor da chuva que caiu esta tarde. Pois ao invés de toda a tragédia associada à chuva pelos jornais de hoje, prefirirei ficar com minha gotículas de chuva e minha cama me chamando para dormir o  sono dos justos.

Mas antes de partir: uma canção. Para pensar na chuva e embalar nossa gratidão.


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Dantesco

Pergunta que não quer calar: o que 2013 nos trará de realmente novo?

Bem, se você passar pelo Aeroporto Santos Dumont, na cidade do Rio de Janeiro, verá que muito pouca coisa mudou: mesmo com os recordes históricos de calor na cidade tendo sido alcançados, as medidas reparadoras para que a refrigeração do local fosse normalizada parecem estar sendo insuficientes.

Pelo menos é o que dá a entender a notícia publicada no jornal Folha de S. Paulo online: "Mesmo após a Anac (Agência Nacional de Aviação) anunciar uma multa de R$ 250 mil à Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) pelas falhas no sistema de ar-condicionado do aeroporto Santos Dumont, na região central da capital fluminense, passageiros que circulavam nesta quinta-feira (3) pelo terminal reclamavam do calor no local" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1209552-passageiros-voltam-a-reclamar-do-calor-no-aeroporto-santos-dumont.shtml).

À semelhança da Biblioteca Nacional, que se tornou uma autêntica filial do inferno ao registrar 47ºC nas suas dependências (http://www.cronicasdejuvenal.blogspot.com.br/2012/12/veranescas.html), é a vez do Aeroporto Santos Dumont se candidatar a uma franquia dos domínios infernais.

Mas inovadora mesmo foi a resposta dada pelo superintendente da Infraero ao supracitado jornal: "Todo o sistema de ar condicionado está funcionando normalmente, nós não temos como expandir mais do que isso, o que ocorre é que têm feito um calor atípico na cidade do Rio de Janeiro. O terminal de embarque de passageiros é similar a um tubo semitransparente. Quando a temperatura aumenta, o local virá uma espécie de estufa. Todo espaço do aeroporto é coberto de vidro, as pessoas têm a sensação de estar mais quente, mas está tudo funcionando perfeitamente. E quanto aos ventiladores, nós já estamos providenciando a retirada deles, pois não são mais necessários".

Outra pergunta que não quer calar: se o calor é tão atípico, por que os ventiladores não são mais necessários?

É, se dependermos de respostas arrojadas como esta para sairmos da mesmice dos velhos problemas, então estamos lascados. O jeito vai ser preparar aquela sua massa de bolo preferia, untar uma forma e mandar assar em qualquer um desses dois locais, para sua maior comodidade e conforto.


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Mutatis mutandis

A notícia de hoje é para inspirar todas as mudanças almejamos fazer em nós mesmos e no mundo à nossa volta neste ano de 2013. 

Bem, sabemos que o otimismo que prima no início de todo ano mobiliza um vasto campo semântico: mudanças, transformações, mutações, modificações, transmutações. No rol das mutações, mais especificamente, uma descoberta científica vem desvelar um "mistério" genético no mundo dos felinos: "Dois cientistas brasileiros, trabalhando com colegas dos EUA e da Rússia, identificaram a mutação que transforma leopardos 'comuns' na célebre pantera-negra"
(http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8719078129400556036#editor/target=post;postID=7755927238329795584).

Decrita na revista PLoS ONE, a descoberta dos brasileiros Alexsandra Schneider e Eduardo Eizirik, da PUC-RS, desvenda como ocorrem determinadas alterações genéticas na cor da pelagem dos felinos: "o que o novo estudo mostrou, estudando 11 panteras-negras asiáticas, é que o DNA dos gatões tinha uma alteração de uma única 'letra' química no gene que contém a receita para a produção da [molécula] ASIP. Essa letrinha trocada é suficiente para atrapalhar a fabricação da proteína e inutilizá-la." "Resultado: leopardos de pelos pretos - mas só se os bichos carregarem duas cópias do gene alterado".

A praticamente a um mês do Carnaval no País das Mil e Uma Plásticas, a descoberta tem tudo para ganhar um viés comercial jamais imaginado: bastaria anunciar que a simples alteração de uma letrinha faria da cliente em potencial uma verdadeira pantera, que uma extensa fila de cobaias humanas se formaria imediatamente diante da porta dos pesquisadores. Todas ávidas por mutações, deixemos bem claro: principalmente daquelas rápidas, profundas, irreversíveis e, de preferência, que exijam o mínimo esforço. É que, para os iletrados em genética, a mudancinha de uma única letrinha no código genético fica parecendo coisa de criança.

Mas aí eu pergunto: tudo bem se a pantera for negra? Uai, em um país em que muitos ainda insistem em bater na tecla da ausência de discriminação racial, não custa perguntar. Mesmo sabendo que, em prol da auto-imagem, muitos irão argumentar que a cor da pelagem do felino pouco importa, pois "à noite, todos os gatos são pardos".

Moral da história: não é a mudança da letrinha do código genético da pessoa que resolveria seu problema da obsessão pela aparência. Gatas e panteras que me perdoem: mas lucidez é fundamental!