UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Apophis

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Apophis

Beleza! Solzão brilhando nesse janeiro de 2013 e todo mundo achando que, findo o ano de 2012 e fracassadas todas as profecias de fim de mundo, tudo voltaria ao normal... Será mesmo?

Para ser sincera, acho difícil - muito difícil mesmo! - voltarmos ao que éramos antes de 2012. E o motivo disso é muito simples: a histeria milenarista apocalíptica que vinha sendo cultivada desde a década de 1990 chegou ao seu ápice no ano passado, quando se quis imputar aos Maias a responsabilidade de terem previsto o fim do mundo. E como o cultivo de tamanha histeria foi longo e cuidadoso, é provável que algumas sementes vãs tenham sobrevivido - perdoem-me pelo trocadilho -  à ausência do fim de mundo.

Na verdade, todos santo dia, foram pilhas e mais pilhas de matérias na imprensa online dedicadas a temas apocalípticos, todas elas devidamente comentadas em blogs geridos por gente desocupada e sem assunto (como eu, por exemplo). Aliás, essa foi uma tendência que o próprio filme "2012" soube antecipar magistralmente: criou-se o mercado da catástrofe anunciada, muitas vezes para justificar a inércia à mudança da parte de algumas pessoas (atitude fundada na crença de que "ah, se vamos todos morrer mesmo, para quê que eu vou mudar?"), outras tantas para canalizar uma certa angústia existencial para fins de consumo (no estilo "compremos nossa felicidade porque o mundo tá acabando e ela tá em promoção"). Afinal, foram filmes, livros e eventos escritos, promovidos ou publicados em nome de um evento cuja consequência maior é o aniquilamento da própria existência. Ai, quanto frenezi!

Nem precisa dizer que essa turminha toda foi dormir arrasada ao final do dia 21 de dezembro. Por esses lados aqui da Roça Grande, tivemos, inclusive, um dia auspiciosamente belo para compensar todas as expectativas frustradas. Pois bem, é para esses aí, que andam sem ocupação desde que o fim do mundo não vingou, que comento a seguinte notícia, publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online: "Astrônomos estão se preparando para observar o asteroide Apophis, que passará esta quarta-feira a cerca de 14,45 milhões de quilômetros da Terra, e voltará a aparecer por perto daqui nos próximos anos, com uma possibilidade — considerada extremamente remota — de atingir nosso planeta em 2036" (http://oglobo.globo.com/ciencia/asteroide-apophis-passara-proximo-terra-esta-quarta-feira-7231484).

Ora, sabemos que a simples menção do termo "possibilidade considerada extramamente remota" já é mais do que suficiente para atiçar a imaginação dos apocalípticos  frustrados. Basta lembrar que "se isso realmente acontecer, o Apophis, que tem um diâmetro de 300 metros, causaria uma explosão 100 mil vezes mais poderosa do que a provocada pela bomba atômica de Hiroshima".

Pronto, o estrago está feito! Nem adianta falar que as estimativas iniciais, realizadas na ocasião da descoberta do asteróide, em 2004, eram de uma em 45 mil e que, mais tarde, ela foi revista e passou de uma para uma em 250 mil. De nada adianta esse blablablá! O bom apocalíptico é aquele que não se importa em adiar a felicidade em prol de algum sacrifício imediato. Até 2036, eles terão nada mais, nada menos do que 23 anos para ensaiar tudo aquilo que aprenderam sobre histeria coletiva ao longo do ano de 2012.

Por fim, se a ideia de uma hecatombe de grande proporções parece atraente para alguém que está me lendo nesse momento aí do outro lado da tela, aqui vai uma notícia para ajudá-lo a esquentar os tamborins para 2036: "A temperatura máxima atingiu 40,7 graus Celsius (°C) nesta terça-feira (8), no bairro da Saúde, zona portuária da capital fluminense, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A sensação térmica chegou aos 50°C devido à baixa umidade relativa do ar, em torno de 40%" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/sensac-o-termica-chegou-a-50-graus-nesta-terca-feira-no-rio-de-janeiro-1.76329).

Sensação térmica de 50ºC? Um sinal dos tempos, não resta a menor dúvida....







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