UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Homens magros

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Homens magros

Para não dizerem que eu ando de mal da pesquisa científica divulgada pela grande imprensa...

Interessante esta pesquisa encabeçada pelo Departamento de Psicologia da Universidade de Yale: "A pesquisa, publicada no início deste mês na revista científica 'International Journal of Obesity', concluiu que mulheres com sobrepeso tendem a ser consideradas culpadas mais do que mulheres magras por jurados do sexo masculino".

Por meio de método associativo, foi solicitado a "um grupo de 471 pessoas de ambos os sexos e com pesos diferentes analisar uma suposta fraude de um cheque. Fotos de quatro pessoas foram mostradas a eles (um homem gordo, um homem magro, uma mulher gorda e uma mulher magra) para que atribuíssem culpa a cada um em uma escala de cinco pontos".

Além da tendência geral de serem consideradas culpadas com maior frequência do que os demais grupos, as mulheres gordas tiveram como principais algozes os homens magros: "Entre os jurados homens magros, houve ainda a tendência a crer que as rés obesas pareciam ser mais mal-intencionadas e mais suscetíveis à reincidência, em comparação com as observações feitas pelas mulheres magras presentes no júri do estudo".

Obviamente, a pesquisa suscita uma série de questões metodológicas que não foram respondidas no corpo da notícia: e se outros critérios como idade, classe social e cor/raça tivessem sido observados na amostra?  

Não é nada, não é nada, só o critéro de cor e da origem já dariam, por si só, muito pano para a manga. Aqui no Brasil, por exemplo, um interessante estudo descrito no livro "A Cabeça do Brasileiro", de Alberto Carlos Almeida, testou o preconceito de cor associado a outras formas de preconceito como, por exemplo, o preconceito contra nordestinos.

No caso do estudo brasileiro, o método até guarda alguma semelhança com o da Universidade de Yale, mas com uma particularidade muito nossa: ao invés de testar o preconceito relacionado com homens e mulheres magros e gordos, loptou-se por listar oito homens, de tipos fenotípicos variados, os quais foram ordenados e numerados de 1 a 8, indo do mais branco para o mais preto. Pediu-se aos entrevistados que inferissem uma série de informações com base na aparência dos homens: qual deles parecia ser um advogado, qual parecia ser um criminoso, qual parecia ser nordestino....

A conclusão do estudo de Almeida revela a que ponto as diversas clivagens podem sofisticar nossas formas de discriminação: "Em suma, o preconceito é contra pardos e pretos e a favor de brancos, mas apenas dos brancos não-nordestinos" (ALMEIDA, 2007, p. 226).

Bem, não vou me alongar aqui na explicação dada ao caso nordestino, nem tampouco ao das mulheres gordas. Mas alguns achados dessas duas pesquisas convidam a uma reflexão mais detida: que alguns grupos são mais propensos ao preconceito em função de sua aparência, isso já sabemos. O que ainda talvez mereça uma discussão mais aprofundada é justamente se, tal qual no estudo americano, os homens magros seriam por aqui também os mais propensos à discriminação.

Mas esta é uma questão que prefiro deixar em aberto, já que Morfeu me chama. E com ele, não tem coré, coré: homens, mulheres, idosos e crianças de ambos os sexos, de todas as cores, credos, crenças e origens  caem, indistintamente, nos braços desse deus! 

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