UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Mini-ostentação

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Mini-ostentação

Olha, nem precisa ser pedagoga para avaliar como sofrível a lista dos presentes que as crianças ricas ganham de Natal. Compilada pelo jornal britânico Daily Telegraph e oferecida ao público brasileiro pelo O Globo online, a lista vem recheada de imagens sedutoras e seus respectivos preços, prometendo encher os olhos de quem lê - seja lá de admiração, consternação ou dó.

No entanto, uma análise sensata, levando-se em consideração a adequação ao usuário como primeiro critério, desclassificaria a maior parte da seis opções de presentes descritas na matéria. Por exemplo, a réplica em lego da espaçonave Millenium Falcon jamais chegará às mãos da criança se o pai ou a mãe for um aficcionado do filme Stars Wars (ou Guerra nas Estrelas, se preferirem). Agora, pasmem com o precinho do brinquedo, considerado "o kit de lego mais caro que existe": ele está avaliado, senhoras e senhores, em R$ 34.000. O mesmo raciocínio vale para a pista de carrinhos de 4 metros de extensão da marca Scalextric, avaliada em R$4.900: complexa demais para uma criança montar sozinha, é bem provável que o primeiro adulto por perto se aproprie dela - obviamente, sob o pretexto de monta-la para a criança.

Outro critério (des)classificatório de algumas das opções fornecidas pela lista é o seu gosto estético extremamente duvidoso. A tal casinha de árvore com dois andares e 16 janelas da marca Kyoto Maxi Playhouse lembra muito o foguetinho do programa Domingo no Parque, do Sílvio Santos. Ou seja, além de custar os olhos da cara - algo em torno de R$19.000 - é feia de doer, ou seja, muito menos apresentável que sua tradicional correlata em madeira. Já a girafa de pelúcia de 2,5 metros da marca Steiff, avaliada em R$13.000, promete ser um desafio para toda a família: quem consegui montar nela paga a conta!

Por fim, vem a questão da relação custo-benefício. A máquina de pinball do Pac Man, no valor de R$15.000, é só ostentação. Por um terço do preço anunciado, é possível adquirir um Pinball Digital em máquina de fliperama de verdade (preços disponíveis no Mercado Livre). E este último tem ainda a vantagem de ser alimentado por moedinhas - um pequeno luxo que deveria, ao menos em princípio, pacificar bastante a alma de quem gosta de ostentar.  

Sobrou apenas o mini-Bentley, um carrinho invocado, "inspirado em modelo da década de 1920", destinado a substituir o tradicional carrinho de rolimã. É bem bonitinho, é verdade, mas é também ordinário: por R$20.000, o usuário jamais experimentará as mesmas emoções aerodinâmicas vividas em cada curva fechada em declive, nem os dedos esfolados no asfalto e muito menos os capotamentos fantásticos que só um carrinho de rolimã original pode ocasionar.  

Por essas e por outras, minha suspeita é que os seis presentes bilionários devem responder mais às necessidades psíquicas dos pais - auto-afirmação, carência, culpa - do que propriamente ao usufruto pelos filhos.

Ou não... como diria Caetano Veloso.

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