UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: janeiro 2014

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Raios 2

Momentos de horror e pânico a bordo do vôo 1674 da Companhia Aérea GOL. O voo, que havia decolado de Brasília com destino a Fortaleza, às 21h30, desta última 2ª feira, "teve que retornar ao aeroporto de origem depois de ter sido atingido por um raio durante uma tempestade" (http://senhorespassageiros.blogfolha.uol.com.br/2014/01/30/aviao-da-gol-e-atingido-por-raio-e-volta-a-brasilia/).

Testemunhas oculares narraram o evento à imprensa: "Teve um estrondo. Foi apavorante, porque as luzes da cabine se apagaram –ficaram apenas as luzes paralelas ao chão–, o ar condicionado parou e ficou um cheiro de queimado”, disse um dos passageiros. Com 66 pessoas a bordo, a aeronave acabou ficando com o para-brisas trincado.

Passado o susto, fica aqui o conselho: pense duas vezes antes de mandar alguém para o raio que o parta. Porque ele parte!

Boa noite para quem fica.

Láitchi

Desde 1º de janeiro estão valendo as regras que a Anvisa fixou para qualificar os produtos de "light": "Para vincular o alimento à palavra, o produto 'light' deve ter pelo menos 25% a menos de um determinado nutriente (açúcar, gordura total, gordura saturada, sódio ou valor energético) que o produto convencional do mesmo fabricante", explica notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2014/01/1404642-regras-para-termos-light-e-isento-de-gordura-trans-entram-em-vigor.shtml).

A notícia ainda explica que, na ausência de produto convencional na mesma marca, os 25% serão calculados sobre a média dos produtos concorrentes.

O problema é que a nova norma dos 25% nos leva inevitavelmente à seguinte indagação: e como era antes? Bem, até 31 de dezembro do ano anterior, o termo "podia designar o produto com baixos valores absolutos de determinado nutriente ou um produto com certa redução do nutriente".

Traduzindo em miúdos: qualquer coisa podia ser "light". O que prova que comida honesta anda em falta no mercado. Se bem que o difícil mesmo não é achar produtos genuinamente "light"; difícil é levar a vida com leveza genuína. Mas isto a dona ANVISA ainda não ensinou.





 



 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Zoológico graduado

Não deu para ler isso sem franzir a testa: Bruce Dickinson, vocalista do grupo Iron Maiden, declara hoje, no evento de tecnologia Campus Party, em São Paulo, que é possível "treinar até um macaco para que ele tenha MBA" (http://www1.folha.uol.com.br/tec/2014/01/1403984-ter-calma-para-crescer-e-maior-desafio-de-start-ups-diz-cantor-do-iron-maiden.shtml).

Segundo a matéria publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online, Dickinson é, além de cantor e compositor, "historiador, esgrimista, radialista, empreendedor, piloto de avião e investidor-anjo". 

Fiquei pensando em qual animal fofinho seria necessário treinar para se obter um doutorado. Ratos de laboratório, talvez? Sei não, mas como consultor, Dickinson é um ótimo vocalista. Mas, por favor, fiquemos só neste predicado.


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Crepúsculo do macho

Autor do livro "O Crepúsculo do Macho", Fernando Gabeira jamais sonharia com a possibilidade de que o crepúsculo chegasse ao seu ápice hoje, com a morte do ator americano Eric Lawson.

"O ator Eric Lawson, protagonista de comerciais do cigarro Marlboro durante os anos 1970, morreu de doença pulmonar no dia 10 de janeiro, aos 72 anos, em sua casa na Califórnia" (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/01/1403402-morre-de-doenca-pulmonar-ator-do-comercial-da-marlboro-aos-72-anos.shtml).

Apesar de ter encenado diversos seriados de TV, foi na publicidade que Lawson conquistou seu título de grande ícone de virilidade masculina - isto é, antes que o filme "Brokeback Mountain" reenquadrasse o mito do cowboy em uma perspectiva homoafetiva.

Associações esdrúxulas para vender cigarros, algumas delas prometendo saúde ou virilidade, são uma estratégia antiga da indústria do tabaco  (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com.br/2011/06/no-tunel-do-tempo-da-publicidade-6.html). Tampouco foram os homens os únicos públicos-alvo de tais publicidades: as mulheres também tiveram seu quinhão de falácias, prometendo liberdade e emancipação (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com.br/2011/06/no-tunel-do-tempo-da-publicidade-7.html).

Tragicamente, o herói de Marlboro acabou experimentando do próprio veneno: "Lawson —fumante desde os 14 anos— chegou a fazer campanhas anti-tabagismo parodiando a Marlboro, além de participar de um debate sobre os efeitos prejudiciais do cigarro no programa 'Entertainment Tonight', embora tenha continuado a fumar até ser diagnosticado com a doença". 

Meu caro Lawson, que Deus o tenha e os anjos o recebam em coro. Mas que não haja mais enganos: não há contra-publicidade neste mundo capaz de salvar um pulmão corroído pelo tabaco.


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

De pé

Mudanças de hábito e de atitude nem sempre são bem aceitas, mesmo porque nem sempre são vistas como mudanças para algo melhor.

Assim é com a atitude de aplaudir de pé os mais variados espetáculos de dança, música, teatro. Diversos críticos e diretores se insurgem contra o que atestam ser uma banalização do reconhecimento (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/01/1401502-febre-de-aplauso-de-pe-incomoda-artistas-e-criticos-de-teatro.shtml).

A choradeira parece ter realmente tomado conta dos bastidores. Tem o crítico inglês Michael Billington que acha que aplaudir de pé não passa de um "hábito sujo americano". Já o crítico americano Ben Brantley considera que a prática "virou um gesto social automático". No Brasil, o diretor Antunes Filho e a atriz Nydia Lícia acreditam que "essa mania de levantar sempre" é hábito recente. O diretor Cláudio Botelho (que não é meu parente) reclama que "quem quer que apareça é aplaudido".

O mais interessante, nessas horas de releitura, é perceber como os críticos da mudança retraçam sua gênese. Parte acredita que Hollywood tem, indiretamente, um dedo nisso: "Com a presença crescente de celebridades do cinema e da TV no palco, tanto aqui como no exterior, o fenômeno avançou para o meio das apresentações, para a entrada em cena". Outros acreditam que a prática teve "sua origem na Broadway, seguindo depois para Europa e outros junto com as franquias dos musicais nova-iorquinos".

Já o jornal New York Times vaticina: "espectadores aplaudem para justificar o ingresso caro; por serem turistas, não habituados ao teatro; pelo alívio físico de se levantar; até para chegar antes à saída, nas plateias lotadas". O ator e músico Saulo Vasconcelos vê na prática um rasgo da cordialidade brasileira: "As pessoas aplaudem já se levantando para ir embora, porque o estacionamento é um inferno. E também porque o espectador daqui é gentil, quer mostrar seu carinho."

E há quem acredite, como o ator Ron Daniels, que o problema é ainda maior aqui e o nos EUA do que em outras partes do mundo. "É muito esquisito: a plateia se congratula a si mesma", reclama. Michael Billington vê nesta febre apenas um público "tentando enganar a si mesmo".

Que seja a manifestação da cordialidade e gentileza dos brasileiros ou simplesmente a vaidade do autoengano: pouco importa! Mudança pede mudança. Para conter a expansão dos aplausos efusivos e a qualquer custo, o jeito vai ser radicalizar: a partir de agora, aplauso sincero será aquele dado de joelhos sobre o milho. Ou caco de vidro, dependendo do grau de exigência do crítico ou diretor.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Raios

Se muitas vezes culpo a Roça Grande pelas suas mazelas, pelo menos hoje tive a oportunidade de reconhecer e reverenciar outra face marcante da minha cidade natal: ela também é o paraíso dos raios!

Meteorologista estima que uma média de 70 a 100 raios por hora tenham caído nesta tarde, em função do calor e das nuvens carregadas que se formaram no decorrer do dia (http://www.hojeemdia.com.br/minas/ceu-escurece-e-chuva-forte-atinge-a-capital-e-regi-o-metropolitana-de-bh-1.211734).

Um belo espetáculo, sem dúvida. E um convite à transcendência, exatamente como esta música.


Sem mais para o momento, despeço-me.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O delirante despertar de Rosetta

Ao vivo e a cores para o mundo todo. E assim foi o despertar de Rosetta: mais esperado do que Papai Noel em noite de Natal ou que o 13º salário no final do ano (http://oglobo.globo.com/ciencia/sonda-rosetta-desperta-no-espaco-11350211).

Rosetta, para quem não sabe, é uma sonda lançada em 2004, pela Agência Espacial Europeia (ESA), para chegar até onde chegou, isto é, "a mais de 800 milhões de quilômetros da Terra, próximo à órbita de Júpiter".

Espécie de Cinderela do espaço, seus três últimos foram passados em estado de hibernação, de modo que se pudesse economizar no consumo de energia e de combustível da sonda. "A decisão foi posta em prática em junho de 2011, quando todos os equipamentos foram desligados - com exceção do próprio sistema de geração de eletricidade, os receptores de rádio e o relógio de seu computador principal".

Obviamente, não se despertaria uma sonda senão por um motivo bastante nobre: neste caso, a sonda Rosetta tinha por objetivo "iniciar a missão de se posicionar na órbita do cometa Churyumov-Gerasimenko e acompanhá-lo em sua viagem em torno do Sol, além de liberar uma segunda sonda, batizada Philae, para pousar na superfície do objeto em novembro de 2014".

Não é pouca, portanto, a responsabilidade de Rosetta. Espera-se que ela ajude a decifrar o enigma da formação do universo, já que "o cometa Churyumov-Gerasimenko é considerado um verdadeiros fóssil deste processo".

Como uma família que aguarda ansiosamente notícias da filha viajante, o clima de ansiedade perdurou até a tarde de hoje, no Centro Europeu de Operações Espaciais, em Darmstad (Alemanha), já que a sonda levaria pelo menos sete horas até aquecer e enviar os primeiros sinais à Terra.

A luz dessas atribulações, não me custou muito imaginar um diálogo hipotético entre a mãe ESA e a filha Rosetta:

- "Alô, Rosetta! Minha filha, onde você está?"
- "Tô aqui parada na região metropolitana de Júpiter. As obras do BRT tumultuaram muito o trânsito. Fiquei três anos hibernando dentro do transporte público".
- "Mas você volta antes da Copa, filha?"
- "Não vai dar não, mãe. Vou ter que estudar até mais tarde com um colega de faculdade, que pegou exame especial. Tenho que dar uma força para ele".
- "Então, está bem, filha. Mas não demora muito, não, viu? Deixei um pratinho de lasanha na geladeira. Quando chegar, é só esquentar."
- "Tá certo, mãe. Agora deixa eu ir, que já está quase na hora de descer no ponto"

Rosetta então desliga, sai de órbita e senta na calda de Churyumov-Gerasimenko, seu colega de faculdade. Só que em vez de estudar, eles vão dar um rolé nos confins do Universo, bem longe do Sol -  aquele fofoqueiro! - que é bem capaz de contar para a ESA que as obras do BRT chegarão, quando muito, até a metade da Avenida Antônio Carlos.

Fim do delírio. Hora de ir dormir. Boa noite!

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Brilho nos olhos

Anda com saudades de algum tempo da sua vida em que seus olhos brilhavam com qualquer novidades? Então, é melhor escolher bem a razão do brilho, pois nem toda novidade é bem-vinda.

Depois das duvidosas tatuagens nos olhos (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com.br/2013/05/tatu.html), outra novidade promete seduzir alguns desmiolados: "Uma nova moda nos EUA tem deixado os oftalmologistas de cabelo em pé: joias de titânio em formato de coração, estrela e outros desenhos são implantadas nos olhos" (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2014/01/1398469-nova-moda-nos-eua-joias-implantadas-nos-olhos-trazem-riscos.shtml).

Apesar dos alertas da Academia Americana de Oftalmologia sobre os riscos das chamadas "joias oculares", que "envolvem perfuração do olho, conjuntivite, hemorragia e até cegueira causada por infecção grave ou sangramentos", a coisa já despertou há muito o interesse dos europeus, que a praticam "há anos".

Com tantos riscos no cardápio, fico tentada a lançar a seguinte pergunta: por que corrê-los então? Mas logo desisto e vejo que é a questão que está mal formulada: não se trata de optar por correr mais ou menos riscos de saúde por um mero princípio de estética.

O "x" da questão aqui, a meu ver, é a total falta de serviço braçal útil para dar vazão à angústia existencial: um terreno para capinar, uma laje para bater, um tanque de roupa suja para quarar são sugestões simples, mas bem menos arriscadas para dar vazão à falta de prumo na vida.

Uma coisa é certa: atividade física doméstica é muito, mas muito melhor do que pagar para alguém para (literalmente) furar o seu olho.

Buenas  noches!



Remédio anti-monotonia

Passados alguns anos do meu retorno de terras estrangeiras, onde vivi um tempo considerável em ostracismo, eu hoje cheguei a uma conclusão brilhante sobre o Brasil: não tem jeito de morrer de tédio nesse país. Juro!!! Não tem!

Publicada hoje no jornal O Globo online, notícia divulga receita ensinada pelo blog Manual do Mundo como forma de superar dois problemas comuns nesta época do ano: calor e falta de dinheiro. Usando apetrechos simples como um cooler de computador, uma garrafa pet, pilhas e gelo, você pode fazer seu próprio ar condicionado caseiro! (http://oglobo.globo.com/economia/imoveis/esta-com-muito-calor-pouco-dinheiro-entao-faca-um-ar-condicionado-portatil-caseiro-11294901).

Pois então é isso: não se morre mais de calor por falta de ar condicionado. E não tem sociedade da abundância neste mundo que consiga dar a mesma sensação de vitória sobre a precariedade da vida: contra a falta de recursos, inventividade. E contra o tédio da soluções fáceis, gambiarra!

Amanhã mesmo construo o meu! E boa noite para quem fica.


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A pomba

Lição do dia:

Aninhar a pomba
Contra o próprio peito
Verter ternura 
E saudar 
as transformações que ainda estão por vir.
E gratidão: essa palavra de ouro quando dita com sinceridade.




Mortes e vidas, Severinas

Com os jornais nos apontando, diariamente, tantas maneiras de se morrer bestamente, fica difícil pensar em bons exemplos de vida.

O caso da mulher de 36 anos que morreu em razão da queda de um raio durante um passeio no Guarujá (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/01/1397270-raio-mata-mulher-na-praia-do-guaruja-no-litoral-de-sao-paulo.shtml) ou o do homem que matou outro em razão do uso de celular em sala de cinema (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/mundo/homem-mata-um-em-cinema-apos-briga-por-uso-de-celular-1.209057) são sintomáticos de um tempo: não morremos amassados pela pata do dinossauro (mesmo porque os humanos não chegaram a conviver com os dinossauros), mas somos tão vulneráveis quanto poderosos. Eis o paradoxo da nossa condição.

O mais estranho, contudo, vai ser se acostumar com as novas formas de nascer. Uma delas é o transplante de útero, que passa a ser feito para fins de reprodução: "uma equipe médica da Suécia informou nesta segunda-feira (13) que nove mulheres fizeram com sucesso transplante de útero doado por parentes e em breve poderão ficar grávidas" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/medicos-suecos-fazem-primeiro-transplante-de-utero-1.208940).

Bem, não há nada de realmente novo com relação aos transplantes de órgãos, que já vêm sendo feitos há décadas. A diferença aqui é que as doadoras são parentes vivas: "No Reino Unido, médicos também planejam este tipo de cirurgia, mas usarão apenas úteros de doadoras mortas", ressalta a notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online.

Além disso, a técnica de transplante entre mulheres vivas que está sendo desenvolvida pela Suécia parecer ser digna de controvérsia: "Especialistas classificaram o projeto como significativo, mas salientaram que não há conhecimento sobre se os transplantes resultarão em crianças saudáveis".

No mais, a vida das doadoras não será exatamente uma maravilha, pois há que se pensar na falta que um útero faz para uma mulher em idade fértil. Para as transplantadas, fica a pergunta: por que não adotar?

Se bem que, do jeito que a coisa anda, vai acaba ficando tudo na mesma vibe (ui, como eu detesto esta expressão!). Já sem brilho e mistério, nascer, viver e morrer deixarão de ser importantes partes de um ciclo para se consumarem em pequenos atos de insanidade.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Cafeólatras em veranico

"Tenho sede de café, mas café dá sede": esta seria a síntese do dilema vivido pelos aficionados por café nestes dias quentes de verão. Mas, se depender dos resultados divulgados por um estudo desenvolvido na Universidade de Birmingham, no Reino Unido, e publicado hoje no periódico científico Plos One, o dilema não tem qualquer fundamento científico.

Ou seja: segundo este estudo, "não há relação entre o consumo moderado de café e a desidratação", o que contesta resultados de uma "pesquisa anterior que mostrava os efeitos agudos da cafeína como um diurético leve, e uma suposição comum de que bebidas com cafeína, como o café, tinham este efeito"  (http://oglobo.globo.com/saude/consumo-moderado-de-cafe-nao-causa-desidratacao-11254147).

Para alegria dos cafeólatras como eu, foram medidos "os efeitos do consumo moderado de café preto em comparação ao de volumes iguais de água para o equilíbrio de fluidos e o estado de hidratação" de um grupo de consumidores regulares de café. Em seguida, mediu-se o estado de hidratação de cada indivíduo, levando-se em consideração a massa corporal, a água corporal total e  análises de sangue e de urina.

É a pesquisadora responsável pelo estudo, Sophie Killer, quem conclui: "Nós descobrimos que o consumo de um consumo moderado de café, de quatro xícaras por dia, não causou diferenças significativas em uma ampla gama de indicadores de hidratação em comparação ao consumo de quantidades iguais de água."

Bem, como tudo nessa vida, a pesquisa merece duas ressalvas. Por um lado, "as mulheres foram excluídas do estudo para controlar possíveis flutuações no equilíbrio de fluidos resultantes de ciclos menstruais". Ou seja, como o estudo não acompanhou os indicadores de hidratação em mulheres, ele não é capaz de confirmar nem refutar o impacto do café na regulação dos fluidos femininos.

Por outro, parte-se do pressuposto de que "quatro xícaras" é o parâmetro adequado para qualificar o consumo moderado de café. No entanto, na falta de dados mais consistentes sobre o tamanho da xícara utilizada no experimento e o nível de concentração do café oferecido às cobaias, fico por aqui, refletindo sobre a minha própria sorte nesses dias de sol intenso: ou bem os meus fluidos são rebeldes e se evaporam na presença de quantidades mínimas de café; ou bem a colher que serve de medida para o café veio de Itu.

Boa noite para quem fica. 





quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Ponto de vista

Tudo nessa vida é uma mera questão de ponto de vista.

Senão, vejamos: o Irã, cujo estado é teocrático e que tem como autoridade máxima o aiatolá Ali Khamenei, pode parecer um país conservador aos olhos (femininos e masculinos) ocidentais. Esta deve ter sido, inclusive, a primeira conclusão que se tirou quando chegou, quentinha, a notícia do decreto de "que é moralmente ilícito pessoas de sexo oposto sem vínculo marital ou familiar conversarem por chat na internet" (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/01/1394904-ira-censura-chat-entre-pessoas-de-sexo-oposto-que-nao-sejam-da-mesma-familia.shtml).

A decisão "foi anunciada na segunda-feira por meio de uma fatwa, decreto religioso emitido pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei". Perguntado sobre "o que ele achava das conversas por mensagens instantâneas entre homens e mulheres", Khamenei concluiu, sem rodeios: "diante da imoralidade que muitas vezes envolve essas coisas, é algo que não é permitido".

Contudo, entretanto, porém... poder-se-ia ver a coisa por outro ângulo, já que a proibição envolve apenas pessoas do sexo oposto sem vínculo marital ou familiar. Só que ela nada diz da troca de mensagens libidinosas entre transexuais, lésbicas e gays. São estas, afinal, que acabarão tendo livre curso no Irã, caso se decida concreta pelo veto da troca de mensagens - veto este que, felizmente, "seria difícil de implementar no país onde metade dos 75 milhões de habitantes são usuários frequentes da internet, formando um dos maiores contingentes de internautas no Oriente Médio".
  
Como eu mesma disse no início desse breve comentário, tudo nessa vida é questão de ponto de vista. É só forçar a barra que dá. E se não ainda der, fure as vistas. Fácil assim.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Delírios públicos e privados


O presente comentário é para você que está aí, reclamando que este país não tem eira nem beira, ou futuro que o valha. Notícias publicadas hoje na imprensa brasileira confirmam que não é só aqui que acontecem coisas sem pé nem cabeça nos domínios público e privado.

Por exemplo, em anúncio bombástico hoje à imprensa, o procurador do distrito de Manhattan, Cyrus R. Vance Jr., informou o indiciamento de um grupo de 80 policiais e bombeiros envolvidos em um esquema de aposentadorias fradulentas após o atentado às torres gêmeas no dia 11 de setembro de 2001.


De acordo com notícia publicada no jornal Folha de S. Paulo, "os acusados supostamente receberam entre US$ 30 mil e US$ 50 mil ao ano sob o pretexto que estavam completamente deficientes por transtornos psiquiátricos graves, como estresse pós-traumático, ansiedade ou depressão causadas por seus trabalhos nos atentados contra o World Trade Center" (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/01/1394596-oficiais-sao-acusados-de-fraude-por-fingir-incapacidade-apos-11-de-setembro.shtml).

Ironicamente, a desculpa teria colado bem se - e somente se - a vontade de exibir a vida privada não fosse maior do que a própria desonestidade com o erário público. "No entanto, em seus perfis de Facebook e outras redes sociais, os policiais e bombeiros mostravam fotografias nas quais passeavam em motos, pescavam na Costa Rica ou mostravam suas habilidades como pilotos de helicóptero ou instrutores de artes marciais".

As investigações, no entanto, confirmaram que "os organizadores desta trama dirigiram centenas de solicitações ao Seguro de Incapacidade da Seguridade Social mentindo sobre suas condições psiquiátricas e fingindo certos sintomas com o propósito de obter benefícios aos quais não tinham direito". Ui!

E antes que se diga que os vícios são próprios da vida pública, eis que a realidade nos brinda com outro exemplo delirante: o empresário japonês, Kiyoshi Kimura, dono da rede japonesa de restaurantes Sushi Zanmai, comprou o atum mais caro de todos os tempos: "De acordo com o The New York Times, Kimura pagou mais de R$ 4 milhões por um peixe de 221 quilos (cerca de R$ 18 mil por cada quilo)" (http://www1.folha.uol.com.br/comida/2014/01/1394054-dono-de-restaurante-japones-paga-r-4-milhoes-por-atum-bluefin.shtml).

A justificativa para um preço tão exorbitante? "O preço do atum é normalmente alto por conta da escassez do peixe, ameaçado de extinção, mas seu valor é inflacionado por causa da competição anual entre donos de restaurantes". Neste caso, a vaidade é inversamente proporcional à responsabilidade ambiental: "Eles querem ter o prestígio de comprar o primeiro atum do mercado de peixes Tsukiji, em Tokyo, local onde acontecem os disputados leilões."

De um ponto de vista ético e moral, as coisas andaram todas invertidas ao longo do dia. "Peixe escasso?" "Tudo bem, eu pago." "Trabalhar em prol da manutenção de vidas?" "Boa ideia. Mas quem paga é a coletividade".

Com uma realidade assim tão delirante, eu me pergunto: pra quê narcóticos?

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O perfil de Stonehenge

Surpreendente a análise dos dentes do Homem de Stonehenge, um esqueleto do período Neolítico que viveu há 5.500 anos. Ele foi encontrado na área de mesmo nome, conhecida como "o mais famoso e misterioso templo pré-histórico do mundo" (http://oglobo.globo.com/ciencia/face-do-homem-de-stonehenge-reconstruida-partir-de-esqueleto-de-5-mil-anos-11219649).

Realizada por Alistair Pike, pesquisador da Universidade de Southampton, a análise "mostrou pouco desgaste para a idade, o que sugere uma dieta leve para os padrões pré-históricos". Sabe-se agora que o fóssil possuía "uma maior ingestão de carne em comparação ao homem contemporâneo - possivelmente em ensopado."

Até aí, nada de excepcional - exceto para alguns inimigos declarados do sopão. A verdadeira novidade com relação ao Homem de Stonehenge foi saber que, além de ser grande consumidor de água potável e de ter morrido com idade estimada entre 25 e 40 anos, seus "dentes também estavam extraordinariamente limpos", o que teria até mesmo impedido os pesquisadores de analisar as espécies que ele comia.

Contudo, a limitação dos dados fornecidos pela análise da arcada dentária não parece ter comprometido o trabalho de reconstrução da sua face, que está sendo exposta desde dezembro de 2013 em um novo museu na proximidade Salisbury, sul da Inglaterra. Com base no comprimento dos ossos, no peso do esqueleto e na sua idade estimada, acredita-se que o Homem de Stonehenge "tinha características muito masculinas, como um queixo e maxilar bem definidos", além de "um grande vigor muscular" característico dos homens do Neolítico.

No mais, só especulações. Fontes anônimas alegam que Luzia, o mais antigo fóssil encontrado nas Américas, foi vista curtindo o perfil do seu homólogo inglês em pelos menos três redes sociais e já teria manifestado especial interesse em conhecê-lo pessoalmente.

A seguir, cenas do próximo capítulo...

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Tubarão na rede

Notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online revela que os tubarões australianos também caíram na rede. Pode parecer trocadilho infame, mas, acreditem, não é: a rede, no caso, é social e se chama Twitter (http://www1.folha.uol.com.br/tec/2014/01/1392604-na-australia-tubaroes-alertam-banhistas-pelo-twitter-ao-se-aproximarem-da-costa.shtml).

Graças a etiquetas acústicas que cientistas inseriram em 320 tubarões da costa oeste da Austrália, os grandes predadores do mar são agora capazes de emitir tweets cada vez que se aproximam da praia: "Quando um peixe chega a menos de um quilômetro da costa, elas emitem um sinal que se torna um post no perfil da SLSWA no Twitter, que traz detalhes sobre o tipo, o tamanho e a localização aproximada do tubarão", descreve a notícia.

Tida como "a região mais perigosa do mundo" em termos de ataque de tubarão, a costa oeste da Austrália acabou gerando a primeira leva de tubarões twittadores do planeta.

Para mim, só alívio: se eles podem, eu também posso. 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Entradeira

O primeiro dia do ano me pegou arrumando armários e gavetas - desses que há muito tempo foram sonegados ao esquecimento, seja pela correria nossa de cada dia, seja pelo adiamento constante de uma faxina mais completa. E quando falo em arrumação, apelo aqui ao sentido mais prático do termo, isto é: a uma sequência de tarefas físicas que envolve abrir portas, esvaziar, separar o que fica do que vai para o lixo, limpar, limpar, organizar, reordenar, dispor as coisas de outra forma.

É claro que a sequência supracitada tem lá também o seu sentido metafórico. E não foi por acaso que venho me dedicando, desde ontem, a esta árdua tarefa de organizar os cantos mais sombrios e menos visitados da minha casa. Vinha adiando esse desafio há muito tempo, pelo tempo e pelo esforço que ele me demandaria. Só que desafio adiado acaba virando fardo. Infelizmente.

Por outro lado, a vantagem em fazer isso logo no primeiro dia do ano é a combinação favorável de disponibilidade e disposição. A disponibilidade advém do fato de a esmagadora maioria dos meus amigos terem passado o dia em casa, exatamente como eu. Das duas, uma: ou eles estão ressaqueados, jurando que nunca mais vão beber (promessa improvável de ser cumprida, diga-se de passagem); ou eles estiveram visitando seus entes queridos. Ou ambos.

Já a disposição para a faxina é um propósito interno. É uma atividade prática, é bem verdade, mas com pretensões existenciais. Não que se possa mudar o mundo com isso. Mas penso que limpar e organizar é o mesmo que deixar para trás o que já não me cabe, para então arejar os pensamentos e fluir na vida de maneira harmônica e na medida certa. 

Pode parecer otimismo de primeiro dia do ano... Que seja! Faz tempo que o otimismo não me bate à porta. Seja bem-vindo, então: a casa é sua.