UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: abril 2013

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Xadrez linguístico

Já entendi: o mundo anda mudando muito rápido. Mas... e nossas habilidades expressivas? Será que elas dão conta de acompanhar o fluxo das transformações?

Meu palpite é que elas não conseguem nem de longe! Um dos grandes problemas contemporâneos é que coisas tão bizarras andam acontecendo, que nossas habilidades expressivas acabam sendo prejudicadas pelo excesso de literalidade. Isto porque coisas até pouco tempo consideradas impossíveis (ou pouco prováveis) acabam se tornando coisa corriqueira.

Um bom exemplo foi essa cabeça de dimensões gigantescas que foi achada boiando no Rio Hudson, em Nova Iorque (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/cabeca-gigante-e-encontrada-boiando-em-rio-americano-1.117431). "Feita de fibra de vidro e poliestireno",  a cabeça foi avistada por uma equipe de remadores da Universidade Marista que treinavam no Rio Hudson. "A cabeça foi retirada da água e levada para uma doca. Grupos se organizam para tentarem descobrir a procedência do objeto." Xeque-mate na língua: em tempos sombrios como os nossos, tem muita gente perdendo a cabeça. Literalmente! E em meio a tanto caos, o difícil agora vai colocar a "cabeça no lugar".

Mas não pense você que é só no campo da literalidade que "o bicho anda pegando". Outro problema que surgiu no campo expressivo, graças ao ritmo acelerado das mudanças no mundo, é o comprometimento da nossa capacidade de figuração. Isso mesmo! Excesso de literalidade para uns, limitações de ordem metafórica para outros. Tudo culpa dessas pesquisas genéticas com vacas, que prometem alterar o código genético de raças inteiras para que elas nasçam sem chifres.

"Técnicas de edição de genes conseguiriam inserir uma porção de DNA no genoma das Holsteins, a raça leiteira mais importante do Reino Unido, suprimindo o crescimento dos chifres. Este código genético extra foi retirado de outras espécies de gado bovino. Daí viria uma vaca leiteira idêntica em todos os aspectos ao gado existente, mas sem os chifres" (http://oglobo.globo.com/ciencia/vaca-pode-ser-geneticamente-modificada-para-nao-ter-chifres-8244667).

Pois as modificações genéticas nas vacas farão muito mais do que "de queimar os chifres das vacas, um procedimento difícil e muito doloroso para os animais", conforme afirma a notícia publicada no jornal O Globo online. Outro xeque-mate na língua: a técnica simplesmente inviabilizaria, no espaço de "uma única geração" de bovinos, o uso da velha expressão "pegar o boi (logo, a vaca também) pelos chifres".

Logo, se você quer resolver alguma pendência de forma rápida e eficaz, corra logo: a supressão dos chifres, que já "seria a mudança mais rápida na aparência de um gado já atingida pela ciência", será também a derrocada de uma expressão usada anos a fio por gerações de seres humanas: só que no espaço de uma única geração de vacas.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Ponto de viragem

Sabe quando o avião acelera a tal ponto que ele não consegue mais voltar atrás? Chamado de "ponto de viragem irreversível", o ponto em que tal velocidade é alcançada proporciona ao avião uma única saída: acelerar ainda mais e decolar.

Pois é exatamente isto o que pode ocorrer com o nosso dileto planeta quando o assunto é aquecimento global. Por sinal, os prognósticos relacionados com a emissão de dióxido de carbono (CO2) são desalentadores: "Uma estação de monitoramento no topo da montanha Mauna Loa, no Havaí, deverá registrar pela primeira vez em maio um índice de 400 partes por milhão (ppm) de dióxido de carbono (CO2) no ar do Hemisfério Norte" (http://oglobo.globo.com/ciencia/a-beira-do-abismo-climatico-8204751).

O problema ao se atingir a marca de 400 ppm reside no fato de ser este "o limite em que hipoteticamente o aquecimento seria inevitável". Ou seja: "o mundo se aproxima perigosamente de um ponto na concentração de apenas um dos gases do efeito estufa na atmosfera que muitos cientistas acreditam que torna inevitável um aumento de pelo menos 2 graus Celsius na temperatura média da Terra, com graves consequências para a vida no planeta."

Para se ter uma ideia do que isto representaria em termos de consequências práticas para o planeta, basta lembrar que "segundo os cientistas, a última vez que a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera atingiu tal nível foi na época do Plioceno, entre 3,2 milhões e 5 milhões de anos atrás, quando o clima na Terra era de 2 a 3 graus Celsius mais quente do que hoje e o nível do mar 25 metros mais alto".

O pior mesmo é que estamos passando por um período de aceleração tão contínua que em breve tornará inócua qualquer tentativa de redução do impacto do CO2 na atmosfera: "O índice está se movendo tão rápido que vai chegar aos 400 ppm até o mês que vem e a concentração não vai parar por aí. As emissões de gases-estufa estão atingindo níveis recordes e os esforços para cortá-las não estão tendo resultados".

O que esperar de um futuro pintado com cores tão sombrias? A pergunta é respondida por Ralph Keeling, "geofísico do Instituto Scripps de Oceanografia da Universidade da Califórnia em San Diego e filho de Charles David Keeling, pioneiro no estudo dos gases-estufa e seus efeitos no clima global": "Creio que, mesmo daqui a muitos anos, as pessoas que estão vivas hoje vão se lembrar de quando este índice foi ultrapassado. Ele será uma marca histórica."

Além de ficar na lembrança, há margem para esperança? Keeling acredita que, quando muito, a superação da marca de 400 ppm de dióxido de carbono poderá dar "um novo impulso nas negociações globais sobre o clima" e que a opinião pública poderá passar a exercer ainda mais pressão sobre os governantes. Isto, obviamente, vale única e exclusivamente para aqueles países cujos mandatos políticos ainda se pautam pela opinião pública, o que está bem longe de ser uma condição política universal.

O banal e absurdamente insano desta história de aquecimento é saber que precisamos de um ponto viragem irreversível para que tentemos o que já é sabidamente impossível: desacelerar.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Fadas voadoras

Adoro Chico Buarque, mas acho a letra da canção Mulheres de Atenas particularmente infeliz. Mesmo porque, se eu tivesse que me mirar no exemplo de alguém ou de alguma coisa, seria certamente no exemplo das 'fadas voadoras", essas vespas da família Mymaridae, "cujo corpo tem comprimento médio de apenas 0,13 milímetros" (http://oglobo.globo.com/ciencia/descoberta-especie-da-familia-de-menores-insetos-do-mundo-8198197).

As tais "fadas voadoras" estão presentes em quase todos os continentes (com exceção da Antártica), mas a nova espécie Tinkerbella nana, encontrada recentemente nas florestas da Costa Rica, tem uma peculiaridade: ela mede apenas 250 micrômetros (μm). E um micrômetro equivale à milésima parte de um milímetro.

Pois bem: com dimensões tão reduzidas, a Tinkerbella nana possui alguns dispositivos importantes com "função aerodinâmica", provavelmente para reduzir a turbulência no vôo, mantendo o batimento das asas em uma frequência próxima "a várias centenas de batidas por segundo".

Ou seja, em momentos-chave, em que alguma estabilidade é necessária em meio ao caos reinante, eis que a pequena fada voadora lança mão da "superfície reduzida da asa e as cerdas relativamente longas" que lhe garantem o apelido que tem: "o nome se deve a sua quase invisibilidade, corpos gráceis e asas delicadas com longas franjas que se assemelham às fadas míticas".

Então é isso, seu Chico: se eu, algum dia, tiver que me mirar em algum exemplo, então que ele seja o da capacidade mítica da Tinkerbella nana de sobreviver, com graciosidade e delicadeza, às tormentas existenciais que a assolam. Quanto às mulheres de Atenas, nós já sabemos: "Elas não têm gosto ou vontade/ Nem defeito, nem qualidade". Estão, simplesmente, entregues ao sabor do ventos, sem asas, nem desejos.

terça-feira, 23 de abril de 2013

O Jardineiro Fiel

Quando eu falo de jardineiro fiel, não estou me referindo ao filme dirigido por Fernando Meirelles e estrelado por Ralph Fiennes - cujo título é The Constant Gardener, no original. Estou falando de um outro jardineiro que, de tão fiel às suas inclinações musicais, vai acabar levantando sérias suspeitas de tendenciosidade.

O jardineiro em questão é Chris Beardshaw, um britânico que "apresenta um programa na BBC Radio chamado 'Gardener's Question Time', no qual tira dúvidas de jardineiros do Reino Unido" (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/04/1267645-musicas-do-black-sabbath-fazem-bem-as-plantas-diz-especialista-em-jardinagem.shtml).

A novidade é que Beardshaw decidiu colocar "músicas em estufas para testar a reação das plantas". Na verdade, as músicas não foram dispostas aletatoriamente, mas executadas em estufas distintas, de acordo com o gênero musical: " 'Nós montamos quatro estufas com tipos diferentes de música para ver o que acontecia. Uma era silenciosa (essa era a estufa de controle), uma tinha música clássica, uma tinha Cliff Richard e a última tinha Black Sabbath', contou o jardineiro".

As primeiras avaliações do seu experimento indicam resultados surpreendentes: "Os resultados mostraram que músicas como as do Black Sabbath, mais pesadas, fazem muito bem às plantas, enquanto canções mais leves, como as de Cliff Richard, prejudicam os vegetais e podem até matá-los."

Pois é... Fica no ar uma dúvida que não quer calar: por que o Black Sabbath e não outra banda do mesmo porte? E por que não o Black Sabbath, perguntariam os fãs mais aguerridos?

Sim, é verdade. Pesquisadores, jardineiros e radialistas, todos temos direito a nossas preferências. Pelo visto, até as abobrinhas, cenouras e pepinos têm também as suas. Pois se é assim, nada mais tenho a declarar. Cenouras, abobrinhas e pepinos me calaram o protesto. Não dá para contra-argumentar evidências tão impactantes como plantas e legumes viçosos.  O máximo que se podefazer comê-los de bom grado, imaginando a trilha sonora dó próximo sopão de inverno.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Rastreamento

Na senda dos atentados cometidos há poucos dias nos EUA, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Berkeley, revelam, em estudo publicado na Revista Nature Neuroscience, o quanto nosso cérebro é dinâmico e flexível de forma a priorizar atividades de rastreamento: "quando embarcamos em uma busca direcionada, várias regiões visuais e não visuais do cérebro se mobilizam para rastrear uma pessoa, animal ou objeto" (http://oglobo.globo.com/ciencia/pesquisa-mostra-como-cerebro-se-concentra-para-buscar-pessoas-na-multidao-8180879).

A busca por algúem ou por um objeto reorganiza atividades cerebrais corriqueiras e é capaz de estebelecer novas prioridades: "As mudanças ocorrem em muitas regiões do cérebro, não só naquelas que se dedicam à visão. Na verdade, as maiores mudanças são vistas no córtex pré-frontal, que normalmente é atribuído pensamento abstrato, planejamento de longo prazo e outras tarefas mentais complexas."

O principal autor do estudo, Tolga Cukur, é dos mais entusiastas ao descrever seus resutados: "Nossos resultados mostram que nossos cérebros são muito mais dinâmicos do que se pensava, com rápida realocação de recursos com base nas demandas comportamentais, aumentando a precisão com que podemos executar tarefas relevantes".

Entusiasmos à parte, em tempos de caça às bruxas e terroristas, as prioridades mudam tanto e tão rápido que se corre o risco de parar atividades "secundárias" como respirar e comer em prol do rastreamento. Mas a vida é mesmo cheia de contradições: pudéssemos empregar o mesmo esforço em rastrear nossos amigos distantes e teríamos uma vida muito mais interessante.

Sorte nossa é ainda poder contar com a voz de Mercedes Sosa e seu recado mais genuíno: "Quien dijo que todo está perdido?"


Fonte: http://youtu.be/q1laUmcQg38

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Barros e o futuro

Não vou nem falar desta semana. Se ontem, eu já estava pedindo recall do planeta inteiro, então daí vocês imaginem como terminei a 6a feira. Dispenso, pois, qualquer comentário adicional.

Por outro lado, uma parte da minha alma mais afinada com o jeito "poliana-moça" de ser - isto é, aquela parte destestavelmente otimista - me pediu para que eu tivesse paciência comigo mesma, com o planeta e com o cosmos, e que lembrasse que mesmo estando no meio dos piores cataclismas existenciais, há que se guardar algum elo de esperança, algum rasgo de credulidade que nos reconecte com a criança que fomos.

É a essa criança que trazemos dentro de nós que brindo, oferecendo como lenitivo os versos que Manuel de Barros andou escrevendo especialmente para a Folhinha, caderno infantil do jornal Folha de S. Paulo online.

É de uma linda poesia escrita por Manoel especialmente para a edição da Folhinha, intitulada "Oito formas poéticas de curtir as férias" que retiro os seguintes versos (http://www1.folha.uol.com.br/folhinha/2013/04/1260959-leia-versos-que-manoel-de-barros-fez-especialmente-para-a-folhinha.shtml):

"3
Hoje eu recebi procuração de um pássaro
para abrir a manhã e fechar o anoitecer.
Fiquei amoroso da natureza com essa distinção.
Não sei se vou dar conta."

Como eu também não sei, vou pedir para que a minha criança interior encontre a resposta. Mas, antes, ela precisa dormir o sono dos justos porque é justa e é criança.

Boa noite para quem fica. Fui.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Recrutamento

Vejam bem, nem sequer chegamos ao meio do ano e 2013 já conseguiu me surpreender nos mais variados sentidos: por suas catástrofes de dimensões faraônicas (incêndio na boate de Santa Maria); pelas suas contradições (Marcos Feliciano na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados); pelos revertérios da natureza (recordes históricos de calor, baixo índice de precipitação em pleno verão); pelas suas crônicas de mortes mais que anunciadas (surto de dengue na Roça Grande); pela banalidade do mal (motorista bêbado atropela, arranca braço de ciclista e arremessa o membro em canal)...

Como se não bastasse toda a série de temas já citados, eis que me deparo com essa notícia que só serviu para aumentar os arrepios na minha coluna vertebral: a direção do Centro de Estocolmo para Distúrbios Alimentares, o maior da Suécia no tratamento de anorexia, denuncia o aliciamento (o termo não está no original, mas creio que a ocasião me confere licença poética) de jovens em tratamento para trabalharem de modelo (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/mundo/agencia-de-modelos-recruta-meninas-em-hospital-para-anorexicos-na-suecia-1.114026).

" 'Eles ficavam em frente à entrada do edifício esperando que as jovens saíssem', explicou a diretora do estabelecimento público, Anna-Maria af Sandeberg, à agência sueca TT". Desta vez, foram os requintes da agência que conseguiram surpreender a crueldade: ainda de acordo com a diretora do centro de reabilitação, "uma das meninas procuradas estava em uma cadeira de rodas devido ao seu estado e fragilidade."

Infelizmente, para agravar nossa tristeza e consternação, o nome da agência não foi informado. Pensando bem, 2013 tem me surpreendido tanto e por um leque tão variado de questões que me sinto levada a indagar: não estaria na hora de fazer um recall do planeta inteiro? Porque tem coisa que concessionária autorizada não resolve, só a Fábrica, mesmo porque só ela tem a possibilidade de troca do modelo fajuto por outro totalmente novo e funcional.

Bem, vou dormir mais cedo hoje porque, depois de três dias sofrendo com os engarrafamentos ocasionados pela presença da presidenta Dilma Roussef na Roça Grande, os sintomas de dengue persistem. Boa noite para quem fica!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Celacanto

Ainda em plena campanha pela desaceleração do meu dia a dia e ajudada pelos engarrafamentos monstruosos aqui na Roça Grande - que já me impediram duas vezes só esta semana de chegar até minhas atividades pós-trabalho - acabei chegando em casa mais cedo e me deparando com uma notícia sobre os celacantos que muito me fez refletir sobre a desaceleração e os processos de mudança.

Ao contrário dos jabutis que me serviram de mote no comentário de ontem (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com.br/2013/04/desaceleracao.html) que, apesar da lentidão, conseguiram se diferenciar razoavelmente dos seus antepassados do Mioceno Superior, os celacantos atraíram interesse científico justamente porque pouco mudaram no transcorrer o tempo: "Em um esforço que levou mais de uma década, uma equipe internacional de cientistas realizou o sequenciamento e análise do genoma destes peixes, concluindo que eles evoluíram muito pouco nos últimos 300 milhões de anos", relata notícia publicada no jornal O Globo online (http://oglobo.globo.com/ciencia/genoma-do-celacanto-traz-pistas-sobre-migracao-da-vida-dos-oceanos-para-terra-8141357).

Na verdade, a análise do DNA e RNA dos celacantos revela que estes realmente mudaram pouco, mas que o pouco que mudaram pode revelar muita coisa sobre a evolução de "praticamente todos os vertebrados terrestres", o que acabou tornando-os "a menina dos olhos" dos biólogos evolucionários. Gerald Nepom, diretor do Instituto de Pesquisas Benaroya, acredita que "uma das mudanças de ganho de função mais marcante é a do gene que regula o desenvolvimento dos membros, apoiada por evidências experimentais de que as nadadeiras carnudas do celacanto são semelhantes a protótipos de perna".
Diante deste cenário, concluo, com muita veemência, que jabuti é jabuti e celacanto é celacanto, mas que, juntos, esses dois animais têm muito a nos dizer sobre processos de mudança e adaptação de cada um de nós, seres vivos. Desacelerados, os jabutis mudaram e continuam mudando. E mesmo as mudanças mínimas dos celacantos podem levar a grandes conclusões sobre o processo de locomoção dos vertebrados, de maneira mais ampla.

Desaceleração não é, portanto, sinônimo de estagnação. Mesmo mudanças pontuais podem ser profundas, estruturais e trazer grandes consequências para nosso futuro (e o futuro da nossa espécie). Como dizia François Jacob, biólogo ganhador de um Prêmio Nobel de Medicina em 1965, “a evolução é uma experimentadora, e não uma engenheira”. Ou seja: no mundo dos desacelerados, também se marca gol.
Abraços sonolentos para quem fica!

terça-feira, 16 de abril de 2013

Desaceleração

Desacelerar é um processo vital como outro qualquer: comer, beber, andar, trabalhar, amar. Isto, muita gente diz saber, mas poucos sabem traduzir a "necessidade" em ações práticas.

As duas notícias que selecionei servem de mote para reflexão sobre a saudável atitude de requalificar seu ritmo vital. Cono tudo nesse mundo é questão de prática, e por querer eu mesma dar o exemplo do que digo, decidi que o que vou escrever a seguir será lido por mim mesma em voz alta, em compasso lento, com atenção redobrada.

A primeira notícia diz respeito às expectativas de desaceleração da inflação dos alimentos até o final deste mês de abril. De acordo com notícia publicada no jornal Hoje em Dia online, "a desaceleração da inflação de alimentos da primeira para a segunda quadrissemana de abril deve confirmar um movimento gradual neste sentido até o final do mês, puxando um recuo no Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), avalia o coordenador do indicador e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Paulo Picchetti" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/economia-e-negocios/expectativa-e-de-desacelerac-o-da-inflac-o-de-alimentos-1.113269).

Ou seja, se você se alimenta diariamente, é brasileiro e pretende estar vivo até o final do mês de abril (isto é, pelo menos até a segunda quadrissemana), então você já tem mais uma razão para desacelerar sua vida, juntinho com o ritmo da inflação.

A segunda notícia diz respeito a esse fóssil de um jabuti gigantesco que está inaugurando as comemorações dos 30 anos do Laboratório de Pesquisas Paleontológicas (LPP) da Universidade Federal do Acre (Ufac). Trata-se de "um jabuti gigante, medindo aproximadamente 1,65 metro de comprimento, 90 centímetros de largura de carapaça e um metro de altura. O gigantesco animal, pertencente ao gênero Chelonoidis, viveu durante o período chamado 'Mioceno Superior' " (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/fossil-de-jabuti-de-8-milh-es-de-anos-e-apresentado-1.113298).

Segundo Edson Guilherme, doutor em Zoologia pela Universidade Federal do Pará (UFPa) e membro do laboratório em questão, a recomposição do animal "mostra, de certa forma, que foram da América do Sul que saíram os primeiros jabutis gigantes que colonizaram as ilhas remotas do Oceano Pacífico". Portanto, se você é sul-americano, brasileiro, tem orgulho da Amazônia e acha que o ritmo dos jabutis está distante demais da sua realidade, então é preciso parar já: considere sinceramente recolonizar seus hábitos mais frugais de maneira pacífica, antes que um verdadeiro tsunami te derrube: e te obrigue, por força das circunstâncias, a desacelerar!

E se precisar de trilha sonora, aqui vai uma sugestão:


Fonte: http://youtu.be/YYCa5Q8j1BI







segunda-feira, 15 de abril de 2013

Ataques

Duas estranhas e perturbadoras coincidências puderam ser registradas hoje pelos jornais do Brasil e do mundo (em certa medida). Não que elas tenham necessariamente ligação entre si. Mas elas, certamente, falam de ameaças reais de grande potencial destrutivo.

Enquanto "duas explosões coordenadas atingiram a linha de chegada da maratona de Boston, na tarde desta segunda-feira" (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/04/1263048-explosoes-coordenadas-atingem-tres-pontos-de-boston-e-deixam-mortos.shtml), ferindo mais de 100 pessoas e matando outras duas, "a plataforma de publicação de blogs Wordpress está sob ataque de uma rede de computadores zumbis formada por 'dezenas de milhares' de máquinas" (http://oglobo.globo.com/tecnologia/wordpress-atacada-por-rede-de-milhares-de-pcs-zumbis-8117138).

Apesar da incipiência de dados objetivos e seguros sobre as explosões de Boston, estuda-se a possibilidade de ter havido "um incidente também, pouco depois, na biblioteca pública John F. Kennedy, na mesma região". Já os ataques contra a Wordpress, estes são impetrados pelos "botnets", que "são legiões de computadores pessoais que, infectados por vírus, agem de acordo com a vontade dos criminosos, geralmente sem que seus donos saibam".

A procedência da ameaça e a fragilidade dos sistemas segurança são, contudo, a tônica dos dois eventos. No caso das bombas de Boston, "o vice Joe Biden afirmou que 'aparentemente, houve um ataque a bomba'. 'Não sei dos detalhes sobre o que causou isso ou quem o fez. Não acho que isso já exista". No que se refere ao Wordpress, "o ataque ocorre uma semana depois de a Wordpress implementar um sistema opcional de dois passos para verificação de usuários".

Bem, não há muito mais a dizer sobre os dois eventos, exceto que aquele que implicou na perda de vidas humanas é infinitamente mais sério e desastroso do que a insconsciência dos blogueiros. Mas, apesar de possuírem implicações totalmente distintas, eles nos farão refletir um pouco mais sobre este dia 15 de abril, quando formos encostar a cabeça no travesseiro e sonhar o sono dos justos. 

Uma coisa é certa: contra ataques inesperados, o melhor antítodo é a consciência leve. E a certeza de que, se partirmos hoje ou amanhã, não estaremos em débito com nada. 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Plasmão

É, gente boa!

Então você está terminando a semana que nem cachorrrinho que caiu do caminhão de mudança, totalmente chacoalhado(a) pelos acontecimentos, entregue às paixões do momento, remexido(a) até as entranhas, dividido(a) entre a vertigem da semana e o cansaço acumulado, tentando achar o rumo de casa, uma boa xícata de chá de erva cidreira e uma cama limpa e quentinha para repousar seu corpinho judiado?

Ha! Então, você vai ter que esperar um pouco mais, porque este próximo sábado promete! "Uma nuvem magnética vinda do sol deve chegar à atmosfera terrestre neste sábado, conforme anunciaram cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)", relata notícia publicada hoje no jornal O Globo online (http://oglobo.globo.com/ciencia/fenomeno-solar-pode-causar-tempestade-magnetica-na-terra-neste-sabado-8096786).

Em outras palavras: como se já não tivesse bastado a semana que passou, um fenômeno denominado de "ejeção de massa coronal" (CME em inglês) se dirige rumo à Terra, com uma velocidade média de nada mais, nada menos que mil quilômetros por segundo, só para animar ainda mais seu fim de semana.

O comunicado divulgado pelo Inpe é claro quanto aos possíveis danos da CME: "Ao atingir a Terra a nuvem de plasma provoca perturbações na magnetosfera terrestre (campo magnético terrestre) de intensidade variável. Nos casos de perturbações brandas são produzidas auroras nas altas latitudes e regiões polares. Já no caso de perturbações severas são produzidas as chamadas tempestades geomagnéticas."


E sabe qual o efeito disso? Ao contrário da CME, que sabe muito bem o rumo que toma - isto é, o do planeta Terra - você, que sofreu que nem cachorro sem dono para chegar vivo(a) até o fim desta semana, continuará com a mesma cara de cachorrinho caído de caminhão de mudança ainda por um bom tempo.

Mas tem um consolo, apesar dos pesares: "nos casos mais extremos, o fenômeno pode prejudicar temporariamente a transmissão de energia de redes elétricas" e você se verá privado de assistir ao programa Caminhão do Faustão no domingo. Fantástico, né? Mas para quem nem tem TV em casa, não fará a menor diferença. Melhor será espanar a poeira e tentar correr atrás do caminhão. Quem sabe ele não te espera?

Eremita moderno

Procura-se um eremita ético desesperadamente!

Já vai longe o tempo de Simeão Estilita, asceta cristão famoso por ter vivido em pleno deserto, em cima de uma coluna de pedras. Mas em um mundo solapado por promessas de conectividade instantânea, quem sofre mesmo são os eremitas modernos: além da falta de apoio logístico, há também falta de referência ética.

"A polícia do estado do Maine, no nordeste dos Estados Unidos, prendeu um eremita que havia desaparecido da vista dos moradores em 1986 e que sobreviveu roubando provisões de acampamentos da região, informaram meios de comunicação locais nesta quinta-feira (11)" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/policia-prende-eremita-desaparecido-desde-1986-nos-eua-1.111720).

Conhecido como "o eremita da lagoa do norte", Christopher Knight tem hoje 47 anos, mas vive nas imediações de Rome desde que se lançou na profissão de eremita, ainda aos 20 anos de idade. No entanto, "Knight teria confessado à polícia que é responsável por 1.000 roubos ao longo dos anos, mas disse que levou apenas o que necessitava para sobreviver".

Knight, que está preso desde o último dia 04 de abril, "disse que não havia tido uma conversa com outro ser humano desde meados de 1990, quando se encontrou com alguém em um caminho". Com a experiência acumulada, ele vai preferir mil vezes ir para a solitária do que gozar da companhia calorosa de companheiros de cela.

Quem se compadecer da sorte de um eremita que sobreviveu em pleno estado do Maine,  cuja amplitude térmica pode chegar 75ºC, variando entre - 40ºC e 35º C, é bom lembrar que se ele fosse cumprir pena aqui no Brasil, ele teria o pior dos mundos como eremita: além das piores condições de sobrevivência, dada a superlotação dos presídios, ele enfrentaria Marcos Feliciano como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados...








quinta-feira, 11 de abril de 2013

Transparência

Para mim, ficou mais que notório que a palavra "transparência" é aquela espécie de "coringa semântico" que assume os mais diversos sentidos, de acordo com o campo do saber em que é empregado. Por exemplo: se em política, a transparência dos atos e decisões políticas chega a beirar a utopia, no campo da moda, a transparência é recurso de sedução. E na ciência... bem, na ciência, há muita expectativa sendo consruída em torno da transparência.

A motivação para falar de tão singelo tema partiu da leitura de duas notícias que falam, de forma bem distinta, das potencialidades explicativas da tal transparência. A primeira delas, publicada no jornal O Globo online, aborda as vantagens de um novo método científico desenvolvido na Universidade de Stanford, intitulado Clarity, ao qual se atribui a capacidade de produzir transparência nos órgãos de animais e seres humanos (http://oglobo.globo.com/ciencia/nova-tecnica-torna-cerebro-transparente-facilita-estudo-do-orgao-em-camundongos-8078463).

A nova técnica "preserva de tal maneira a bioquímica do cérebro que ele pode ser testado diversas vezes com os químicos que destacam determinadas estruturas dentro do cérebro e fornecem informação de sua atividade no passado". Isto facilitaria a "descoberta das bases subjacentes a distúrbios mentais como esquizofrenia, autismo e estresse pós-traumático, entre outros".

Já a segunda notícia foi publicada no jornal Hoje em Dia online e fala de uma estranha espécie de peixe transparente que acaba de chegar ao Aquário de Tóquio (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/aquario-de-toquio-exibe-peixe-com-sangue-transparente-unico-no-mundo-1.110857).

Na verdade, transparente mesmo não é o peixe, mas seu sangue, já que ele não possui "hemoglobina, que dá a coloração vermelha ao sangue e transporta oxigênio". Em contrapartida, "estre peixe, que vive a mil metros de profundidade, pode sobreviver sem hemoglobina graças ao tamanho do seu coração e usa seu plasma sanguíneo para fazer circular oxigênio pelo corpo".

No contexto da primeira notícia, a transparência é tida como sinônimo de revelação. Já na segunda, pouco se sabe sobre a razão que levou o animal a perder a hemoglobina, apesar de toda sua transparência. Aqui, neste contexto, a transparência tornou evidente a diferença, mas não explicou suas origens. A verdade científica pode até estar dentro do corpo desse peixe raríssimo, mas a explicação pode não estar dentro dele.

Em suma: se transpusermos o paralelo acima para este grande jogo de claros e escuros que é a vida, caberá então uma breve reflexão: fosse a transparência um remédio para todos os males, o coração simplesmente estaria dispensado de acessar justamente aquilo que os olhos e a mente não vêem. Mas pode ser também que não haja impasse quanto ao uso que se faz da transparência: neste caso, haveria apenas duas modalidades de olhar - uma que traz a marca inquisidora do olhar de Apolo e outra que se realiza no olhar de Dionísio, plenamente entregue às suas emoções e totalmente desconhecedor da razão do intelecto.

Vai saber...

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Carta aos Maias

Prezado povo Maia,

O mundo pode até não ter acabado em 21 de dezembro de 2012, mas o que sobrou dele desde então nem está dando para reconhecer! Às portas de um conflito nuclear de proporções mundiais, impulsionado pela Coreia do Norte, a juventude atual até que se mobiliza, mas de uma forma muito distinta daquela que mobilizou seus pais e - quiça - seus avós.

Não faz nem tantos anos assim - "só" uns trinta, talvez - John Lennon e Yoko Ono nos davam o exemplo: em nome do amor e contra a guerra, eles exibiram suas costelinhas magras, brincaram de cabaninha e ainda trocavam bicotinhas, tudo diante das câmeras.

Agora, em pleno ano de 2013, os jovens permanecem diante das câmeras, mas o slogan já é bem outro: "guerra, só se for de travesseiro". Ele emerge no "Dia Internacional da Guerra de Travesseiro", evento criado em 2008 e que mobiliza, simultaneamente, multidões no mundo inteiro (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/milhares-de-pessoas-se-reunem-no-mundo-todo-para-guerra-de-travesseiros-1.109724).

Modalidade de evento típica da era das mensagens instantâneas e das redes sociais, o flash mob é capaz de acionar, instantaneamente, pessoas em cidades tão dispersas no globo terrestre como Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, São Paulo, Viena, Paris, Londres e Washington. "Durante o flash mob, os participantes munidos de almofadas 'duelaram' em locais pré-determinados como forma de protesto pacífico contra todas as formas de violência."

Bem, se a intenção era promover um protesto pacífico, então podemos pensar no assunto. Mas se a guerra de travesseiros por acaso degenerar e acabar em briga, por favor, não reclamem comigo. A culpa será de quem tiver tirado o amor da jogada!

É ou não é preocupante, ô povo Maia?


segunda-feira, 8 de abril de 2013

Seis segundos

Há várias semanas, venho terminando minhas segundas-feiras gritando para pararem o mundo, que eu quero descer. Mas é bem provável que eu não tenha gritado forte o suficiente: o mundo continua girando e eu ainda não desci nem para um cafezinho.

Há, contudo, uma química intrigante que torna o primeiro dia útil da semana propenso a cataclismas existenciais de toda ordem: estes variam desde maremotos psicológicos até tusinamis emocionais, passando por trepidações mentais, oscilações tectônicas de humor e fortes abalos no pensamento lógico. O coração costuma entrar em erupção, mas a alma, coitadinha, é de todas a que mais sofre: chega a ajoelhar no milho e pedir para a terça-feira chegar logo.

Felizmente, o Twitter inventou um aplicativo que pode servir de argumento para o encurtamento dessas segundas-feiras exacerbamente longas: "A empresa lançou em janeiro o Vine, um aplicativo que permite produzir vídeos com a duração máxima dos tais 6 segundos e compartilhar na rede" (http://oglobo.globo.com/tecnologia/a-nova-aposta-do-twitter-videos-de-seis-segundos-8053715).

O aplicativo é bem a cara do Twitter, ou seja, na onda das coisas rapidinhas, curtinhas, descomplicadinhas: de acordo os desenvolvedores do aplicativo, a "restrição inspira a criatividade, seja através de um tweet de 140 caracteres ou seis segundos de vídeo". Mesmo para quem, exatamente como eu, não curte, não entende ou não adere ao Twitter, o aplicativo tem se revelado dos mais atraentes: "Os vídeos do Vine têm tudo a ver com abreviação, a versão curta de algo maior. São pequenas janelas que nos permitem ver as pessoas, ideias e objetos que compõem sua vida — descreve Dom Hofmann, cofundador do Vine" em notícia publicada hoje no jornal O Globo online.

Obviamente, não sou a única a ficar de olho no aplicativo: "Grandes empresas estão descobrindo que seis segundos podem ser tempo suficiente para divulgar suas marcas. Gigantes como a General Electric, a rede de farmácias Walgreens e a loja de roupas online ASOS já produzem e divulgam seus microvídeos no aplicativo". Mas nenhuma dessas empresas, com certeza, já teve a ideia genial de compactar as 24h da sua segunda-feira mais tumultuada em um microvídeo de seis segundos.

Termino, pois, minha segunda-feira, pleiteando pela minha "versão curta de algo maior". E mesmo sabendo que o período de seis segundo é demasiado breve  - posto que é chama - vou preferi-lo mil vezes à eternidade dessas minhas últimas 24h.

E para todos os sobreviventes desta segunda-feira hecatômbica, aqui vai o meu "boa noite" mais que solidário!


sexta-feira, 5 de abril de 2013

Peixe fora d'água

É sempre muito bom chegar ao fim de uma semana com a sensação de dever cumprido - ainda mais quando se sabe o quanto isso é cada vez mais incomum. Na correria nossa de cada dia, falta tempo, sobram tarefas, multiplicam-se as queixas. Felizmente, não foi este o caso.

A semana termina também com algumas lições. A importância, por exemplo, das metáforas, principalmente depois de ler esta notícia, que narra um flagrante instrutivo e exemplar: "Nos Estados Unidos, um homem filmou o momento em que um peixe tenta engolir o outro. A cena seria normal se os peixes não fossem do mesmo tamanho"
(http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/um-peixe-tenta-engolir-o-outro-do-mesmo-tamanho-em-lago-nos-eua-1.109316).

Sem mais delongas: metaforicamente falando, a canção é para relaxar, inspirar o sono dos justos e aspirar a um mundo repleto de peixes vegetarianos.




Proporcionalidade

Dizem que Deus dá o frio conforme o cobertor. Mas será que o mesmo vale para o cachecol?

Bem, se valer, a cidade de Jacutinga, no sul de Minas, corre o risco de virar em breve uma filial da Sibéria no estado de Minas Gerais. A razão para tamanho revés climático é, a um tempo, política e motivacional: "Como forma de protesto contra a importação de roupas do Oriente, os comerciantes do município estão fabricando o maior cachecol do mundo, que deverá ter 60 quilômetros" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/cidade-mineira-pode-entrar-para-o-guiness-book-com-maior-cachecol-do-mundo-1.108917).

A meta fixada é a superação da marca do Reino Unido, que atualmente está fixada em 54,5 quilômetros de extensão. Uma vez atingida a meta desejada, espera-se que o nome da cidade de Jacutinga entre para o Guinness Book of Records

Portanto, quem estiver a fim de praticar esqui alpino, snowboarding e patinação no gelo ao ar livre, queira por gentileza se dirigir até a cidade de Jacutinga. É neste sábado que "o resultado do trabalho, iniciado em 2011, será mostrado durante a medição oficial do cachecol, no Estádio Luiz Morais Cardoso", ressalta a matéria publicada hoje no jornal Hoje em Dia.

A única coisa que não será possível na ocasião é a derrocada definitiva da ameaça chinesa sobre os produtos manufaturados no Brasil, mesmo que eventualmente às custas de algum trabalho escravo local. Pois, neste quesito, temos de admitir, os chineses detêm todo o know how!

Boa noite e abraços para quem fica!

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Espectômetro

Algo de sumariamente novo paira no universo!

Mas nada de conclusões precipitadas, dizem os cientistas do Laboratório Europeu de Física de Partículas, localizado nas proximidades de Genebra (Suiça).  Liderados pelo ganhador do Prêmio Nobel de Física, Samuel Ting, uma "equipe de cientistas de diferentes nacionalidades anunciou nesta quarta-feira (3) que um detector de raios cósmicos encontrou o primeiro indício de matéria escura, que nunca antes havia sido diretamente observada" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/equipe-de-cientistas-encontra-vestigios-de-materia-escura-1.108419).


Captados por algo que leva o pomposo nome de Espectômetro Magnético Alfa, os primeiros resultados, que foram coletados pela Estação Espacial Internacional, "mostram evidências de um novo fenômeno da física que poderia ser essa matéria estranha e até agora desconhecida". Mas muito melhor do que as evidências é própria definição da "coisa" que teria sido supostamente descoberta: "um dos mais misteriosos componentes do universo: a matéria escura, que ajuda a amalgamar o cosmos".

Apesar das diposições dos cientistas em contrário, não há de ser a imprecisão da definição de "matéria escura" que surtirá efeito sobre os otimistas de plantão. Afinal, não é todo dia que se pode celebrar algo novo neste mundão sem porteira, sem que este algo tenha passado pelo crivo metódico dos cientistas.

Pois enquanto a resposta "conclusiva" dos cientistas não vem, fiquemos com a celebração. E se alguém ainda se comove com uma matéria misteriosa que ninguém nunca viu, mas que ajuda a manter o cosmos unido, por que você, filho do mesmo universo, há de querer contrariá-lo?

Feitas as devidas ressalvas, vou correndo me preparar para dormir, porque amanhã é outro dia e os mistérios serão outros.

Boa noite para quem fica!

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Pacotes neuronais

O problema é velho e muitas vezes evocado entre pesquisadores: nem sempre as notícias de jornal sabem citar as fontes de sua informações com o mesmo rigor do texto científico.

Notícia publicada hoje no jornal O Globo online quis destrinchar as astúcias das libélulas, tidas como "predadores mais vorazes da natureza", mas acabou trocando os pés pelas mãos e dando um mal exemplo de como dispor a informação científica (http://oglobo.globo.com/ciencia/libelulas-estao-entre-predadores-mais-vorazes-da-natureza-8005066).

A meu ver, o delito começou logo na primeira frase da notícia: "Aparentemente delicadas e belas, as libélulas podem ser os caçadores mais brutalmente eficazes do reino animal, sugere uma pesquisa americana". Obviamente, não são as libélulas em si (ou o que elas fazem), mas o fato de que terminamos de ler notícia sem saber, ao certo, que "pesquisa americana" é essa.

O problema é que fontes são tão diversas e institucionalmente desvinculadas que fica difícil entender realmente quem é a suposta "pesquisa". As credenciais dos pesquisadores, por si só, não explicitam nenhum vínculo de pesquisa: 1) Michael L. May, professor emérito de entomologia da Universidade de Rutgers; 2) Stacey Combes, estudioso pela Universidade de Harvard; 3) Robert M. Olberg, da Faculdade Union, autor de artigo publicado no periódico da “Proceedings of the National Academy of Sciences”; e 4) Paloma Gonzalez-Bellido, "uma das autoras do relatório". Ou seja, ao contrário do que anunciado no início da notícia, tudo leva a crer que não se tratava de uma única pesquisa, mas de várias.

Mas que relatório é esse? Mais uma pergunta sem resposta, pois não nenhuma outra menção sobre a existência de um relatório. Em contrapartida, informações científicas importantes são desvinculadas de suas devidas fontes, graças ao uso genérico que se faz do termo "pesquisadores":  por exemplo, diz-se que "uma equipe de pesquisadores mostrou que o sistema nervoso de uma libélula exibe uma capacidade quase humana de atenção seletiva"; ou então que "outros pesquisadores identificaram uma espécie de circuito mestre de 16 neurônios que conectam o cérebro da libélula ao seu centro motor de voo, no tórax".

De qualquer forma, valeu a pena saber que, "com a ajuda de um pacote neuronal, uma libélula pode rastrear um alvo em movimento, calcular uma trajetória para interceptá-lo e sutilmente ajustar o seu caminho como necessário". Resta agora saber quantos pacotes neuronais serão necessários para que os jornalistas da grande imprensa associem adequadamente as informações que relatam às suas devidas fontes.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Raridade

Nasce um bebê girafa no zoológico? Raridade! A girafa é da espécie Rothschild, da qual restam apenas cerca de 670 exemplares em todo o planeta? Raridade! O nascimento da girafa foi o primeiro da história da região de Connecticut (EUA), local onde está localizado o Lionshare Educational Organization (LEO) Zoological Conservation Center? Raridade! E você quer ver o fruto de 15 meses de gestação da jovem girafa Petal ao vivo e a cores?

Pois pode ir tirando a sua girafinha da chuva: "o Leo Zoo é uma reserva praticamente fechada ao público. As visitas são limitadas a grandes doadores, programas educacionais e alguns grupos de caridade", explica notícia publicada no jornal O Globo online (http://oglobo.globo.com/ciencia/bebe-girafa-raro-nasce-em-zoologico-dos-estados-unidos-7998259).

Aliás, os preços para se visitar a reserva são proibitivos para a esmagadora maioria dos habitantes de países como o Quênia, a Unganda e o Sudão - regiões de onde vem a espécie Rothschild: "As excursões mais baratas custam em torno de US$ 500 por pessoa, com um mínimo de US$ 2.500 para um safári".

Apesar de todo cerceamento econômico, "o nascimento da girafa gerou uma comoção na região, e até um concurso para escolher o nome do bebê foi organizado". De qualquer forma, com ou sem safari, ugandenses e girafinhas felizes, o resultado do concurso está previsto para ser divulgado esta semana, legitimando a representação popular.

Mas daria para liberar por menos? Provavelmente não, dado que "a girafa Rothschild foi descoberta por volta de 1900 pelo Lorde Walter Rothschild durante uma expedição pela África Oriental". Fosse Rothschild um reles plebeu, poder-se-ia pensar em preços mais abordáveis.  Mas preços abordáveis na realidade de um capitalismo auto-sacrificante é raridade!