UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: janeiro 2012

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Visita de Eros

Hoje, Eros passou pela Terra mandando lembranças!

Para quem não sabe, não viu ou não perguntou, Eros é um asteróide que viaja entre as constelações de Leão, Sextante e Hidra e que hoje esteve "a aproximadamente de 26,7 milhões de quilômetros de distância da Terra"(http://www.hojeemdia.com.br/noticias/asteroide-passa-perto-da-terra-feito-so-se-repetira-em-2056-1.400230).

A distância entre Eros e a Terra foi relativamente pequena, mas sem nenhum risco de colisão. Se bem que se pode esperar de tudo em 2012. Mal o ano começou e ele já chegou mostrando que qualquer descuido pode ter consequências trágicas: hora é navio que afunda, hora é prédio que cai - então, por que não temer uma chuva de Eros, o asteróide?

De qualquer forma, a passagem de Eros pela Terra, que aconteceu por volta das 11h desta terça-feira, 31 de janeiro, parece trazer um "quê" de novidade com relação às passagens anteriores. "O asteroide tem uma medida de cerca de 34 quilômetros de largura, o que faz com que ele seja avistável de telescópios modestos - um acontecimento raro para o histórico do Eros". Ou seja, desta vez Eros pôde ser visto por mortais de meios modestos e isto é ótimo: sinal de que os asteróides estão mais atentos às disparidades socioeconômicas do planeta Terra.

Claro, não pude deixar também de sorrir diante de uma determinada coincidência de datas. Da vez passada, a visita de Eros a Terra coincidiu com o meu próprio nascimento: "o asteroide Eros passou perto da Terra pela última vez foi há 37 anos, em 1975 (...) e só vai repetir o feito em 2056". Só que, desta vez, a passagem do asteróide coincide com o meu inferno astral - aquele famoso período de dúvidas e questionamentos que antecede todo aniversário. Com tanta sincronicidade no ar, a dúvida foi inevitável: se o asteróide falasse, o que ele teria a me dizer 37 anos depois do meu nascimento?

Sinceramente? Não tenho a menor ideia. Provavelmente me mandaria tirar a cabeça das nuvens e fincar os pés de vez neste asteróide pequeno que todos chamam de terra - só para não deixar passar em brancas nuvens a famosa canção de Zé Ramalho. Enfim, já que o meu aniversário está chegando, Eros bem que poderia me descolar ao menos dois presentes: minha taça de ambrosia e meu passeio nas costas de Zéfiro, o vento do Oeste. Depois disso, prometo ficar aterrada até 2056, ano da sua próxima visita.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Concorrência leal

Práticas curiosas - se bem que pouco honestas - andam reinventando as velhas manias capitalistas do final do Séc. XIX. Uma delas é a formação de trustes.

Um grupo de sete empresas do setor tecnológico norte-americano - composto pela Apple, Google, Adobe, Intel, Intuit, Lucasfilm e Pixar - é que anda dando o mau exemplo lá no famoso Vale do Silício (EUA). O grupo está sendo acusado de "conspiração" por criar "listas secretas de 'não contratar', com nomes dos funcionários de suas concorrentes e até parceiras", segundo relata matéria do jornal O Globo online (http://oglobo.globo.com/tecnologia/google-apple-sao-investigadas-por-pacto-curioso-3794239#ixzz1kzIIRfTv).

E qual o problema em manter semelhante prática? De acordo com o advogado responsável pela causa, ao travar um "acordo de cavalheiros" para não contratar funcionários de suas concorrentes, "a suposta conspiração manteve os salários relativamente baixos e asfixiou a concorrência entre as duas companhias por mão de obra qualificada".

Claro, tudo tem o seu preço: "A polêmica se deu porque funcionários dessas empresas estariam pedido (sic!) indenizações por serem listados nesse documento". No entanto, as negociações que as empresas vem tentando realizar individualmente parecem estar com os dias contados. "De acordo com os advogados, caso o processo ganhe status de ação coletiva, os danos morais quando somados podem chegar à casa das centenas de milhões de dólares", detalha a notícia.

Tática de recursos humanos controversa essa do "ninguém mexe em gado meu". No campo das relações afetivas, já sabemos bem que ela nunca deu muito certo. Por um lado, sabe-se muito bem que ninguém respeita "reserva de mercado" neste campo. A competição entre concorrentes raramente conhece lei ou limite ético, podendo chegar a patamares de crueldade nunca dantes visto em nenhuma experiência capitalista. Além disso, como a prática é de difícil regulação, ela desafia qualquer poder instituído - seja ele em nível nacional, regional ou transnacional. Em casos mais extremos, a troca pelo concorrente pode levar a níveis absurdos de violência e até mesmo acabar em fins trágicos, seja ele no fio da navalha, na bala do revólver ou na postagem de fotos comprometedoras no Facebook. Além disso, como a ruptura dos contratos não respeita prazo de vigência, corações costumam sair quebrados, desiludidos, prontos para a bancarrota.

Enfim, a concorrência só é salutar quando as partes passam a reconhecer mutuamente seu valor. Portém, e acima de qualquer regra, há que se respeitar o direito de ir e vir de cada um. Sem liberdade não há escolha, só submissão. E antes que alguém pense que este texto vai acabar em manifesto neoliberal, o meu voto é tanto antes pela preservação da liberdade: já que não dá para asfixiar a concorrência, então pelo menos que o asfixiado numa relação não seja o outro. E isto vale para ambos os campos: amor e trabalho.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Outras montanhas

Pé na estrada de novo!

O comentário de hoje fica para o meu retorno. Até lá, paz de espírito para todos. E um ótimo fim de semana.

P.S. = Foto meramente ilustrativa, pois vou ver outros horizontes nunca d'antes visitados.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Colo

Este é o tipo de notícia que adianta ler quando você está antes, durante e depois da casa dos cinquenta anos de idade.

Parece óbvio - e talvez seja mesmo! - mas não custa repetir para lembrar: pesquisa da Universidade de Brandeis, em Massachusetts (EUA), acompanhou um grupo de 1.200 pessoas durante 10 anos e descobriu que "adultos que tiveram uma infância marcada pelo amor materno apresentam um estado de saúde bem melhor do que aqueles que não desenvolveram uma relação íntima com as próprias mães" (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1039810-amor-materno-durante-infancia-previne-doencas-na-meia-idade.shtml).

Que pessoas "mais amadas" são também as "mais saudáveis" parece ser o maior lugar comum da face da Terra. A questão é o caminho demonstrativo percorrido para se chegar a esta conclusão, já que pesquisa anteriores já haviam demonstado "que crianças que crescem em áreas pobres são mais propensas a desenvolver doenças crônicas ao atingir a idade adulta". A explicação para a vulnerabilidade da saúde de adultos que cresceram em áreas de risco social é dada pela principal responsável pela pesquisa, Margie Lachman, autora do trabalho publicado na revista Psychological Science: "O estresse na infância pode levar a resíduos biológicos que reaparecem na meia-idade", explica.

O elemento perturbador, no entanto, era tentar compreender porque algumas crianças submetidas às mesmas condições socioeconômicas não desenvolviam doenças como diabetes, pressão alta e ataque cardíaco. Segundo a matéria da Folha online, "o amor maternal durante a idade infantil seria uma espécie de 'escudo' de proteção contra doenças a longo prazo".

Como nem tudo são flores nessa vida, ficou faltando a matéria da Folha trazer mais detalhes de como a pesquisadora e sua equipe chegaram a tal conclusão e que tipo de método foi utilizado para aferir a "eficácia" do amor maternal. Mas nem tudo são flores e nem tudo é colo de mãe nessa vida. Antes fosse...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Genéricos

E o ano começa com propostas ousadas...

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) está prestes a lançar, sob a forma de consulta pública, uma "proposta que pretende acelerar a entrada de remédios genéricos e similares no mercado" nacional (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1039231-anvisa-quer-acelerar-entrada-de-genericos-no-mercado.shtml). A proposta surge no intuito de reduzir um dos principais entraves para a fabricação de medicamentos genéricos no país: a obtenção do produto de referência, a partir do qual as cópias devem ser feitas.

A produção de genéricos ocorre porque as indústrias farmacêuticas detêm as patentes de seus medicamentos por um prazo limitado de 20 anos. Findo este prazo, um medicamento similar pode ser produzido por qualquer outra empresa, desde que ela tenha passado por um teste de equivalência comprovando a semelhança com o medicamento original. Sem o medicamento de referência e, consequentemente, a realização do teste comparativo, o novo produto não pode também obter seu registro na ANVISA.

Neste sentido, "o texto da consulta propõe que as empresas fabricantes do produto de referência do mercado - em que se baseiam as cópias - sejam obrigadas a disponibilizar, por meio de venda, amostras do remédio original para a realização do teste de equivalência ou de bioequivalência", explica a matéria publicada hoje na Folha online. O problema de acesso ocorre porque muitos dos medicamentos de referência "não são vendidos em farmácias, mas usados por hospitais ou distribuídos gratuitamente pelo governo".

Sem dúvida, a nova proposta da ANVISA traz um novo alento para a população de baixa renda, já que ela ocasionará a redução dos custos de uma série de antibióticos, antirretrovirais (para o tratamento de pacientes com HIV), além de drogas utilizadas no tratamento de câncer.

Mas a novidade traz também esperança para a ala feminina deste país, cujo acesso aos medicamentos de referência vem se tornando uma questão de sobrevivência. Muitas já sonham com o dia em que colírios da estirpe do Antonio Banderas estarão acessíveis para a produção de genéricos locais - mais baratos, certamente, mas nem por isso menos eficazes. Com sorte e imaginação, um novo colírio "Banderas" - versão genérica - há de superar as expectativas depositadas em qualquer similar nacional: além de desembaçar as vistas cansadas, ele poderá inovar na linha dos antidepressivos, agir como bálsamo para corações despedaçados e antídoto para desânimo, cansaço e falta do que fazer nas noites de 6a feira. Não tem desculpa, seu Banderas: no auge dos seus 51 anos, sua patente expirou há anos!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ano do dragão

Para quem está de olho nos cataclismas, pandemias, e outras mazelas típicas do fim do mundo - se entendermos que o mundo pode "acabar" várias no mesmo ano, dependendo da intensidade das transformações em andamento - saiba que foi ontem a tão temida entrada do ano do dragão.

De acordo com o horóscopo chinês, do dia 23 de janeiro de 2012 (ontem) até o dia 09 de fevereiro de 2013 estaremos sob o signo do dragão. Os prognósticos, no entanto, sinalizam um bicho bem mais manso do que se alardeava: "o Dragão é um signo poderoso que representa a vitalidade, o entusiasmo, o orgulho, a extravagância e os ideais elevados"(http://www.stum.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=11577). E o fato de ser este um ano do elemento água "traz a todos uma dose de energia extra que possibilita as grandes realizações".

Dizem que quem brinca com fogo, acaba se queimando. Pelo sim, pelo não, com dragão também não se deve brincar - nem mesmo se ele for de água. Mesmo porque reza a lenda que em ano de dragão até da água podemos sair queimados. Um exemplo, no mínimo, desconcertante é este surto de águas-vivas e caravelas que está acometendo o litoral do Paraná. "Mais de 7.000 pessoas foram queimadas em pouco mais de um mês, segundo o Corpo de Bombeiros. Somente no [último] fim de semana, houve 3.594 casos" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1038943-mais-de-7000-pessoas-sao-queimadas-por-aguas-vivas-no-litoral-do-pr.shtml).

Para se ter uma ideia que da proporção do desastre, basta comparar os números de casos de queimadura por água-viva e caravela nos anos anteriores: "No verão passado [2011], em toda a temporada, cerca de 500 pessoas sofreram queimaduras. Nos anos anteriores, segundos os bombeiros, a média era ainda menor: em torno de 250 casos em toda a estação". Isto porque o verão ainda está no meio do caminho e os casos registrados foram contabilizados de 16 de dezembro para cá.

Mas nem precisa ter lá uma imaginação muito cinematográfica para intuir a causa do aumento dos casos de queimadura: ainda que a Secretaria Estadual de Saúde do Paraná não saiba dizer o motivo exato, "uma das hipóteses investigadas é o desequilíbrio ambiental". Matada a xarada, fica então a dúvida de uma solução ambiental a curto prazo. Não sei, não. Minha intuição de Coelho me diz que, no ano do dragão, não bastará vitalidade e entusiasmo para manter os ideias elevados. O desafio maior será o de conter a extravagância destruidora do bicho que mora em cada um de nós.

Para as almas desejosas de emoções fortes e sacudidas planetárias, um novo alento: o ano do dragão está só começando!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Haiti aqui e lá

Muito lúcida a tomada de posição do professor de História da Unicamp, Sidney Chalhoub, com relação à recente decisão do governo brasileiro de barrar a entrada de haitianos no Brasil: "O Brasil mantém a coerência histórica", afirma (http://oglobo.globo.com/ciencia/imigracao-seletiva-recorrente-na-historia-do-pais-3741847).

A tomada de posição de Chalhoub surge no esteio do novo plano migratório que o governo federal anunciou na semana passada. "Ao longo da última semana, o governo anunciou medidas para restringir a migração de haitianos e, ao mesmo tempo, informou estar estudando formas de facilitar a vinda de trabalhadores qualificados provenientes de países da Europa", informa a matéria publicada no O Globo online.

Na verdade, Chalhoub viu continuidade lá onde o governo só quis ver novidade: "Não estou dizendo que os europeus devam ser tratados a pontapés. Mas acolher europeus e criar embaraços maiores para haitianos me parece lamentável. Acho que todos deveriam ser tratados com generosidade, mas, se é para dar prioridade a alguém, vale lembrar que, no caso dos haitianos, se trata de uma emergência humanitária".

A querela entre barrar a entrada de negros e favorecer a entrada de europeus brancos é tão antiga quanto a história do país, que já foi considerado a Terra Santa da "democracia racial". A matéria prossegue dando voz ao especialista: "Em 1890, logo após a abolição da escravatura, uma lei tornou livre a imigração, 'excetuados os indígenas da África ou da Ásia', os quais 'somente mediante autorização do Congresso Nacional poderão ser admitidos'. Do século XVI ao XIX, calcula-se que 4,8 milhões de negros tenham sido trazidos ao Brasil como escravos. No entanto, com a proibição do tráfico e, depois, da própria escravidão, a ideia de receber os negros deixou de ser atrativa".

E se alguém acha que a coisa ficou lá no Séc. XIX, pode ir tirando o cavalinho da chuva. A história da política migratória brasileira está, ao que parece, intimamente ligada ao legado da escravatura no país. Rica em argumentos, a matéria prossegue citando trechos de documentos governamentais: "Em 1945, no governo de Getúlio Vargas, que, restringiu de maneira geral a entrada de imigrantes por conta de suas políticas nacionalistas, um decreto lei estabelecia que 'atender-se-á, na admissão dos imigrantes, à necessidade de preservar e desenvolver, na composição étnica da população, as características mais convenientes da sua ascendência europeia' ”.

A estocada final no peito da atual política migratória do governo federal é dada pelo professor de Antropologia da Unicamp, Omar Ribeiro Thomaz: "Dizer que 4 mil haitianos é um fluxo migratório é bizarro, esse número é muito baixo". E para sustentar tal argumento, nada melhor do que as próprias estatísticas oficiais: "O Brasil recebeu no ano passado 50 mil estrangeiros, a maioria portugueses, e isso não foi tema de discussão, ao contrário, foi visto como resultado do sucesso do país, que agora está atraindo mão de obra qualificada".

Moral da história: o governo resolveu levar ao pé da letra esta conversa de que o "Haiti não é aqui". Será? Há mais Haitis entre o céu e a terra do que julga a vã política de imigração brasileira.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Barriga

Olha, eu ja tinha ouvido falar de gravidez psicológica, mas nada parecido com a presepada que esta senhora de Taubaté, interior de São Paulo, andou arrumando: "Uma coletiva realizada na tarde desta sexta-feuira (sic!) (20) em Taubaté, interior de São Paulo, esclareceu que a professora Maria Verônica Aparecida César Santos não estava grávida. Para enganar até mesmo o marido ela usou uma barriga de silicone com enchimento de tecido" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/2.349/mulher-assume-n-o-estar-gravida-de-quadrigemeos-e-advogado-revela-farsa-1.395684).

O caso dispensa comentários adicionais. O marido dispensa condolências. A vida dispensa mentiras dessa ordem. Melhor do que ficar grávida de quadrigêmeos imaginários é gestar quatro desejos bem plantados, bem escolhidos, bem cuidados. É que dos desejos sinceros, quando bem gestados, podem nascer conquistas. Mas, para que isso aconteça, é preciso, antes de tudo, verdade, sinceridade, transparência. Desejos sem esses requisitos são pura obsessão. E obsessão é programa para psiquiatra, não para obstetra.

Enfim... em homenagem a todas as gestações verdadeiras - de filhos, projetos, ideias, sentimentos - fica aqui o mais belo hino à causa.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Naufrágios

O ano de 2012 começa com alguns naufrágios importantes.

De um lado, foi um dia para fotógrafos profissionais e amadores chorarem as pitangas: a empresa norte-americana Kodak entrou com pedido de concordata hoje, nos EUA. "A companhia, de 130 anos de idade e pioneira na produção de filmes fotográficos, conseguiu um empréstimo de US$ 950 milhões (R$ 1,6 bilhão) do Citigroup para tentar se reeguer" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/economia-e-negocios/deixada-para-tras-desde-inicio-da-era-digital-kodak-pede-concordata-1.395331).

Muitas lágrimas rolaram. As lágrimas da turma das concorrentes Nikon e Canon podem até ter sido de crocodilo. Mas as lágrimas dos trabalhadores diretamente afetados com a supressão de 47 mil postos após o fechamento de 13 fábricas e 130 laboratórios devem ter sido bem sinceras. O veredito não deixa dúvidas: "Com sede em Rochester (estado de Nova York), a empresa, com mais de um século e que foi símbolo do capitalismo americano, não parou de declinar desde o advento da tecnologia digital", relata a matéria publicada hoje no Hoje em Dia online.

A ironia da história foi saber, por intermédio da mesma matéria, que além de ter inventado a câmera de mão e ter ajudado "a trazer ao mundo as primeiras imagens da lua", a Kodak ainda me fez o favor de inventar, no ditoso ano de 1975, "sua primeira câmera numérica", apesar denão ter desenvolvido "esta nova tecnologia".

Qualquer semelhança no enredo não é mera coincidência: depois de tanto criar e inovar, acabou morrendo na praia, devorada por tubarões japoneses. Ficou me lembrando de algumas pessoas que já conheci nessa vida: desconsideram sinais de alerta importantes, tomam o rumo errado e acabam se perdendo no fluxo da vida. Triste fim, tal qual Policarpo Quaresma.

De outro lado, morreram - não muito longe praia, por sinal - 11 passageiros que desfrutavam das dependências do navio mega-luxuoso Costa Concordia, ao passo que 20 passageiros continuam desaparecidos (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1036622-capitao-jantava-com-convidada-no-momento-de-acidente-com-navio-na-italia.shtml).

O mais interessante foi saber o que fazia o capitão no exato momento da tragédia: uma jovem moldávia, "Dominika Cermortan, 25, admitiu que jantava com o capitão no momento da colisão que abriu no casco do navio uma fenda de 70 metros, e defendeu que a operação de Francesco Schettino 'salvou milhares de pessoas' ".

A história continua recheada de mistérios: depois de comer - Deus sabe o quê - "o capitão, que abandonou o navio a sua própria sorte uma hora depois do acidente e que ao chegar a terra firme ligou para a mãe, para depois contemplar a embarcação afundando de uma rocha da ilha de Giglio, teve sorte". Ganhou um presentaço da juíza Valeria Montesarchio: o direito a prisão domiciliar, "contrariando a opinião do promotor-chefe da localidade italiana, Francesco Verusio, que pediu a prisão preventiva de Schettino".

Misteriosa generosidade a dessa meritíssima juíza. Merece um jantar de cortesia com o capitão. Mas tem de ser em alto-mar, senão não vale.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O próximo vôo

Decididamente: há tempos não vejo uma noite de verão tão linda! Dessas que enchem a gente de vontade de esticar o corpo numa rede e encher a alma com aquelas histórias fantásticas sobre águias altaneiras e seus vôos ousados.

Hora de imaginar o próximo vôo.

Feliz de quem sonha. Porque sonhar é isso: imaginar o próximo vôo.


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Sol e peneira

"Finalmente!", disseram alguns. "Demorou!", lamentaram outros. "Ainda bem!", celebraram terceiros. "Ah! O sol!", gritaram todos.

Diante da alegria de ver o céu azul neste tão esperado período de estio, são outros os desafios que ora se impõem: escrever neste blog é um deles. É que o meu computador não resiste ao calor, fica superaquecido e apaga sem pedir licença. Não sei se é defeito de fábrica, de marca ou de país de origem (afinal, ele é canadense e está habituado a temperaturas negativas), mas o efeito prático é correr contra o tempo, como se uma bomba relógio estivesse acionada, prestes a estourar nas minhas próprias mãos: rápido, rápido, senão ele apaga! Com isso, escrever nele acaba sendo um ato heróico.

E já que é assim, breve serei: o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) ir à forra e divulgar o índice de vulnerabilidade das famílias brasileiras. A título de esclarecimento, "o índice de vulnerabilidade das famílias é feito com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Pnad/IBGE) e analisa seis quesitos: vulnerabilidade, acesso ao conhecimento, acesso ao trabalho, escassez de recursos, desenvolvimento infantojuvenil e condições habitacionais" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/economia-e-negocios/melhora-situac-o-da-familia-brasileira-1.394342).

Vistos globalmente, esses quesitos apontam uma melhora da condição das famílias vulneráveis no Brasil entre 2003 e 2009: "O índice de vulnerabilidade dos domicílios brasileiros em 2009 registrou melhoria de pouco mais de 14% em relação à média de 2003", relata matéria publicada hoje no jornal Hoje em Dia online.

Com muito confete e serpentina, a avaliação de alguns quesitos - tais "como acesso ao trabalho – queda de 20,3% – e escassez de recursos – queda de 24,2%" - é celebrada em ritmo de marchinha de carnaval. Bem, se o acesso ao trabalho realmente aumentou, ótimo. Mas fiquei na dúvida de que tipo de "recurso" o outro quesito mede. É que outro dado demonstra uma certa fragilidade no tipo de "melhoria" que vem acomentendo os lares de muitos brasileiros: "Ainda segundo o Ipea, o acesso ao conhecimento, em média, é a dimensão na qual houve menos avanços, especialmente devido à baixa redução no indicador de qualificação profissional".

Vai entender a lógica desses índices! Se o "acesso ao conhecimento" continuar tropeçando na baixa qualificação profissional, daqui a uns anos ele há de se tornar um recurso bastante "escasso". Se bem que depois que a revista norte-americana The Economist desnudou a hiper-valorização do Big Mac em terras Tupiniquins - revelando o disparate de termos o quarto Big Mac mais caro do mundo, perdendo apenas para a Suiça, Suécia e Noruega - (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2012/01/big-falta-de-gosto.html) - nada mais me assusta.

Fico por aqui com a seguinte pergunta: sem qualificação profissional, que futuro terá o trabalhador brasileiro - além, claro, de encher o bolso do palhacinho do MacDonalds? Vou embora indignada: depois de tanta chuva, com um sol lindo desses brilhando lá fora, e ainda aparece gente querendo tapá-lo com uma peneira...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Celebridades

Para vocês verem a que ponto, em termos de status social, uma celebridade do mundo musical pode chegar...

Que os arqueólogos descobrem todos os dias túmulos antigos no Egito, isso não é novidade para ninguém. O detalhe pitoresco da recente descoberta do túmulo de uma cantora chamada Nehmes Bastet, envolvendo arqueólogos egípcios e suiços, tem a ver com o grau de importância que alguém dessa profissão já assumiu no contexto dos grandes faraós: "Este é o único túmulo de uma mulher já encontrado no vale que não está relacionado às antigas famílias reais (http://oglobo.globo.com/ciencia/arqueologos-descobrem-tumulo-de-cantora-dos-faraos-do-egito-3682264).

Notícia publicada hoje no O Globo online explica a fonte dessas conclusões: "Os cientistas concluíram a partir de artefatos que ela cantou no Templo de Karnak, um dos mais famosos e maiores locais de eventos ao ar livre da era faraônica", explica. Isso significa, em outros termos, que a idolatria de musas (e musos) cantantes é fenômeno antigo, anterior ao advento da mídia de massa. Ou seja, tietagem é coisa muito anterior ao tempo do onça!

E por falar em celebridades, somente hoje descobri que tem um tal de "Pe Lanza", cujo nome circula aí nos jornais, que não é nem padre, nem membro da Família Lanza de Sete Lagoas (http://f5.folha.uol.com.br/celebridades/1034922-cabeca-doendo-e-o-coracao-tambem-diz-pe-lanza-apos-pedrada.shtml). Antes, o rapaz é músico de uma tal banda Restart e tem cabelo estilo "boi lambeu" - ou "Beatles revisitado", se preferirem.

Minha conclusão, diante disso tudo, é simples: se eu continuar nesse grau de sintonia com as celebridades de meu tempo, serei uma excelente arqueóloga daqui a mil anos.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Mais uma vez, as montanhas...

São eles!

As mesmas montanhas, o mesmo arrepio na coluna vertebral. Mais uma vez, nada de comentários. A promessa que fica é aquela mesma: prometo voltar outra. E sempre acabo cumprindo...

Abraços para quem fica, o infinito para quem vai. Porque a águia já está lá no alto do morro, pronta para esticar as asas e voar.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Big Assalto

A notícia não faz, realmente, a menor diferença para mim, que não como essas coisas há milênios. Mas não deixa de ser engraçado: "O índice Big Mac, calculado pela revista 'The Economist', aponta que o real é a quarta moeda mais cara do mundo" (http://www1.folha.uol.com.br/poder/1033693-indice-big-mac-mostra-real-como-a-4-moeda-mais-cara-do-mundo.shtml).

Além de não ser nenhuma "Brastemp" em termos nutricionais, a versão brasileira do famoso sanduíche Big Mac só consegue ser mais barato aquelas vendidas na Suiça, Noruega e Suécia, de acordo com uma lista de 44 países. "No Brasil, o Big Mac custa o equivalente a US$ 5,68 --nos EUA ele sai por US$ 4,20".

E se alguém argumentar que o encarecimento do Big Mac tem a ver com o aumento do PIB do Brasil, diga a essa pessoa que ela está viajando na maionese. Pelo contrário, quando se levou o PIB do país em consideração para o cálculo do malfadado índice, o resultado foi ainda pior: "O real figurava como a moeda mais cara do mundo na divulgação anterior do índice, em julho do ano passado, quando a 'Economist' considerou não apenas o preço do sanduíche, mas também o PIB (Produto Interno Bruto) per capita dos países. Na versão atual do índice divulgado hoje no site da revista, o PIB não foi considerado".

A razão de alguém ainda pagar tanto por algo similar aqui no Brasil? A mesma, provavelmente, de quem adquire carro, celular e computador em território nacional: tem que pague!

Vou dormir rindo de quem gosta de comer esse negócio.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Casa nova

Mudar é preciso.

Não sei o que andei sonhando na noite passada, mas acordei pensando em mudança. E pela primeira vez na minha vida, senti a necessidade de contar quantas vezes eu mudei de casa desde que deixei a casa dos meus pais há 14 anos atrás. E foram exatamente 14 casas, o que perfaz uma média de uma nova casa por ano. 14 anos, dois ciclos de 7. É muito número cabalístico para uma pessoa só!

Claro que eu não mudei todos os anos da minha vida desde então. Alguns momentos de maior "estabilidade" foram trocados, aos solavancos, por outros de ruptura total. E não é nem que eu goste de mudar de casa todos os anos. Aliás, pelo contrário: não gosto. Trago comigo um trauma de infância de mudanças de casa: mudei de casa lá pelos 7 anos e fiquei meses dormindo no chão, esperando a cama nova chegar. Meus pertences ficaram meses em sacos plásticos, esperando a cômoda nova chegar. E até hoje eu vivo esparramada em caixas na garagem, esperando a casa definitiva chegar.

E há quem diga que 2012 é um ano de grandes mudanças. Mas tenho cá minhas dúvidas. É que não existe um tempo certo para as mudanças. Aliás, existe sim: o tempo certo da mudança é o agora. E se uma mudança de casa ainda me for concedida este ano, ótimo. A verdadeira morada é esta que trago aqui dentro de mim. Minha única casa: a minha Casa Sagrada.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Boatos e imagens

Quanto mais velozes os meios de comunicação e mais sofisticada a parafernália multimídia que acompanha as redes sociais, mais difícil fica de discernir um reles boato de uma "verdade" verdadeira. Geralmente, o que se obtém depois de muita apuração é uma meia-verdade com fortes indícios de falsidade. Ou, na melhor das hipóteses, uma mentira deslavada com ares de verossimilhança.

Desde domingo passado, já estava circulando - e sendo amplamente compartilhada - na rede social Facebook a foto de uma criança indígena. A foto em questão era meramente ilustrativa e servia de pano de fundo para uma denúncia de alta gravidade: a de que uma criança indígena de oito anos da etnia awá-guajá teria sido queimada viva por madeireiros.

Pois hoje, em matéria publicada na Folha.com, a Fundação Nacional do Índio veio a público tentar desmentir a informação: "A Funai (Fundação Nacional do Índio) afirma que a denúncia de que uma criança indígena da etnia awá-guajá foi queimada por madeireiros no Maranhão é infundada, e que as histórias sobre o suposto crime não passam de boatos" (http://www1.folha.uol.com.br/poder/1032340-denuncia-de-crianca-queimada-no-ma-e-boato-diz-funai.shtml).

"A conclusão foi divulgada num relatório elaborado pela fundação, que deslocou no último fim de semana uma equipe de três servidores para a terra indígena Arariboia, no município de Arame (350 km de São Luís), local onde teria ocorrido o crime", prossegue a matéria.

Tal como uma história policial, em que a cena do crime vai sendo reconstituída por meio de depoimentos de testemunhas e de suspeitos, a matéria chega ao início provável da boataria: "A denúncia de que uma criança da etnia awá-guajá foi queimada por madeireiros começou a aparecer em blogs de notícias do Maranhão na semana passada. Poucas horas depois já começava a ganhar espaço em redes sociais", explica a matéria.

Para incrementar o boato, os participantes da reconstituição trazem, cada qual a sua maneira, uma versão muito própria dos fatos. Os próprios textos que circulavam na Internet trariam, em princípio, algumas informações desencontradas sobre o assassinato da criança: "Alguns dos textos afirmavam que o crime tinha ocorrido uma semana antes. Outros, de que havia acontecido em setembro ou outubro de 2011. E todos afirmavam que madeireiros atearam fogo na criança após atacarem os awá-guajá. Depois disso, os índios não teriam sido mais vistos".

No entanto, a versão da FUNAI sobre os awá-guajá é outra. De acordo com o texto da Folha, a equipe da FUNAI teria conversado com o índio guajajara Luís Carlos Tenetehara - que é citado nos textos de denúncia que circulam na Internet como sendo o autor da descoberta do corpo da criança - e tirado a limpo a história. "De acordo com a fundação, o índio disse que a história não é verdadeira e que os índios awá-guajá, que vivem isolados, não deixaram de ser vistos pelos guajajaras, com quem dividem a mesma terra, após o suposto ataque por madeireiros".

Por outro lado, a matéria afirma que o Conselho Inidigenista Missionário (CIMI) teria dito, por sua vez, "que índios afirmaram que o suposto crime foi denunciado há meses para a Funai". O que a FUNAI nega de pé juntos, dizendo "que informações sobre o caso só chegaram ao seu conhecimento na semana passada, e que ineditamente começou a investigar a denúncia".

Boato por boato, a matéria da Folha não ajudou muito, e acabamos ficando com a versão do que um disse sobre aquilo que o outro disse ter tido. Na dúvida, caro leitor, trocamos o incerto pelo ausente: continuamos sem foto do corpo da criança carbonizada; sem nenhuma citação direta da explicação do guajajara Luís Carlos Tenetehara, cujo nome vem sendo citado como "testemunha ocular" da tragédia; a acusação do CIMI morre na praia, com autoria desconhecida e sem direito nem sequer a aspas; e os awá-guajá continuam lá, isolados no canto deles. E aí, eu pergunto: alguém ganhou alguma coisa com isso? No máximo, ganharão os madeireiros, que poderão posar de vítimas, atacados em sua honra por toda essa boataria infame e infundada.

Pois se o problema aqui, nesse caso, era ausência de algum indício imagético e sonoro que confira alguma veracidade aos fatos, o Hoje em Dia online resolveu o problema rapidinho. O jornal resolveu divulgar um evento bizarro que tinha tudo para ser boato, mas que acabou levando a melhor por trazer ao menos uma foto do "cadáver".

Segundo matéria publicada hoje naquele jornal, uma rede de TV tailandesa país teria transmitido uma cerimônia budista de casamento em que "o tailandês Chadil Deffy buscou unir sua alma pela eternidade com sua namorada, Ann" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/tailandes-casa-com-o-cadaver-de-namorada-morta-em-acidente-1.391610). Só que a cerimônia contava com um detalhe mórbido adicional: a noiva já estaria supostamente morta há quatro dias, vítima de um acidente de trânsito.

Contrariamente ao boato da criança indígena carbonizada, que é totalmente desprovido de registro imagético, a noiva morta acabou ganhando outro tipo de destaque na mídia: "As imagens do casamento foram transmitidas pela televisão tailandesa, enquanto quase 30 mil pessoas as viram e comentaram através da página pessoal de Chadil", afirma a matéria. "As fotos mostram a jovem na cama do hospital e depois vestida de noiva durante o casamento, enquanto Chadil colocava o anel em seu dedo e a beijava na mão e na testa", prossegue.

Veja bem, as condições para que tudo não passe de boato continuam sendo praticamente as mesmas: ambos os eventos se passaram em recanto longínquo. Neste último caso, contudo, a matéria exibe uma única foto, em que o noivo posa ao lado de um corpo aparentemente de mulher, vestido de branco, e segura sua mão. Para piorar a situação, onde aparecem os créditos da foto, lê-se "Facebook/Divulgação". Além disso, a razão que levaria a tv tailandesa a transmitir um evento deste porte não é mencionada em nenhuma passagem da matéria - e nem sequer o nome da rede que teria retrato um evento de tal monta.

Pouco importa: boatos precisam mesmo é de imagens verossímeis, mesmo se não forem verdadeiras, nem de fontes confiáveis e, de preferência, recheadas de citações indiretas de difícil comprovação. Quem tem olhos de ver, veja. Quem tem ouvidos de ouvir, ouça. E quem tiver forte propensão ao boato, que passe o fato adiante.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Bipedalismo

Engraçadinha essa matéria publicada hoje na Folha online e assinada por Reinaldo José Lopes, editor de "Ciência e Saúde" (http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1031786-homem-se-tornou-bipede-para-evitar-superaquecimento-diz-estudo.shtml). Não que ela estivesse ruim, ao contrário: raro ver matérias desse gênero que lancem mão do humor de maneira mais ou menos equilibrada.

A matéria parte de um consenso - o bipedalismo - para mostrar como explicações divergentes têm se confrontado no campo científico: "Para os especialistas em evolução humana, andar com dois pés (em vez de usar quatro patas, como os outros primatas) é o que define a linhagem dos hominídeos", convergem os especialistas.

Daí por diante, porém, tudo parece ser desentendimento. A matéria recria um campo agonístico em que disputam seis hipóteses que explicariam o fato de termos adotado, há alguns milhões de anos, a postura ereta. O pano de fundo para esta transformação morfológica primeva seriam as savanas africanas, onde o sol já brilhava, inclemente, sob as cacundas dos nossos antepassados:

1) A primeira hipótese, intitulada na matéria de "eficiência energética", explica que os homens adotaram esta postura por ela ter se tornado o modo energeticamente mais econômico dos nossos antepassados se locomoverem de um grupo de árvores até o outro das savanas africanas.

2) A segunda, intitulada "em busca dos frutos", propõe que a postura ereta permitia o acesso aos frutos das árvores.

3) A terceira, cujo título provocativo de "alalaô, mas que calor", ensina que "a posição ereta facilitaria a dissipação do calor sob o sol quente da savana, evitando que o hominídeo cozinhasse".

4) A quarta, sob o título de "com as mãos livres", afirma que os homens teriam ficado de pé para ter as mãos livres para carregar "comida, objetos ou até bebês".

5) A quinta, "olha eu aqui", ensina que os homens ficaram de pé para intimidar predadores e aparentar um tamanho maior do que o que tinha sobre quatro patas.

6) E a sexta e última hipótese, intitulada "aquaman", propõe que o homem passava muito tempo na água "para usar recursos aquáticos".

Mas a explicitação das diversas hipóteses não é um fim em si mesma. Ela visa a contextualizar, na verdade, a contribuição que a publicação de um estudo pelos pesquisadores Graeme Ruxton, da Universidade de Glasgow, e David Wilkinson, da Universidade John Moores em Liverpool, têm a fazer neste campo tão contencioso.

Em artigo publicado na revista americana PNAS, os pesquisadores tentam derrubar a hipótese "alalaô, mas que calor", de que os homens teria ficado de pé para evitar um superaquecimento do corpo. Valendo-se de cálculos matemáticos, eles acreditam que, "em movimento e debaixo de sol, um hominídeo peludo como os chimpanzés atuais, mas bípede, conseguiria caminhar, no máximo, entre 10 e 20 minutos antes de superaquecer e ter um caso sério de insolação".

"É por isso que eles concluem que o caminhar com duas pernas em ambiente aberto exigiria o corpo relativamente pelado como pré-requisito. Do contrário, não teria sido favorecido pela seleção natural". Onclusão esta que abre caminho para uma segunda questão: "qual dessas características evoluiu primeiro"? Novas contendas à vista: as poucas evidências encontradas - como, por exemplo, a existência de piolhos pubianos nos pêlos humanos - indicam que a ausência de pelo parece ter acontecido "depois da invenção evolutiva do bipedalismo".

Bem, mas e daí? Ora, se cada hipótese dessas aponta para um caminho provável da evolução morfológica humana, imaginemos então como será o nosso futuro se as mesmas motivações se mantenham. O que acontecerá com nossos sucessores daqui a milhões de anos?

O futuro não me parece dos mais promissores:

1) Por um lado, se a "eficiência energética" continuar sendo um critério evolutivo, é quase certo que os habitantes das montanhas das Minas Gerais deixem de lado a posição ereta e só se locomovam por rolamento morro abaixo.

2) Outra coisa: se considerarmos, no contexto da vida moderna, que a tarefa primordial de buscar comida resume-se, na maior parte das vezes, ao ato singelo de abrir a geladeira, nossos sucessores terão a espinha dorsal totalmente curvada de tanto abrir a gaveta da geladeira.

3) Se a motivação de dissipar o "calor" se mantiver, nossas crianças não perderão mais tempo e já farão depilação à laser dentro do útero materno.

4) Em países mais corruptos, por outro lado, os novos futuros sucessores terão mais mãos, talvez em número de 6 ou 8, todas livres para se apropriarem indebitamente do que não lhes pertence.

5) Para assustar os predadores naturais do futuro, que provavelmente virão sob a forma de algum agente epidemiológico de grande proporção, nossos homens e mulheres do futuro deverão ficar microscópicos.

6) Finalmente, se a ideia for utilizar os recursos d'água de maneira mais adequada, os habitantes da Roça Grande já estão a anos-luz de evolução do resto dos seres humanos do nosso planeta: é que aqui, até o dia de ontem, já tinha chovido 77% do esperado para todo o mês de janeiro. Ou seja, somos a prova viva de que hipótese "aquaman" procede.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Maravilhosos mistérios

Envelhecer, sim, mas com dignidade! Duas lições de como envelhecer sem perder o rebolado nos foram dadas pela nossa imprensa diária.

A primeira delas celebra o aniversário de 70 anos do físico Stephen Hawking, divulgando trechos da entrevista concedida por ele à revista britânica "New Scientist" (http://oglobo.globo.com/ciencia/stephen-hawking-so-quer-saber-de-um-misterio-as-mulheres-3582249).

Aliás, as condições em que a entrevista foi concedida já são em si um desafio ao entendimento, já que Hawking se vê "incapacitado por uma doença neurodegenerativa, que, hoje, permite que movimente apenas as bochechas". De qualquer forma, sua sobrevivência já é em si um desafio para um portador de portador de esclerose lateral amiotrófica (ELA), "uma doença que, aos poucos, tira o movimento de seus pacientes". Diagnosticada aos 21 anos de idade, a esclerose o levou, há quase 50 anos, à condição de desenganado pelos médicos. "Não tenho medo da morte, mas não tenho pressa de morrer. Ainda há muita coisa para fazer", conclui.

Qualquer que tenha sido o método utilizado pelo entrevistador para interagir com seu entrevistado, uma coisa é certa: algumas de suas respostas denotam um pleno vigor intelectual (só para falar do tipo mais óbvio, já que nos faltam relatos mais concretos de como andam os outros tipos de vigor). Perguntado sobre o que ele pensa durante o dia, Hawking foi categórico na resposta: "mulheres. Elas são um mistério completo".

Mas mistério completo mesmo são as conclusões tiradas por pesquisa publicada no American Journal of Epidemiology: "Um estudo britânico sugere que pessoas na meia idade que usaram ou ainda usam drogas não tiveram o cérebro danificado", divulga matéria publicada na Folha online (http://f5.folha.uol.com.br/humanos/1030434-maconheiros-de-meia-idade-tem-mentes-mais-afiadas.shtml).

Alegria para uns, consternação para outros, os dados levantados pela pesquisa prometem reacender a chama da esperança para os sobreviventes de Woodstock: "Pesquisadores do King's College, em Londres, estudaram milhares de pessoas com 50 anos e descobriram que aqueles que tinham usado drogas ilícitas, principalmente a maconha, tiveram um desempenho melhor do que os outros nos testes de memória e de outras funções cerebrais".

Desconcertados ou não, os responsáveis pelo estudo ficaram com esta batata quente na mão: como explicar que usuários de drogas de longa data não trazem sequelas nas faculdades mentais? Uma possível explicação seria o nível de escolaridade de quem começou a consumir drogas lá nos idos dos anos 1960: "Uma das hipóteses que explicam o resultado é a relação entre o nível de estudo, que é melhor entre os usuários de drogas, segundo os pesquisadores". Vai saber...

Seja lá como for, o dia termina com novidades bombásticas e alguns mistérios impossíveis de serem desvendados: 1) septuagenário, o físico mais pop do planeta ensina que é possível pensar em mulheres, mesmo quando a única que ele mexe conscientemente são as bochechas; 2) antigos usuários de LSD e maconha não tiveram funções cerebrais como a memória danificadas ao chegarem à casa dos cinquenta; 3) as mulheres continuam sendo um mistério completo até para quem já conseguiu desvendar "o comportamento dos buracos negros".

Enfim, que graça teria a vida se não fossem seus mistérios?

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O ovo de Colombo

Acho a maior graça nessas matérias que repercutem pesquisas feitas em outros países - ou seja, considerando outros contextos sociais - como se elas houvessem descoberto o ovo de Colombo.

A matéria do O Globo online de hoje, por exemplo, sopra aos quatro ventos os achados do site CareerCast.com sobre as profissões mais e menos estressantes atualmente em voga nos Estados Unidos (http://oglobo.globo.com/emprego/as-cinco-profissoes-mais-menos-estressantes-de-2012-3568845).

Até que a pesquisa tem um método de aferição interessante: "Realizada anualmente pelo site, a pesquisa abrange 200 profissões diferentes", as quais são avaliadas de acordo com 11 fatores que envolvem riscos e estresse, tais como "ambiente de trabalho, competitividade do emprego, risco de morte para si mesmo e para outros e contato com o público".

Além disso, "a cada fator é dada uma pontuação, dependendo se prevalecer a maior parte do tempo ou não", o que permite uma leitura desses fatores em termos de intensidade e duração. Desta forma, as profissões consideradas como sendo as mais estressantes são justamente aquelas que envolvem mais perigos e riscos para o profissional.

Antes de passar para os resultados da pesquisa, gostaria de mencionar um fato curioso: segundo a matéria do O Globo online, a pesquisa é realizada anualmente pelo site CareerCast.com e, portanto, considera dados coletados em determinado ano (neste caso, o ano de 2011). No entanto, seus resultados projetam as condições de exercício daquela profissão para o ano seguinte (2012).

Com isso, temos que a relação das cinco profissões que serão as mais estressantes nos EUA em 2012 são, na maior parte, ligadas a atividades militares ou para-militares: 1) soldado alistado; 2) bombeiro; 3) piloto de avião comercial; 4) general (militar); 5) oficial de polícia. O que não é nada surpreendente para um país que estava, há até muito pouco tempo atrás, oficialmente em guerra.

Já dentre as cinco profissões que serão supostamente menos estressantes em 2012 naquele país, duas envolvem trabalhos de cunho técnico ligados à área médica: 1) técnico de arquivos médicos; 2) joalheiro; 3) cabeleireiro; 4) costureiro/alfaiate; 5) técnico de laboratório médico.

Isto posto, surge aquela perguntinha que não quer calar: e se fosse no Brasil? Quais seriam as profissões mais e menos estressantes, considerando-se a realidade vigente?

Bem, como não dispomos da lista dos 11 fatores que o site CareerCast.com utilizou para aferir risco e estresse nas profissões, não ousaria indicar minha própria lista. Mas tenho, contudo, alguns palpites promissores, que poderão ser explorados por quem de direito.

De um lado, tenho por quase certo que algumas profissões, como a dos policiais militares, se manteriam na lista das mais estressantes. De outro, tenho a mais absoluta certeza de que algumas profissões ausentes na lista norte-americana ganhariam destaque aqui em Pindorama.

A profissão de professor, com certeza, é uma delas. Se for professor de escola pública, de periferia e em Minas Gerais - estado em que o Governo Anastasia teima em descumprir o piso nacional e a Constituição Federal - aí então o bônus de pontos por estresse e risco fica inevitável. Infelizmente, a profissão em questão envolve um iminente risco de morte, dadas as ameaças dos alunos que lidam diretamente com o tráfico de drogas; estresse por não poder pagar pela comida que come em uma capital cuja cesta básica foi a 3a mais cara do país; risco de enfarte de raiva e desgosto de ver os dias de greve - mais que legítima, por sinal - serem descontadas no contracheque do mês janeiro (vide imagem de contracheque que circula livremente pelas redes sociais como Facebook, Twitter, etc).

Finalmente, para não dizer que falei apenas das profissões mais estressantes, acredito que aquelas que envolvem menor grau de estresse e risco também seriam diferentes aqui em Pindorama. A profissão de cabelereiro, certamente, saíria dos anais das profissões mais tranquilas para galgar as de maior risco e estresse. É que além de passarem muitas horas de pé, realizando movimentos repetitivos, eles têm ouvir comentários sobre as últimas cenas da novela das 20h ou da última baixaria praticada no Big Brother Brasil. E isso, com certeza, reduz bastante o tempo de vida útil e inteligente de um ser humano normal.

Quer saber? Melhor nascer poeta do que cabelereiro... Pelo menos, ele tem o poder de pular para o verso quando o rumo da prosa não agrada.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Degelo

Há várias formas de se confrontar com um evento trágico: alguns reagem com ajuda desinteressada, outros tentando tirar proveito daquela situação em benefício próprio. Mas há quem acabe fazendo os dois, mesmo que de maneira não-intencional.

A história do montanhista Bernardo Collares, que havia sofrido um acidente na Patagônia argentina ao escalar o Monte Fitz Roy em 03 de janeiro de 2011, é um excelente exemplo para se pensar o que pode mobilizar a empatia das pessoas em situações extremas (http://oglobo.globo.com/rio/apos-um-ano-familia-tem-esperanca-de-encontrar-montanhista-3565381).

Há um ano atrás, Collares caiu ao descer o Fitz Roy, tendo possivelmente fraturado a bacia. Na época, Collares havia sido colocado sob um platô por sua companheira de escalada, Kika Bradford, que acabou terminando a descida sozinha em busca de ajuda. No entanto, as más condições climáticas daquela época impediram que as buscas continuassem e que o socorro chegasse até ele. O resultado foi a morte presumida de um corpo ausente.

Segundo a advogada da família Collares, Nancy Walts, meses depois da tragédia, a família da vítima ainda buscava meios de fotografar o corpo, já que "as fotos seriam necessárias para que a família pudesse entrar com um pedido de óbito por morte presumida", conforme explica a matéria publicada no O Globo de hoje.

Ainda segundo a advogada, "no carnaval do ano passado, um grupo de montanhistas italianos procurou os Collares e se ofereceu para localizar e fotografar o corpo de Bernardo no platô, que deveria estar sem neve". Até aí tudo bem. O problema é que o grupo pediu 6 mil euros para fotografar o corpo, montante este que não foi pago pela família. O grupo seguiu caminho e tempos depois enviou à família fotos do local do acidente: "No platô onde Bernardo estaria, apenas vestígios de um acampamento foram encontrados. Isso aumentou ainda mais a angústia da família e também a ansiedade pela chegada do verão".

Enquanto outra expedição de montanhista e a própria polícia argentina se preparam para visitar o local do acidente, fica no ar uma última esperança, senão de encontrá-lo vivo (possibilidade muito remota, dadas as condições de sobrevivência no local), pelo menos de localizar e repatriar o corpo para uma autópsia.

Fico pensando na atitude do grupo de italianos que pediu 6 mil euros para fotografar o corpo. Por um lado, a matéria do O Globo dá a entender que eles realizariam a expedição de qualquer forma, independentemente do pagamento pelas fotos (o que, de fato, parece ter acontecido). No entanto, e mesmo assim, eles não se furtaram à ideia de tirar proveito da aflição dos familiares da vítima em seu próprio benefício. Por outro lado, foram as fotos realizadas pelo grupo e enviadas posteriormente à família que denotaram a ausência do corpo no local designado, reacendendo uma última centelha de esperança.

Uma coisa, no entanto, me parece certa: morte sem corpo para ser velado é mais ou menos como festa de aniversário sem a presença do aniversariante: falta "algo" fundamental, isto é, a razão central do evento. Mas sabemos que a comparação já é em si insuficiente: no caso do aniversariante ausente, pode-se esperar que ele esteja presente no aniversário seguinte. Já o velório... só pode acontecer uma vez e de maneira definitiva.

A família da vítima, só resta desejar que qualquer que seja o evento a ser celebrado, que ele seja ao menos de corpo presente.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Decisões de ano novo

Se tem duas classes de coisas nesse mundo com as quais eu vivo implicando são as chamadas "ambiguidades" e "obviedades". Ambas já foram tema de incontáveis comentários nesse blog, mas volta e meia ainda me pego franzindo a testa com uma ou outra. Ou ambas. Mas hoje foi a vez da obviedade ganhar destaque.

Foi o que aconteceu com esta matéria publicada hoje no O Globo online com o título de "Médicos dão dicas para colocar metas de ano novo em prática" (http://oglobo.globo.com/saude/medicos-dao-dicas-para-colocar-metas-de-ano-novo-em-pratica-3541330).

As principais decisões de ano novo apuradas na matéria envolvem, via de regra, decisões como "emagrecer, parar de fumar e beber, ou todos eles juntos". E as dicas, que devem ser garimpadas entre diversos casos de tomada de decisão deste tipo, são tão óbvias que nem precisava ser médico para dizê-las.

A primeira delas é determinação: "A determinação, eles garantem, não pode faltar. É ela que lhe garantirá uma vida mais saudável para ter fôlego de realizar outras metas". E a outra, de acordo com a psiquiatra Analice Gigliotti, chefe do setor de dependência química da Santa Casa da Misericórdia do Rio, é o auto-controle: "É fundamental a prática do autocontrole. Todo novo desafio nos fortalece internamente".

Fato: este é o tipo de receituário que deixa meus cabelos em pé. Ora, se determinação e auto-controle fossem qualidades amplamente disseminadas, práticas pouco saudáveis como comer excessiva e descontroladamente, beber demais ou fumar em excesso seriam problemas passageiros e facilmente superáveis.

Só que não são. E a razão para tanto é a seguinte: a receita para superar o problema nasce de uma contradição difícil de ser compreendida, quanto mais praticada. É que o pressuposto da cura é também o seu efeito imediato. Ou seja, aquilo que você precisa ter para encarar um determinado problema, você também alcançará gradativamente na medida em que mais passos são dados naquela direção.

Exemplo? Você precisa de auto-controle para executar uma determinada tarefa (para de fumar, por exemplo), mas o resultado prático disso é (além da saúde, claro) é mais auto-controle. E este auto-controle pode ser redirecionado para outros campos da vida. Trocando em miúdos, você estará lidando com qualidades que se intensificam à medida em que são acionadas. Mas se elas não forem acionadas, nada feito.

Obviamente, para entender o funcionamento desta lógica, a gente tem que deixar de lado uma noção de qualidade enquanto "riqueza finita". Determinação e auto-controle não se acabam porque você os utilizou em demasia. Ao contrário, eles só vão se exaurir quando você deixar de praticá-los. Difícil entender essa outra lógica em um sistema de troca capitalista, em que todo produto tem seu preço e um prazo de validade que lhe compete, do tipo "quando acabar, você compra mais". Mas isso, ninguém falou na matéria. E ninguém quer quebrar a cabeça tentando achar o que já carrega dentro de si. Melhor transferir a responsabilidade para fatores externos: um bom personal-trainner, um bom endocrinologista, um bom cardiologista, enfim: um bom especialista pago para te dizer o óbvio. Que a bola está no seu campo, você é quem chuta.

Felizmente, determinação e auto-controle não se vendem em pílulas. Se fossem vendidos, o receituário "determinação e auto-controle" para alavancar mudanças deixaria de ser óbvio. E, ao invés de óbvio, ele seria meramente um produto escasso, caro, piratado e traficado para as classes mais ricas. Sorte nossa que não é!

P.S. = Não tomei nenhuma decisão de ano novo, mas se fosse tomar alguma, talvez tentasse parar de implicar com obviedades e ambiguidades de todo tipo. Mas, haja determinação e auto-controle...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O lado iluminado da força

Não sei como você está começando o seu ano, mas o meu eu começo acendendo uma vela para as boas notícias, mesmo quando elas vêm travestida de eventos funestos. Quer um exemplo?

O falecimento do esgrimista Bob Anderson no último domingo poderia ser visto pelos fãs da série Guerra nas Estrelas como uma tragédia sem precedentes (http://www1.folha.uol.com.br/esporte/1028913-morre-esgrimista-olimpico-que-era-duble-de-darth-vader.shtml).

Para situar os leigos e não-iniciados no clássico (classe na qual me incluo, diga-se de passagem), vale lembrar que Anderson atuou como dublê de Darth Vader "nas cenas de luta dos episódios 'Império Contra-ataca' e o 'Retorno de Jedi' ".

É claro que a morte de alguém com um currículo invejável como o do britânico Anderson deixa uma lacuna irreparável no mundo ficcional. Além de ex-competidor olímpico de esgrima, Anderson foi um cultuado coreógrafo de lutas com espada em Hollywood, tendo participado "da equipe de produção dos filmes 'A Lenda do Zorro' (2005) e da triologia 'Senhor dos Anéis' ". E, para coroar sua existência de glória, ele teve tempo de integrar, ainda no ano passado, "a equipe de produção do filme 'O Hobbit' ", cuja estreia está prevista para 2012. Nada mal para quem partiu desta para melhor aos 89 anos de idade.

Outra coisa: se você entrou em 2012 assombrado com a perspectiva de um fim de mundo próximo, pode ir tirando seu cavalinho da chuva. Notícia publicada na Folha Ciência lembra aquilo que você estudou provavelmente na 5a série, mas acabou esquecendo: "Daqui a 1 bilhão de anos, nosso planeta estará fadado à morte certa, com um futuro de temperaturas escaldantes insustentáveis para a manutenção da vida" (http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1028800-vem-ai-o-fim-do-mundo-mas-nao-sera-neste-ano.shtml).

Tudo isto porque o nosso sol querido - aquele que a gente não vê há muito tempo por causa das chuvas torrenciais que andam caindo aqui na Roça Grande - chegará ao ápice do seu processo de amadurecimento, que culmina da expansão do seu tamanho "em torno de 200 vezes, o suficiente para 'engolir' Mercúrio, Vênus e, muito provavelmente, a Terra".

Assim vamos terminando o dia com duas boas notícias travestidas de tragédia. No primeiro caso, fica o consolo de que na falta de alguém com tamanho talento e habilidade de Bob Anderson, o lado obscuro da força nunca mais será o mesmo. E no segundo caso, a boa notícia é que você tem um bilhão de anos para morrer, reencarnar - quem sabe na condição de esgrimista e campeão olímpico? - e morrer de novo, se for o caso. Pois é nos ciclos de vida-morte-renascimento que reside o lado iluminado da força.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Ano-noversário!

Parabéns, parabéns, parabéns!

Este blog completa, no raiar de mais um ano em nossas vidas, seu primeiro ano de existência.

Não posso negar que ele foi uma verdadeira tábua de salvação para mim ao longo desses primeiros 12 meses. Ele foi aquele espacinho singelo de exercício do livre pensar e do livre sentir. Um lugar onde pude rir de mim mesma, olhar para o mundo ao meu redor, falar desse outro mundo que grassa em mim mesma. Um lugar onde pude chorar minhas pitangas, quando assim o quis.

Gostaria de agradecer, neste momento de celebração, a duas figuras emblemáticas que impulsionaram minha verve criativa, fazendo com que este blog fosse alimentado quase que diariamente. Minha primeira reverência vai para Machado de Assis, esse patrono, mestre, santo de casa que faz milagre e que me inspira quando as coisas carecem de sentido. Obrigada, Mestre, obrigada!

A segunda reverência vai para o Juvenal, este anel que por hora carrego somente na memória, já que não o trago mais comigo e nem sequer sei como foi que perdi. Foi-se o objeto, ficaram suas lembranças. Mais do que lembranças, ficou o espírito de uma época em que rebelar-se era preciso, viver não era preciso!

Bem, para quem quiser relembrar o primeiro comentário deste blog - aquele que justifica sua existência - basta visitar o link: http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/01/na-calada-da-noite-criei-um-blog.html.

E quem quiser saber a razão do seu nome, aqui vai uma curta explicação: http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/01/sobre-o-juvenal-e-ironia-machadiana.html.

Abraços e um excelente 2012 para nós todos!