UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: abril 2015

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Escolhas

Aqui vão duas notícias que falam da celebração da vida e que certamente irão espanar as notícias sombrias do seu dia.

A primeira delas fala da vida de quem já se foi e diz respeito ao lançamento do trailer do documentário sobre a diva da soul music norte-americana, Nina Simone.

O documentário, previsto para ser lançado em 26 de  junho de 2015, abordará "desde a infância da cantora americana, passando por sua influente carreira musical, até seu trabalho como ativista política pelos direitos dos negros, além de crítica da Guerra do Vietnã" (http://oglobo.globo.com/cultura/filmes/veja-primeiro-trailer-do-documentario-sobre-nina-simone-16011454).

A outra boa notícia fala da vida daqueles que ficaram após o terremoto que afetou o Nepal no último fim de semana.  Equipes de ajuda humanitária relatam cenário menos "pessimista" nas regiões mais afastadas do Nepal (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/04/1622635-familias-celebram-sobrevivencia-em-algumas-vilas-do-interior-do-nepal.shtml).

Povoados como o de Trishuli, localizado a três horas da capital Katmandu,  relataram  à equipe da Folha de S. Paulo apenas quatro mortes dentre centenas de habitantes e "nenhum ferido em situação grave", o que parece surpreender dado o grau de destruição das construções ao longo da estrada.

"Há casas totalmente desfeitas, em escombros. Mas diversos moradores não estavam ali dentro, no sábado de manhã, ou tiveram tempo de salvar-se dos tremores".

Dito isso, serei breve e concluirei por aqui, apostando no poder regenerador da celebração em contextos adversos. Boa noite para quem fica.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Áurea evanescência

Dessa vida nada se leva... Nem sequer a lembrança das cores de Van Gogh!

Notícia publicada na edição da Folha de S. Paulo online de hoje relata diagnóstico de uma equipe de pesquisadores da Universidade da Antuérpia (Bélgica) após analisarem amostras do quadro Wheat Stack Under a Cloudy Sky. Eles "notaram que, quando o óxido de chumbo, responsável pelos pigmentos vermelhos do quadro, entra em contato com a luz azulada e com o gás carbônico, transforma-se em outros compostos de chumbo de cor esbranquiçada".

A ironia da história é que "as reações ocorrem devido a grande sensibilidade do óxido de chumbo para com os raios de luz azulados", presentes, entre outras coisas, nas luzes do LED. Em outros termos, o chumbo vermelho comumente usado em pigmentos avermelhados reage de maneira inesperada na presença do gás carbônico e das luzes azuladas de LED que, por sua vez, são as preferidas dos museus em função de sua eficiência energética.

Lâmpadas de LED: ruim com elas, pior sem elas. Ou seja: há quem defenda que as convencionais são ainda piores. De acordo com Valéria de Mendonça, coordenadora de conservação e restauro da Pinacoteca do Estado de São Paulo, "os grandes inimigos das pinturas são o oxigênio e os raios ultravioletas (UV), presentes nas lâmpadas halógenas, as convencionais". Para outros especialistas, o problema residiria, muito provavelmente, no excesso de LED. Esta é a posição de Fernanda Carvalho, arquiteta e designer de luz responsável pela iluminação de diversas exposições no MAM e no CCBB: "Toda luz afeta os materiais, algumas mais, outras menos". A solução para alguns seria deixar o quadro no escuro e deixar que sensores acionem a luz com a aproximação de visitantes em um museu.

Se alguém resolveu sentar e chorar as pitangas sobre o futuro das cores Van Gogh é bom saber que vai estar chorando sobre o leite derramado. Agnes Brokerhof, cientista sênior do Ministério de Educação, Cultura e Ciência e especialista em conservação preventiva, muitas das cores de Van Gogh já eram: '"As nuvens brancas que vemos hoje eram rosa quando Van Gogh pintou. O quarto dele também mudou de cor consideravelmente ao longo do século passado."

A ironia da história é que, para manterem-se como eram, as cores de Van Gogh precisariam permanecer constantemente no escuro, onde jamais poderiam ser devidamente apreciadas. O dilema é, sem dúvida, de difícil solução. Obra dos mistérios da vida e da finitude das coisas.

Pintado em 1889, o quadro Wheat Stack Under a Cloudy Sky hoje está exposto no Museu Kröller-Müller na Holanda (http://www1.folha.uol.com.br/vice/2015/04/1621626-quem-esta-zoando-com-as-cores-dos-quadros-de-van-gogh.shtml).


Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpO7PkM2HvNz1PUGqmcVzz51kD8UVfxtnn4tdQeKuscG-uJoI50UnfDiODrhLxnUkvPLHqcfBBn8ButVtBkb5z3nlXEvboLd-JUsxhx_d3oqip0PJVJ45RHK7VDmOhKkS9Mf-rBDyxAUo/s1600/wheatstacksky.jpg





sexta-feira, 24 de abril de 2015

Paciência sélfica

Quinta-feira pós-feriado, semana de trabalho mais curta e mesmo assim a sua paciência já se esgotou?

Surpresa! A Microsoft promete trazê-la de volta na versão do Windows 10, que será lançado neste inverno. "O popular jogo de cartas foi incluído em todas as versões do Windows, desde o Windows 3.0 em 1990. Porém, a Microsoft optou por removê-lo do Windows 8. Na última versão do software, é necessário entrar na Windows Store para encontrar o jogo e fazer o download", explica notícia publicada hoje na Folha de S. Paulo. (http://www1.folha.uol.com.br/tec/2015/04/1620096-jogo-de-cartas-paciencia-vai-voltar-ao-windows.shtml).

 As razões que levaram à supressão da Paciência do universo microsoftiano não foram esclarecidas na notícia, mas estima-se que muitas vidas e muitos relacionamentos serão poupados com a volta do jogo.

Bem, se essa notícia já não foi banal suficiente para você, espere até ler essa pérola também publicada na Folha. A expansão da antiga técnica do autorretrato, doravante batizada de selfie, tem aquecido uma nova faixa de mercado: aquela do ego sem limites. "De olho na popularização dos autorretratos, fabricantes de celulares começaram a investir em funções próprias para as 'selfies', como guias em áudio e flash também na câmera frontal" (http://www1.folha.uol.com.br/tec/2014/04/1445662-aplicativos-e-tecnicas-de-fotografia-podem-ajudar-na-busca-da-selfie-perfeita.shtml). 

Pode parecer simples, mas a "arte da boa selfie" requer requintes estéticos e coordenação motora: "é preciso prestar atenção em quesitos como iluminação, ângulo e distância da câmera do rosto", relata a notícia. Para suprir esta crescente faixa de mercado, a notícia traz dicas detalhadas sobre iluminação, distância do obturador, pano de fundo, capinha, ângulo e botão.

Um prato cheio para quem não quer perder nem a chance de se exibir para o mundo e nem muito menos a paciência. Na pior das hipóteses, se esta última faltar, então pelo menos você já sabe onde ir buscar o seu quinhão adicional.



quinta-feira, 23 de abril de 2015

Energia que cai do céu

Esta é para você que acaba de chegar pregado de cansaço do último feriado. Quem, afinal, nunca acordou cansado, desmotivado e acabou pedindo aos céus toda a energia necessária para mais um dia de batalha?

Bem, se você já fez isso, é bom ir tomando cuidado com o que pede, pois... ele pode te mandar o

Não sei bem se foi esse o caso do Primeiro Ministro japonês, Shinzo Abe, mas, de qualquer forma, ele acabou recebendo mais energia do que gostaria ou precisa: segundo notícia publicada ainda há pouco no jornal Folha de S. Paulo online, um drone radioativo pousou no telhado da sua residência oficial, nesta 4ª feira (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/04/1619490-drone-radioativo-pousa-na-cobertura-do-primeiro-ministro-japones.shtml).

Ainda de acordo com a emissora pública japonesa NHK, citada na notícia, "as autoridades, que descartaram em um primeiro momento a possibilidade de o drone transportar explosivos, detectaram a radiação em nova análise e ainda estão investigando o equipamento." Coincidência ou não,  o drone parece ter caído acidentalmente no telhado da residência oficial do dirigente japonês.

Moral da história: sorte do Primeiro Ministro, que está fora do Japão em viagem oficial a Jacarta; sorte do Japão, que não tem feriado todo dia.


terça-feira, 21 de abril de 2015

Muamba humana

Enquanto dentro das fronteiras do País da Mil e Uma Plásticas,  também conhecido como Brasil, a 2ª feira transcorreu morosa em ritmo de (quase) feriado, lá fora o mundo chacoalhava sem dó. Prova disso foram os pronunciamentos públicos de medidas enérgicas sendo tomadas aqui e acolá no combate ao contrabando de alguma coisa: de pessoas ou de prestigio comercial.

Duas notícias publicadas hoje mostram, contudo, o quão paradoxais podem ser as estratégias anunciadas. De um lado, tivemos a popular rede social Facebook fazendo alarde de sua nova política de combate às "curtidas falsas": "O Facebook diz que sua luta contra as curtidas falsas está dando tão bons resultados que muitas pessoas que construíram negócios com essa estratégia estão fechando seus empreendimentos", relata notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/tec/2015/04/1618919-facebook-amplia-combate-a-vendedores-de-curtidas-falsas.shtml).

O bloqueio de curtidas falsas tem o objetivo de inibir a ação de empresas/pessoas/softwares contratados para forjar as tão almejadas "curtidas", que, por sua vez, são uma espécie de moeda de troca de reputação e prestígio público bastante valorizada atualmente - talvez até mais do que qualquer diploma nacional de ensino médio completo. 

Interessante notar que o pronunciamento realizado por Kerem Cevahir, engenheiro de segurança do Facebook, em nenhum momento especificou que estratégias seriam essas. Como o segredo deve fazer parte do show, a tática adota é a comunicação de resultados: "Nos últimos seis meses, o Facebook triplicou o número de curtidas falsas detectadas e bloqueadas antes de chegar às páginas, segundo Cevahir."

Lógica inversa parece estar sendo utilizada pela União Europeia (UE) diante do elevado número de mortes decorrente de naufrágios de embarcações clandestinas que levavam africanos ao Continente Europeu:
"Um dia depois de mais uma tragédia no Mediterrâneo, a Comissão Europeia apresentou aos chanceleres do bloco um plano com dez pontos para reduzir a crise migratória, que já causou mais de 1.800 mortes este ano", relata notícia publicada hoje no jornal O Globo online (http://oglobo.globo.com/mundo/ue-propoe-plano-de-acao-imediata-com-10-pontos-contra-morte-de-imigrantes-no-mediterraneo-15927197).

Como as políticas migratórias de lá têm produzido resultados vergonhosos na região mediterrânea - estima-se entre 700 e 950 pessoas tidas como mortas em naufrágio perto da costa da Líbia, no domingo, e mais 500 pessoas em outros três barcos, nesta segunda-feira - o foco do pronunciamento, neste caso, passou dos resultados para a estratégia. De acordo com Thomas de Maiziere, ministro das Relações Exteriores da Alemanha, "o plano de ação imediata apresentado na reunião de emergência inclui redobrar o financiamento e o número de barcos envolvidos nas operações de busca e resgate".

 Note-se que o recente pronunciamento surge na senda dos efeitos de políticas anteriores, dentre as quais a desastrosa "Operação Triton", cujo objetivo foi reduzir o patrulhamento com fins humanitários na área costeira. No entanto, "parar o resgate de imigrantes em perigo não levou a uma diminuição do fluxo migratório, nem a menos contrabando, mas apenas a mais mortes no mar, como mostra esta tragédia recente".

No mundo do negócios, empresas como o Facebook sabem que sua reputação comercial depende em grande parte da exatidão dos seus indicadores de visibilidade e prestígio público, traduzidos, no caso, nas eventuais "curtidas" de página. Portanto, dizer publicamente que muito está sendo feito para o combate de curtidas falsas faz parte de um protocolo de legitimação do próprio negócio em jogo.
 
No mundo das políticas públicas, porém, não basta apenas anunciar que algo vai ser ou está sendo feito. Os resultados nefastos destas políticas não são nenhum segredo de estado e estiveram estampados nas capas dos principais jornais do mundo no dia de hoje. 
 
De acordo com o chefe para Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra’ad Al Hussein, "a UE deveria abrir caminhos legais para autorizar a entrada de imigrantes e, ao mesmo tempo, reconhecer que precisa do trabalho de imigrantes pouco qualificados, que refugiados têm direito a buscar asilo e que famílias merecem viver juntas. A falta de tais caminhos legais criaram o problema do contrabando de pessoas". 
 
Paradoxos do contrabando!

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Pitoresca onipresença


Esta notícia publicada hoje no jornal O Globo online me fez sorrir que nem uma hiena!

É que a Receita Federal conseguiu identificar a origem daquilo que poderia ter sido um inextrincável nó metafísico: como uma única empregada doméstica pode ter prestado serviço a 502 contribuintes ao longo do ano base de 2014? (http://oglobo.globo.com/economia/mais-de-500-contribuintes-declararam-ter-mesma-empregada-domestica-diz-receita-15911732)

Quem apostou no dom da onipresença, errou feio! De acordo com Iágaro Jung Martins, subsecretário de Fiscalização da Receita Federal, a empregada foi "clonada", só que no sentido mais simplista do termo:  "Identificamos de onde saíram essas declarações. Um profissional utilizou o mesmo número de identificação do trabalhador (doméstico) e passou a realizar essa dedução no IR de todos os seus clientes".
 
Ao que parece, o ano base de 2014 anda cheio de casos pitorescos como este acima e o de um outro contador, que teria informado o pagamento de pensão alimentícia em 90% das declarações por ele realizadas: "Isso é estatisticamente impossível. Em média, 6,5% das pessoas que declaram Imposto de Renda pagam pensão alimentícia," prossegue o subsecretário.

Seria cômico se não fosse trágico! A notícia, que diz muito da prodigiosa capacidade de algumas pessoas ultrapassarem a barreira do supremo cinismo, serve para fechar a semana com chave de ouro - ou requintes de crueldade, como preferirem. Esquizofrenia típica de quem denuncia a corrupção, mas curte sonegar impostos. 
 
Aham! Vai que eu tô te vendo!

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O ovo e a galinha

Admirável a iniciativa de Luciano Ariabo Quezo, aluno do último ano do curso de letras da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).

Um dos atuais 600 falantes da língua indígena umutina-balatiponé, Luciano desenvolveu um método de ensino da sua própria língua: "Após a morte de um ancião –um dos poucos que só falava o idioma nativo–, ele resolveu escrever um livro bilíngue para tentar evitar o desaparecimento da língua de sua família" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/04/1616766-indigena-escreve-livro-para-evitar-extincao-da-lingua-de-sua-aldeia.shtml).

Com isso, um projeto piloto de livro foi criado e submetido à comunidade em 2013, para que fosse testado e aprovado. Ainda segundo Luciano, "os mais velhos tinham o conhecimento, mas, entre os mais jovens, poucos falam o umutina. Quando o ancião morreu, em 2004, vi que o idioma poderia sumir se não fosse feito nada".

Intitulado "Língua e Cultura Indígena Umutina no Ensino Fundamental", o livro remete ao vínculo estreito entre a língua e a cultura e dá margem para várias indagações. Afinal, o que vem primeiro: a língua ou a cultura? É a língua um simples vetor de transmissão de valores e repertório cultural ou ela age sobre, de maneira reflexiva, sobre a própria cultura?

Se, por um lado, o problema da preservação de línguas minoritárias é velho conhecido de um país com dimensões continentais como o nosso, ele não deixa de oferecer, por outro lado, uma versão criativa do famoso dilema da galinha e do ovo. Afinal, qual deles veio primeiro? Levando o dilema às últimas consequência, daria no mesmo dizer que a existência de ovo e galinha só é possível em regime de co-presença: um não vive sem o outro (não há ovo sendo chocado na ausência de uma galinha; não galinha que nasça fora de um ovo). Que este pequeno "ovo" botado na língua umutina vingue e traga consigo a esperança de um reflorescimento cultural.

Aproveitando a deixa do dilema do ovo e da galinha, gostaria de prestar uma homenagem autoral ao Dia Mundial do Desenhista, comemorado na data de hoje (15 de abril). Parabéns então a todos os desenhistas!





terça-feira, 14 de abril de 2015

Pseudo-estiagem

Nem bem começou a estiagem e os jornais já começam a alardear a baixa no volume de água dos reservatórios que abastecem cidades como a Roça Grande: "depois de apresentarem altas consecutivas desde o final do mês passado, os níveis dos reservatórios que abastecem Belo Horizonte e região metropolitana começaram a sofrer uma ligeira queda, nesta terça-feira (14)" (http://www.hojeemdia.com.br/horizontes/reservatorios-de-agua-em-minas-comecam-a-baixar-com-fim-do-periodo-chuvoso-1.311577).

Porém, como tudo é uma questão de perspectiva e um certo teor de otimismo cínico é necessário para seguir vivendo, temos que refrear os temores e pensar pelo outro lado. "Pensar pelo outro lado" significa, neste contexto, abandonar a ideia de que vivemos atualmente um período de estiagem.

Em primeiro lugar, a estiagem não se aplica ao presente cenário porque, a rigor, esta vem após um período honesto de chuva. Como nem isso tivemos este ano, melhor deixar a estiagem para lá.

Em segundo lugar, os prognósticos de chuva não são tão ruins assim. Eles estão apenas na média de chuva alcançada nos anos anteriores, de acordo com Claudemir Félix, meteorologista do Instituto PUC Minas ClimaTempo: "Em abril, normalmente temos uma precipitação de 61 milímetros. Em maio, de 28 mm e, em junho, de 14 mm. Em 2015, vamos ficar nessa média mesmo", explica.

Em terceiro lugar, em que pese apesar esta experiência coletiva de insegurança crônica, ainda há margem para acreditar que ainda estamos vivendo no planeta Terra. Mas nada é tão ruim que não possa ser piorado (segundo reza a cartilha do otimismo cínico), pior seria se estivéssemos em Saturno, lá onde as grandes tempestades levam de 20 a 30 anos para se formar: "A cada 20 a 30 anos, enormes tempestades tomam a atmosfera de Saturno, formando um cinturão de nuvens que chega a dar a volta no planeta",  o que permite a formação das chamadas "grandes manchas brancas." (http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/cientistas-explicam-misterio-das-supertempestades-frequentes-em-saturno-15860865).

A quarta saída para fugir do desespero climático seria: a) acreditar em abdução; e b) rezar para que ela aconteça. E se acaso ela acontecer, reze para: c) esbarrar em Júpiter e não Saturno, visto que as chuvas no primeiro são mais frequentes, apesar de mais esparsas. Isto porque dados fornecidos pela Sonda Espacial Cassini "indicam que o interior da atmosfera de Saturno é mais úmido do que o de Júpiter e é por isso que ele, o maior planeta do Sistema Solar, apresenta tempestades menores, mas mais constantes, que o gigante gasoso dos anéis."

Quinta e última possibilidade: tornar-se o Senhor dos Aneis e, de posse do Anel de Sauron, fugir para rincões mais genuinamente otimistas neste universo.

Como presente para o leitor exigente que eu sei que você é, deixo aqui um leque de opções capazes de ventilar otimismo pelos meses vindouros.



quarta-feira, 8 de abril de 2015

Longevas

Vou aproveitar e pegar carona no último comentário deste blog, que falava de uma nova dieta de emagrecimento pela consciência e pelo prazer de comer comida saudável. Com tanta receita de bem-viver disponível nos dias de hoje, nada mais natural do que todo mundo associar vida longa e saudável a uma dieta rigorosa, certo?

Bem, em termos. Em brevíssima notícia, apresentando as três pessoas mais velhas atualmente no mundo - todas elas mulheres que já completaram 115 anos de vida - a longevidade rima com hábitos alimentares e comportamentais um tanto quanto surpreendentes.

Publicada na edição de hoje no jornal O Globo online, a notícia divulga as identidades e preferências das três figuras mais longevas deste planeta (http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/as-ultimas-tres-pessoas-vivas-nascidas-no-seculo-xix-15806174).

A mais nova delas, a italiana Emma Morano, diz que relata que nunca usou drogas, mas que, do alto dos seus 115 anos, adora "comer três ovos por dia, acompanhados por uma dose de um brandy caseiro, com alguns chocolates de vez em quando."

Já a família da americana Susannah Mushatt Jones conta que ela "nunca fumou ou ingeriu bebidas alcoólicas" ao longo dos seus 115 anos de idade, mas "churrasco de galinha e bacon" estão entre seus pratos prediletos.

Quanto à dieta da mais velha de todas, a também americana Jeralean Talley, só não ficamos sabendo de nenhum detalhe sórdido dela porque o texto da notícia foi cortado inadvertidamente (uma lástima!).

Pois é... Assim segue a vida: longa ou curta, mas sempre cheia de surpresas.

 


segunda-feira, 6 de abril de 2015

Magreza consciente

Respire fundo! Tem moda nova no mercado das esperanças vãs.

A nova moda em questão toca em cheio uma das principais fontes de constrangimento e preocupação de um grande número de mulheres contemporâneas: o controle do peso por meio de dieta.

De acordo com notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo, o Centro de Medicina Integrada da Universidade de Duke desenvolveu a chamada dieta da consciência, dieta que ensaia métodos supostamente novos para uma das grandes preocupação do momento: "A ideia por trás da nova técnica combina psicologia com pesquisa nutricional para romper o ciclo do efeito sanfona." (http://ela.oglobo.globo.com/vida/dieta/dieta-da-consciencia-promete-magreza-eterna-15795096).

Contudo, entretanto, porém... não leva nem duas respirações diafragmáticas completas para tomarmos consciência de que o prazer aspirado, ao se adotar hábitos alimentares saudáveis, nada mais é do que um exercício de consciência plena do presente. Como bem relata a notícia, "tudo isso seria feito com o poder da consciência, por meio de uma técnica psicológica que pretende ensinar como estar 'presente' no momento da refeição e fazer um balanço das mensagens enviadas pelo corpo."

Por mais colada que a dieta esteja nas técnicas mais modernas da psicologia e da pesquisa nutricional, a semelhança com técnicas milenares de ioga e meditação fica evidente em trechos como o que se segue: "De acordo com o estudo da universidade, praticar algumas técnicas simples da dieta da consciência seria suficiente para construir autoconhecimento necessário para sair do automático a qualquer momento e avaliar claramente o que está prestes a ser colocado na boca".


O "problema" da dieta da consciência (se é que isso é realmente um problema) é que o tão almejado estágio avançado de atenção plena e autoconhecimento jamais ficaria restrito às opções alimentares e acabaria "invadindo" as demais áreas da vida dos seus adeptos (para o bem destes últimos, diga-se de passagem).  Em outros termos, sair do "automático" nas nossas relações e opções de vida pode envolver reavaliações mais profundas, inclusive quanto à necessidade real de uma dieta. Ou seja, se ela está sendo feita para gerar mais saúde ou se está sendo seguida para agradar a terceiros e se adequar a um padrão de beleza inatingível.

Isto posto, a única coisa realmente honesta e garantida nesta notícia é o seu título: "Dieta da consciência promete magreza eterna". Ora, se, no limite, o estado máximo de plena consciência de que se tem notícia é a própria morte, nada mais adequado que a magreza "eterna" seja uma conquista que só nossos esqueletos podem obter. Isto é: enquanto eles não virarem pó e ao pó não retornarem, sem maiores preocupação com o peso.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Cápsulas da alegria

Com o feriado da Semana Santa batendo à porta, sejamos livres, breves e leves.

Cafeólatras do mundo inteiro: trago notícias alvissareiras do front!

Elas nos chegam por meio de notícia dada pelo jornal Folha de S. Paulo de hoje. Segundo a notícia, "o governo zerou, a partir desta quarta-feira (1º), o Imposto de Importação de cápsulas de café e das máquinas cafeteiras domésticas que operam especificamente a partir dessas cápsulas" (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/04/1611368-governo-zera-imposto-de-importacao-de-capsulas-e-maquinas-de-cafe.shtml). 

Na prática, as cápsulas do café serão poupadas de 10% de impostos e as máquinas, 20%.  A informação da Câmara de Comércio Exterior, responsável pela notícia que me alegrou o dia, é que "as reduções tarifárias fazem parte de conjunto de medidas para a criação de mercado e atração de investimentos no país para fabricação local de produtos com maior valor agregado".

Não sei se chegaremos a ver o dia em que a felicidade será vendida em frascos e comprimidos, mas já estou certa de que o formato cápsula ficará 10% mais barato a partir de hoje.