UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Áurea evanescência

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Áurea evanescência

Dessa vida nada se leva... Nem sequer a lembrança das cores de Van Gogh!

Notícia publicada na edição da Folha de S. Paulo online de hoje relata diagnóstico de uma equipe de pesquisadores da Universidade da Antuérpia (Bélgica) após analisarem amostras do quadro Wheat Stack Under a Cloudy Sky. Eles "notaram que, quando o óxido de chumbo, responsável pelos pigmentos vermelhos do quadro, entra em contato com a luz azulada e com o gás carbônico, transforma-se em outros compostos de chumbo de cor esbranquiçada".

A ironia da história é que "as reações ocorrem devido a grande sensibilidade do óxido de chumbo para com os raios de luz azulados", presentes, entre outras coisas, nas luzes do LED. Em outros termos, o chumbo vermelho comumente usado em pigmentos avermelhados reage de maneira inesperada na presença do gás carbônico e das luzes azuladas de LED que, por sua vez, são as preferidas dos museus em função de sua eficiência energética.

Lâmpadas de LED: ruim com elas, pior sem elas. Ou seja: há quem defenda que as convencionais são ainda piores. De acordo com Valéria de Mendonça, coordenadora de conservação e restauro da Pinacoteca do Estado de São Paulo, "os grandes inimigos das pinturas são o oxigênio e os raios ultravioletas (UV), presentes nas lâmpadas halógenas, as convencionais". Para outros especialistas, o problema residiria, muito provavelmente, no excesso de LED. Esta é a posição de Fernanda Carvalho, arquiteta e designer de luz responsável pela iluminação de diversas exposições no MAM e no CCBB: "Toda luz afeta os materiais, algumas mais, outras menos". A solução para alguns seria deixar o quadro no escuro e deixar que sensores acionem a luz com a aproximação de visitantes em um museu.

Se alguém resolveu sentar e chorar as pitangas sobre o futuro das cores Van Gogh é bom saber que vai estar chorando sobre o leite derramado. Agnes Brokerhof, cientista sênior do Ministério de Educação, Cultura e Ciência e especialista em conservação preventiva, muitas das cores de Van Gogh já eram: '"As nuvens brancas que vemos hoje eram rosa quando Van Gogh pintou. O quarto dele também mudou de cor consideravelmente ao longo do século passado."

A ironia da história é que, para manterem-se como eram, as cores de Van Gogh precisariam permanecer constantemente no escuro, onde jamais poderiam ser devidamente apreciadas. O dilema é, sem dúvida, de difícil solução. Obra dos mistérios da vida e da finitude das coisas.

Pintado em 1889, o quadro Wheat Stack Under a Cloudy Sky hoje está exposto no Museu Kröller-Müller na Holanda (http://www1.folha.uol.com.br/vice/2015/04/1621626-quem-esta-zoando-com-as-cores-dos-quadros-de-van-gogh.shtml).


Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpO7PkM2HvNz1PUGqmcVzz51kD8UVfxtnn4tdQeKuscG-uJoI50UnfDiODrhLxnUkvPLHqcfBBn8ButVtBkb5z3nlXEvboLd-JUsxhx_d3oqip0PJVJ45RHK7VDmOhKkS9Mf-rBDyxAUo/s1600/wheatstacksky.jpg





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