Dessa vida nada se leva... Nem sequer a lembrança das cores de Van Gogh!
Notícia publicada na edição da Folha de S. Paulo online de hoje relata diagnóstico de uma equipe de pesquisadores da Universidade da Antuérpia (Bélgica) após analisarem amostras do quadro Wheat Stack Under a Cloudy Sky. Eles "notaram que, quando o óxido de chumbo, responsável pelos pigmentos
vermelhos do quadro, entra em contato com a luz azulada e com o gás
carbônico, transforma-se em outros compostos de chumbo de cor
esbranquiçada".
A ironia da história é que "as reações ocorrem devido a grande sensibilidade do óxido de chumbo para com os raios de luz azulados", presentes, entre outras coisas, nas luzes do LED. Em outros termos, o chumbo vermelho comumente usado em pigmentos avermelhados reage de maneira inesperada na presença do gás carbônico e das luzes azuladas de LED que, por sua vez, são as preferidas dos museus em função de sua eficiência energética.
Lâmpadas de LED: ruim com elas, pior sem elas. Ou seja: há quem defenda que as convencionais são ainda piores. De acordo com Valéria de Mendonça, coordenadora de conservação e restauro da
Pinacoteca do Estado de São Paulo, "os grandes
inimigos das pinturas são o oxigênio e os raios ultravioletas (UV),
presentes nas lâmpadas halógenas, as convencionais". Para outros especialistas, o problema residiria, muito provavelmente, no excesso de LED. Esta é a posição de Fernanda Carvalho, arquiteta e designer de luz responsável pela
iluminação de diversas exposições no MAM e no CCBB: "Toda luz afeta os materiais, algumas mais, outras menos". A solução para alguns seria deixar o quadro no escuro e deixar que sensores acionem a luz com a aproximação de visitantes em um museu.
Se alguém resolveu sentar e chorar as pitangas sobre o futuro das cores Van Gogh é bom saber que vai estar chorando sobre o leite derramado. Agnes Brokerhof, cientista sênior do Ministério de Educação, Cultura e Ciência e especialista em conservação preventiva, muitas das cores de Van Gogh já eram: '"As nuvens brancas que vemos hoje eram rosa quando Van Gogh pintou. O
quarto dele também mudou de cor consideravelmente ao longo do século
passado."
A ironia da história é que, para manterem-se como eram, as cores de Van Gogh precisariam permanecer constantemente no escuro, onde jamais poderiam ser devidamente apreciadas. O dilema é, sem dúvida, de difícil solução. Obra dos mistérios da vida e da finitude das coisas.
Pintado em 1889, o quadro Wheat Stack Under a Cloudy Sky hoje está exposto no Museu Kröller-Müller na Holanda (http://www1.folha.uol.com.br/vice/2015/04/1621626-quem-esta-zoando-com-as-cores-dos-quadros-de-van-gogh.shtml).
Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpO7PkM2HvNz1PUGqmcVzz51kD8UVfxtnn4tdQeKuscG-uJoI50UnfDiODrhLxnUkvPLHqcfBBn8ButVtBkb5z3nlXEvboLd-JUsxhx_d3oqip0PJVJ45RHK7VDmOhKkS9Mf-rBDyxAUo/s1600/wheatstacksky.jpg
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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