Admirável a iniciativa de Luciano Ariabo Quezo, aluno do último ano do curso de letras da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).
Um dos atuais 600 falantes da língua indígena umutina-balatiponé, Luciano desenvolveu um método de ensino da sua própria língua: "Após a morte de um ancião –um dos poucos que só falava o idioma nativo–,
ele resolveu escrever um livro bilíngue para tentar evitar o
desaparecimento da língua de sua família" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/04/1616766-indigena-escreve-livro-para-evitar-extincao-da-lingua-de-sua-aldeia.shtml).
Com isso, um projeto piloto de livro foi criado e submetido à comunidade em 2013, para que fosse testado e aprovado. Ainda segundo Luciano, "os mais velhos tinham o conhecimento, mas, entre os mais jovens, poucos
falam o umutina. Quando o ancião morreu, em 2004, vi que o idioma
poderia sumir se não fosse feito nada".
Intitulado "Língua e Cultura Indígena Umutina no Ensino Fundamental", o livro remete ao vínculo estreito entre a língua e a cultura e dá margem para várias indagações. Afinal, o que vem primeiro: a língua ou a cultura? É a língua um simples vetor de transmissão de valores e repertório cultural ou ela age sobre, de maneira reflexiva, sobre a própria cultura?
Se, por um lado, o problema da preservação de línguas minoritárias é velho conhecido de um país com dimensões continentais como o nosso, ele não deixa de oferecer, por outro lado, uma versão criativa do famoso dilema da galinha e do ovo. Afinal, qual deles veio primeiro? Levando o dilema às últimas consequência, daria no mesmo dizer que a existência de ovo e galinha só é possível em regime de co-presença: um não vive sem o outro (não há ovo sendo chocado na ausência de uma galinha; não galinha que nasça fora de um ovo). Que este pequeno "ovo" botado na língua umutina vingue e traga consigo a esperança de um reflorescimento cultural.
Aproveitando a deixa do dilema do ovo e da galinha, gostaria de prestar uma homenagem autoral ao Dia Mundial do Desenhista, comemorado na data de hoje (15 de abril). Parabéns então a todos os desenhistas!
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
quinta-feira, 16 de abril de 2015
O ovo e a galinha
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Esse ovo sofrido está lindaço!
ResponderExcluirGrata, Rosa! O sofrimento é mais da desenhista do que do ovo em si, rsrs...
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