UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: julho 2014

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Margens da existência

Muito estranho à primeira vista, mas pode fazer todo o sentido!

Sociedade Zoológica de Londres faz campanha pelos "mais esquisitos" ao promover a iniciativa "EDGE of Existence". Traduzindo para o português, trata-se de salvar os animais "evolutivamente distintos e globalmente ameaçados" (expressão que resulta no acrônimo EDGE), os quais, de acordo com a instituição, estão ainda mais à margem da existência do que as demais espécies.

Em termos mais concretos, a ideia é chamar a atenção para a necessidade de preservação das espécies "evolutivamente distintas", já que "criaturas muito esquisitas costumam representar um padrão evolutivo único" (http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/07/21/a-sobrevivencia-do-mais-esquisito/).

O libelo pela esquisitice animal é vaticinado pelas sagradas escrituras evolucionistas: "Além de morfologia e fisiologia especializadas, muitas vezes essas criaturas são os últimos sobreviventes de seu gênero, ou mesmo de sua família. Isso significa que, se elas forem extintas, a gente perde não apenas uma espécie única (o que já seria trágico o suficiente), mas uma trajetória evolutiva inteira", explica notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo.

Os esquisitos são tanto mais ameaçados à medida que o mundo se globaliza: "A trajetória evolutiva única e a ameaça global acabam caminhando juntas, na verdade, porque animais com trajetória evolutiva e adaptações únicas frequentemente são especialistas com distribuição geográfica restrita." De onde se conclui que o fim da espécies esquisitas é uma forma simplificada de fim do mundo: "Basta um leve empurrãozinho para que toda essa história se perca", alerta a notícia.

Nesse mundão globalizado sem porteira, alguns esquisitos cavam sua chance, enquanto outros simplesmente cavam sua cova. Questão de evolução. Ou não, diria Caetano Veloso.




quinta-feira, 10 de julho de 2014

Ressaquinha

Nem só de tragédias vivem os brasileiros e brasileiras. A bem da verdade, não há nada como um dia após o outro. Claro, acordei com a mesma ressaca existencial vivida pela maior parte dos 200 milhões de habitantes deste país. Mas preferir optar por notícias refrescantes vieram mudar o foco da minha atenção.

Notícias refrescantes como esta publicada no caderno de Turismo do jornal Folha de S. Paulo: ela traz lista, fartamente consubstanciada por material iconográfico de primeira linha, com os maiores toboáguas do mundo (http://www1.folha.uol.com.br/turismo/2014/07/1482813-saiba-quais-sao-os-maiores-toboaguas-do-mundo-veja-fotos.shtml?cmpid=%22facefolha%22). Simplesmente imperdível para quem está vendo o Império do Futebol rolar morro abaixo.

Então ficamos assim: não percamos nunca a piada, nem deixemos de viver o tempo presente. Ou então, façamos como o meu pai, sábio homem que resolveu colocar tudo na conta de uma tal "mudança cósmica de amplas proporções que anda afetando todo o Universo".

"Mudanças radicais e profundas à vista", disse esse ex-vaqueiro, ex-verdureiro. Se elas vierem mesmo, me pegaram de bom humor - apesar de todos os pesares. 


terça-feira, 8 de julho de 2014

Náufragos

Lamentável saber que o drama vivido em campo nesta na tarde de hoje se alastrou pela noite adentro.

Além de terem visto o Brasil perder vergonhosamente em campo hoje, os habitantes das Gerais souberam entrar no ritmo e despachar um exemplo de incivilidade para o resto do país: o dia termina com 13 ocorrências policiais dentro do Mineirão e 13 apreensões pela PM (http://www.hojeemdia.com.br/minas/dia-de-jogo-decisivo-no-mineir-o-termina-com-13-presos-em-bh-1.253337).

Sim, entramos para a história. Sim, cravamos um recorde. Infelizmente, não é nada do que possamos nos orgulhar. E é por esses dois motivos que, ao término deste dia histórico, não deixarei de registrar algumas breves impressões aqui:

1) Nada é ruim o suficiente que não possa piorar. Por isso mesmo, devemos estar atentos à vida e aos revezes da vida. Cruzar os braços diante da adversidade é colaborar com o próprio fracasso.

2) É na adversidade que somos realmente testados. Mas, mesmo assim, quando tudo parece ruir, existe uma única coisa que deve permanecer de pé, intacta: essa coisa se chama dignidade.

3) A dignidade, essa palavra poucas vezes lembrada ao longo do dia, está diretamente relacionada com outras duas: o instinto de preservação e a certeza de estar oferecendo o melhor de si. Só quem não perde a dignidade diante das adversidades é capaz de se preservar do pior e reagir. E só quem dá o melhor de si, em qualquer situação, consegue manter-se digno.

Diante dessas três ponderações, fica aqui a minha conclusão: a pior coisa que se pode perder nesta vida é a dignidade. E como eu já disse hoje para um primo que celebrava a derrota do Brasil: com ou sem vitória, amanhã eu continuo acordando no mesmo horário de sempre.

 Abraços de fé e boa noite para quem fica. 

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Aparência e conceito

As aparências enganam, os conceitos idem. E os preconceitos, então, nem se fala...

Notícia publicada hoje em diversos jornais nacionais falam de um caso curioso, em que a mórbida obsessão nazista pela pureza racial acabou virando motivo de troça: "O bebê 'ariano ideal', cuja fotografia foi escolhida pelos nazistas e selecionada pelo próprio Joseph Goebbels para aparecer na capa de uma revista de propaganda, era, na verdade, judeu", relata a notícia publicada no jornal O Globo (http://oglobo.globo.com/mundo/bebe-ariano-ideal-estampado-em-capa-de-revista-nazista-era-judeu-13116678).

A revelação foi feita pela protagonista da foto, ou seja: pelo próprio "bebê ideal", Hessy Taft, hoje com 80 anos. Professora de química na Universidade de de St. John's, mãe de dois filhos e avó de quatro netos, Hessy foi escolhida "a melhor entre cem fotos clicadas pelos melhores fotógrafos alemães" e acabou se tornando capa da revista nazista 'Sonnie ins Hous'.

A foto foi submetida ao concurso, em 1935, pelo próprio fotógrafo, Hans Ballin, "um renomado fotógrafo em Berlim" que quis fazer os nazistas passarem pelo ridículo. Ironia da história: "a foto da menina também foi redistribuída em cartões postais em todo o país e até na Lituânia".

No entanto, apesar de a capa ter sido motivo de deboche na família da própria Hessy, foi justamente a "parecência" com o ideal que a manteve viva: "Eu posso rir disso agora. Mas se os nazistas soubessem quem eu realmente era, eu não estaria viva hoje", reconhece a modelo-mirim.

Se há um grande aprendizado a ser retido com esta história é a de que o "bebê ariano ideal" era (e continua a ser) um grande embuste. Os julgamentos morais calcados sobre a aparência de X ou Y também são. Contudo, nem todos, como a própria Hessy, seriam passíveis de serem julgados como modelo ideal. É que a desigualdade está em toda a parte, até na discriminação.