UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: setembro 2013

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Aventura 4 x 4 : 4o dia

Chegamos, portanto, ao quarto e último dia de aventura: o dia do retorno a San Pedro de Atacama. Já havia comentado, há dias atrás, que a história desta viagem seria contada de maneira retrospectiva, por falta de acesso a Internet ao longo do trajeto.

Olhando agora para trás, vejo coincidir, à medida que narro esta última parte da minha viagem, três despedidas diferentes: a despedida da Bolívia, a despedida de San Pedro de Atacama (ambas ocorridas no dia 20/09) e a despedida de Santiago (que acontece neste exato momento).

A despedida da Bolívia aconteceu não sem um certo aperto no coração. Agora, cada um de nós cinco seguiria o rumo de suas vidas: Matt e Sara voltariam no dia seguinte para Santiago, onde moram; Juliana e Rodrigo seguiriam viagem para La Paz e, em seguida, para o Peru. E eu passaria mais alguns dias em Santiago, para onde partiria também no dia seguinte, só que em outro vôo.

A verdade é que as despedidas nunca são fáceis. Principalmente, quando se vive um ciclo de transformações internas tão intenso como o vivido durante esses poucos dias. A verdadeira viagem é aquela que nos transforma de maneira estrutural. E essa viagem, posso dizer sem risco de estar cometendo um exagero, alterou profundamente minhas disposições internas. Não sei exatamente quando isso se deu. Talvez o processo ainda nem sequer tenha terminado. Mas fato é que terminei essa viagem diferente de quando comecei. E sou muito grata a vida por esta possibilidade de transformação.

Basicamente, o caminho de volta se deu na ausência de qualquer atrativo. Ficamos hospedados em um vilarejo mais ou menos próximo da fronteira, para facilitar a passagem. Fizemos tudo o que fizemos na vinda, só que ao contrário: passamos pela alfândega boliviana primeiro, e pela chilena em seguida. Cheguei em San Pedro por volta das 13h, tempo o suficiente para tomar um banho longo, almoçar comida típica chilena e encomendar meu último passeio, que aconteceria entre 16h e 19h30 daquele mesmo dia, na Cordillera de la Sal, no Valle de la Luna e no Valle de la Muerte.

Confesso que foi um passeio com cara de final de festa. As pessoas eram outras, o clima era outro. Foi legal para fechar o ciclo e para dizer que terminei minha viagem a San Pedro com um belo pôr do sol.

Os dias seguintes, em Santiago, foram de natureza distinta das dias anteriores: menos contemplativa, talvez, se bem que igualmente introspectiva. Na capital do Chile, fiz dois tours de bicicleta com a turma de "La Bicicleta Verde", os quais foram essenciais para conhecer Santiago de maneira inusitada: aulas de história e cultura sendo dadas ao longo de paradas estratégicas na cidade. E posso até não ter visto os principais pontos turísticos da cidade, mas tive a grata oportunidade de rever Pedro Reyes, meu colega de doutorado no Canadá. Infelizmente, não pude tirar fotos com meu celular, cuja câmera resolveu dar biziu. Por isso, esta última parte da viagem fica sem registros fotográficos, pelo menos por enquanto.

Resumindo bem resumido: a hora de partir é também a hora de chegar. Fecha-se um ciclo e abre-se outro, ao mesmo tempo. Eis a riqueza e a beleza da vida dos que vieram antes de nós e também daqueles que virão depois.

domingo, 22 de setembro de 2013

Aventura 4 x 4: 3o dia

O terceiro e último dia de aventura é o dia em que se visita o salar propriamente dito. E o dia começa às 4h da manhã, cedo o suficiente para prepararmos nossas mochilas e cairmos no 4 x 4. Destino final: Isla Incahuasi para ver o sol nascer.

Essa ilha já foi, de fato, cercada de água. Mas isso foi há uns 40 mil anos atrás, antes do grande lago Michin secar. Do grande lago (que já fora mar), sobrou uma ilha com marcas de corais, cactus gigantes e mais de 10 mil km2 de sal no seu entorno, o que faz do Uyuni o maior deserto de sal do mundo.

O nascer do sol foi especial. De um lado, a lua cheia se punha. De outro, nos saudava o grande astro rei. E lá estávamos nós no meio, divididos entre o belo e o esplendoroso.

Tomamos o café da manha à beira do lago e demos início àquela que seria a parte mais lúdica da viagem: as fotos com jogos de perspectiva! O salar, por ser branco e continuo, é um verdadeiro paraíso para brincar com a perspectiva e fazer pessoas parecerem miniaturas, dependendo da distância que se toma da câmera. Sensação pura de ter voltado à infância!

A parada seguinte foi no Hotel de Sal, desativado, mas que funciona como "museu" de esculturas de sal e como ponto de venda de artesanato boliviano. Sai de lá com um poncho e um chapéu para o meu pai. O hotel também prima pelo exotismo ao oferecer banheiros a céu aberto. Felizmente estamos em um deserto!

Paramos em seguida para ver os "olhos" do deserto, que nada mais são do que buracos de onde borbulham água e gases. Depois, as "minas" de sal, onde se separa e beneficia sal para consumo humano.

Finalmente, o cemitério de trens, outro lugar perfeito para reviver outra vez a infância. Dali para um mercado de Uyuni foi um pulo, seguido de almoço e nostalgia. Nosso passeio estava chegando ao fim. De nós cinco, dois ficariam em Uyuni para seguir viagem para La Paz. E o resto voltaria no dia seguinte para San Pedro de Atacama.

Deserto: foi bom te conhecer! Há tempos que não me divertia tanto.

sábado, 21 de setembro de 2013

Aventura 4 x 4: 2o dia

Ai, ai, ai! É a segunda vez que o aplicativo do Blogger para celular me apronta essa! Depois de escrever um longuíssimo comentário poético (exigências da paisagem), ele me deleta tudo e eu tenho que recomeçar do zero. Paciência! O que eu tenho para contar não dá mesmo para ser esquecido em 25 minutos de escrita apagada.

Bom, dormidas algumas malfadadas horas - efeito dos 4.700m de altitude, das agulhadas na cabeça e da dificuldade de respirar em um deserto que tem pouca vegetação e, por isso mesmo, pouco oxigênio - fomos tropeçando nas próprias pernas até cair na mesa do café da manhã. A nossa pequena "família" de cinco pessoas já havia aprendido a rir dos próprios cabelos duros de sal e poeira, numa mistura de sintonia e cumplicidade que só o deserto pode proporcionar. Aliás, com ele aprendemos a várias coisas, entre elas a arte do desapego e do despojamento, da simplificação, do corte dos excessos e da mudança de prioridades. E uma prioridade agora era o silêncio.

A bem da verdade, não sei se o silêncio satisfez igualmente a todos. Mas, conversando com o Matt e a Sara na volta para San Pedro de Atacama, descobri que eles também ficaram felizes com o silêncio que reinou naquele carro. Em parte, culpa do Rafael, nosso anjo-motorista, um homem de poucas palavras que nem sequer tocou no rádio. De qualquer forma, o silêncio para mim foi um conforto e uma exigência do momento: ele descansou a mente para que as imagens pudessem entrar pelos olhos e escorrer ate o coração, onde tudo era processado. Um silêncio bastante eloquente, portanto.

As imagens a seguir dão uma impressão modesta e limitada da grandeza daquilo que vimos, sentimos e presenciamos. A rota começa com o primeiro deserto, onde está localizado o "arbol de piedra", um ícone do trajeto até o salar. Em seguida, vem a Laguna Honda, onde os ventos podem chegar a 350km/h. Depois a Laguna Hedionda que, a despeito do nome que carrega, compraz todos os flamingos que fugiram de San Pedro do Atacama. Depois, vem a Laguna Cachapa, localizada em frente de montanha do mesmo nome; o segundo deserto, ao lado de vulcão em atividade.
 
No caminho do nosso abrigo noturno, um povoado onde esticamos as pernas e testemunhamos os campos de quinoa que têm por lá. Por fim, nosso ponto de descanso, com direito a banho de chuveiro (uma raridade!), recarga das baterias e um jantar honesto e feliz.  E muita, muita gratidão por tudo o que pudemos ver e sentir.

No mais, boa contemplação!

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Aventura 4 x 4 : 1o dia

Redigir um longo comentário sobre uma viagem inesquecível e perdê-lo, por motivo fútil, é motivo para gastrite. Ou melhor: seria. Ainda bem que não foi o caso.

A viagem que narrarei nos próximos comentários aconteceu entre os dias 17 e 20 de setembro de 2013, partindo de San Pedro de Atacama, no Chile, até o Salar de Uyuni, na Bolívia, com retorno a San Pedro. Por falta de acesso à Internet, ela será narrada retroativamente, o que tem lá suas vantagens e desvantagens. Uma desvantagem e o fato de ela não ter sido contada aos poucos, ao calor das emoções de cada dia. A vantagem é que ela será contada tendo em vista uma noção de conjunto que me permite dizer, sem rodeios, que esta foi uma das melhores viagens da minha vida. Pronto(a) para me acompanhar nessa aventura? So get on the jeep!

A nossa aventura começa no posto de controle daquilo que seria a Polícia Federal em San Pedro do Atacama. O destino é o vulcão Licancabur, que faz a divisa entre o Chile, a Bolívia e a Argentina. Próxima parada: alfândega da Bolívia, onde deixamos a segurança e o conforto do micro-ônibus para abraçar a estrada em um 4 x 4. E é aqui também que são repartidas as equipes. No nosso jipe vão cinco: Sara e Matt, americanos residentes em Santiago; Juliana e Rodrigo, de São Paulo; esta que vos escreve; e o Rafael que, além de anjo, é também nosso motorista e guia turístico.

O percurso do primeiro dia foi de tirar o fôlego: soube que o deserto de Salvador Dali existe, que os flamingos que fugiram das lagoas de San Pedro vieram todos para cá, e que as lagoas podem ser tantas e de tantas cores, que me faltariam palavras para descrevê-las.

Bom, já que é assim, deixemos que as imagens falem aquilo que só o coração soube entender: como pode o mundo ser tão grande e, ao mesmo tempo, tão pequeno, a ponto de caber todo em 4 dias de viagem em um 4 x 4?

Na sequência de fotos: alfândegas do Chile e da Bolívia, preparativos para seguir estrada, Lago Blanco, Lago Verde, termas para um banho acima de 4.500m de altitude, gêiseres, Lago Rojo, e dependências do refúgio onde passamos a primeira noite. Apertem os cintos! A viagem está só começando.