Basta entrar o mês de setembro para o sol rachar e a umidade relativa do ar na Roça Grande despencar sem nenhuma pretensão de elegância. Para mim, está bom do jeito que está, pois estou treinando para o deserto do Atacama. Mas para quem teme pelas próprias vias respiratórias e não pretende tão cedo fincar o pé no cactus, isso aqui é inferno na Terra: quente e bem seco.
Mas como tudo nessa vida é questão de perspectiva - ou quase tudo - nada como se solidarizar com outros seres humanos em situação igual ou pior. Porque solidariedade é que nem casamento: na saúde ou na doença, no amor ou no calor. Pois bem: senti um ímpeto maluco de me solidarizar com meus amigos londrinos, principalmente aqueles que vivem - ou estacionam - próximo a um edifício que localizado no centro comercial de Londres e que é conhecido pela singela alcunha de Walkie Talkie.
Aparentemente, o singelo edifício não passa de um arranha-céus como tantos outros. Notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online explica que o "20 Fenchurch Street é um conjunto de arranha-céus com 37 andares e cerca
de 200 metros, previsto para ser concluído no próximo ano". Só que ele possui uma peculiaridade: " a luz solar bate nos vidros espelhados do edifício que tem formato
côncavo e, com isso, o reflexo atinge os carros estacionados nas ruas
adjacentes" (http://oglobo.globo.com/imoveis/predio-espelhado-em-londres-acusado-de-derreter-carros-9796645).
O resultado é que antes de mesmo de ser concluído, o edifício está sendo acusado de derreter e empenar painéis de carros e retrovisores com seu poder de refração, potencializado pelo próprio formato côncavo do edifício. E segundo uma reportagem do Daily Mail, não só painéis de carros estão sendo danificados: "pedestres também reclamam do brilho excessivo por causa do reflexo do sol na fachada de vidros".
Para pedestres e motoristas das imediações do 20 Fenchurch Street, fica aqui registrada minha total solidariedade, pois bem sabemos que sofrer com o sol a pino não fácil. Seja no côncavo do edifício, seja no Recôncavo baiano, não são muitas as saídas: ou bem a lenta espera pela gradativa mudança das estações; ou bem uma passagem comprada para o deserto mais próximo - pois, como eu disse, tudo (ou quase tudo) nessa vida é questão de perspectiva.
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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