UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: julho 2013

terça-feira, 30 de julho de 2013

Zero gê

Interessado em viajar de carro nas próximas férias? Pois pense duas vezes quando souber o que lhe aguarda em termos de conectividade à Internet nos 5 mil km de estradas percorridas pelos técnicos da Proteste - Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, nas regiões sudeste, nordeste e sul do país.

"O viajante pode ser pego de surpresa ao tentar, por exemplo, usar o GPS de seu telefone numa rodovia. Provavelmente, descobrirá que, na estrada, não há sinal disponível" (http://oglobo.globo.com/economia/problemas-com-3g-em-5-mil-km-de-estradas-9227760), relata a matéria. Em termos mais concretos, "nenhuma das quatro grandes operadoras de telefonia móvel — Claro, Oi, TIM e Vivo — conseguiu uma média de acesso à internet rápida superior a 51% das tentativas", conclui.

Ora, ora: e de quem é a culpa? Nos termos do diretor executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTelebrasil), Eduardo Levy, a culpa é da política de leilão do setor, que "sempre foi de arrecadação", e dos municípios, os quais "impõem muitas restrições à instalação de antenas, dificultando a ampliação da oferta de sinal". Ou seja, o pouco de cobertura disponível nas estradas dos país é praticamente um acidente de percurso: espécie de "puxadinho" eletrônico, "a cobertura que há nas estradas é porque o sinal de uma cidade vai além ou porque há viabilidade econômica para tal".

Bom demais! Pense só na maravilha das férias que te aguardam. Serão férias sem lero-lero no blog, sem postagem no Facebook, sem fotos "instragamizadas", sem emails (esses, é verdade, cada vez mais raros!) de urgência com pendências do trabalho... Em suma: férias, simplesmente férias, sem nenhuma superexposição em tempo real, sem as "curtidas" dos que ficaram para trás, sem o olhar de cobiça dos colegas de trabalho, sem o controle social dos que querem saber de tudo: destino, companhias, quando foi e quando volta.

Fácil, fácil antever a angústia do easy rider: com tanta limitação tecnológica, ele ou ela será obrigado(a) a retroceder no tempo e tentar lembrar como era sua vida antes disso tudo. Frustrado(a) por não lembrar de um passado relativamente recente, embicará para a primeira localidade com cobertura 3G, lamentará sua sorte nas redes sociais e clamará por justiça. Tarde demais: jamais chegará ao seu destino porque a vida, essa coisa incerta que se desenrola às margens da sua vontade própria, é concreta e boa demais para ser vivida sem o aplauso alheio.

Para este(a) pobre sofredor(a), o tratamento é simples: 30 dias de férias com Internet discada. 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Vida útil

Vida útil mais longa e acessível: eis o lema das novas notas de R$ 2 e R$ 5 que serão lançadas na próxima segunda-feira, dia 29 de julho, pelo Banco Central.

Uma das novidades nos novos modelitos são as marcas em alto-relevo para auxiliar sua identificação pelos deficientes visuais: "a nova nota de R$ 2 tem como marca tátil uma barra inclinada, enquanto a de R$ 5 possui uma barra horizontal" (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/07/1317459-novas-notas-de-r-2-e-r-5-serao-lancadas-na-segunda-feira.shtml).

A outra novidade é que "as novas cédulas também passaram por tratamento para aumentar sua vida útil". Bem, por mais que acessibilidade me interesse bastante, eu fiquei me picando mesmo de curiosidade foi para conhecer o método de tratamento de cédulas que está sendo utilizado pelo Banco Central.

Quem sabe ele não me quebra o galho e me tira da fila do SUS (e do para-SUS, isto é, daquele plano de saúde privado pelo qual pagamos, mas que tem filas comparáveis ao sistema público de saúde)? Aos governos federal, estadual e municipal: fica aqui a minha dica de espionagem industrial para o fim de semana.

Saudações para quem fica, pois estou indo buscar meu tratamento nos braços de Morfeu: público, gratuito e de qualidade.

Evidências confiáveis

Esta notícia é para aqueles que, como eu, passaram mau bocados para conseguir conciliar o sono ao longo desta última semana de lua cheia.

Pesquisa experimental desenvolvida no Hospital de Psiquiatria da Universidade de Basileia (Suíça), envolvendo 33 voluntários distribuídos em 2 faixas etárias, monitorou os "padrões cerebrais monitorados durante o sono, juntamente com os movimentos dos olhos e secreções hormonais"  (http://oglobo.globo.com/ciencia/nao-consegue-dormir-bem-pode-ser-culpa-da-lua-9175074).
 
O resultado, publicado na revista Current Biology, indica mudanças sensíveis nos padrões de sono durante a lua cheia. "Os dados mostram que durante a Lua cheia, a atividade cerebral relacionada com o sono profundo caiu 30%. As pessoas também levaram cinco minutos a mais para adormecer, e dormiram 20 minutos menos do que o tempo total. Os participantes do estudo sentiram que o sono era pior quando a Lua estava cheia, e tiveram reduzidos os níveis de melatonina, hormônio conhecido como regulador dos ciclos do sono".

Para quem tem insônias recorrentes nesta fase, a pesquisa nada mais faz do que chover no molhado, já que quantificar a incidência um processo bastante familiar. Mas a insensibilidade das pessoas que moram nos grandes centros pode ser um fator de sub-notificação das oscilações no sono e humor em função da fase da lua. "Hoje, a influência da Lua é mascarada pela iluminação elétrica", relata Christian Cajochen, um dos responsáveis pela pesquisa.

 Ainda assim, "esta é a primeira evidência confiável de que o ritmo da Lua pode modular a estrutura do sono em humanos", conclui o pesquisador.

Bom, já que é assim - e de posse das minhas evidências "poucos confiáveis" - vou me recolher aos meus aposentos e procurar algumas contra-evidências que me permitam ao menos uma exceção sonífera esta noite.

Boa noite!





quinta-feira, 25 de julho de 2013

Musicagram

A compulsão por postar arquivos produzidos "ao vivo" parecer estar se expandindo e ganhando novas mídias, se assim podemos dizer.

Lembram dos drones, aquelas câmeras voadoras manipuladas por controle remoto (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com.br/2013/06/drones.html)? Pois é, elas acabam de ganhar um reduto digital onde neófitos e especialistas trocaram figurinhas.

No seu dronestagram, "fotógrafos amadores e profissionais podem postar suas imagens geolocalizadas, divididas por conteúdo como cidades, esportes e 'coisas malucas' " (http://oglobo.globo.com/tecnologia/rede-social-reune-imagens-capturadas-por-drones-9145198).

Claro, não vale postar por postar. A coisa só tem graça, se puder ser apreciada, curtida e reverenciada por pares, já que "as fotografias podem ser curtidas, comentadas e compartilhadas".

Maravilha! Agora só falta comprar o drone. E enquanto não providencio um, vou postando esta canção antiga e despretensiosamente bela, peneirada no baú das relíquias do vovô Youtube. Sirvam-se sem moderação (mesmo porque é bem mais barato do que comprar um drone).



Fonte: http://youtu.be/7jGTNc78rXw

E boa noite para quem fica!

quarta-feira, 24 de julho de 2013

O Fole

Dia de extremos, senhoras e senhores. Extremos que alteram a temperatura do corpo e que falam dos movimentos de contração e expansão característicos da vida e da morte.

De um lado, os extremos de temperatura. Segundo consta nos autos, a região metropolitana da cidade de Florianópolis (SC) conheceu a neve hoje, pela primeira vez: "Rogério Rezende, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) do Rio Grande do Sul, disse que 'não há registros do fenômeno na cidade, pela localização continental'. Segundo ele, a neve não era esperada para a capital do Estado" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/brasil/neva-pela-primeira-vez-na-grande-florianopolis-e-frio-fica-mais-intenso-no-sul-do-pais-1.149848).

Mesmo aqui na Roça Grande, cidade em nada afetada pela frente fria vinda do sul do país e onde "nesta segunda, por exemplo, os termômetros marcaram 30ºC", a temperatura há também de conhecer seus revezes: "Os mineiros vão sentir a diferença porque (...) para esta quarta os registros não devem passar de 20ºC".(http://www.hojeemdia.com.br/minas/frio-deve-aumentar-e-previs-o-e-de-chuva-para-esta-quarta-feira-em-minas-1.149764).

Em meio a tantos extremos de temperatura, tristeza maior foi receber a notícia da morte do sanfoneiro Dominguinhos, aos 72 anos de idade. "Depois de seis anos de luta contra um câncer de pulmão, morreu nessa terça-feira, às 18h, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, o sanfoneiro Dominguinhos, um dos maiores músicos do Brasil", por "complicações infecciosas e cardíacas" (http://oglobo.globo.com/cultura/morre-cantor-compositor-dominguinhos-aos-72-anos-9153537).


Se, como dizem os anatomistas, o diafragma nada mais é do que um grande fole que dá vida ao pulmão, então foram dois os instrumentos fatalmente silenciados pelo grande mestre da sanfona no dia de hoje. Dominguinhos, esse grande conhecedor das alternâncias do sopro divino, não há de sentir, portanto, nem o frio cortante do Sul nem o calor seco das Gerais.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Eu quantificado

Baixe um aplicativo e saiba mais sobre você mesmo.

Longe de ser uma sugestão pessoal desta que vos escreve, a nova palavra de ordem "faz parte de uma tendência chamada de quantified self (algo como 'eu quantificado'), cujos adeptos anotam não só dados gerados automaticamente, mas também humor, disposição e capacidade de concentração momentâneos a fim de, dizem, se conhecer melhor" (http://www1.folha.uol.com.br/tec/2013/07/1313842-dispositivos-ajudam-quem-quer-descobrir-mais-sobre-seus-habitos-e-melhorar-a-vida.shtml).

Na prática, a tendência é bem mais simples do que parece. Basta colocar "no pulso um dispositivo pequeno, relativamente discreto"; ao final do dia, "você pega o smartphone e, em um gráfico, vê quantos passos deu e quantas calorias gastou". Simples assim.

Entusiastas dos dispositivos tecnológicos como Melanie Swan, pesquisadora que publicou recentemente um artigo sobre quantified self no jornal Big Data, acreditam que sua propagação generalizada pode favorecer a própria pesquisa científica: "Somente com dados em grande escala e agregados poderemos ver verdadeiros progressos na medicina preventiva, por exemplo."

Outros pesquisadores, como o brasileiro Dárlinton Barbosa Feres Carvalho, autor de tese de doutoramento sobre o tema, acreditam que o grande ganho dos aplicativos é o aumento do controle sobre seus próprios hábitos: "Percebi que precisava me organizar melhor. Agora, posso saber se consigo mudar ou criar um hábito para ficar melhor", relata ao Jornal Folha de S. Paulo. Para se ter uma ideia da amplitude da febre, "uma pesquisa publicada pelo Pew Research em janeiro diz que 69% dos americanos acompanham regularmente ao menos um indicador de saúde, dos quais 30% usam um eletrônico para essa tarefa."

Porém, se tanta sede de monitoramento e autocontrole acabar criando um self ansioso, propenso à insônia e às oscilações dos indicadores de saúde, fica aqui minha sugestão: desquantifique o seu self, desligando todos os aplicativos e colocando-os para dormir o sono dos justos. Com tanto reforço do eu, não vai ter inconsciente que chegue nem para sonhar com a contagem dos carneirinhos sobre a cerca.

Aliás, sugestão feita, sugestão acatada. Hora de dormir o sono dos justos. Boa noite para quem fica.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Outros olhos

A habilidade de ver o mundo com outros olhos, a cada dia, não é para muitos. Mas há também quem deseje veementemente voltar a ver o mundo com os olhos de sempre.

Eis o caso da carioca Patrícia Rodrigues, que acaba de ser submetida a uma cirurgia de correção no Banco de Olhos de Sorocaba, "depois de perder 70% da visão por causa de uma cirurgia para trocar a cor dos olhos feita no Panamá" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/escritora-volta-a-enxergar-apos-troca-da-cor-dos-olhos-1.147731).

Na verdade, a vontade de ver a vida com outros olhos veio na primeira cirurgia, em 2009, quando a paciente quis a mudar a cor original dos seus olhos de castanho escuro para verde. Malsucedida, a cirurgia acabou naufragando na própria perda da visão: "No início de 2013, Patrícia começou a perder a acuidade visual. Em algumas semanas, a questão agravou-se ao ponto de a autora não conseguir mais enxergar o chão ou ver o prato de comida. Patrícia afirma que passou a depender de ajuda para as tarefas mais simples".

Claro que toda mudança comporta riscos, mas não deve ter sido lá muito agradável trocar as cores do mundo pelo verde da retina - principalmente quando ele acaba revelando o lado obscuro da vida. "A clínica do Panamá é uma das poucas do continente que realizam cirurgias para mudança na cor dos olhos, mas o método não é considerado seguro. No Brasil, o procedimento está em fase experimental e ainda não foi aprovado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM)".

Como diria sabiamente Marina Lima: "Por outros olhos e armadilhas".

  
Fonte: http://youtu.be/dgYVjofcWrs

Boa noite para quem fica!



terça-feira, 16 de julho de 2013

Caminhada

Frustrante demais essa vida de astronauta!

Menos de uma hora após sua partida para uma caminhada em torno da Estação Espacial Internacional, o astronauta italiano Luca Parmitano acabou vendo sua caminhada ir por água abaixo - ou água adentro, segundo consta nos autos (http://oglobo.globo.com/ciencia/vazamento-em-roupa-de-astronauta-interrompe-caminhada-espacial-9057513).

Prevista para durar cerca de seis horas, a caminhada teve de ser precocemente interrompida, já que o astronauta "informou que havia um vazamento de água por trás de sua cabeça flutuando dentro de seu capacete". Difícil manter a cabeça fria, mesmo com a presença água: "Uma estimativa inicial calcula que cerca de meio litro de água vazou possivelmente da bolsa de hidratação acoplada na roupa".

E o que é pior: "Parmitano disse que a água não tinha gosto do líquido que usam para beber".

Sem dúvida, uma péssima constatação. É a mesma coisa que esperar pelo passeio de domingo com a melhor roupa e ter que voltar para trás por causa da chuva, só que com uma grande desvantagem: quando chove, pelo menos a gente sabe de onde a água vem.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Analogias digitais

Quem não se lembra daquela expressão (mais velha do que andar para a frente) que diz que "fulano mata a cobra e mostra o pau"? Pois é: foi inevitável lembrar dela após ler esta notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online (http://classificados.folha.uol.com.br/negocios/2013/07/1311254-restaurante-mostra-ao-cliente-quem-pegou-o-peixe.shtml).

Não que se mate a cobra. Também não há pau sendo mostrado. Mas, na pior das hipóteses, uma analogia com a famosa expressão é possível, já que mostrar detalhes dos bastidores do abate de animais - neste caso especifico, de peixes - acabou virando moda nas Terras do Tio Sam. Ou, pelo menos, está em vias de.

"Rob Ruiz, do Harney Sushi, desenvolveu um sistema pela qual o cliente pode ver onde o peixe que ele está comendo foi pescado, quanto dessa espécie existe no mundo e até mesmo o rosto dos pescadores responsáveis pela refeição".

A razão para tanto? Matar a cobra e mostrar o pau, isto é: provar que o peixe oferecido no Harney Sushi, um restaurante japonês localizado na cidade de San Diego, não usa de artifícios comumente utilizados em restaurante do gênero, a saber: "injetar monóxido de carbono no alimento para deixa-lo vermelho mesmo depois de vencida a validade"; ou, tão ruim quanto, "processar restos de peixe e vendê-los como uma peça nobre".

O método de identificação da procedência do peixe funciona com base em um dispositivo chamado QR Code. "O QR Code é um quadrado que se assemelha a um código de barras. Quando aponta-se a câmera do smartphone para um deles, o usuário é direcionado a uma página". Ao escanear este código, o cliente é imediatamente remetido a uma página, onde ele pode acessar a foto de seu pescador de preferência.

Mas, como toda analogia tem limites, vale listar aqui alguns deles:

1) a ideia funciona bem com peixes, mas corre o risco de ser traumatizante com vacas: já imaginou como se daria a visualização dos detalhes sórdidos de cada um dos funcionários do matadouro onde o chifrudo foi abatido?

2) o dispositivo QR Code exige banda larga e a presença de um celular smartphone, sendo, portanto, de pouco uso na Somália (aliás, tem alguém realmente interessado em conhecer a procedência de qualquer alimento na Somália?);

3) o visual do pescador pode passar a contar na escolha do peixe, variável que escapa completamente ao controle do dono do restaurante;

4) finalmente, há que se aventar a possibilidade de o experimento descambar para um show de exibicionismo: vai que o profissional empolga e engata uma de suas famosas conversas de pescador?

Este último fato justificaria, por si só, uma outra analogia: o encontro da fome com a vontade de comer. Mas qual seria o problema, no final das contas? Não é de analogia em analogia que a galinha enche o papo?



quinta-feira, 11 de julho de 2013

Contraste


Hoje vou ser breve. Prometo!

O que pode haver em comum entre um projeto de veículo-robô que a NASA enviará a Marte em 2020 (http://oglobo.globo.com/ciencia/foco-nos-sinais-de-vida-em-marte-8990847) e o florescimento inesperado da raríssima flor-cadáver pela terceira vez em cinco anos no Jardim Botânico Nacional da Bélgica, em Bruxelas (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/flor-cadaver-a-maior-do-mundo-floresce-em-bruxelas-1.144370)?

Ora, ora: o que mais poderia ser senão a vida florescendo nos lugares mais insuspeitos?

No caso da expedição ao rochoso e aparentemente estéril planeta Marte, a NASA sabe muito bem que, "dadas as recentes descobertas do Curiosity, vida passada em Marte parece possível". No caso da flor-cadáver, espécime "que floresce apenas três ou quatro vezes ao longo de seus 40 anos de vida", suas características de morte são apenas um subterfúgio para o florescimento da vida: afinal, seu "forte cheiro de carne podre" tem a única finalidade de "atrair insetos polinizadores, como besouros, garantindo a sua reprodução".

Na poeira das rochas inóspitas ou no cheiro de carne em decomposição, pouco importa: vida é vida. E quem não concorda que fique parado aí, exatamente onde está, vendo a vida... passar.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Uníssono

O achado de pesquisa está bem longe de surpreender, mas não deixa de ter lá o seu atrativo: "Pesquisadores suecos concluíram que cantores de corais não apenas sincronizam suas vozes, mas também os batimentos cardíacos", revela notícia da BBC replicada hoje pelo jornal O Globo online (http://oglobo.globo.com/ciencia/cantores-de-corais-tem-sincronia-na-voz-no-coracao-revela-estudo-8974845).

A bem da verdade, qualquer iogue meia-boca dá fé do "achado científico": "Os cientistas explicam que as pulsações aceleram ou ficam mais devagar no mesmo ritmo porque, para cantar, o coral precisa ter o mesmo tempo de respiração".

Isto talvez explique a repentina afinação de ideias que o nosso distinto Senado experimentou no dia de hoje: a julgar pela decisão tomada no calor das emoções com os últimos casos de espionagem dos EUA, a sincronia é de corpo, mente e espírito. "A Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou nesta terça-feira, em votação simbólica, uma moção de apoio para que a presidente Dilma Rousseff conceda asilo político a Edward Snowden".

Infelizmente, não é a respiração nem a música, mas nossos brios nacionalistas que justificam tamanha afinação: se fosse para votar o aumento do salário dos professores, tenho certeza de que a maioria sairia do compasso. O raciocínio é simples e certamente desconcertaria os pesquisadores suecos: para um Senado como o nosso, que vive dançando conforme a música, sincronia é quase um acidente de percurso.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Es-pi-o-na-gem!

Senhoras e senhores, bem-vindos à mais nova reedição da Guerra Fria. Sim, podem passar, é por aqui mesmo. À direita, temos um guarda-volumes. Queiram deixar aí seus pertences mais valiosos: carteira, joias, reloginho do Mickey (com ou sem grife), seu diploma, seu orgulho e, claro, sua dignidade. Aqui, no País das Mil e Uma Plásticas, não carece levar tanta coisa na bolsa, mesmo porque a chance de ficar sem bolsa é grande.

Queiram passar mais adiante, por favor, no detector de espiões. Se apitar, é porque as empresas de telecomunicações sediadas no Brasil permitiram. Isso mesmo: eis o "bafão" do dia, da semana, quiçá do mês: segundo reportagem publicada ontem no jornal O Globo online, a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA) e Agência Central de Inteligência (CIA) do mesmo país contaram com a cooperação de empresas de telecomunicações do Brasil para espionarem milhões de telefonemas e correspondências eletrônicas trocados por brasileiros e por pessoas em trânsito no Brasil (http://oglobo.globo.com/mundo/nsa-cia-mantiveram-em-brasilia-equipe-para-coleta-de-dados-filtrados-de-satelite-8949723).

Tiro para lá de mal dado, este descalabro de monitoramento só nos fez ter mais apreço pelo seu responsável, o ex-agente da CIA e persona non grata Edward Snowden. Além de ser o dedo-duro da vez (revertendo o feitiço contra seu feiticeiro), Snowden conseguiu algo raro: fazer com que nós, brasileiros, olhemos a vizinha Venezuela com olhinhos de cobiça: afinal, por que eles e não nós, brasileiros, oferecemos asilo político ao mais novo herói mundial? A pergunta, acreditem, já começou a ser encampada por alguns dos nossos mais caros senadores (http://oglobo.globo.com/mundo/senadores-defendem-que-brasil-conceda-asilo-edward-snowden-8962251).

O mais engraçado é imaginar o trabalhão que terão os EUA para monitorar todos aqueles que comentarem suas ações de espionagem daqui por diante: se já eram milhões de emails e telefonemas, imagine agora, que a artimanha caiu na boca do povo?

A notícia é tão lastimável que, do ponto de vista prática, só nos resta lamentar o fato de continuarmos sendo quintal de superpotência e, colateralmente, tentar levar alguma vantagem nesta história. No caso de um blog como este que vocês lêem, que tem tentado funcionar muito capengamente durante as horas diurnas, ainda há alguma esperança de se capitalizar com a atenção alcançada. Assim sendo, escreverei a palavra "espionagem" repetidamente nos meus comentários diários, de preferência com letras garrafais, para que algum motor de busca passeie pelo meu blog. Pelo menos, o esforço de vigilância vai ser servir para alimentar as estatísticas de visita do blog e, com isto, aumentar as chances de converter a indiscrição alheia em ganhos com publicidade visualizada.

Enfim... hora de dormir. Motores de busca da CIA são, seguramente, mais notívagos do que eu.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Mãozinha


Ossos do ofício, diriam alguns. Recordação macabra, diriam outros.

Fato inegável: notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online celebra um reencontro entre o médico norte-americano, Sam Axelrad, originário da cidade de Houston (EUA), e o ex-soldado vietcongue Nguyen Quang Hung, habitante da cidade An Khe (Vietnã)(http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/medico-americano-devolve-ossos-de-braco-a-soldado-vietnamita-1.141771).

Mais do que um mero encontro entre médico e paciente, o fato em questão comporta, no mínimo, um alto teor de originalidade: é que o médico guardou, intactos, os ossos de um braço que havia sido amputado pelo médico em 1966, em decorrência de uma gangrena causada por um tiro.


Mais surpreendente ainda é o fato de que, passado tantos anos, aqueles mesmos ossos ainda serão de grande utilidade para seu proprietário, "que agora tem a intenção de utilizá-lo para exigir uma aposentadoria de veterano de guerra". Neste sentido, é correto afirmar que o caso também comporta um elevado nível de literalidade: o doutor Axelrad resolveu então dar uma mãozinha, ou melhor, a mãozinha para Hung provar ao Estado "que foi ferido durante a guerra e solicitar uma aposentadoria do Estado" (sic! sic! sic!).

No final das contas, o caso leva a necessidade de comprovação às últimas consequências: "Todos os meus arquivos militares se perderam, de modo que não fui considerado um inválido de guerra. Tenho a esperança de que este osso me permita obter o respaldo oficial para os veteranos de guerra", afirmou o ex-combatente.

Sem dúvida, um show de verificacionismo capaz de deixar qualquer positivista lógico de queixo caído!