Baixe um aplicativo e saiba mais sobre você mesmo.
Longe de ser uma sugestão pessoal desta que vos escreve, a nova palavra de ordem "faz parte de uma tendência chamada de quantified self (algo como 'eu
quantificado'), cujos adeptos anotam não só dados gerados
automaticamente, mas também humor, disposição e capacidade de
concentração momentâneos a fim de, dizem, se conhecer melhor" (http://www1.folha.uol.com.br/tec/2013/07/1313842-dispositivos-ajudam-quem-quer-descobrir-mais-sobre-seus-habitos-e-melhorar-a-vida.shtml).
Na prática, a tendência é bem mais simples do que parece. Basta colocar "no pulso um dispositivo pequeno, relativamente discreto"; ao final do dia, "você pega o smartphone e, em um gráfico,
vê quantos passos deu e quantas calorias gastou". Simples assim.
Entusiastas dos dispositivos tecnológicos como Melanie Swan, pesquisadora que publicou recentemente um artigo sobre quantified self no jornal Big Data, acreditam que sua propagação generalizada pode favorecer a própria pesquisa científica: "Somente com dados em grande escala e
agregados poderemos ver verdadeiros progressos na medicina preventiva, por exemplo."
Outros pesquisadores, como o brasileiro Dárlinton Barbosa Feres Carvalho, autor de tese de doutoramento sobre o tema, acreditam que o grande ganho dos aplicativos é o aumento do controle sobre seus próprios hábitos: "Percebi que precisava me organizar melhor. Agora, posso saber se consigo mudar ou criar um hábito para ficar melhor", relata ao Jornal Folha de S. Paulo. Para se ter uma ideia da amplitude da febre, "uma pesquisa publicada pelo Pew Research em janeiro diz que 69% dos
americanos acompanham regularmente ao menos um indicador de saúde, dos
quais 30% usam um eletrônico para essa tarefa."
Porém, se tanta sede de monitoramento e autocontrole acabar criando um self ansioso, propenso à insônia e às oscilações dos indicadores de saúde, fica aqui minha sugestão: desquantifique o seu self, desligando todos os aplicativos e colocando-os para dormir o sono dos justos. Com tanto reforço do eu, não vai ter inconsciente que chegue nem para sonhar com a contagem dos carneirinhos sobre a cerca.
Aliás, sugestão feita, sugestão acatada. Hora de dormir o sono dos justos. Boa noite para quem fica.
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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