UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: O ovo de Colombo

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O ovo de Colombo

Acho a maior graça nessas matérias que repercutem pesquisas feitas em outros países - ou seja, considerando outros contextos sociais - como se elas houvessem descoberto o ovo de Colombo.

A matéria do O Globo online de hoje, por exemplo, sopra aos quatro ventos os achados do site CareerCast.com sobre as profissões mais e menos estressantes atualmente em voga nos Estados Unidos (http://oglobo.globo.com/emprego/as-cinco-profissoes-mais-menos-estressantes-de-2012-3568845).

Até que a pesquisa tem um método de aferição interessante: "Realizada anualmente pelo site, a pesquisa abrange 200 profissões diferentes", as quais são avaliadas de acordo com 11 fatores que envolvem riscos e estresse, tais como "ambiente de trabalho, competitividade do emprego, risco de morte para si mesmo e para outros e contato com o público".

Além disso, "a cada fator é dada uma pontuação, dependendo se prevalecer a maior parte do tempo ou não", o que permite uma leitura desses fatores em termos de intensidade e duração. Desta forma, as profissões consideradas como sendo as mais estressantes são justamente aquelas que envolvem mais perigos e riscos para o profissional.

Antes de passar para os resultados da pesquisa, gostaria de mencionar um fato curioso: segundo a matéria do O Globo online, a pesquisa é realizada anualmente pelo site CareerCast.com e, portanto, considera dados coletados em determinado ano (neste caso, o ano de 2011). No entanto, seus resultados projetam as condições de exercício daquela profissão para o ano seguinte (2012).

Com isso, temos que a relação das cinco profissões que serão as mais estressantes nos EUA em 2012 são, na maior parte, ligadas a atividades militares ou para-militares: 1) soldado alistado; 2) bombeiro; 3) piloto de avião comercial; 4) general (militar); 5) oficial de polícia. O que não é nada surpreendente para um país que estava, há até muito pouco tempo atrás, oficialmente em guerra.

Já dentre as cinco profissões que serão supostamente menos estressantes em 2012 naquele país, duas envolvem trabalhos de cunho técnico ligados à área médica: 1) técnico de arquivos médicos; 2) joalheiro; 3) cabeleireiro; 4) costureiro/alfaiate; 5) técnico de laboratório médico.

Isto posto, surge aquela perguntinha que não quer calar: e se fosse no Brasil? Quais seriam as profissões mais e menos estressantes, considerando-se a realidade vigente?

Bem, como não dispomos da lista dos 11 fatores que o site CareerCast.com utilizou para aferir risco e estresse nas profissões, não ousaria indicar minha própria lista. Mas tenho, contudo, alguns palpites promissores, que poderão ser explorados por quem de direito.

De um lado, tenho por quase certo que algumas profissões, como a dos policiais militares, se manteriam na lista das mais estressantes. De outro, tenho a mais absoluta certeza de que algumas profissões ausentes na lista norte-americana ganhariam destaque aqui em Pindorama.

A profissão de professor, com certeza, é uma delas. Se for professor de escola pública, de periferia e em Minas Gerais - estado em que o Governo Anastasia teima em descumprir o piso nacional e a Constituição Federal - aí então o bônus de pontos por estresse e risco fica inevitável. Infelizmente, a profissão em questão envolve um iminente risco de morte, dadas as ameaças dos alunos que lidam diretamente com o tráfico de drogas; estresse por não poder pagar pela comida que come em uma capital cuja cesta básica foi a 3a mais cara do país; risco de enfarte de raiva e desgosto de ver os dias de greve - mais que legítima, por sinal - serem descontadas no contracheque do mês janeiro (vide imagem de contracheque que circula livremente pelas redes sociais como Facebook, Twitter, etc).

Finalmente, para não dizer que falei apenas das profissões mais estressantes, acredito que aquelas que envolvem menor grau de estresse e risco também seriam diferentes aqui em Pindorama. A profissão de cabelereiro, certamente, saíria dos anais das profissões mais tranquilas para galgar as de maior risco e estresse. É que além de passarem muitas horas de pé, realizando movimentos repetitivos, eles têm ouvir comentários sobre as últimas cenas da novela das 20h ou da última baixaria praticada no Big Brother Brasil. E isso, com certeza, reduz bastante o tempo de vida útil e inteligente de um ser humano normal.

Quer saber? Melhor nascer poeta do que cabelereiro... Pelo menos, ele tem o poder de pular para o verso quando o rumo da prosa não agrada.

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