UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Concorrência leal

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Concorrência leal

Práticas curiosas - se bem que pouco honestas - andam reinventando as velhas manias capitalistas do final do Séc. XIX. Uma delas é a formação de trustes.

Um grupo de sete empresas do setor tecnológico norte-americano - composto pela Apple, Google, Adobe, Intel, Intuit, Lucasfilm e Pixar - é que anda dando o mau exemplo lá no famoso Vale do Silício (EUA). O grupo está sendo acusado de "conspiração" por criar "listas secretas de 'não contratar', com nomes dos funcionários de suas concorrentes e até parceiras", segundo relata matéria do jornal O Globo online (http://oglobo.globo.com/tecnologia/google-apple-sao-investigadas-por-pacto-curioso-3794239#ixzz1kzIIRfTv).

E qual o problema em manter semelhante prática? De acordo com o advogado responsável pela causa, ao travar um "acordo de cavalheiros" para não contratar funcionários de suas concorrentes, "a suposta conspiração manteve os salários relativamente baixos e asfixiou a concorrência entre as duas companhias por mão de obra qualificada".

Claro, tudo tem o seu preço: "A polêmica se deu porque funcionários dessas empresas estariam pedido (sic!) indenizações por serem listados nesse documento". No entanto, as negociações que as empresas vem tentando realizar individualmente parecem estar com os dias contados. "De acordo com os advogados, caso o processo ganhe status de ação coletiva, os danos morais quando somados podem chegar à casa das centenas de milhões de dólares", detalha a notícia.

Tática de recursos humanos controversa essa do "ninguém mexe em gado meu". No campo das relações afetivas, já sabemos bem que ela nunca deu muito certo. Por um lado, sabe-se muito bem que ninguém respeita "reserva de mercado" neste campo. A competição entre concorrentes raramente conhece lei ou limite ético, podendo chegar a patamares de crueldade nunca dantes visto em nenhuma experiência capitalista. Além disso, como a prática é de difícil regulação, ela desafia qualquer poder instituído - seja ele em nível nacional, regional ou transnacional. Em casos mais extremos, a troca pelo concorrente pode levar a níveis absurdos de violência e até mesmo acabar em fins trágicos, seja ele no fio da navalha, na bala do revólver ou na postagem de fotos comprometedoras no Facebook. Além disso, como a ruptura dos contratos não respeita prazo de vigência, corações costumam sair quebrados, desiludidos, prontos para a bancarrota.

Enfim, a concorrência só é salutar quando as partes passam a reconhecer mutuamente seu valor. Portém, e acima de qualquer regra, há que se respeitar o direito de ir e vir de cada um. Sem liberdade não há escolha, só submissão. E antes que alguém pense que este texto vai acabar em manifesto neoliberal, o meu voto é tanto antes pela preservação da liberdade: já que não dá para asfixiar a concorrência, então pelo menos que o asfixiado numa relação não seja o outro. E isto vale para ambos os campos: amor e trabalho.

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