UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Naufrágios

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Naufrágios

O ano de 2012 começa com alguns naufrágios importantes.

De um lado, foi um dia para fotógrafos profissionais e amadores chorarem as pitangas: a empresa norte-americana Kodak entrou com pedido de concordata hoje, nos EUA. "A companhia, de 130 anos de idade e pioneira na produção de filmes fotográficos, conseguiu um empréstimo de US$ 950 milhões (R$ 1,6 bilhão) do Citigroup para tentar se reeguer" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/economia-e-negocios/deixada-para-tras-desde-inicio-da-era-digital-kodak-pede-concordata-1.395331).

Muitas lágrimas rolaram. As lágrimas da turma das concorrentes Nikon e Canon podem até ter sido de crocodilo. Mas as lágrimas dos trabalhadores diretamente afetados com a supressão de 47 mil postos após o fechamento de 13 fábricas e 130 laboratórios devem ter sido bem sinceras. O veredito não deixa dúvidas: "Com sede em Rochester (estado de Nova York), a empresa, com mais de um século e que foi símbolo do capitalismo americano, não parou de declinar desde o advento da tecnologia digital", relata a matéria publicada hoje no Hoje em Dia online.

A ironia da história foi saber, por intermédio da mesma matéria, que além de ter inventado a câmera de mão e ter ajudado "a trazer ao mundo as primeiras imagens da lua", a Kodak ainda me fez o favor de inventar, no ditoso ano de 1975, "sua primeira câmera numérica", apesar denão ter desenvolvido "esta nova tecnologia".

Qualquer semelhança no enredo não é mera coincidência: depois de tanto criar e inovar, acabou morrendo na praia, devorada por tubarões japoneses. Ficou me lembrando de algumas pessoas que já conheci nessa vida: desconsideram sinais de alerta importantes, tomam o rumo errado e acabam se perdendo no fluxo da vida. Triste fim, tal qual Policarpo Quaresma.

De outro lado, morreram - não muito longe praia, por sinal - 11 passageiros que desfrutavam das dependências do navio mega-luxuoso Costa Concordia, ao passo que 20 passageiros continuam desaparecidos (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1036622-capitao-jantava-com-convidada-no-momento-de-acidente-com-navio-na-italia.shtml).

O mais interessante foi saber o que fazia o capitão no exato momento da tragédia: uma jovem moldávia, "Dominika Cermortan, 25, admitiu que jantava com o capitão no momento da colisão que abriu no casco do navio uma fenda de 70 metros, e defendeu que a operação de Francesco Schettino 'salvou milhares de pessoas' ".

A história continua recheada de mistérios: depois de comer - Deus sabe o quê - "o capitão, que abandonou o navio a sua própria sorte uma hora depois do acidente e que ao chegar a terra firme ligou para a mãe, para depois contemplar a embarcação afundando de uma rocha da ilha de Giglio, teve sorte". Ganhou um presentaço da juíza Valeria Montesarchio: o direito a prisão domiciliar, "contrariando a opinião do promotor-chefe da localidade italiana, Francesco Verusio, que pediu a prisão preventiva de Schettino".

Misteriosa generosidade a dessa meritíssima juíza. Merece um jantar de cortesia com o capitão. Mas tem de ser em alto-mar, senão não vale.

Nenhum comentário:

Postar um comentário