UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Ponto de viragem

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Ponto de viragem

Sabe quando o avião acelera a tal ponto que ele não consegue mais voltar atrás? Chamado de "ponto de viragem irreversível", o ponto em que tal velocidade é alcançada proporciona ao avião uma única saída: acelerar ainda mais e decolar.

Pois é exatamente isto o que pode ocorrer com o nosso dileto planeta quando o assunto é aquecimento global. Por sinal, os prognósticos relacionados com a emissão de dióxido de carbono (CO2) são desalentadores: "Uma estação de monitoramento no topo da montanha Mauna Loa, no Havaí, deverá registrar pela primeira vez em maio um índice de 400 partes por milhão (ppm) de dióxido de carbono (CO2) no ar do Hemisfério Norte" (http://oglobo.globo.com/ciencia/a-beira-do-abismo-climatico-8204751).

O problema ao se atingir a marca de 400 ppm reside no fato de ser este "o limite em que hipoteticamente o aquecimento seria inevitável". Ou seja: "o mundo se aproxima perigosamente de um ponto na concentração de apenas um dos gases do efeito estufa na atmosfera que muitos cientistas acreditam que torna inevitável um aumento de pelo menos 2 graus Celsius na temperatura média da Terra, com graves consequências para a vida no planeta."

Para se ter uma ideia do que isto representaria em termos de consequências práticas para o planeta, basta lembrar que "segundo os cientistas, a última vez que a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera atingiu tal nível foi na época do Plioceno, entre 3,2 milhões e 5 milhões de anos atrás, quando o clima na Terra era de 2 a 3 graus Celsius mais quente do que hoje e o nível do mar 25 metros mais alto".

O pior mesmo é que estamos passando por um período de aceleração tão contínua que em breve tornará inócua qualquer tentativa de redução do impacto do CO2 na atmosfera: "O índice está se movendo tão rápido que vai chegar aos 400 ppm até o mês que vem e a concentração não vai parar por aí. As emissões de gases-estufa estão atingindo níveis recordes e os esforços para cortá-las não estão tendo resultados".

O que esperar de um futuro pintado com cores tão sombrias? A pergunta é respondida por Ralph Keeling, "geofísico do Instituto Scripps de Oceanografia da Universidade da Califórnia em San Diego e filho de Charles David Keeling, pioneiro no estudo dos gases-estufa e seus efeitos no clima global": "Creio que, mesmo daqui a muitos anos, as pessoas que estão vivas hoje vão se lembrar de quando este índice foi ultrapassado. Ele será uma marca histórica."

Além de ficar na lembrança, há margem para esperança? Keeling acredita que, quando muito, a superação da marca de 400 ppm de dióxido de carbono poderá dar "um novo impulso nas negociações globais sobre o clima" e que a opinião pública poderá passar a exercer ainda mais pressão sobre os governantes. Isto, obviamente, vale única e exclusivamente para aqueles países cujos mandatos políticos ainda se pautam pela opinião pública, o que está bem longe de ser uma condição política universal.

O banal e absurdamente insano desta história de aquecimento é saber que precisamos de um ponto viragem irreversível para que tentemos o que já é sabidamente impossível: desacelerar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário