UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Transparência

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Transparência

Para mim, ficou mais que notório que a palavra "transparência" é aquela espécie de "coringa semântico" que assume os mais diversos sentidos, de acordo com o campo do saber em que é empregado. Por exemplo: se em política, a transparência dos atos e decisões políticas chega a beirar a utopia, no campo da moda, a transparência é recurso de sedução. E na ciência... bem, na ciência, há muita expectativa sendo consruída em torno da transparência.

A motivação para falar de tão singelo tema partiu da leitura de duas notícias que falam, de forma bem distinta, das potencialidades explicativas da tal transparência. A primeira delas, publicada no jornal O Globo online, aborda as vantagens de um novo método científico desenvolvido na Universidade de Stanford, intitulado Clarity, ao qual se atribui a capacidade de produzir transparência nos órgãos de animais e seres humanos (http://oglobo.globo.com/ciencia/nova-tecnica-torna-cerebro-transparente-facilita-estudo-do-orgao-em-camundongos-8078463).

A nova técnica "preserva de tal maneira a bioquímica do cérebro que ele pode ser testado diversas vezes com os químicos que destacam determinadas estruturas dentro do cérebro e fornecem informação de sua atividade no passado". Isto facilitaria a "descoberta das bases subjacentes a distúrbios mentais como esquizofrenia, autismo e estresse pós-traumático, entre outros".

Já a segunda notícia foi publicada no jornal Hoje em Dia online e fala de uma estranha espécie de peixe transparente que acaba de chegar ao Aquário de Tóquio (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/aquario-de-toquio-exibe-peixe-com-sangue-transparente-unico-no-mundo-1.110857).

Na verdade, transparente mesmo não é o peixe, mas seu sangue, já que ele não possui "hemoglobina, que dá a coloração vermelha ao sangue e transporta oxigênio". Em contrapartida, "estre peixe, que vive a mil metros de profundidade, pode sobreviver sem hemoglobina graças ao tamanho do seu coração e usa seu plasma sanguíneo para fazer circular oxigênio pelo corpo".

No contexto da primeira notícia, a transparência é tida como sinônimo de revelação. Já na segunda, pouco se sabe sobre a razão que levou o animal a perder a hemoglobina, apesar de toda sua transparência. Aqui, neste contexto, a transparência tornou evidente a diferença, mas não explicou suas origens. A verdade científica pode até estar dentro do corpo desse peixe raríssimo, mas a explicação pode não estar dentro dele.

Em suma: se transpusermos o paralelo acima para este grande jogo de claros e escuros que é a vida, caberá então uma breve reflexão: fosse a transparência um remédio para todos os males, o coração simplesmente estaria dispensado de acessar justamente aquilo que os olhos e a mente não vêem. Mas pode ser também que não haja impasse quanto ao uso que se faz da transparência: neste caso, haveria apenas duas modalidades de olhar - uma que traz a marca inquisidora do olhar de Apolo e outra que se realiza no olhar de Dionísio, plenamente entregue às suas emoções e totalmente desconhecedor da razão do intelecto.

Vai saber...

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