UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Celacanto

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Celacanto

Ainda em plena campanha pela desaceleração do meu dia a dia e ajudada pelos engarrafamentos monstruosos aqui na Roça Grande - que já me impediram duas vezes só esta semana de chegar até minhas atividades pós-trabalho - acabei chegando em casa mais cedo e me deparando com uma notícia sobre os celacantos que muito me fez refletir sobre a desaceleração e os processos de mudança.

Ao contrário dos jabutis que me serviram de mote no comentário de ontem (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com.br/2013/04/desaceleracao.html) que, apesar da lentidão, conseguiram se diferenciar razoavelmente dos seus antepassados do Mioceno Superior, os celacantos atraíram interesse científico justamente porque pouco mudaram no transcorrer o tempo: "Em um esforço que levou mais de uma década, uma equipe internacional de cientistas realizou o sequenciamento e análise do genoma destes peixes, concluindo que eles evoluíram muito pouco nos últimos 300 milhões de anos", relata notícia publicada no jornal O Globo online (http://oglobo.globo.com/ciencia/genoma-do-celacanto-traz-pistas-sobre-migracao-da-vida-dos-oceanos-para-terra-8141357).

Na verdade, a análise do DNA e RNA dos celacantos revela que estes realmente mudaram pouco, mas que o pouco que mudaram pode revelar muita coisa sobre a evolução de "praticamente todos os vertebrados terrestres", o que acabou tornando-os "a menina dos olhos" dos biólogos evolucionários. Gerald Nepom, diretor do Instituto de Pesquisas Benaroya, acredita que "uma das mudanças de ganho de função mais marcante é a do gene que regula o desenvolvimento dos membros, apoiada por evidências experimentais de que as nadadeiras carnudas do celacanto são semelhantes a protótipos de perna".
Diante deste cenário, concluo, com muita veemência, que jabuti é jabuti e celacanto é celacanto, mas que, juntos, esses dois animais têm muito a nos dizer sobre processos de mudança e adaptação de cada um de nós, seres vivos. Desacelerados, os jabutis mudaram e continuam mudando. E mesmo as mudanças mínimas dos celacantos podem levar a grandes conclusões sobre o processo de locomoção dos vertebrados, de maneira mais ampla.

Desaceleração não é, portanto, sinônimo de estagnação. Mesmo mudanças pontuais podem ser profundas, estruturais e trazer grandes consequências para nosso futuro (e o futuro da nossa espécie). Como dizia François Jacob, biólogo ganhador de um Prêmio Nobel de Medicina em 1965, “a evolução é uma experimentadora, e não uma engenheira”. Ou seja: no mundo dos desacelerados, também se marca gol.
Abraços sonolentos para quem fica!

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