Com os jornais nos apontando, diariamente, tantas maneiras de se morrer bestamente, fica difícil pensar em bons exemplos de vida.
O caso da mulher de 36 anos que morreu em razão da queda de um raio durante um passeio no Guarujá (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/01/1397270-raio-mata-mulher-na-praia-do-guaruja-no-litoral-de-sao-paulo.shtml) ou o do homem que matou outro em razão do uso de celular em sala de cinema (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/mundo/homem-mata-um-em-cinema-apos-briga-por-uso-de-celular-1.209057) são sintomáticos de um tempo: não morremos amassados pela pata do dinossauro (mesmo porque os humanos não chegaram a conviver com os dinossauros), mas somos tão vulneráveis quanto poderosos. Eis o paradoxo da nossa condição.
O mais estranho, contudo, vai ser se acostumar com as novas formas de nascer. Uma delas é o transplante de útero, que passa a ser feito para fins de reprodução: "uma equipe médica da Suécia informou nesta segunda-feira (13) que nove
mulheres fizeram com sucesso transplante de útero doado por parentes e
em breve poderão ficar grávidas" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/medicos-suecos-fazem-primeiro-transplante-de-utero-1.208940).
Bem, não há nada de realmente novo com relação aos transplantes de órgãos, que já vêm sendo feitos há décadas. A diferença aqui é que as doadoras são parentes vivas: "No Reino Unido, médicos também planejam este tipo de cirurgia, mas usarão apenas úteros de doadoras mortas", ressalta a notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online.
Além disso, a técnica de transplante entre mulheres vivas que está sendo desenvolvida pela Suécia parecer ser digna de controvérsia: "Especialistas classificaram o projeto como significativo, mas
salientaram que não há conhecimento sobre se os transplantes resultarão
em crianças saudáveis".
No mais, a vida das doadoras não será exatamente uma maravilha, pois há que se pensar na falta que um útero faz para uma mulher em idade fértil. Para as transplantadas, fica a pergunta: por que não adotar?
Se bem que, do jeito que a coisa anda, vai acaba ficando tudo na mesma vibe (ui, como eu detesto esta expressão!). Já sem brilho e mistério, nascer, viver e morrer deixarão de ser importantes partes de um ciclo para se consumarem em pequenos atos de insanidade.
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Mortes e vidas, Severinas
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