UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Mutatis mutandis

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Mutatis mutandis

A notícia de hoje é para inspirar todas as mudanças almejamos fazer em nós mesmos e no mundo à nossa volta neste ano de 2013. 

Bem, sabemos que o otimismo que prima no início de todo ano mobiliza um vasto campo semântico: mudanças, transformações, mutações, modificações, transmutações. No rol das mutações, mais especificamente, uma descoberta científica vem desvelar um "mistério" genético no mundo dos felinos: "Dois cientistas brasileiros, trabalhando com colegas dos EUA e da Rússia, identificaram a mutação que transforma leopardos 'comuns' na célebre pantera-negra"
(http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8719078129400556036#editor/target=post;postID=7755927238329795584).

Decrita na revista PLoS ONE, a descoberta dos brasileiros Alexsandra Schneider e Eduardo Eizirik, da PUC-RS, desvenda como ocorrem determinadas alterações genéticas na cor da pelagem dos felinos: "o que o novo estudo mostrou, estudando 11 panteras-negras asiáticas, é que o DNA dos gatões tinha uma alteração de uma única 'letra' química no gene que contém a receita para a produção da [molécula] ASIP. Essa letrinha trocada é suficiente para atrapalhar a fabricação da proteína e inutilizá-la." "Resultado: leopardos de pelos pretos - mas só se os bichos carregarem duas cópias do gene alterado".

A praticamente a um mês do Carnaval no País das Mil e Uma Plásticas, a descoberta tem tudo para ganhar um viés comercial jamais imaginado: bastaria anunciar que a simples alteração de uma letrinha faria da cliente em potencial uma verdadeira pantera, que uma extensa fila de cobaias humanas se formaria imediatamente diante da porta dos pesquisadores. Todas ávidas por mutações, deixemos bem claro: principalmente daquelas rápidas, profundas, irreversíveis e, de preferência, que exijam o mínimo esforço. É que, para os iletrados em genética, a mudancinha de uma única letrinha no código genético fica parecendo coisa de criança.

Mas aí eu pergunto: tudo bem se a pantera for negra? Uai, em um país em que muitos ainda insistem em bater na tecla da ausência de discriminação racial, não custa perguntar. Mesmo sabendo que, em prol da auto-imagem, muitos irão argumentar que a cor da pelagem do felino pouco importa, pois "à noite, todos os gatos são pardos".

Moral da história: não é a mudança da letrinha do código genético da pessoa que resolveria seu problema da obsessão pela aparência. Gatas e panteras que me perdoem: mas lucidez é fundamental!

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