Vocês podem até achar que é picuinha minha, mas ao final deste comentário verão que não é. Jornalistas deste meu Brasil, ouçam o meu clamor: parem de castigar a Flor do Lácio!
Admito que a discussão tinha até começado bem, já que a matéria detalhava um estudo publicado pelo maior site americano de empregos, o CareerBuilder. Refiro-me, mais especificamente, à notícia publicada hoje no jornal O Globo online abordando o risco de sedentarismo e, consequentemente, de ganho de peso em função da profissão exercida. "Segundo o estudo, 44% dos trabalhadores entrevistados disseram que engordaram em seu emprego atual. O maior culpado: o sedentarismo", relata (http://oglobo.globo.com/emprego/trabalhar-engorda-especialmente-em-algumas-profissoes-5177324#ixzz1xdkHG7De).
Após uma breve explanação das "profissões de risco" - a saber, agente de viagem, advogado/juiz, professor, serviços de proteção (policial, bombeiro), assistente social, artista/designer/arquitetos, assistente administrativo, físico, profissional de marketing/relações públicas e profissional de Tecnologia da Informação - eis que o redator da notícia acaba dando uma bela escorregada na casca de banana: "De acordo com o estudo, 54% dos participantes atribuíram o seu ganho de peso ao fato de passar praticamente o dia inteiro sentados em suas mesas".
Ora, se levarmos o comentário ao pé da letra, poderemos inferir uma solução rápida e simples para o problema do sedentarismo no trabalho: em vez de "sentar em suas mesas", os funcionários deverão "sentar em seus lustres", "em seus telhados", "na calha da varanda", "ao final de vinte lances de escada" - ou seja: eles deverão se sentar em algum lugar difícil de chegar, mas cujo esforço será recompensado com a queima de calorias.
Quanto ao pobre infeliz que escreveu esta pérola, aconselho aulas particulares de português para entender que "sentar em sua mesa" não é, não será, nem nunca foi a mesma coisa que "sentar junto à mesa".
E quanto à mim, que sobrevivo graças a uma profissão de "alta periculosidade", vou tratar de dormir logo para amanhã poder nadar meus 3 mil metros com o corpo e a consciência bem leves.
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
quarta-feira, 13 de junho de 2012
À mesa
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