UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Fóssil do dia

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Fóssil do dia

Muito louvável a iniciativa deste grupo de mais de 500 ONGs que, pelo sexto ano consecutivo, confere o título de "fóssil do dia" ao contra-exemplo de política ambiental, isto é, ao país que mais emperra as negociações nas convenções ambientais promovidas pela ONU (http://oglobo.globo.com/rio20/tio-sam-jurassico-5208240).

Ironias à parte - e apesar do título da premiação - os Estados Unidos conseguiram arrematar o troféu do dia justamente por utilizar energia proveniente dos fósseis, isto é, do petróleo: "os Estados Unidos gastam US$ 151 bilhões por ano com combustíveis fósseis, o que evita investimentos, dentro do país e no exterior, em fontes alternativas ou em modos de mitigar as mudanças climáticas", conforme denuncia a cúpula julgadora do prêmio.

Enfim, merecido ou não, achei a iniciativa tão válida que até tive vontade de criar meu próprio prêmio "Fóssil do Dia", no intuito de desestimular notícias mal-redigidas ou publicidades nocivas à saúde física e mental. O problema é que eu não tenho nada contra os fósseis a ponto de desmerecê-los com semelhante premiação, da mesma forma que não conheço nada que desabone os "abacaxis" para justificar a oferta de um troféu de mesmo nome a qualquer um que venha a me desagradar. Por essas e por outras, hei de preferir um nome mais neutro que puna apenas o alvo da premiação, sem desacatar a terceiros.

Qualquer que seja o nome do prêmio que eu ainda não inventei, eu certamente o daria a este grupo de físicos japoneses que criaram um modelo matemático capaz de prever o sucesso de bilheteria de filmes antes mesmo que estes sejam lançados: "Uma equipe de cientistas da Universidade Tottori desenvolveu um conjunto de modelos matemáticos que mede quanto foi gasto em publicidade antes da estreia do filme, ao longo de qual período e qual o impacto do filme nas mídias sociais", relata notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online (http://www.hojeemdia.com.br/entretenimento/fisicos-japoneses-revelam-segredo-dos-sucessos-de-bilheteria-1.459558).

O modelo é um tiro no pé (ou pior, na cabeça) daqueles que julgavam o famoso "modelo matemático da comunicação" teoricamente superado. A justificativa para tanto retrocesso tem a ver com a "precisão" dos resultados encontrados a partir da aplicação do modelo, já que os cientistas afirmam terem sido capazes de prever "a popularidade de vários sucessos de bilheteria, incluindo 'O Código Da Vinci', 'Homem Aranha 3' e 'Avatar', que posteriormente compararam com os ganhos reais gerados pelas películas". E, pasmem, de acordo com o principal responsável pelo modelo, o físico Akira Ishii, o modelo têm sérias pretensões de universalidade: "Eu penso que o nosso modelo é muito genérico. Funcionará em outros países também", promete.

Para quem não sabe, não se interessa e não é da área, a querela entre uma abordagem quantitativista da comunicação versus uma abordagem qualitativista é velha e data da primeira metado do Séc. XX. Daqueles tempos e de querelas posteriores havia ficado ao menos uma lição: a questão não é só a quantidasde de vezes com que algo que é dito, mas como é dito. Além disso, relacionar o volume de gastos em publicidade com o volume de vendas de bilheteria é uma maneira simplória de tentar explicar o fenômeno pelos acertos, sem se importar em incorporar os "casos desviantes" (ou seja, os fracassos de bilheteria) à análise.

Bem, como não li nenhum artigo, nem consultei nenhum relatório de pesquisa, não vou poder entregar meu antitroféu hoje. Na falta de informações mais conclusivas sobre o tal modelo, minha vontade era simplesmente saber se os casos de fracasso escancarados de bilheteria - mas que receberam os mesmos investimentos publicitários dos demais blockbusters - foram testados pelo modelo.

Enquanto a informação não vem, eu vou procurando um nome melhor para o meu troféu.

E bons sonhos para quem fica.


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