UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Muros

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Muros

Decisões de mercado nem sempre são decisões sensatas. Aliás, muitas vezes, a sensatez briga com o senso comercial e eles rolam no chão, aos chutes e pontapés, que nem duas crianças briguentas. Alguém tenta apartar, mas não funciona. E aí eles se engalfinham de novo.

Pois bem, estou me referindo à decisão do site da Folha - que deixará de se chamar Folha.com para se tornar Folha de S.Paulo, a exemplo do jornal impresso - de cobrar pelo seu conteúdo (http://www1.folha.uol.com.br/poder/1106766-folha-passa-a-cobrar-por-conteudo-digital.shtml).

Para os atuais assinantes do jornal impresso e do site Uol, tudo fica como dantes na terra de Abrantes: "assinantes do jornal impresso continuarão tendo acesso irrestrito a todos os formatos do jornal - na internet, em tablets e em celulares. Quem assina o pacote digital também pode ler o jornal em qualquer tela".

Já, nós, pobres blogueiros de plantão, que não ganhamos um centavo para comentar e compartilhar com nossos leitores as matérias que lemos, estaremos sujeitos à nova tarifação: "visitantes do site poderão ler até 20 textos por mês gratuitamente. A partir disso, será pedido o preenchimento de um breve cadastro, que dará acesso a mais 20 notícias ou colunas gratuitamente. Do quadragésimo-primeiro texto em diante, o visitante será convidado a fazer uma assinatura paga".

O pior é que a prática de desmonetarizar blogueiros livres tem até nome e sobrenome, a julgar pela matéria publicada hoje na Folha online: "Conhecido pelo nome de 'paywall/muro de pagamento poroso', ele busca aumentar o conforto e a oferta de conteúdo para quem gosta de ler o jornal sem barrar o internauta eventual". Aumento de conforto e de oferta de conteúdo para quem, cara-pálida? Para mim é que não é!

Claro, a atividade de escrever e atualizar constantemente um blog também pode ser um trabalho remunerado, da mesma forma como o acesso da notícia pode ser pago. Mas não estou falando deste tipo de blogueiro "profissional". Estou falando de outros "pés-rapados" como eu, que vivem de xeretar sites de notícia de acesso livre. Ficaremos menos livres, isso é certo. Mas nem por isso precisamos também ficar mais pobres.

Para ser sincera, há até pouco tempo achava que levantar a bandeira da liberdade de expressão em blogs era como reivindicar o óbvio: totalmente desnecessário. Mas agora estou começando a achar que a coisa anda mais feia do que parece. No cenário das "novas mídias" (só para utilizar com um vocabulário da moda), a restrição da liberdade vai perdendo um viés abertamente político (muito mais afinado com as práticas do coronelismo reinante aqui da Roça Grande) para assumir um viés supostamente "econômico".

Para vocês terem uma ideia, outro dia tinha uma mensagem aqui no Blogger dizendo que só eu conseguiria escrever um comentário no meu blog se optasse por usar o Google Chrome. Agora, terei de limitar meus acessos às matérias de um jornal online sob a pena de pagar para ter acesso ao material de reflexão que nutre este blog.

Se a coisa continuar deste jeito, daqui a pouco vou ter de pagar por cada palavra que cito de outras obras, uma aberração que faria das teses e pesquisas acadêmicas um trabalho executável somente por ricaços e magnatas excêntricos.

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