UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Instabilidade na nuvem

terça-feira, 3 de julho de 2012

Instabilidade na nuvem

Sempre gostei de colocar a culpa das minhas oscilações de humor na fase lunar em curso. Desde muito cedo, por exemplo, aprendi a coordenar os meus achaques nervosos com a lua cheia, as minhas crises de melancolia com a lua minguante, a minha pressa inabalável com a lua crescente. Com isso, nunca me faltaram justificativas mais ou menos socialmente aceitáveis para tais oscilações. Mas os tempos mudaram! E instabilidades de outra ordem surgem no cenário moderno.

Pois saibam então que a grande onda do momento é associar seus problemas ocasionais às "instabilidades na nuvem". Pelo visto, o mote é muito mais chique do que acusar a fase lunar. E sabem por quê? Porque, ao contrário da fase lunar, que é a mesma para qualquer parte do globo, os problemas na "nuvem" acontecem em um único local bem fora de mão, isto é, longe o suficiente para justificar qualquer intervenção prática.

Aqui vai um exemplo. Segundo matéria do jornal New York Times publicada hoje na Folha de S. Paulo online, "na noite de sexta-feira, uma tempestade de relâmpagos no Estado da Virgínia derrubou parte do Amazon Web Services, o serviço de computação em nuvem da Amazon, que fornece recursos de armazenagem e computação a centenas de companhias. Sites conhecidos como Netflix, Pinterest e Instagram ficaram fora do ar por horas", relata (http://www1.folha.uol.com.br/tec/1114588-tempestade-de-verao-prejudica-servicos-de-computacao-em-nuvem.shtml).

Um ponto forte na desculpa de "instabilidade na nuvem" é que - diferentemente da fase lunar, que muda mais ou menos a cada 7 dias - ela pode acontecer a qualquer momento, sem razão aparente: "A paralisação do final de semana aconteceu depois que uma tempestade de raios resultou em queda de energia na central de processamento da Amazon Web Services no norte da Virgínia, que abriga milhares de servidores. Por motivos que a Amazon não havia conseguido determinar até o domingo, o gerador de reserva da central também falhou".

A melhor parte da nova moda é que ninguém precisa "acreditar" na instabilidade da nuvem para que a justificativa pegue. Basta uma adesão generalizada dos usuários para que todos se sintam vulneráveis: "A Amazon construiu um negócio altamente lucrativo de computação em nuvem, com uma lista de clientes como a Intercontinental Hotels, Fox Entertainment, Unilever e Spotify, além, de 187 agências governamentais e centenas de pequenas empresas iniciantes em busca dos serviços de computação mais baratos".

No entanto, "nenhum desses grandes clientes registrou perturbações de serviços. Embora não se saiba se estavam usado a central de processamento da Amazon que foi paralisada pela tempestade, analistas dizem que a paralisação causou preocupação renovada quanto a depender dos serviços de computação em nuvem", explica a matéria. 

Já imaginou todo mundo parando, juntos, ao mesmo tempo, agora? Um sonho proletário que nem Internacional Comunista conseguiria imaginar nos primórdios do capitalismo. E a lua seria então finalmente deixada em paz, com suas fases e oscilações, como coisa típica de lunáticos, de apaixonados e de lunáticos apaixonados.

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