UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Terror e emagrecimento

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Terror e emagrecimento

Depois das "abelhas estetas", objeto do comentário de ontem, segue mais um capítulo da série "estudos irrelevantes, notícias descartáveis".

Cientistas da Universidade de Westminster tiveram a brilhante ideia de monitorar "os batimentos cardíacos, entrada de oxigênio e saída de dióxido de carbono de dez pessoas durante a exibição de clássicos do horror" (http://f5.folha.uol.com.br/humanos/1177741-assistir-a-filmes-de-terror-emagrece-diz-estudo.shtml).

A conclusão foi um "alento" para quem mora no País das Mil e uma Plásticas e anseia por emagracimento rápido, fácil, miraculoso e, de preferência, irreversível:"Na média, os participantes queimaram um terço a mais de calorias com o os filmes do que se estivessem encarando uma tela em branco", relata a notícia.

A razão para tanto é que "os filmes que mais ajudaram na hora de perder uns quilinhos foram aqueles que davam mais sustos, fazendo as batidas cardíacas aumentarem", explica. "Ou seja, eles queimaram por volta de 113 calorias em um filme de 90 minutos".

No entanto, a matéria adverte, para tristeza das malhadores de plantão: "o estudo não analisou se o efeito é potencializado caso o participante decida ver um filme de terror enquanto anda na esteira".

Por fim, para fechar com chave de ouro a lista de sandices, a notícia apresenta um pequeno ranking de calorias queimadas por filme. O ganhador? O Iluminado, com 184 calorias, seguido de Tubarão, com 161, e O Exorcista, com 158.

Objeções, meu caro Watson? Claro, óbvio! Vamos logo a elas:

1) Para início de conversa, ninguém vai nem ao cinema nem à academia para assistir a uma tela em branco; a coisa que mais se aproxima disso é a prática do zazen, meditação zen budista que consiste em se sentar diante de uma parede em branco para esvaziar a mente, mas não o corpo. Diante de tamanhas evidências, sou levada a crer que o grupo de controle que ficou diante da tela em branco só pode ter sido importado de outro planeta.

2) O estudo trabalha com uma amostragem "estatisticamente relevante" de 10 pessoas. Maravilha! Não me surpreenderia se os pesquisadores afirmassem, em uma coletiva de imprensa, que estudos clínicos randomizados, com amostragem aleatória e probabilística, devessem ser transformados em poeira cósmica.

3) Qual vantagem em queimar 113 calorias em 90 minutos de filme quando você leva menos de 10 segundos para ingerir a mesma quantidade com um copo de 200ml de suco de laranja?

4) Se um dia "relevância social" deixar de ser um critério válido para se avaliar a contribuição social das pesquisas, então eu sugiro que se introduza a informação calórica nas embalagens de DVDs e outras mídias de suporte audiovisual. Afinal, se não é relevante, para mim, para você ou para a sociedade, há de ser para alguém mais besta que nós todos juntos.

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