Lançar-se da estratosfera em queda-livre é um intento inédito e também recheadinho de paradoxos: afinal, nem tudo pode ser totalmente livre em uma queda-livre.
É o que dá a entender a matéria veiculada hoje no jornal Folha de S. Paulo online e que fala da ousadia "do austríaco Felix Baumgartner, 43, que tentou nesta terça-feira tornar-se o primeiro homem a quebrar a barreira do som sem a ajuda de um veículo motorizado" (http://www1.folha.uol.com.br/bbc/1166603-mau-tempo-impede-missao-de-austriaco-que-tenta-quebrar-velocidade-do-som.shtml).
A decisão de quebrar a barreira do som em um salto, sem qualquer auxílio de motor ou algo parecido, exige metodologia apropriada: Baumgartner "faria um salto de paraquedas a partir de uma cápsula localizada 36 mil metros acima do nível do mar, já na estratosfera". Só para dar uma ideia precisa da grandeza do intento, a notícia informa, por exemplo, que um avião transatlântico voa a um altura próxima de 14 mil metros de altitude, enquanto o pico do Everest tem lá seus 8.848 metros de altitude.
A cápsula em questão, que seria levada a "36.500 metros de altitude por meio de um balão de hélio com tamanho igual ao de um prédio de 55 andares", possibilitará a Baumgartner um feito estarrecedor: "técnicos estimam que ele atingirá a velocidade de até 1.110 km/h cerca de 40 segundos após o início da queda livre e que a abertura do paraquedas se dará a cerca de 1.500 metros do solo".
Mas a notícia adverte: nada de amadorismos! Testes preliminares já tinham sido feitos a uma altura de 21.80 m e 29.600 m, respectivamente. Obviamente, a NASA está olho na façanha do austríaco, já que há poucos relatos de pilotos que tenham sido ejetados de aviões supersônicos. Além disso, "há poucos detalhes sobre o que ocorre com o corpo humano quando atinge velocidade supersônica e, conforme desacelera, volta a velocidades abaixo do som".
Ou seja: tudo é novidade do outro lado da barreira do som. Porém, ao que tudo indica, as idas e vindas para ambos os lados da barreira supracitada terão de esperar mais um pouco. É que o lançamento da cápsula, que seria enviada a partir de uma base aérea localizada no estado do Novo México (EUA), teve de ser cancelada em função de condições metereológicas adversas.
Frio na espinha. Adrenalina atingindo picos estratosféricos. Mais um paradoxo subsiste nesta empreitada: quando Baumgartner pular da altura de 36.500 m de altitude e soltar um derradeiro grito de pavor, seu corpo chegará ao solo antes que seu grito seja ouvido por quem quer que seja.
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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