UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Os nobres e seus brioches

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Os nobres e seus brioches

Hoje, uma amiga indignada compartilhou uma espécie de comentário-denúncia lá no seu perfil do Facebook, solicitando que eu escrevesse algo a respeito do tema em questão. O tal comentário fazia alarde de algumas mal-traçadas linhas atribuídas, em princípio, a um suposto jornalista que atende pela alcunha de Walter Navarro, supostamente articulista do jornal O Tempo.

Bem, se as informações que lhe estão sendo atribuídas forem verídicas, as tais linhas foram, realmente, muito mal-traçadas. Elas são de um racismo tão escancarado, de uma irresponsabilidade tão absurda e de um etnocentrismo tão mal-ajambrado, que nem perderei meu tempo reproduzindo aqui mais do que um único comentário: "Os guaranis kaiowá não passam de recolhedores de mel no meio do mato. É o povo mais primitivo do mundo, nem chegou à Idade da Pedra", teria dito o nobre senhor.

Isso mesmo, quis dizer "nobre" senhor. No sentido mais rasteiro da palavra, "nobreza" é uma distinção por linhagem - conquanto alguns exemplos históricos tenham demonstrado que ela também pudesse ser comprada ou negociada por vias matrimoniais. Pois bem: em seu sentido menos nobre, "nobreza" significa atribuição de privilégios e status a quem teve a "sorte" de nascer do lado de lá da linha de distinção que separa os afortunados dos infelizes.

O problema é que, em uma perspectiva propriamente moderna, emancipatória e igualitária, a "nobreza" é um retrocesso nas relações humanas, visto que ela legitima a opressão e a exploração de um grupo sobre o outro, com base em status atribuído ao nascimento. Portanto, seguindo esta ordem de pensamento, se os Guarani-Kaiwovás são supostamente da "Idade da Pedra", como afirma o "nobre" senhor, então este último é filho autêntico do Antigo Regime, amigo íntimo de Maria Antonieta, e tão mal-informado sobre o conceito de sociedade pluralista que só a guilhotina dos jacobinos daria jeito na coisa.

Mas devo confessar que minha maior frustração foi ter clicado no link que supostamente me levaria ao texto supracitado (http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=20331%2COTE) e me deparado com uma lista de colunistas da qual o nome do "nobre" senhor prima pela ausência. Uma pena, devo insistir! Queria ter aprofundado minha exegese do texto do "nobre" senhor e fiquei a ver navios. Se bem que, a julgar pelas "amostras-grátis" que são oferecidas no tal comentário-denúncia, não me surpreenderia se me deparasse com uma frase do tipo: "se não tem pão, que comam brioches", a exemplo da louca Antonieta.

Quanto ao jornal O Tempo, só me resta lamentar que este veículo esteja se tornando uma espécie de filial de Klu Klux Klan, instalada no coração dos preconceitos da Roça Grande.

P.S.= Em tempo: li, após a publicação deste comentário, que o autor da pérola "Índio bom é índio morto" teria sido despedido horas depois desse crime de lesa-pátria. Pois se é assim, então lá vai: jornalista irresponsável "bom", é jornalista irresponsável decapitado! Tomou, papudo!

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