UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: As Ilimitadas

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

As Ilimitadas

Eu já ia quase acreditando, quando li que "num esforço para estimular a criatividade dos funcionários, reduzir a rotatividade e evitar o esgotamento, algumas empresas nos Estados Unidos estão oferecendo aos empregados o benefício máximo: férias ilimitadas" (http://oglobo.globo.com/emprego/empresas-lancam-mao-de-ferias-ilimitadas-para-estimular-funcionarios-6655782#ixzz2BgUL90bo).

Não, amigos, a coisa não é exatamente aquilo que parece ser. Quando, na matéria do O Globo online se diz que as férias são "ilimitadas", não se quer dizer que elas podem durar ad infinitum. E nem que irão superar em número de horas os dias trabalhados. A diretora de recursos humanos da empresa Red Frog Events, Stephanie Schroeder, dirigente de uma empresa que adota a política de férias ilimitadas, explica que "muitos de seus 80 empregados 'tiram a dois ou três dias aqui e ali' para recarregar as energias ou cumprir obrigações pessoais, tais como ir ao casamento de um amigo; mas ninguém abusou da política da empresa de férias ilimitadas".

Bem, antes que alguém solte um rojão, dizendo que a política de férias ilimitadas é um conto de fadas, é bom avisar que, na prática, a cinderela é meio banguela. Nos EUA, "a maioria das empresas oferece um período de férias fixo: o trabalhador americano mediano de tempo integral recebeu 2,6 semanas de férias no ano passado". Ou seja, ter férias dispersas no ano quando as empresas oferecem aos seus empregados uma média de 20 dias de férias é muito menos atraente do que pode parecer em princípio.

Além disso, ao contrário do Brasil, onde "são concedidos 30 dias de férias, que podem ser usufruídos integralmente ou divididos em dois períodos em algumas empresas", nos EUA não existe tempo mínimo de férias previsto por lei. Ou seja, o empregado fica muito mais à mercê do empregador do que aqui, em terras tupuniquins. Mas isso, claro, não está dito na matéria, que fala das tais férias ilimitadas como a grande novidade da vez.

Aliás, se for para jogar mais areia na farofa do leitor ávido de férias "ilimitadas", o depoimento de Jay Jamrog, vice-presidente sênior de pesquisas do Instituto para a Produtividade Empresarial, que a matéria traz é perfeito: ele "diz que o tempo de férias ilimitado é uma forma de baixo custo de ganhar a lealdade dos funcionários, e pode ajudar a compensar fatores como baixos salários, congelamento salarial ou perda de bonificações". Ou seja, quem ganha, mais uma vez, é o empregador, que continua pagando pouco e oferecendo quase nada.

Ah, claro. Só mais um adendo: o nome disso na matéria é outro e se chama "benefício máximo", pois "ao mostrar que confiam em seus funcionários, dizem os empregadores, acreditam estar cultivando uma cultura de confiança ainda mais profunda". No final das contas, rapaziada, fica claro que as  "férias ilimitadas" têm lá eus limites.

Como dizem aqui na Roça Grande: "vai que eu tô te vendo".

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