UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Marés vermelhas

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Marés vermelhas

Paisagens mudam, todos sabemos. Mas algumas mudanças são mais impactantes do que outras.

De acordo com notícia publicada no jornal Folha de S. Paulo, hoje foi o terceiro dia em que a costa leste da Austrália presenciou um estranho fenômeno: "uma maré vermelha" que "se espalhou pela costa leste da Austrália e causou a interdição de diversas praias próximas a Sydney" (http://f5.folha.uol.com.br/estranho/1193079-mare-vermelha-se-espalha-pela-costa-leste-da-australia.shtml).

O fenômeno, que deixa a água do mar com coloração sanguínea, seria atribuído a um protista de nome Noctiluca scintillans. "Este organismo libera amônia que pode causar irritações na pele, por isso, banhistas são recomendados a evitar o contato com a 'maré vermelha' ", explica a notícia.

Além do efeitos negativos sobre a pele humana, a rápida proliferação da Noctiluca scintillans -atribuída supostamente a mudanças circunstanciais como "um aumento súbito na temperatura da água e uma grande umidade na atmosfera" - poderia inclusive causar "a morte de peixes na região".

Sem perder o pouco de humor que me resta - e já de olho nas milhares de narrativas espraiadas aos quatro ventos sobre um suposto fim do mundo - gostaria de lembrar que há várias formas possíveis de se abordar e narrar um evento, tendo em vista o perfil psicológico do narrrador. As supostas causas da coloração vermelha do mar na Austrália certamente variariam de acordo com predisposições individuais do responsável pela transmissão da notícia.

Por exemplo, fosse o evento narrado por um alcóolatra, ele certamente preferiria acreditar que o mar da Austrália estivesse mudando da água para o vinho. Aos olhos dos valentões, tudo não passaria de briga de macho: quiçás, os verdadeiros culpados seriam o peixe-espada e o peixe-martelo, mortalmente feridos em briga por ciúmes de uma estrela-do-mar. Já as leitoras de revistas de fofocas estariam ávidas por uma entrevista picante e exclusiva com o grupo de orcas ninfomaníacas, de apetite insaciável, responsável pela súbita mudança de coloração da água.

Bem, melhor parar por aqui, por total falta de inspiração. Claro, não sem antes esclarecer que, segundo a notícia real, "amostras estão em análise para estabelecer as causas da rápida proliferação do fenômeno." Que elas fiquem prontas logo, por favor, de preferência antes do fim do mundo e da morte da narrativa.

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