UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Placebo e cafeína

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Placebo e cafeína

O consumo exagerado de café gera tremores nas mãos. Os portadores da doença de Parkinson apresentam tremores nas mãos e perda de movimentos. No entanto, um curioso estudo da Universidade McGill, no Canadá, revela que "a cafeína parece ter um efeito oposto em pessoas com a doença da Parkinson: ela ajuda a aliviar os tremores e a recuperar os movimentos" (http://oglobo.globo.com/saude/cafe-ajuda-aliviar-efeitos-da-doenca-de-parkinson-5667371#ixzz22RmYcOgD).

O pesquisador responsável pelo estudo, Ronald Postuma, dividiu o universo de 61 portadores da doença em dois subgrupos. "Um deles, recebeu comprimidos de cafeína durante seis semanas — o equivalente a três xícaras de café por dia —; o outro, recebeu um placebo pelo mesmo período",  revela a matéria publicada hoje no O Globo online.

Os cafeólatras levaram a melhor: "Apenas o grupo com cafeína mostrou ter avanço significativo nos testes de problemas motores, com diminuição da intensidade dos tremores e aumento da mobilidade geral".

No meu limitado entender, o experimento serve como metáfora para a vida de cada um de nós. Pois a vida também é assim: um laboratório de surpresas. Às vezes, alguns de nós caímos em "grupos de controle" alimentados à base de placebo, mas acreditamos piamente estarmos tendo convulsões ou sequelas reais e legítimas. Mas elas não são. São apenas reações exageradas, fruto de uma mente tendenciosa e auto-indulgente.

Nesse mesmo laboratório, no entanto, há um certo número de pessoas que terminam seguindo um caminho distinto e sendo expostos à pílula "certa", isto é: aquela que vai remediar suas dores e trazer cura ou conforto. A questão é que, exatamente como a pílula de cafeína, o remédio certo jamais se apresenta como tal: ele virá geralmente travestido de seu oposto. Mas justamente aquilo que supostamente acentuaria nossos problemas é que termina nos curando.

Tanto no vasto terreno das nossas experimentações existenciais quanto no laboratório da Universidade McGill, a diferença entre placebo e cafeína é sempre omitida ao paciente para garantir a qualidade dos resultados. Testados às cegas, somos avaliados em função das nossas reações. Mas que reações são essas? Reais ou sugestionadas?

No vale-tudo da cafeína x placebo, duas grandes verdades existenciais podem ser empiricamente observadas: a mentira tem perna curta e só se cura quem tem coragem de arriscar.

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